sexta-feira, 23 de agosto de 2019

CHBR3.5 (III): Seu Madruga, Chiquinha, Girafales e Florinda encontram Chaves...

Membro de célebre família de cômicos mexicanos, Ramón Valdés atuou com Chespirito no filme "El Cuerpazo de Delito", em 1970...















































Na autobiografia “Sin Querer Queriendo”, Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, conta como conheceu os atores que contracenaram com ele em seus programas e a origem dos personagens que interpretaram em “Chaves”... Nos trechos reproduzidos abaixo – traduzidos pelo Seu Bloquinho Virtual e publicados em 2007, já que o livro de memórias nunca foi traduzido para o português – Chespirito fala sobre quatro deles... Ramón Valdés, o Seu Madruga, pertencente a uma ilustre família de comediantes, vide Germán Valdés, o Tin Tan, que devido a carreira cinematográfica é muito popular no México, mais até do que o irmão, reverenciadíssimo no Brasil... Sobre Valdés, Bolaños declarou em uma entrevista ao jornal colombiano “El Tiempo”, em 2007:  “Ele saiu com Carlos Villagrán [em 1978] e regressou [em 1981]. Depois voltou a se retirar [ainda em 1981] sem que eu soubesse porquê. Ramón era difícil nesse sentido, um pouco irresponsável. Excelente ator. Para mim, o comediante que mais me fez rir em toda a minha vida. Porém não regressou, e morreu em Acapulco [em 1988]”... Maria Antonieta de Las Nieves, a Chiquinha, filha do Seu Madruga, que deixou as séries por um breve período, entre 1973 e 1975, e posteriormente, a exemplo de Carlos Villagrán, envolveu-se em uma polêmica sobre os direitos da personagem, que diz ter criado antes de “Chaves”, com o nome de Toñita... Questão que é aprofundada na autobiografia "Habia una vez una niña en una vecindad", de 2015, vide resenha...  Rubén Aguirre, o professor Girafales, que depois de sair do programa “Chespirito” em 1971, ainda na TV TIM, voltou a trabalhar com Gómez Bolaños quando “Chaves”  e “Chapolin” tornaram-se séries autônomas, em 1973, já na Televisa... Mais detalhes na autobiografia de Rubén Aguirre, "Despues de Usted", lançada em 2015, cuja resenha pode ser lida aqui... Assim como o livro de Chespirito, as obras de Maria Antonieta e Rubén não foram lançadas no Brasil, sabe-se lá porque causa, motivo, razão ou circunstância...  Florinda Meza, a Dona Florinda, que anos depois se tornaria “sócia” de Chespirito, além de pivô de diversas controvérsias entre os integrantes do elenco das séries... Ops!!!...

“Tive a sorte de contar com Ramón Valdés como companheiro de atuação, no filme chamado "El cuerpazo del delito" [1970], formada por três episódios independentes entre si. Ramón e eu trabalhamos numa história encabeçada por Mauricio Garcés, Angélica María e Pepe Gálvez, e passei a filmagem maravilhado. De um lado, o trio de estrelas esabanjava simpatia, talento histriônico e algo que não se vê com demasiada frequência: companheirismo, ausência total do estrelismo que só os atores consagrados manifestam. E, por outro lado, ali foi onde tive a oportunidade de apreciar a graça sem igual de Ramón Valdés. 

Esse foi, portanto, o antecedente que me levou a seleciona-lo para o elenco do programa. E foi ele quem interpretou a Ron Damon (Don Ramón) [Meu Sadruga e Seu Madruga], um dos mais consagrados personagens que viviam com o Chaves. Fazia o papel de um desses tipos que escondiam suas múltiplas insuficiências por trás de uma máscara de irresistível simpatia. Era preguiçoso, inculto, comodista, etc, mas possuidor dessa graça natural que identifica o pícaro, e dessa engenhosidade que invariavelmente o ajudava a sair dos maiores problemas. Por exemplo: jamais pagava o aluguel da casa em que ocupava na modesta vizinhança, ao lado de sua filha, a Chilindrina [Chiquinha] 

Maria Antonieta de Las Nieves, como já disse, começou a fazer parte dos Supergênios da Mesa Quadrada em substituição a Bárbara Ramson. Quando chegou disse que faria esse papel temporariamente, enquanto eu conseguia outra atriz para atuar em seu lugar, pois assegurou que seu negócio era o drama e não a comédia. Sem dúvida, depois de ver sua atuação, lhe fiz notar que tinha talento mais do que suficiente para fazer comédia, já que poderia fazer qualquer papel em dramas. Ela estranhou de início, mas tomou o touro pelos chifres. Pouco depois, reconheceu que não trocaria sua posição por nada neste mundo. E então alcançou o ápice da fama com sua inigualável 
Chiquinha, personagem que a levou aos mais altos níveis de popularidade. 

