sexta-feira, 30 de agosto de 2019

CHBR3.5 (VI): Clube do Chaves, do Começo ao Fim...

Quando a CNT fechou acordo com a Televisa em 1997, Chespirito gravou uma mensagem saudando "o seu novo canal de novelas"...


























































O programa “Chespirito” estreou no México em 1980, após o fim das séries “Chaves” e “Chapolin”... Esta última, mais precisamente devido a um acidente acontecido com Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, durante as gravações do episódio de Chapolin, “Vinte Mil Beijinhos Para Não Morar Com a Sogra”, que o obrigou a usar tapa-olho para fazer os episódios seguintes – vide “A troca de cérebros”, e o levou a produzir um episódio de despedida do personagem, que deu lugar ao repórter Vicente Chambón, na nova série “La Chicharra”... Se bem que... Chapolin reapareceu em “Chespirito”, junto com os outros personagens de Gómez Bolaños... El Chavo (Chaves), Doutor Chapatin, Chaparrón Bonaparte (Pancada)  e Chompiras (Chaveco)... Alis, o quadro “Los Caquitos”, com os ladrões Pancada e Botijão, tornaria-se o mais importante do programa... Vide o momento em que os dois “melquiores” se regeneraram, em 1987, por um desejo do próprio Bolaños e no meio de uma tentativa de renovação do programa incentivada pelo vice-presidente da Televisa na época, o brasileiro Augusto Marzagão... Então é por isso que nas entrevistas dadas a Gugu para o “Viva a Noite”, feitas nesse mesmo ano, Florinda Meza, Edgar Vivar e Rubén Aguirre aparecem vestidos como seus personagens no quadro, Chimoltrúfia, Botijão e Sargento Refúgio... Apesar do programa “Chespirito” ter estreado no Brasil apenas em 1997 – dois anos depois da Televisa ter encerrado sua produção – na CNT, que tinha um acordo com a emissora mexicana, vide dublagem da BKS... Inclusive o personagem de Gómez Bolaños era chamado pelo seu nome original, El Chompiras... Apenas quando o SBT adquiriu o programa, redublado pela Gota Mágica em 1998 e exibido em 2001, ele passou a ser chamado de “Clube do Chaves”... Chompiras foi rebatizado como Chaveco e o maluco Chaparron Bonaparte recebeu o nome de Chalouco, quer dizer, de Pancada...  “Clube do Chaves” foi exibido até 2002, sem repetir o êxito de “Chaves” e “Chapolin”, e os quadros do programa “Chespirito” voltaram ao SBT entre 2006 e 2008, com exibições nas madrugadas (sem os quadros de Chapolin e Chaves, que em 2012 chegaram a ser redublados pela Herbert Richers, mas nunca foram ao ar...) e em 2017, exibidos com “Chaves” e “Chapolin” numa nova versão do “Clube do Chaves”... Em “Sin Querer Queriendo”, Gómez Bolaños fala sobre o programa “Chespirito”, a regeneração de Chaveco e Botijão e o fim abrupto de seu programa, em outubro de 1995:

“Para escrever os episódios de Los Caquitos, eu recorria frequentemente à ironia, pois os personagens tinham diálogos como estes: 
BOTIJÃO (suspirando, preocupado): Sim, Chaveco: esta cidade está se perdendo a passos agigantados. 
CHAVECO: Por que você diz isso, Botijão? 
BOTIJÃO: Como porquê? Não vê que as ruas estão cada vez mais iluminadas? Que há cada vez mais policiais por todos os lados? 
CHAVECO (triste e resignado): É verdade. Quer saber, Botijão? Pra mim, o governo está nos traindo. 
BOTIJÃO: Tanto assim? 
CHAVECO: Pois pra que te digo que não, se sim, como diz a Chimoltrúfia. Você não o conhece! BOTIJÃO: Pois haja cinismo. Nesse passo, vão acabar com a profissão. 
Etc, etc. 

Era óbvio que chamar de profissão a atividade dos ladrões era uma concessão ao humorismo, porém, era certeza de que sempre foi dessa forma? Porque eu jamais havia tido nenhuma duvida a respeito... Até ver na televisão uma ‘entrevista’ (de algum modo tenho de chamá-la assim) que fizeram com um autêntico ladrão. 

Se tratava de um especialista em abrir as portas dos carros sem necessidade de usar gazuas nem nada, por estilo. O homem falava de sua atividade usando o termo ‘profissão’ com a maior naturalidade do mundo. Isso me fez recordar a forma com que usávamos essa linguagem em meus programas e refetir acerca do dano que poderia causar a algum telespectador que não fosse capaz de discernir entre ficção e realidade. A reflexão não foi muito longa, pois logo cheguei à conclusão de que não deveria correr o risco. Portanto, determinei uma mudança fundamental em Los Caquitos: decidi que eles deixariam de ser uma dupla de ladrões, e para tanto solicitei e o obtive a ajuda do Chaves... Do Chaves! Sim! 

