segunda-feira, 19 de agosto de 2019

CHBR3.5 (I): A Primeira Vez do Chapolin no Brasil e no México...

"El Chapulín Colorado" começou em 1970 como quadro de "Los Supergenios de La Mesa Cuadrada", depois "Chespirito"...
























































Há 35 anos, no dia 20 de agosto de 1984, uma segunda-feira, o SBT apresentou o primeiro episódio de “Chapolin” no Brasil, “Aristocratas Vemos,  Gatunos Não Sabemos”, produzido pela Televisa no México em 1978... Durante muito tempo, acreditou-se que a série criada por Roberto Gómez Bolaños estreou no programa do Bozo... No entanto, durante as pesquisas realizadas nos boletins de divulgação da emissora para a produção do livro “Almanaque do SBT 35 Anos”, descobriu-se que a primeira exibição de “O Polegar Vermelho” – nome com o qual a série era chamada no boletim – aconteceu no game-show “TV POWWW”, apresentado pelo radialista Paulo Barboza... A informação foi dada em primeira mão pela UOL em agosto de 2017 e depois foi publicada no livro, lançado no final do mesmo ano... Se havia uma controvérsia sobre a estreia de “Chapolin”, o primeiro episódio exibido é um consenso... Até porque o primeiro lote de episódios da série teve 26 programas apresentados... Dois deles foram exibidos somente até 1985 – “Pedintes em Família” e “De Caçador e De Louco, Todos Nós Temos Um Pouco”, ambos produzidos em 1975 - e os demais se repetiram incessantemente até ganharem a companhia de um novo lote de episódios em 1990... Em 2014, o SBT exibiu na internet um episódio inédito (e incompleto) do primeiro lote de dublagem da MAGA, “Quer Apostar Como Nunca Mais Eu Entro Numa Aposta???”, de 1975... Nesses episódios, o herói era chamado de "Polegar Vermelho", "Vermelhinho" e até de "Chapolin"... Alis, "Chapolim" com "M" é só nos gibis lançados pela Editora Globo em 1990...  No México, o Chapolin surgiu em 1970, no programa “Los Supergenios de La Mesa Cuadrada”, da Televisión Independiente de México (TV TIM), incorporada em 1973 à Televisa... A atração era derivada de um quadro de muito sucesso escrito por Chespirito no programa “Sabados De La Fortuna”, que estreou no ano anterior... Mas quem pode contar melhor essa história é o próprio Gómez Bolaños, nos trechos abaixo citados de sua autobiografia, “Sin Querer Queriendo”, lançada no México em 2006 e que ainda hoje, inexplicavelmente, não possui uma edição brasileira... Tanto que o Seu Bloquinho Virtual teve que traduzir partes do livro e publicá-las em 2007...


“[Sabados De La Fortuna] Se tratava de uma série que seria apresentada todos os sábados (com duração do horário completo de tais dias). O programa seria constituído de bailados, musicais, números cômicos, mágicos, malabaristas e demais elementos circenses, assim como todo tipo de concursos e sorteios. O produtor era, uma vez mais, meu anjo protetor, Sergio Peña, que me disse: 
- Chespirito vou te dar dois espaços de algo assim como dez minutos cada um, para que você faça o que quiser; o que sair do seu culhão, meu sócio. 
E não sei de onde, precisamente, porém me saiu algo, porque o que fiz foi o preâmbulo de sucessos que por fim resultaram proeminentes para mim, pois um de meus espaços foi ocupado por La Mesa Cuadrada [A Mesa Quadrada], que era algo assim como uma paródia dos programas de mesa redonda. O grupo estava constituído por três "supergênios"(?) que responderiam a todas as perguntas que supostamente enviava o público (perguntas que, obviamente, eram redigidas por mim, bem como as respostas). 
E os "pseudogênios" eram Rubén Aguirre, a quem desde então batizei como Professor Jirafales [Girafales]; Ramón Valdés, irmão dos famosos Tin Tan e "El Loco" Valdés, ao qual dei o nome de “ingeniebrio” ["engenhébrio", mistura das palavras engenheiro e ébrio] Ramón Valdés Tirado Alanís [Tirado ao Anis] (em razão de representar um bêbado); e eu, com o nome e as características do Doctor Chapatín [Doutor Chapatin], para o qual usei a peruca, os bigodes e tudo o que havia confeccionado para o personagem que ia fazer em El Hotel de Kippy [O Hotel de Kippy], que havia sido cancelado tempos antes [produzido por Sérgio Peña e estrelado por sua “sócia”Kippy Casado...]. Só acrescentei algo que depois despertaria a curiosidade de mais de um espectador: o saquinho (de papel) do Doutor Chapatin. 
As perguntas das supostas cartas eram lidas por Aníbal de Mar, aquele comediante cubano que tinha sido companheiro do grande Trés Patines. Havia também uma secretária representada pela simpática Bárbara Ramson. Esta última, sem demora, foi chamada pela concorrência (Canal 2) [Tele-Sistema Mexicano, que ao adquirir a TV TIM em 1973, criaria a Televisa] e foi substituída por uma baixinha que terminou sendo um dos pilares de meu grupo: Maria Antonieta de Las Nieves. Depois se foi Aníbal, e Maria Antonieta se encarregou de ler as cartas. 
Esta seção de Sabados de La Fortuna [Sábados da Sorte] teve tanto êxito que a empresa considerou conveniente dar a oportunidade de se tornar uma série independente. Assim foi como começou o programa que durante várias semanas se chamou Los Supergenios de La Mesa Cuadrada [Os Supergênios da Mesa Quadrada] e que logo adquiriu o título de Chespirito (páginas 197 e 198)”.





























