segunda-feira, 26 de março de 2018

Todas das Copas (1958): Primeira vez do Rei no reino dos suecos...

Uns apreciavam beleza da jogada de Nílton Santos, outros se apeteciam com uniforme da União Soviética, que já nasceu "vintage"...










































(Publicado originalmente em 12 de fevereiro de 2014...) A Suécia conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 1958 dez anos antes... Não poupou despesas, pois utilizou nada menos que 12 estádios para receber 35 jogos, Dilma... As Eliminatórias marcaram o comparecimento inédito de todos os países componentes do Reino Unido... Inglaterra, que eliminou Eire e Dinamarca... Escócia, eliminando Espanha e Suíça... Irlanda do Norte, que tirou Itália e Portugal... País de Gales, que... Bom, os galeses ficaram em segundo no grupo que classificou a Tchecoslováquia... Só que a Fifa não quis classificar automaticamente Israel no Grupo da Ásia e da África... A seleção israelense se beneficiou de seguidas desistências... Turquia, Indonésia, Egito, Sudão... Países com presença islâmica, relutantes com o Estado judaico... Decidiu-se fazer uma repescagem, convidando os segundos colocados europeus e o Uruguai – não classificado para o Mundial, mas que recusou o convite de cara... Feito um sorteio, o País de Gales foi escolhido, venceu os dois jogos com Israel por 2 a 0 e compareceu à Copa... Quanto ao Brasil... Deveria enfrentar Peru e Venezuela... Os venezuelanos desistiram... E os peruanos venderam caro a vaga... Depois do empate em 1 a 1 em Lima, o time então dirigido por Osvaldo Brandão venceu por 1 a 0 no Maracanã, gol de folha-seca de Didi em 21 de abril de 1957... A Seleção teve mais sorte que o Uruguai, eliminado pelo Paraguai, por um ponto... Depois da eliminação da Copa de 1954, o Brasil viveu momentos de tensão... Nós dissemos tensão... Primeiro, o suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954... Apesar da ascensão ao poder de João Café Filho, o presidente mais Mestre da história brasileira, houve uma tentativa de golpe para impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek em 1955... Enquanto circulavam relatórios na antiga CBD culpando os amigos do internauta Pedro Henrique pelos fracassos da Seleção, o time dirigido por Flávio Costa fazia uma vergonhosa excursão à Europa em 1956 – vide Nilton Santos brigando com uma repórter por causa do encontro com o inglês Stanley Matthews... A classificação apertada para a Copa favoreceu a eleição de João Havelange para a presidência da CBD 14 de janeiro de 1958... Era conhecido por sua atuação como nadador e principalmente pelo trabalho como administrador de empresas de ônibus em São Paulo... Inclusive quando a CMTC foi fundada, em 1947, Havelange foi convidado para dirigir a empresa – formada pela encampação de empresas particulares, entre as quais a que Havelange trabalhava – mas ele recusou, pois não faz negócios com o poder público... Preferiu continuar com os Maschioli, que criaram a Viação Cometa e barram uma importação de ônibus do Expresso Brasileiro para a linha São Paulo-Rio... No comando da CBD, Havelange chamou Paulo Machado de Carvalho, dono da Rádio e da TV Record, e ligado ao Bambi (foi contra a construção do Morumbi...), que reuniu um grupo de jornalistas para elaborar um plano para a Copa de 1958... Paulo Planet Buarque, Ary Silva e Flávio Iazetti elaboram um planejamento em forma de lei, com mais de 90 artigos... O comando da Seleção ficou com Vicente Feola, com larga experiência no time do Morumbi, que na época ainda tinha seu estádio na região do Canindé... A comissão técnica foi reforçada com um dentista – Mário Trigo Loureiro, que trabalhou forte nas bocas dos atletas enquanto contava piadas – e um psicólogo – João Carvalhaes... Na verdade, era o responsável pela aplicação de testes psicotécnicos para a seleção de motoristas da CMTC... Enquanto a Seleção se preparava para a Copa, Havelange foi pedir pão velho para Juscelino... O presidente, um botafoguense bissexto, aceitou o pedido de verba e depois até agradeceu o presidente da CBD, porque pode fazer mudanças no ministério durante a Copa do Mundo sem ser incomodado, enquanto acompanhava os jogos numa Brasília em construção, pelo rádio... Como introdutor da indústria automobilística no país, Juscelino certamente foi lembrado por Havelange, que a Suécia era a sede da Volvo, famosa por seus ônibus – alguns deles operando nas linhas urbanas que a Cometa mantinha na região da Vila Formosa... Quem sabe os suecos não ficassem impressionados com os brasileiros e decidissem instalar uma fábrica na região de São Bernardo do Campo... Ainda assim, a Seleção precisou fazer um amistoso com o Timão no Pacaembu para fazer caixa... Que só serviu para a torcida ficar pedindo a convocação de Luizinho – atleta que estava nos planos de Paulo Machado de Carvalho, só que não – e para Ari Clemente lesionar uma jovem promessa de 17 anos que jogava na Peixaria... Edson (OG)... Mais amistosos para fechar a conta aconteceram na Europa, especificamente na Itália... Ali Julinho Botelho desistiu de jogar a Copa – alegando que estava jogando fora do Brasil (na Fiorentina) – e um promissor ponta-direita foi barrado da equipe titular ... O cachorreiro Manoel Francisco dos Santos, o popular Mané Garrincha... 















