segunda-feira, 25 de maio de 2020

O Homem que Abriu a Editora Hoje a Ponto de Fechar...

Claudio de Souza sugeriu a criação da revista  "Placar" a Abril em 1952 - e a revista foi para as bancas somente em 1970...

































































Em junho de 2018, a editora Abril anunciou que deixaria de publicar as histórias em quadrinhos de Valdisnei, o que fazia desde a sua fundação, em 1950... Dois meses depois, em agosto, a editora fundada por Victor Civita, um filho de italianos nascido nos Estados Unidos, entrou com um pedido de recuperação judicial, vide dívida de R$ 1,6 bilhão...  Ainda em 2018, no mês de dezembro, a empresa concordatária foi vendida pelos netos de Victor, Giancarlo e Victor Neto, ao grupo Cavalry, pertencente ao empresário Fábio Carvalho, por R$ 100 mil...  O valor dá uma ideia da situação financeira deplorável da Abril, que se agravou após a saída de cena em 2013 de Robert Civita, filho de Victor, que comandava a editora... A intenção, como em outras empresas em dificuldades financeiras adquiridas por Carvalho, era trabalhar forte em uma reestruturação (nesse caso, com uma injeção de capital de R$ 70 milhões...) e passar o negócio adiante, obtendo grandes lucros... Então é por isso que em 5 de dezembro do ano passado, a revista “Exame”, um dos principais títulos da editora, foi vendida em leilão por R$ 72,3 milhões ao Banco BTG Pactual – fundado pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes... A iniciativa, que faz parte de um plano de venda de Unidades Produtivas Isoladas (UPIs), recurso previsto pela Lei de Falências de 2005 para os casos de recuperação judicial, deve prosseguir com a venda da gráfica da Abril, na região da Marginal do Tietê...  Os direitos de publicação dos quadrinhos de Valdisnei eram o principal ativo que Civita trouxe para o Brasil quando fundou sua editora... Com alguma inspiração do irmão, Cesar Civita, que mantinha na Argentina a Editorial Abril e editava as publicações do estúdio estadunidense com exclusividade... No entanto, não foi “O Pato Donald”, lançado em 12 de julho de 1950, a primeira revista em quadrinhos da Abril... A primazia coube a um “fumetti” italiano chamado “Raio Vermelho” – distribuído por um “syndicate” argentino, outra sugestão do irmão de Victor - que chegou às bancas dois meses antes da revista do Pato Donald, conforme aponta Gonçalo Júnior em seus livros “A Guerra dos Gibis” – focado na vida do editor de quadrinhos carioca Adolfo Aizen – e “O Homem Abril” – que conta a história da editora por meio da trajetória de uma da figuras mais influentes dentro da empresa em seus primeiros 25 anos, Cláudio de Souza  - pai de Flávio de Souza, o próprio...  Que começou na Abril em fevereiro em 1951, como assessor pessoal de Civita... Exerceu várias funções na editora, quase sempre relacionadas a execução de novos projetos... A versatilidade era uma carcterística que o fundador da editora exigia de seus colaboradores, que chamava de “Homens-Abril” – de onde Gonçalo tirou o título do livro... Quanto a “Raio Vermelho”, a revista teve uma série de problemas, como a inadequação do formato e do estilo das histórias ao gosto do público brasileiro...  Saiu de circulação tão depressa, que nas palavras de Cláudio, “não dá para considerá-la pioneira com essa falta de carisma e de sucesso”...  “O Pato Donald” ia pelo mesmo caminho, quando Souza propôs uma serie de mudanças, implantadas a partir de março de 1952 – formato menor, periodicidade quinzenal ao invés de mensal, impressão em “offset”, balões arredondados no padrão estadunidense, substituindo os quadrados, reaproveitados da versão argentina... Em seguida, enquanto auxiliava no lançamento da primeira revista feminina da editora, “Capricho” – a própria - iniciou um novo projeto, “Mickey”, lançado em outubro, inspirado na revista italiana “Topolino”, em tamanho pequeno, 64 páginas (o dobro de “O Pato Donald”...)e, logo na estreia, a quadrinhização do desenho em longa-metragem “Cinderela”...  O trabalho com quadrinhos incluía a tarefa de batizar os personagens... Ou de fazer alguns ajustes, como no caso de Pateta, que devido ao aproveitamento do material argentino, era chamado de Dippy –  do seu primeiro nome nos Estados Unidos, Dippy Dawg... Da lavra de Cláudio, vieram João Bafo de Onça, Margarida, Huguinho, Zezinho e Luizinho...  