Em um programa de Los Caquitos do começo de 1987 ["O Crime Não Compensa"], Botija, Chimoltrufia e Chómpiras estão vendo na televisão um programa do Chaves em que este era acusado, evidentemente sem razão, de ser um ladrão [“O Ladrão da Vizinhança”, de 1982...], o que fez os três espectadores chorarem intensamente (tal como se sucedeu com muita gente na vida real). A mais afetada foi Chimoltrufia, que em meio a um mar de lágrimas, fez ver a Botija e Chómpiras até onde pode conduzir  ‘a estúpida atividade que desempenham’; e a partir daí pede que prometam nunca mais roubarem, o que é aceito com pleno convencimento por seu marido e por seu amigo. Dali em diante, Botija e Chómpiras desempenhariam o papel de dois ex-delinquentes que deviam superar as barreiras que esta condição impõe a quem tenta buscar um emprego. E nunca mais cometeram crimes. 






































Edgar Vivar também foi convocado para dar seu depoimento exaltando a parceria entre as redes de televisão brasileira e mexicana...






















































"Agora, bem, não sei se foi por essa razão (ou apesar dela), porém a popularidade de Los Caquitos seguiu crescendo a tal ponto que não tardou a alcançarem a categoria de quadro mais importante do programa. Havia, desde então, outro fator que muito propiciava este crescimento: o indiscutível aumento de experiência que todos nós havíamos acumulado. 

Por exemplo: se Raul Chato Padilla havia se destacado como Jaiminho, o carteiro, aqui realizava um delicioso delegado Morales, que se distinguia por sua honestidade e, sobretudo, pela caridade que demonstrava no exercício de suas funções, e pela infinita paciência com que suportava a todo mundo. 

A seu lado, estava o adorável sargento Refugio Pazguato, um policial tão cândido quanto honesto, interpretado pelo mesmo Rubén Aguirre que tanto se distinguiu como Professor Girafales e aqui, na minha opinião, alcançou maior distinção. Sua ingenuidade era tal, que não encontrava nenhum problema em apaixonar-se por Maruja (ou Marujinha, como a chamava carinhosamente), a qual não tinha pudor em mostrar-se como o que era: "uma mulher da rua".

Maruja, por sua vez, era interpretada por María Antonieta de Las Nieves, e eu posso jurar que foi a única vez em que a televisão mexicana mostrou uma comédia que incluía um personagem desse tipo sem jamais incorrer em mau gosto ou falta de respeito com o público. A interpretação de María Antonieta era estupenda. 

O mesmo se pode dizer sobre Angelines Fernández, que abandonava a posição de solteirona que exercia como Bruxa do 71 para encarnar [Dona Cotinha] a tolerante vizinha dos imprevisíveis Botija e Chimoltrúfia. 

Botija havia sido o virtual chefe da dupla de bandidos formada por ele e Chaveco, dois ladrõezinhos cuja burrice tinha sido o obstáculo irremovível que lhes impedia de consumar o mais simples dos roubos; ainda que aquele não tivesse dúvida em assegurar que seu companheiro havia sido o causador de todos os fracassos; mesmo que este, Chaveco, aceitasse de bom grado toda a culpa para evitar possíveis brigas. "Tómalo por el lado amable", dizia, sempre com intenção conciliatória, sem averiguar quem teve realmente a culpa. 

Interpretar o Chaveco era a maior das satisfações que tive em minha carreira de ator de televisão; e mais: com o privilégio que significava atuar ao lado de Florinda, que dava a maior demonstação de talento, graça e simpatia quando dava vida ao delicioso e adorável papel de Chimoltrufia. Lutadora incansável, discutidora sem remédio, segura de si mesma, inculta porém inteligente, honesta em todos os sentidos, valente, empreeendedora, orgulhosa quando era necessário, porém doce e terna quando as circunstâncias o exigiam. E como se fosse pouco, possuidora de uma voz tão potente que, quando cantava, colocava em perigo os tímpanos dos vizinhos mais próximos... e não tão próximos. 

A Chimoltrufia também se distinguiu pelo uso de frases que logo seriam frequentemente repetidas: Yo como digo una cosa digo otra [Quando eu digo uma coisa, eu digo outra], Pa qué te digo que no, sí si [Pra que te digo que não, se sim], Es como tudo [É como tudo], etc. E o mesmo se sucedeu com os pleonasmos múltiplos tais como: ‘Os restos do corpo de um cadáver defunto que já está morto porque passou desta para uma melhor’.  (Páginas 341 a 344)”.









































Sendo que programa "Chespirito" começou a ser anunciado pela CNT ainda quando estava sendo dublado pela BKS/Parisi Vídeo...























































“Transcorria o mês de setembro de 1995. Porém, eu esperava com doce ansiedade, com regojizo interior e com legítimo orgulho, a chegada do dia 14 do mês seguinte. Por que? Porque nesse dia se completariam 25 anos desde que meu programa tinha ido ao ar pela primeira vez. Nada menos que 25 anos! Todo um quarto de século a aparecer semana após semana nas telas de televisão (durante várias temporadas foi exibido duas - e até três vezes! - por semana). Isto não havia logrado nada... E tampouco logrei eu. Por que? 