Seleção Brasileira que compareceu aos gramados da Suécia era formada por muitas fíguras ímpares...










































Sem Edson (OG), Mané e Vavá do Bacalhau, e com os rubro-negros Joel e Dida, além do porcolino Mazzolla, a Seleção estreou com a Áustria, em Uddevalla, no dia 8 de junho... Mesmo jogando no 424, Feola ainda se surpreendia com os avanços do lateral Nilton Santos para o ataque... Mesmo que o companheiro de Garrincha no Foguinho tenha feito um dos gols da vitória por 3 a 0... Os outros dois ficaram a cargo de Mazzolla... Enquanto isso, no mesmo grupo, a União Soviética, campeã olímpica em 1956, empatava com a Inglaterra por 2 a 2... Os ingleses foram o adversário do segundo jogo, em Gotemburgo... Outro empate, em 0 a 0... O primeiro registrado em uma Copa do Mundo... Talvez por isso – e a vitória dos soviéticos sobre a Áustria por 2 a 0 - a equipe tenha passado por algumas modificações... O peixeiro Zito (OG) substitiu o Bambi Dino Sani... Garrincha assumiu... A posição de Joel... Vavá entrou no lugar de Mazzolla... E o Edson (OG) substituiu Dida... Funcionou rápido, pois em três minutos de jogo em Gotemburgo, depois de vários dribles do Mané e passes de Didi, Vavá abriu o placar... E fez 2 a 0 no final aos 32 minutos do segundo tempo, com corte na perna e tudo... Quem apostava nos soviéticos, teve de se conformar com um jogo-desempate com a Inglaterra – vencido por 1 a 0... Dizem que a vitória sobre a URSS agradou muito o governo brasileiro da época, pois o país não mantinha relações diplomáticas com os soviéticos... Artes da Guerra Fria... Nas quartas-de-final, o Brasil enfrentou o País de Gales, segundo classificado do grupo da Suécia, graças a uma vitória na partida de desempate com a Hungria por 2 a 1... Partida difícil em Gotemburgo, vencida com um gol do Edson (OG) aos 28 minutos do segundo tempo, jogada de Didi com direito a montinho dentro do gol para comemorar, entende???... Nos outros jogos das quartas-de-final, a Alemanha – que eliminou a Argentina, considerada a favorita sul-americana para o Mundial e acabou tomando de 6 a 1 da Tchecoslováquia, Assaf – venceu a Iugoslávia por 1 a 0, em Malmo... Os anfitriões suecos superavam a União Soviética – o país europeu mais cotado para Copa – por 2 a 0 em Estocolmo... A Irlanda do Norte, que superara a Tchecoslováquia em um jogo-desempate – foi derrotada pela França por 4 a 0 em Norkoping... E seriam os franceses os próximos adversários do Brasil nas semifinais... Vavá abriu o placar em Estocolmo, aproveitando lançamento de Didi, com 2 minutos de partida... Os “bleus” empataram aos 9 com Fontaine – décimo gol no Mundial do jogador nascido em Casablanca, no Marrocos, protetorado da França até 1956... Os brasileiros só desempataram aos 39, com um chute de fora da área de Didi... Edson (OG) fez 3 a 1 aos 9 minutos do segundo tempo, após cruzamento de Vavá... O pai do Edinho (OG) pegou gosto pela coisa e aproveitou as muitas bolas servidas por Didi e Garrincha para marcar mais dois gols, aos 19 e aos 31 minutos... Piantoni fez 5 a 2 aos 38, apenas para diminuir a diferença... A partir desse jogo que os franceses começaram a se referir a Pelé como “Le Roi du Football”, talvez devido aos rumos incertos da França republicana... A Seleção Brasileira estava na final, onde enfrentaria a Suécia, que venceu a Alemanha de virada por 3 a 1, em Gotemburgo...  














