sexta-feira, 22 de maio de 2020

Viva é Dez (III): Porque “A Grande Família” bombou e “Os Trapalhões” floparam???...

"A Grande Família" "pulou o tubarão" na temporada de  2012, quando Lineu entrou em coma, porém canal Viva não tirou série do ar... 
















































Em 2018, o canal Viva estreou dois programas de humor que fizeram muito sucesso na Globo... “Os Trapalhões”, de 1977, e a versão de 2001 de “A Grande Família”... Esta foi um êxito instantâneo, mesmo com o esquema predatório de exibição... Aquele, embora muito esperado pelos fãs de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, fracassou e saiu do ar no último mês de janeiro... O recorte escolhido para o canal da Globosat não foi muito feliz – e nem original, por ser o mesmo da exibição da Globo Portugal... Que começa na temporada de 1988, quando Wilton Franco, o criador dos Trapalhões na TV Excelsior, em 1966, assumiu a direção geral do programa... Que iniciou então um processo de declínio... Isso é atestado pelo grande número de “remakes” de quadros feitos nos anos anteriores, principalmente no final dos anos 1970... Período que ficou de fora das apresentações do Viva, e que tem alguns dos quadros mais badalados no YouTube ©, principalmente do período em que Adriano Stuart foi diretor, entre 1979 e 1981... Dali até a separação do quarteto, em 1983, com direção de Osvaldo Loureiro, Maurício Sherman e Gracindo Júnior, seguiu-se uma fase em que Renato Aragão  teve mais destaque que os outros integrantes do grupo, passando a atuar sozinho quando Dedé, Mussum e Zacarias deixaram o programa... Quando o quarteto reatou relações, em 1984, seguiram-se quatro temporadas muito dinâmicas, inventivas e profícuas, graças a mudanças anuais na direção, ocupada por Paulo Araújo, Walter Lacet, Carlos Manga e Maurício Tavares... Então é por isso que com Wilton houve uma acomodação e os “remakes” viraram norma... Em resumo, o melhor da Globo ficou de fora do Viva... “A Grande Família”, por ser uma produção mais recente, foi mostrada desde o primeiro episódio da primeira temporada – na semana passada, começaram a entrar os capítulos de 2014, último ano da série... Quando a série não engrenou, pelo horário tardio de exibição, depois do programa policial “Linha Direta”, e pelas histórias serem fieis demais aos roteiros da versão original da atração, produzida entre 1972 e 1975... Faz sentido, porque o projeto inicial eram apenas 12 episódios a título de homenagem - o último seria "Amigo é Pra Essas Coisas"... A saga de Lineu Silva, sua “sócia” Nenê, seu sogro Floriano e seus filhos Bebel e Tuco, além do genro Agostinho, só ganhou fôlego quando entraram os roteiros originais, alargando o arco com a vizinhança suburbana da família Silva, vide Beiçola e Marilda...  Assim, a temporada original de 12 episódios aumentou para 17 e terminaria com "A Bola da Vez" - com cara de último episódio, vide Seu Flor tendo um infarto após abusar do citrato da sildenafila em uma casa de massagem e quase sair de cena - mas com "Papai Está com a Cachorra", a produção se tornou permanente, vide mudança de cenário... Nos primeiros episódios, a atuação de Marco Nanini e Marieta Severo como Lineu e Nenê e o próprio ritmo do programa lembrava “A Comédia da Vida Privada”- vide episódio "Mãe é Mãe", de 1995, que o Viva exibiu no Dia da Mães ano passado... Claro que Lúcio Mauro Filho está muito melhor do que Murilo Benício no papel de filho, mas, enfim... Mesmo o Agostinho era defendido por Pedro Cardoso ainda como se o ator estivesse em “Vida ao Vivo Show”...  Ele sequer usava camisas coloridas!!!... Agostinho passou a ser Agostinho pra valer quando começou a trabalhar como taxista, no começo da segunda temporada... Só então se tornou uma versão cômica do trágico Biroliro, de quem Pedro Cardoso é um crítico feroz... Ops!!!... 























No caso de "Os Trapalhões", o programa humorístico nunca mais foi o mesmo depois que Zacarias saiu de cena em 1990...

















