Porque num belo dia... Disse ‘belo’ dia? Pois disse mal, pois o correto seria dizer ‘péssimo’ dia, já que foi um péssimo dia desse mês de setembro, quando soube que meu programa deixaria de ser exibido a partir de outubro. O dia 14, portanto, já não poderia ser esperado com doce ansiedade nem com regozijo interior nem com legítimo orgulho. Ao contrário: eu sabia que quando esse dia chegasse, não faria mais do que lastimar-me, tendo em vista que só faltariam duas semanas (duas míseras semanas, disse então) para que o programa completasse seu vigésimo-quinto aniversário. 

- Você jamais me disse nada à respeito - falou Emilio Azcárraga Milmo [dono da Televisa, morto em 1997], quando me queixei da decisão - se tivesse dito, poderia adiar as mudanças por duas semanas. 
- Não disse nada - respondi - porque não tinha a menor idéia do que planejava fazer a empresa. Além do mais, eu não tinha porque estar a par de tudo que a Televisa pretende fazer. 

Acontece que a empresa decidiu suprimir todos os programas conhecidos como "unitários" (humorísticos, musicais, concursos e similares) para que em seu lugar se exibissem apenas telenovelas. 

- Má medida - comentei de forma imprudente quando Emilio a explicou. 
- É MEU risco - assinalou em tom que não dava chance à réplica. Não obstante, alguns dias depois, me mandou chamar para dizer: 
- Só há dois programas com os quais posso abrir uma "leve" exceção: o seu e "Mujer, Casos De La Vida Real" [Casos da Vida Real] (este último, produção de Silvia Pinal). 
- Em que consiste esta "leve" exceção? - perguntei. 
- Eles podem ser exibidos aos sábados, entre 4 e 5 da tarde. 

Agradeci a distinção da oferta, porém não aceitei, pois não gostei do horário. Por outro lado, pensei que talvez fosse conveniente diminuir um pouco minhas atividades e me dar algum descanso.  (Páginas 405 e 406) 

Se tratava de algo que havia começado antes do programa sair do ar, digo: quando decidi que Chapolin e Chaves sairiam do programa. Isso havia acontecido dois anos antes [1993], quando cheguei à conclusão de que nenhum dos dois personagens deveria continuar no programa Chespirito, já que ambos haviam cumprido de maneira mais que proeminente um ciclo de vida que não devia prolongar-se. E agora, com o passar dos anos, confirmo que minha decisão foi correta. 

Fácil teria sido o contrário: explorar os personagens de maneira impiedosa (sem misericórdia para mim, porém sobretudo para o público) e prolongar sua existência como se faz com muitos doentes em fase terminal. E não estou me pronunciando a favor da eutanásia, remédio que incumbe somente aos diretamente afetados, porém estes (enfermos e seus parentes) se negariam em todos os casos a exibir quem se encontra em estágio terminal. Em outras palavras: me opus ao risco de que Chapolin e Chaves chegassem a dar pena; que chegassem a exibir os resíduos em que vão se convertendo, inexoravelmente, todos os seres humanos. 

É verdade que ao interpretar o Chaves eu nunca pretendi que o público acreditasse que se tratava de uma criança. Não, eu só pretendia que aceitassem a realidade: que se tratava de um adulto interpretando uma criança, o qual, estou seguro, se comprovou cabalmente, sobretudo levando-se em conta que na primeira vez em que apareci como Chaves na televisão, eu tinha 42 anos (...) 

Houve outros fatores de ordem secundária, porém latentes, que determinaram o cancelamento da série, um dos quais foi sem dúvida a crescente ausência de atores (...) Pouco depois de tomar essa decisão, Raul Padilla e Angelines Fernández morreram. 

No que diz respeito ao Chapolin, a ausência se devia principalmente à minha condição física, a qual se mantinha unicamente nas lembranças. De maneira paulatina, porém inevitável, se foi essa agilidade que por sorte me havia acompanhado até uma idade maior que a prevista para estes místeres, porém cuja ausência ia se tornando cada vez mais evidente, de modo que o aconselhável era que meu personagem gozasse de uma merecida aposentadoria. 

Não faltou o comentário geral de quem dava Chespirito como morto. 
- Se não é o Chapolin ou o Chaves, que outra coisa pode fazer? 

Bom, naquele momento pude continuar a interpretar o Doutor Chapatín; Pancada Bonaparte e, sobretudo, Chaveco - este, com a estupenda companhia do Sargento Refúgio Pazguato, Delegado Morales, Dom Cecílio, Botijão e a adorável Chimoltrufia, continuava a ser uma das deliciosas e terapêuticas respostas que se podiam dar àquelas objeções. E com a vantagem adicional que significou ter escrito muitos roteiros que, a meu ver, são os melhores de minha extensa produção (Páginas 407 a 409)”.





























CNT estreou série em 1 de junho de 1997, mas SBT adquiriu no ano seguinte, quando Silvio Santos pediu sua redublagem...

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