Era difícil não se emocionar diante do enorme talento de jogadores como Djalma Santos, Didi, Edson (OG)...















































O Brasil não poderia utilizar a camisa amarela, mesma cor do uniforme sueco... Também não contaria com o lateral De Sordi, do Bambi, segundo consta devido a uma contusão, sendo substituído por Djalma Santos, da Burra... Mudança que teria a aprovação irrestrita do internauta Pedro Henrique... Enquanto a comissão técnia corria atrás de camisas azuis, Paulo Machado de Carvalho dizia que o novo uniforme era da cor do manto de Nossa Senhora Aparecida... Havia uma imagem da santa na antiga sede da Record no Aeroporto, a mesma que foi chutada por um pastor da Universal, já com Edir Macedo comandou a emissora... Alis, a biografia do “Doutor Paulo”, escrita por Tom Cardoso e Roberto Rockmann, vale a leitura... Crenças à parte, a Suécia abriu o placar no estádio Rasunda, em Estocolmo, com 4 minutos de jogo, graças a Liedholm... Sem se abalar, Didi pegou a bola no fundo da rede e caminhou de cabeça erguida até o meio do campo para dar... A saída... Cena devidamente registrada pela transmissão da televisão sueca... Não havia videoteipe e o sinal alcançava apenas os países da Europa Ocidental, porém a partida foi cinescopiada (uma câmera de cinema filmando a tela da televisão...) e hoje pode ser assistida na íntegra no Youtube – a não ser que você seja um "coronista" que acha o futebol do passado lento demais... Na transmissão é possível ver tudo o que é contado nas antologias dos Mundiais... Como o gingado de Garrincha na hora de driblar, origem de dois gols quase idênticos de Vavá... Que levaram a virada brasileira ainda na primeira etapa, aos 9 a aos 32 minutos... O famoso gol do Edson (OG), em que ele dá um chapéu em Gustavsson antes de chutar a queima-roupa contra o gol de Svensson, o preferido da vizinha de porta do Mestre, Angélica, aconteceu aos 10 minutos do segundo tempo... Um cena de destaque no filme oficial do Mundial, SporTV... Até porque o pai da Sandra Fernandes ajoelhou na comemoração, por falta de ar... As cenas da transmissão televisiva mostram os recuos constantes do ponta-esquerda do time, que muito ajudavam na cobertura dos demais atacantes... Esse ponta recuado era Mário Jorge Lobo Zagallo, do Menguinho, que aproveitaria o lançamento de Didi para marcar o quarto gol brasileiro aos 23 minutos... A Suécia fez o segundo com Simonsson, aos 35, porém o Edson marcou mais um no últmo minuto de jogo... 5 a 2 Brasil, enfim campeão do Mundo... No Brasil, o jornal “O Estado de S.Paulo” correu para lançar uma edição extra antes de “A Gazeta Esportiva”... Tão rapidamente quanto eram prensados os discos com a música que se tornaria o tema da conquista... “A taça do mundo é nossa... Com brasileiro, não há quem possa...” O presidente Juscelino, que viu o jogo no Hotel Nacional em Brasília, receberia os campeões no Rio, na companhia de João Havelange, que não compareceu à Suécia... Sem maiores premiações aos jogadores, diga-se... Caberia a Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação, receber os cumprimentos do rei da Suécia, Gustavo Adolfo... E um tapinha nas costas do dentista Mário Trigo... Vide o livro que escreveu sobre a Seleção e os focos dentários que tratou na equipe, “O Eterno Futebol”... O trabalho do “Doutor Paulo” merecia uma homenagem de um jovem jornalista do jornal paulistano “O Esporte”... Joelmir Beting cunhou o apelido “Marechal da Vitória”... Edson (OG) chorava, amparado pelo goleiro Gylmar dos Santos Neves (OG), então do Timão, uma cena que até hoje leva às lágrimas o internauta Pedro Henrique... O capitão Bellini, do Bacalhau, recebeu a taça Jules Rimet, não muito à vista dos fotógrafos... Que pediram ao zagueiro, um rostinho bonito que entrava feio nos adversários, levantasse o troféu... Criando o hoje obrigatório gesto de erguer a taça, feito por todos os campeões mundiais... Hoje em dia, quem se lembra do fato do árbitro francês Maurice Guigue ter apitado quatro dos seis jogos do Brasil naquela Copa???... 


















Gesto mais belo que erguer a Jules Rimet, só se o capitão brasileiro Bellini levantasse a miniatura de um ônibus Volvo...

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