Tio Patinhas foi criação do primeiro editor de “O Pato Donald”, o escritor Jerônimo Monteiro, inspirado no nome dado na Argentina ao tio de Donald, “Tio Patilludo” – literalmente “Tio com Costeletas”... Um colaborador de Souza, Alberto Maduar, contribuiu com Professor Pardal, Patacôncio, Clara de Ovos e  Rosinha – a “sócia” de Zé Carioca – e o nome do jornal “A Patada”, inspirado na denominação do mural da redação da própria Abril... Mancha Negra – sem alusões a torcidas presentes - veio de outro colega, Alvaro Figueiredo, que sugeriu a distribuição de figurinhas em envelopes colados nas capas das revistas, o que espantou a concorrência dos álbuns de outras editoras e reverteu uma queda nas vendas no inicio dos anos 1960... Mesma época em que Cláudio foi nomeado “publisher” das revistas infantis da Abril... Era o auge do movimento pelo aumento do conteúdo nacional na produção de histórias em quadrinhos, que ajudou a iniciar na década anterior...  E que custou o emprego de um de seus líderes, Maurício de Souza, na “Folha de S.Paulo”, e quase o levou a aderir à cooperativa de desenhistas criada no Rio Grande do Sul pelo governador Leonel Brizola, episódio que Gonçalo relatou em “A Guerra dos Gibis” e só foi abordado pelo próprio Maurício em sua biografia, lançada em 2017... Quanto a Cláudio de Souza, em 1961, recebeu um pedido  de Civita para  publicar “O Pato Donald” semanalmente... Para garantir o interesse do público, ele idealizou um esquema em que a revista dividiria a numeração com um novo título... Os números pares continuariam com o nome “Pato Donald” e os ímpares teriam encabeçando a capa o título “Zé Carioca”, personagem criado por Valdisnei em 1942, tendo pelo menos uma história sua no miolo... Como a produção estadunidense de “José Carioca” não ia além de adaptações dos filmes “Você já foi a Bahia???” e “Alô Amigos”, além de algumas poucas histórias, foi preciso recorrer aos capistas da Abril, Jorge Kato e Silvio Fukumoto, que logo contariam com a ajuda do desenhista Waldir Igaiara de Souza... Os primeiros quadrinhos eram traduções do material dos Estados Unidos... Em seguida, começaram a ser escritos roteiros nacionais, alguns a cargo do próprio Cláudio... Como as primeiras histórias deixaram a desejar, ele decidiu partir para a fase que chamou mais tarde de “Zé Fraude”... Ou seja, pegar histórias do Pato Donald ou do Mickey e substituí-los pelo Zé Carioca... Apesar da diferença evidente entre os traços do personagem e o do original estadunidense, e de muitas vezes ele contracenar com Huguinho, Zezinho e Luizinho ou Minnie, os leitores não perceberam nada... Souza, porém, conseguiu ampliar a equipe e a produção nacional de quadrinhos foi retomada, chegando ao apogeu em seu retorno à chefia do setor, na primeira metade dos anos 1970...





















Abril já foi boa nisso, principalmente na época em que publicava anualmente o seu respectivo Almanaque...





































































Durante a década de 1960, Cláudio de Souza foi “publisher” da revista “InTerValo”, coordenando seu lançamento, em 1963, indo em seguida para a direção da Distribuidora Nacional de Publicações (Dinap)... Pouco depois do lançamento da revista em quadrinhos que se tornaria a campeã de vendas em todo o Brasil, por mais de uma década, com tiragens acima de 500 mil exemplares – “Tio Patinhas”... Durante anos, revezou-se na liderança absoluta do mercado brasileiro com “Capricho”, pioneira em fotonovelas... Victor Civita mantinha com orgulho em sua mesa de trabalho uma reprodução da redoma em que Patinhas guardava sua moedinha número 1, presente dos filhos Robert e Richard...  Souza acreditou que o sucesso de Patinhas em relação a outros personagens de Valdisnei, como o Mickey e o próprio Zé Carioca, se devia ao fato de que “não tinha lá muitos escrúpulos, o que queria saber mesmo era do dinheiro, e viva como um aproveitador emérito”... Afora que o personagem criado por Carl Barks em 1947 era sobrinho do Pato Donald... Que caiu no gosto dos leitores brasileiros, de acordo com Cláudio, “por ser um tipo desastrado, explosivo, que sempre metia os pés pelas mãos e estava continuamente envolvido em confusão”... Depois da distribuição, Souza engajou-se no lançamento das coleções em fascículos – a primeira delas, “A Mais Bela Bíblia do Mundo”, saiu em maio de 1965 – e envolveu-se na implantação das revistas de informação “Realidade” e “Veja”... Na primeira, lançada em 1966, montou uma redação inteira para produzir um “número zero”, dispensada logo em seguida para a entrada da equipe que lançou de fato a revista, e cobriu a Copa do Mundo realizada na Inglaterra... Na segunda, que começou a circular em 1968, aprovou o nome sugerido por Civita, “Veja”, que era rejeitado pelo filho Robert, o qual acrescentou um “E Leia”, e para apoiar as atividades da redação comandada por Mino Carta, supervisionou a montagem do Departamento de Documentação (Dedoc), negociando a compra do acervo do jornalista esportivo Thomaz “Olimpicus” Mazzoni – que conhecia dos