Esquete mais antigo dessa fase disponível no Youtube (C) é "El Vampiro" - anterior a versão com José Luis Fernández, de 1972...
























































“No programa Chespirito, conservei a participação de Rubén, Ramón e Maria Antonieta, além de completar o elenco com outros atores cuja participação era eventual. E tudo caminhou muito bem, mas unicamente durante um par de semanas mais, pois então tomei uma decisão que não só era altamente inesperada, mas também, na opinião de todos, constituía a pior das bobagens: era a decisão de eliminar a Mesa Quadrada. Isto, certamente, gerou os comentários mais diversos: 
- Mas é o esquete que motivou a empresa a nos dar um espaço próprio! 
- Está louco! 
- Aquilo sim é um sucesso! - etc, etc... 
Havia um motivo poderoso: a própria construção mínima do esquete exigia que houvesse muitos chistes adequados ao momento, de modo que havia funcionado muito bem em um programa como Sabados de La Fortuna, apresentado ao vivo, pois isto permitia a menção de pessoas e acontecimentos atuais, porém essa característica se perdia quando o produto se armazenava por duas ou três semanas (no mínimo) para constituir a reserva necessária de capítulos. Isso não só representava uma deficiência em atualidade, mas também podia gerar aspectos negativos(...) (...) e se a isso adicionarmos a ironia injusta que fazíamos de muita gente famosa (atores, cantores, esportistas, etc.) a solução tinha que ser essa: a eliminação do esquete que nos havia dado fama. Por outro lado, naquele tempo era impossível imaginar o grau de sangrenta ofensiva que alcançaria a crítica, tal como se exerce hoje, quando as ironias vão endereçadas com comentários mais nauseantes, perniciosos e cruéis. 
Dizem que as adversidades podem ser produtivas. E eu acredito nisso, pois como consequência de ter sofrido aquela adversidade (a eliminação de La Mesa Cuadrada) surgiu a necessidade de criar algo em substituição ao citado esquete; e então foi quando lembrei daquele personagem que havia sido rechaçado por muitos comediantes: El Chapulín Colorado [O Chapolin Colorado]”.




























Programa ganhou vida própria em 1973, tornando-se primeiro programa produzido pela Televisa mexicana vendido para o exterior...
























