Das sete temporadas de “Os Trapalhões” que o Viva passou – de 1988 a 1993, e a de 1995 – apenas duas contam com Zacarias – os trinta anos de sua saída de cena, acontecida em 1990, foram lembrados pelo canal em março com uma maratona de programas de 1988 e 1989 escolhidos aleatoriamente... A relação dos fãs do grupo com os Trapalhões é muito passional devido à separação de 1983, que gerou uma discussão sem fim sobre o papel de cada integrante na comicidade do quarteto, e as mortes de Zacarias e Mussum, ocorrida em 1994 – homenageada pelo canal com uma semana especial com mais programas aleatórios em julho e agosto do ano passado... Exibir quatro temporadas com três integrantes, e uma com apenas dois não é algo muito bem aceito pelo público... A única grande baixa do elenco principal de “A Grande Família” foi a de Rogério Cardoso, em 2003, no meio da terceira temporada... A série prosseguiu por mais uma década, valendo-se dos coadjuvantes fixos e eventuais para criar novas possibilidades no desenvolvimento dos episódios, em especial depois da saída de cena de Seu Flor, vide Beiçola, Marilda, Mendonça, Paulão da Regulagem e Tio Mala... “Simpsons” começou assim... “A Grande Família” chegou ao fim absolutamente desgastada, sem lugar na Globo com as mudanças no comando do setor de humor, e o elenco não se suportando... Ainda assim, tanto as reprises globais quanto a exibição do Viva não tiveram problemas de direitos... Embora haja um episódio "perdido" no Viva, no caso, "O Dia que o Beiçola... Puf!!!", da terceira temporada (estreou na Globo em 18 de dezembro de 2003...) e "O Velhinho Pocotó", mostrado duas vezes na Globo, em 22 de maio e 24 de julho de 2003, esta exibição a título de homenagem de Rogério Cardoso, apareceu uma única vez no Viva... Problemas comuns no caso de “Os Trapalhões” desde  o processo movido pela família de Zacarias durante as reapresentações da Globo em 1994... Quanto ao Viva, as demandas dos familiares de Terezinha Elisa e Ted Boy Marino levaram ao corte de vários esquetes, mutilando e até inviabilizando a exibição de vários programas... Chega a ser irônico que o especial “Baú do Humor”, exibido na véspera do Dia das Mães, tenha um quadro em que Terezinha aparece como a mãe de Zacarias, algo que não aconteceria nas exibições regulares de “Os Trapalhões” no canal da Globosat... Agora, mais um processo é movido por Andréia “Sorvetão” Faria e Conrado, que compareceram no programa entre 1990 e 1993... 























Outro "pulo" de "A Grande Familia" aconteceu quando Lineu construiu um barco, em 2013, o que também não interrompeu exibição...
















