tempos em que colaborou e trabalhou em “A Gazeta Esportiva”... Fato que Gonçalo considera “valioso” para outro projeto que teve a participação de Cláudio, depois de coordenar a entrada da Abril no setor de livros didáticos... A implantação da revista esportiva que sugeriu a Victor Civita em 1952, no embalo da participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Munique, vide futebol e o ouro de Adhemar Ferreira da Silva no atletismo... Além de elaborar um esboço da publicação, sugeriu seu nome – “Placar” – prontamente registrado por Civita... O dono da Abril, no entanto, avaliou que “a ideia era boa, o boneco é muito bom, mas ainda não estamos prontos para fazê-lo, falta-nos estrutura”... O projeto foi para a gaveta – literalmente, de acordo com o autor – e foi retomado 18 anos depois, quando a editora, por meio de Robert Civita, filho de Victor, aumentou seu arco de publicações, indo além dos quadrinhos e das revistas femininas, com títulos como “Quatro Rodas” e “Cláudia” e as já citadas “Realidade” e “Veja”... A intenção era aproveitar o entusiasmo pela Copa do Mundo que aconteceria  no México e com o lançamento da Loteria Esportiva pela Caixa Econômica Federal... Mais do que isso, Victor queria que “Placar” fosse o órgão oficial da nova loteria, fornecendo os volantes para apostas... Enquanto a ideia era posta de lado pela pressão dos concorrentes, Cláudio montou um grupo de trabalho para desenvolver a revista, chefiado pelo jornalista Paulo Patarra, e o proprietário da Abril produziu em sigilo uma moeda com a efígie do Edson (OG) para ser distribuída no primeiro número... A equipe formada por Souza tinha nomes respeitáveis – Dante Matiussi, Hamilton de Almeida Filho, Hedyl Valle Júnior, José Maria de Aquino, Lemyr Martins, Maurício Azêdo e Michel Laurence – e a revista “misturou inicialmente reportagens de dentro e fora do campo, com a cobertura dos jogos  e detalhes dos bastidores”, destinadas ao “mais democrático dos leitores”, pois, de acordo com Cláudio, “atingia todas as classes sociais e todos os bolsos, intelectuais, analfabetos, ricos, pobres, gente bonita e feia, todos os crentes e descrentes”... Nessa fase, ele destaca as entrevistas com Edson (OG) e João Saldanha, que pediu demissão do cargo de técnico da Seleção Brasileira três meses antes do Mundial, e a matéria em que o repórter Georges Bourdokan, em um “frila” para a revista, fingiu ser o representante de um clube marroquino, e conseguiu convencer os dirigentes do Peixinho a negociar vários jogadores da equipe...  Em 50 anos de existência, “Placar” nunca foi uma publicação muito rentável, apesar das várias tentativas de alavancar a circulação paga, a mais famosa acontecida em 1995... O que se deve a uma série de fatores, como a limitação do poder aquisitivo dos leitores da publicação e a desorganização do calendário do futebol brasileiro... Já nos primeiros números havia a dificuldade da revista, por imposição da gráfica da Abril, fechar no domingo, às 19 horas, justamente quando estavam terminando a maioria dos jogos da rodada... A publicação, no entanto, era impresa na segunda e distribuída na terça, o que fazia ela chegar “fria” às bancas... Sempre listada pelas consultorias internacionais que atuaram na editora para ser descontinuada, “Placar” foi repassada, junto com outros títulos, para a Editora Caras em meados de 2015...  Incluída num pacote em que predominavam revistas femininas e sobre o mundo artístico, a publicação esportiva foi incluída no lote devido a predileção por esportes do editor argentino Edgardo Martolio, fundador da revista “Caras” no Brasil, em 1993... Só que a vendagem não melhorou e em outubro de 2016, após os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil, a revista foi devolvida para a Abril... No ano seguinte, “Placar” adotou um esquema de edições especiais que vem sendo seguido até hoje, com algumas modificações...  Quanto aos quadrinhos do Valdisnei,  que deixaram de sair pela Abril em junho de 2018, eles foram assumidos pela editora gaúcha culturama em dezembro... As primeiras revistas saíram em março do ano passado... A Panini Comics, que era a principal candidata a assumir os títulos do estúdio – e que se consolidou no Brasil a partir de uma associação com a Abril para produzir álbuns de figurinhas (a qual, segundo Cláudio, acabou tirando público dos gibis...) – do mesmo modo que incorporou títulos de outras produtoras (DC, Marvel, Maurício de Souza Produções...), anunciou em outubro do ano passado que retomaria a publicação das coleções do selo “Valdisnei de Luxo”, encadernadas com capa dura... O que aconteceu logo no mês seguinte, de olho nas compras de Natal do público “geek” de maior poder aquisitivo... 
