Concebi a Chiquinha como uma menina que teria tantos defeitos quanto o Chaves, ou mais, de modo a criar um laço de identificação entre ambos; porém ela seria travessa até não poder mais (como as crianças travessas são pelo fato da hiperatividade os induzir a correr riscos) e muito mais inteligente do que ele (com o uso de óculos que chegam a ser paradigmáticos das crianças inteligentes). 

Chiquinha figurava como filha de Seu Madruga e sobre a esposa deste, segundo se mencionava no decorrer da série, tinha morrido ao dar a luz à menina. Esta deixava claro que tinha herdado a picardia do pai, ainda que manifestando-a de acordo com o contexto infantil a que correspondia. Era ingenuamente apaixonada pelo Chaves, além de geralmente se encarregar de criar e encabeçar as muitas travessuras que fazia com as crianças da vila e da escola. 

Maria Antonieta representava também, ainda que com pouca freqüência, o papel de sua própria bisavó, Doña Nieves [Dona Neves], uma velhinha que reunia todos os defeitos do Seu Madruga, seu neto, ao que adicionou uma atitude de abuso sem barreiras ou restrições. Para poder interpretar tão diversos papéis, Maria Antonieta não contava só com sua grande qualidade de atriz, mas somava a isso uma vasta experiência no campo da dublagem, atividade onde alcançou grande reputação. Isso permitia falar tanto com voz de criança quanto de idosa, com muita facilidade. (páginas 214 a 216) 

O canal 13 foi inaugurado quase simultaneamente ao canal 8 e ali se entrevia um espírito de concorrência que logo afetaria meus planos, pois chamaram Maria Antonieta para estrelar um programa de concursos que haviam concebido. O programa se chamara Pampa Pipiltzin e Maria Antonieta seria animadora e condutora do mesmo. Ela me deu a notícia sentindo pena ao saber que provocaria um desajuste no programa do Chaves, já que Chiquinha se destacava como uma das personagens importantes. Porém, igual ao que havia acontecido com Rubén, mostrei que não seria eu que impediria a legítima ascensão que a proposta parecia representar em sua carreira. Assim, com a indicação que nossas portas estavam abertas quando quisesse regressar, deixei ela marchar [Maria Antonieta deixou as séries de Chespirito em 1973]. 

Para justificar a ausência da Chiquinha, no programa se comentava que seu Madruga havia mandado sua filha estudar em uma escola de Guanajuato [na dublagem brasileira, Presente Para o Dente, quer dizer, Presidente Prudente], onde vivia amparada por duas tias que moravam lá. Isto no que se referia ao programa do Chaves, pois quanto a sua atuação como dama jovem ao lado do Chapolin e em outros esquetes, o problema foi resolvido com a substituição por Florinda Meza. Os pessimistas, que nunca faltam, pensaram que estas mudanças influiriam de forma negativa no programa, porém, não só a audiência não diminuiu, como continuou subindo no mesmo ritmo de antes. 

Um ano e meio depois, Maria Antonieta reconheceu que o dinheiro não compensava a queda de popularidade e decidiu regressar ao programa [em 1975], tal como lhe havíamos dito. E, claro, recuperou rapidamente a popularidade (Páginas 237 e 238)”.  






















Maria Antonieta de Las Nieves era substituta provisória de Barbara Ranson em "Los Supergenios de La Mesa Cuadrada", mas ficou... 




















































“Na verdade, esse carinho do público foi também uma gentileza para todos os atores que tive ao meu lado, os quais chegaram a formar o grupo de comediantes mais famoso em todo o mundo de língua espanhola. Sem dúvida, para alcançar essa fama aglutinaram-se várias circunstâncias, entre as quais a seleção dos atores que haveriam de me acompanhar. Havia três que já faziam parte de minha equipe desde Sábados de La Fortuna [Sábados da Sorte]: Rubén Aguirre, Ramón Valdés e María Antonieta de Las Nieves. 

Já mencionei a Rubén e as circunstâncias em que o conheci, porém devo acrescentar que além de suas qualidades como ator, tinha características que o tornavam um irretocável colega da trabalho, tais como sua voz grossa e segura (tinha sido locutor e cronista de touradas) e sua elevada estatura (1,92m) que o converteram no oponente ideal do Chapolin Colorado, razão pela qual foi o mais reconhecido dos vilões que enfrentaram o herói. É, ademais, ventríloquo e excelente animador. 