“Inicialmente eu tinha posto outro nome no personagem, pois pensei em chamá-lo Chapulín Justiciero (Chapolin Justiceiro). Porém, depois de desenhar um uniforme adequado, topei com um inconveniente: a cor do traje. Porque eu dava como definido que, no caso, tinha que ser verde. Sem dúvida, as roupas que seriam parte fundamental do uniforme só se encontravam facilmente em quatro cores: preto (demasiado fúnebre); branco (que refletia demais a iluminação de televisão); azul (não apropriado para os efeitos de chroma key que já planejava utilizar); e vermelho (que também apresentaria problemas técnicos, o que então eu não sabia. De maneira que, por eliminação, o personagem teria que usar um uniforme vermelho. 
Isto eu justifiquei trocando o "sobrenome" Justiceiro por Colorado, o qual, além do mais, representaria uma grande vantagem: uma singular eufonia e uma associação com o célebre arremate dos contos: "y colorín colorado, este cuento se há acabado" (este, por certo poderia ser outro exemplo de adversidade produtiva). O traje se completaria com um calção amarelo, um coração da mesma cor no peito, com as letras "CH" em vermelho, tênis que combinavam amarelo e vermelho e um capuz de onde surgiam um par de anteninhas como a dos insetos, mas que eu afirmava serem de vinil (material plástico que então era muito utilizado na fabricação de brinquedos). No princípio, levava também um par de pequenas asas, semelhantes às dos insetos [Chapulin é o nome de um gafanhoto avermelhado que serve de alimento no México...], porém muito rapidamente optei por eliminá-las, já que não tinham utilidade alguma e, em compensação, atrapalhavam muito na hora de atuar. 
O que eu jamais havia imaginado foi o imediato e impactante êxito que obteria meu personagem, pois não tinham transcorrido duas ou três semanas de sua estréia quando as pessoas já repetiam "No contaban com mi astúcia!" [Não contavam com minha astúcia!], cada vez que encontravam a ocasião própria para falar (que se achava a cada instante). O Chapolin Colorado havia pronunciado a frase desde o primeiro programa em que esteve presente; logo iria adicionar outras frases que não só passariam a fazer parte do vocabulário do público, mas também a ser usadas em caricaturas de personagens políticos e até na propaganda deles próprios. 
Em mais de um país da América hispânica se fizeram campanha eleitorais em que os candidatos diziam "Siganme los buenos!" [Sigam-me os bons!], "Todos mis movimientos están friamente calculados!" [Todos os meus movimentos são friamente calculados!], "Se aprovecham de mi nobleza" [Se aproveitam de minha nobreza], "Lo sospeché desde el principio" [Suspeitei desde o princípio], etc. O Chapolin Colorado popularizou também uma rotina que desenhei especialmente para o personagem, a qual consistia na combinação de dois refrões populares cuja mistura produzia um bom efeito cômico (...) 
Rapidamente nossa popularidade cresceu a passos agigantados, o que constatávamos pelos muitíssimos autógrafos que nos pediam, e também pela inúmeras vezes que nos chamavam para contratar apresentações do grupo. Dos contratos se encarregava meu irmão Horacio, cuja colaboração tive a sorte de contar a partir dessa época. Seu desempenho foi tão bom que depois de nos apresentarmos em mais de 70 cidades mexicanas e outras tantas no exterior, só em uma delas deixamos de fazer o pagamento de um dia de hotel. Acho difícil que haja antecedentes de algo similar, pois nesse ambiente é mais que comum encontrar empresários que voam com o dinheiro da bilheteria. (Páginas 203 a 208) 
Com este insuperável elenco, reforçado por um enorme carinho pelo trabalho e um infatigável entusiasmo para realizá-lo, o programa seguia ascendendo em qualidade e popularidade. Tanto que a empresa decidiu dividi-lo para formas dois programas: Chapolin Colorado e Chaves, transmitidos em dias diferentes (segundas e quartas, respectivamente). Ambos se completavam ocasionalmente com com outros esquetes, entre os quais se destacavam El Doctor Chapatín [Doutor Chapatin], acompanhando o Chapolin, e Los Caquitos [de cacomistle, um tipo de roedor], mostrado com o Chaves. Estes últimos eram dois ladrões tão burros que jamais conseguiam roubar algo: El Peterete, interpretado por Ramón Valdés, e El Chómpiras, vivido por mim. Com a saída e a morte de Ramón, o companheiro de Chómpiras passou a ser El Botija, interpretado por Edgar Vivar. A eles logo se juntaria La Chimoltrufia [Florinda Meza], que rapidamente se converteu em personagem fundamental do quadro, Rubén Aguirre como o Sargento Refúgio Pazguato e outros personagens(...)".




























Reprises de 1972 à parte, episódio mais antigo em exibição é "A Casa Mal Assombrada", de 1973 - que estreou no SBT em 2013...

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