Cláudio de Souza foi responsável pela criação de um título muito cotado no mercado de gibis usados, o "Valdisnei Especial"...

























































































Em 1971, Souza volta a comandar o setor de publicações infanto-juvenis da Abril... No ano anterior, ele havia dado um parecer favorável à contratação de Maurício de Souza, que teve a revista “Mônica e Sua Turma” lançada no mês de maio... Sob o comando de Cláudio, a vendagem dos quadrinhos da Abril subiu de  1,4 milhões para 4 milhões de exemplares mensais...  Os personagens de Valdisnei eram os grandes impulsionadores dessas vendas, inaugurando uma fase que se estenderia até o final dos anos 1980 e receberia na editora o nome de “A Era Pato”... Se bem que... Nesse período, os patos ganharam reforços de peso, como as revistas com os personagens de Maurício de Souza (Mônica e Cebolinha) - com seu estúdio em plena ascensão - Marjorie Buell (Luluzinha e Bolinha) – descontinuados nos Estados Unidos, o que levou a produção de históricas nacionais - os astros dos desenhos animados da Warner Bros, Universal e da Hanna-Barbera – que ganhavam espaço na televisão, vide série “Heróis da TV” - e os super-heróis da DC e da Marvel – estes depois de uma passagem que o estúdio estadunidense considera lamentável pela Bloch Editores...  Nessa época,  o grande filão de público de quadrinhos eram pessoas entre 14 e 30 anos, principalmente “office-boys”, motoristas de caminhão e taxistas, trabalhadores que liam gibis na hora do almoço ou entre um serviço e outro...  Claro que os leitores mais novos eram atraídos por brindes, como álbuns de figurinhas, chaveiros e moedas com os personagens...  Inspirado no êxito do “Almanque Disney” e suas 128 páginas, Cláudio teve a ideia de criar uma publicação “3B”  - Boa, Bonita e Barata – a partir de material de arquivo... Foi assim que surgiu “Valdisnei Especial”, com 292 páginas, republicando histórias com edições temáticas – por exemplo, “Os Bandidos” - e conseguindo vender 200 mil exemplares nos primeiros meses mesmo com um preço de capa mais alto... Mais tarde, depois da saída de Souza, foram lançados o “Valdisnei Especial Reedição” e o “Valdisnei Especialíssimo” – este último vendido por reembolso postal e hoje disputado a tapa pelos colecionadores... Ao perceber que os quadrinhos importados dos Estados Unidos, Dinamarca e Itália não davam conta da demanda, Cláudio ampliou o setor de criação de quadrinhos fundado por Igaiara, tornando-o em três anos um departamento com 30 desenhistas e roteiristas, num total de 120 funcionários, além da “Escola de Talentos”, ou “Escolinha Valdisnei”, destinada à formação de novos profissionais...  Ao mesmo tempo, nomes  já conhecidos trabalhavam forte na produção de histórias nacionais – caso do desenhista  gaúcho Renato Canini e seus quadrinhos do Zé Carioca com personagens que só seguiam o padrão estadunidense por terem uma bolinha preta no nariz – e Souza partia para a criação de novos personagens e projetos...  Uma ilustração do Peninha vestido de Batman na versão italiana da “Enciclopédia Valdisnei”, da editora Fratelli Fabri, deu a ideia para a criação do Morcego Vermelho,  personagem desenvolvido pelo roteirista Ivan Saidenberg...  Para comemorar os 50 anos do primeiro filme produzido por Valdisnei, coordenou em 1973 a publicação “Cinquentenário Valdisnei”, com alguns dos primeiros quadrinhos do desenhista e produtor, além de textos sobre a origem dos personagens -  outro item raro que desperta a cobiça dos colecionadores...  