Também já narrei o episódio da saída de Rubén para trabalhar na ‘concorrência’ (Canal 2) e que naquela ocasião lhe prometi que se algum dia quisesse regressar, as portas do programa estariam abertas para ele. Pois bem, foi isto que se sucedeu não muito tempo depois, de modo que foi facilmente acomodado em torno do Chaves, interpretando magistralmente o Professor Girafales, o rigoroso professor que sofre com as travessuras das crianças, mas que sempre termina suportando-os com a bondade e o estoicismo que caracterizava àqueles autênticos apóstolos da docência. Sua maior irritação terminava com a frase que ficou famosa: "Ta ta ta ta ta!" [Tá, tá, tá, tá, tá! ] O professor Girafales e Dona Florinda estavam mutuamente enamorados e mantinham um romance à moda antiga que inundava de mel as telas dos televisores (Páginas 213 e 214)”.






















Florinda Meza interpretava lavadeira em"La Media Naranja" quando foi chamada por Chespirito para atuar em seu programa...




















































“Por aqueles dias houve uma ocasião em que, para chegar ao estúdio onde se gravaria o meu programa, passava-se pelo cenário de outro programa humorístico que se chamava La Media Naranja [Meia Laranja], cuja figura principal era o grande comediante Fernando Luján, e cujo redator era seu primo, o estupendo Toño Monzel. E em certa ocasião, ao passar por ali, me chamou a atenção uma atriz naquele momento realizava um monólogo, caracterizada como uma dessas mulheres que falam enquanto lavam roupa no pátio de uma vila. Me impressionou como interpretava bem. Logo segui meu caminho até chegar ao meu estúdio, onde me encontrei com Lalo Alatorre, diretor de câmera de meu programa e estupendo amigo, que me disse: 

- Olha, estou procurando uma atriz que reúna muitas qualidades e algumas características - e as enumerou antes de prosseguir - conhece alguém assim? 
- Sim - respondi no mesmo instante. 
- Quem é? 
- Não tenho a menor ideia, porém agora mesmo lhe mostrarei. Siga-me. 

Voltamos ao estúdio de La Media Naranja e, apontando para a atriz que fazia o monólogo, disse a Lalo: 

- Aqui está ela! 
- Estupenda! - exclamou Lalo depois de tê-la visto e ouvido. 
- Mas que estupenda! - disse eu, exalando um suspiro - quero dizer: como atriz. 
- Ah, sim, claro. 

Assim Lalo contratou Florinda Meza García. E pouco depois foi contratada para fazer um papel em meu programa, onde realizou uma atuação que me deixou mais do que satisfeito... E sua presença me deixou mais do que impressionado antes de saber que tinha outras qualidades, entre as quais se destacava um talento excepcional para cantar, dançar, escrever, produzir, etc, tudo acompanhado de uma disciplina e um esforço que logo a faziam se sobressair em qualquer coisa que empreendesse. Naqueles momentos, não sabia o muito que ela significaria em meu futuro; porém foi então que comecei a transitar pelo caminho que conduziria ao privilegiado destino chamado Florinda Meza. (Páginas 216 e 217) 

Ela deu uma demonstração mais de segurança e profissionalismo quando aceitou fazer o papel de Doña Florinda [Dona Florinda] em Chaves, pois a caracterização exigia que se sacrificassem seus encantos pessoais em prol de uma aparência com mais idade e que estava muito longe de cuidar de sua aparência pessoal. Sua atuação incluía, além do mais, que seu rosto irradiasse toda a ternura e toda a doçura que podem existir no interior de uma mulher apaixonada, sem ignorar o rigor com que a maquiagem e o vestuário acentuavam sua idade e descuido pessoal. 

Isto, que acontecia cada vez que encontrava o Professor Girafales, era um verdadeiro alarde de faculdades histriônicas. E com a mesma capacidade interpretou depois a Pópis, a sobrinha bobalhona de Dona Florinda, aparecendo em não poucas ocasiões ao lado de sua tia, o que fazia mais de um telespectador pensar que se tratava de duas atrizes diferentes, pois era um recurso muito pouco comum dentro da tecnologia da época. E outra característica de Dona Florinda era a forma desmesurada e sem limites com que consentia a seu filho Quico. (Página 219)”. 






















Entre ser diretor de emissora de televisão e levar tortas na cara em cena, Rubén Aguirre decidiu-se pela segunda opção...

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