“A Grande Família” manteve-se em bom nível até o final de 2011, mesmo com a saída de Andréa Beltrão, que fazia Marilda, cabeleireira e melhor amiga de Nenê, que foi fazer "Tapas e Beijos", uma versão da série em horário comercial, digo... O programa que se tornara uma crônica dos anos Luís Inácio e da ascensão da “nova classe média”, vide Agostinho virando taxista e o “pet shop” do Lineu, tentava manter a posição na Era Dilma com Nenê assumindo a presidência... Da associação de moradores, vide “tour” do viaduto... No início da temporada seguinte, a série, como dizem os estadunidenses, “pulou o tubarão” com o coma de Lineu, que fez a trama avançar quatro anos no tempo, dando pretexto a mais uma incursão de Agostinho, já dono de uma frota de táxis, na política, que terminou com sua prisão...  Em 2013, outro pulo, quando Lineu decide construir um barco, que ao ficar pronto para singrar os mares, no fim da temporada, é roubado pela golpista Lurdinha, cujo bebê, o qual era parte de um golpe contra Mendonça, é adotado por Lineu e Nenê – voltando para a verdadeira mãe no começo da temporada seguinte... Afora as situações que se tornaram repetitivas, como as crises do relacionamento entre Agostinho e Bebel – a única novidade era a presença do filho Florianinho – as neuroses de Nenê, as “semi-relações” de Tuco,  confusões no Dia das Mães, comida queimando no forno no Natal...  E entre um pulo no tubarão e outro, o alter-ego de Beiçola – sua mãe, Dona Etelvina – praticamente sumiu da saga dos Silva... Neste momento, o Viva exibe a última temporada da série, produzida em 2014... Lineu chegou a sair navegando pelo mundo com seu barco, acompanhado de Nenê, mas teve de retornar para socorrer Agostinho... Ou seja, o que seria um desfecho pouco ortodoxo para a série (como era o desejo do elenco e da equipe de produção, que já tentara encerrar a série em 2007, vide Lineu e Nenê brigados a temporada toda, desta vez a briga que se estendeu ao longo do ano foi a de Agostinho e Bebel, evocando o arco "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", de 2003, uma espécie de precursor da série "Tapas e Beijos", vide Fábio Assunção...) se tornou uma centralização da história no elenco principal, com Lineu aposentado, Nenê separada do "sócio" e trabalhando forte como cozinheira na pouco memorável Adega do Braga (e o próprio Braga menos memorável ainda...)  e Tuco parando com a carreira artística – pior ainda que Fábio Porchat, que fazia o Júnior, sócio de Nenê numa loja de confecções e inspirador da ideia de Tuco vestir-se de mulher para ser escalado em uma novela -  rara boa novidade das últimas temporadas, saiu de cena pela porta dos fundos... Ops!!!... Alis, em seus derradeiros episódios, "A Grande Família" adotou uma levada, digamos, mais "novelística", com muitos "flashbacks" - vide Wagner Santisteban como o jovem Lineu - crises existenciais - nesse ponto, os roteiristas foram particularmente severos com Tuco - e dilemas - crise da "sociedade" de Lineu e Nenê, falência da Carrara Táxis Carrara - que só foram se resolver no penúltimo capítulo, quer dizer, no penúltimo episódio... Porque o último, com todas as tramas terminadas, despedidas à parte, serviu mais como homenagem ao diretor Daniel Filho, que "tropicalizou" - ajudado por Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa - a versão nacional do seriado estadunidense "All In The Family"... Com a saída de cena de Zacarias, a direção de “Os Trapalhões” – Wilton Franco e Maurício Sherman - investiu em quadros fixos, para reduzir os gastos com cenografia e uniformizar o conteúdo para venda internacional - com resultados irregulares... No caso, “Trapa Hotel” (1990/1991...), pensado para ter a participação de Zacarias, se deu melhor que “Vila Vintém” (1992...), centrado em Didi... O esquema dos quadros de palco, muito valorizado por Wilton, ganhou fôlego com a “Agência Trapa Tudo” em 1992, vide participações de humoristas - avalizadas por Chico Anysio, supervisor do programa na época - atores e cantores... Assim, Geraldo Alves comparecia caracterizado de Chaves, com barril e tudo, Orlando Drummond, o dublador do Popeye, passava a encarnar o personagem do marinheiro movido a espinafre de corpo inteiro - com Zezé Macedo de Olívia Palito - Edna Velho vestia o traje da Mulher-Maravilha para enfrentar os arrastões nas praias cariocas, e por aí vai... No fim do ano ainda foram cometidas paródias de programas de emissoras concorrentes da Globo - "João Suado Onze e Cacetada", "Aqui e Lá Fora", "Claudioval Fecha o Fogo"... Tudo isso não foi o bastante para recuperar a audiência como era esperado pela emissora, levando a direção a ser entregue em 1993 a José Lavigne... Que emulou o estilo de humor do Casseta e Planeta e o ritmo das novelas de Carlos Lombardi – no caso em um quadro solo de Renato, “Nos Cafundós do Brejo”  - uma fase excecrada pelos fãs...Tanto que no fim do ano, “Nos Cafundós do Brejo” foi transformado em “As Aventuras do Zé do Brejo” e os esquetes de caserna voltaram como “Trapacademia de Polícia”, onde o Sargento Pincel virou Sargento Brochas...  A última temporada produzida, a de 1995, só com Didi e Dedé, depois de um ano de reprises e da saída de cena de Mussum, foi tão fugaz que sequer consta do catálogo de vídeos do programa no Viva Play... Basicamente, acrecentaram aos “melhores momentos de todos os tempos” plateia e palco, onde Didi fazia um “stand-up” acompanhado com Dedé na abertura e recebia convidados – Letícia Spiller e Marcelo Novaes, Tom Cavalcante, Tony Ramos, Alessandra Aguiar, Priscila da “TV Colosso”, Betty Lago e Kadu Moliterno, Xuxa, Lima Duarte, o boxeador  Luciano “Todo Duro”, Daniela Mercury, Sandy e Júnior, o elenco da primeira temporada do “Palhação”... Tinha também as “Didicas”, mas como uma delas era a Terezinha Elisa, cortaram... A seleção de quadros, para dar mais frescor à atração e também evitar problemas de direitos, privilegiava a temporada de 1993... Então é por isso que essa fase durou tão pouco, digo... Assim, no caso do Viva, a exibição cronológica do programa não o favoreceu... Toda uma geração de aficionados pelo grupo, cuja idade batia com o público-alvo inicial do canal, os conheceu nas reprises da Globo entre 1994 e 2000... Em geral compostas por uma mescla de quadros de várias épocas, o que compensava as oscilações do programa ao longo dos anos... Um problema que poderia ter aparecido caso a estreia tivesse acontecido em dezembro de 2012, como a emissora chegou a anunciar... Esse cancelamento criou uma expectativa que só aumentou devido às exibições de “A Turma do Didi”, a partir de 2014, que nunca foi muito apreciada pelos fãs devido a ausência de Dedé nos primeiros anos...  O próprio “remake” de “Os Trapalhões” em 2017 fez mais sucesso no Viva do que na Globo, indicando que haveria público para a série clássica... No entanto, as temporadas menos brilhantes, com programas mutilados, frustraram o público e levaram o canal a tirar “Os Trapalhões” em 13 de janeiro – justamente quando Renato Aragão completou 85 anos... 
























Para fãs, no entanto, "Os Trapalhões" "pulou o tubarão" em 1993, com José Lavigne na direção e estreia de "Nos Cafundós do Brejo"...

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