A leitura das histórias com os sobrinhos do Pato Donald elaboradas por Carl Barks fez com que Cláudio sugerisse a Robert Civita a publicação de um “Manual do Escoteiro Mirim”, exatamente como o livro usado por Huguinho, Zezinho e Luizinho... Para sua surpresa, Richard mostrou um manual publicado pela editora Mondadori, na Itália, criado por Mario Gentilini, e deu o sinal verde para a produção de uma edição brasileira... Lançado em maio de 1971, o “Manual dos Escoteiros Mirins” vendeu mais de 500 mil exemplares, em três edições, nos sete anos seguintes... Empolgado com o sucesso do livro, Richard pediu a equipe de Cláudio a produção de novos manuais...  Foi daí que surgiu o “Manual do Tio Patinhas” – a revista do pato mais rico do mundo vendia mais do que “Veja” – que incluía uma réplica da moedinha número 1 de Patinhas, garantindo uma vendagem de 400 mil exemplares... Seguiram-se os manuais do Professor Pardal, do Mickey (outro campeão de vendas...), do Gastão, da Maga e Min, do Pateta (“Autorama”...) e do Peninha, que levou o pequeno Eduardo Bueno a ingressar no jornalismo, usando o nome do primo do Pato Donald... Ops!!!...  Não devemos esquecer do “Manual do Zé Carioca”, lançado às vésperas da Copa do Mundo de 1974, que se tornou uma obra de referência sobre a história do futebol,  que ganhou novas edições a cada Mundial até 1994, com outros nomes – “Manual da Copa do Mundo” e “Gol! Tudo Sobre a Copa do Mundo”... A experiência com os manuais Valdisnei foi tão marcante que quando Souza deixou a Abril publicou na Ideia Editorial, editora que fundou em 1975, o “Manual do Super Herói”, escrito em parceria com César Sandoval e Michio Yamashita, vide Capitão Meteoro... Os manuais também deixaram boas lembranças na Abril, que em fevereiro de 2016 anunciou que relançaria os livros em edições fac-similares, a começar pelo primeiro “Manual do Escoteiro Mirim”, que circulou em junho  – a reedição do “Manual do Tio Patinhas” contava até com uma cópia da moedinha número 1... A publicação das revistas de linha há muito tempo não era mais rentável para a editora, que concentrou seus esforços nos livros da coleção “Valdisnei de Luxo”, em volumes com capa dura...  O cronograma divulgado pela Abril previa o relançamento de 14 manuais – o último deles,  o “Manual do Zé Carioca”, reprodução do original de 1974, acrescido de um capítulo de atualização escrito pelo jornalista Celso Unzelte, o próprio, saiu em abril de 2018... Um mês depois, a editora cancelou as publicações da série “Valdisnei de Luxo” , e em junho, encerrou em definitivo o vínculo com a produtora estadunidense... Os manuais, bem como os títulos de luxo passaram a frequentar as pontas de estoque de livros já em agosto, durante a Bienal de São Paulo... A edição de 2005 do livro de Gonçalo – que segue com a trajetória dos quadrinhos da Abril até o fim do vínculo com a DC Comics, em 2002 - termina com um encarte colorido com a trajetória da editora... Que ainda era sediada num moderno prédio na região da Marginal Pinheiros e mantinha um grande número de publicações, entre revistas, livros, guias e obras de referência, como o “Almanaque Abril”... Ainda estavam lá as três revistas que Robert Civita imaginou como pilares da editora, espelhos nacionais dos títulos que conheceu nos Estados Unidos – “Veja” (baseada na “Time”), “Exame” (inspirada na “Fortune”) e “Playboy” (mesmo título da revista criada por Hugh Hefner em 1952)... Hoje, a Abril está no prédio ao lado da gráfica, na região da Marginal do Tietê – a sede em Pinheiros, foi desocupada em 2017, 20 anos depois de ter sido alugada à Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil...  “Playboy” deixou de ser publicada em dezembro de 2015, quando a Abril não renovou o contrato de licenciamento do nome da revista... “Exame” foi vendida pelos novos proprietários da editora para auxiliar no processo de reestruturação da empresa, em dezembro do ano passado... Resta “Veja” – sabe-se lá até quando... Nas descrições das revistas feitas por Gonçalo, destaca-se o perfil de “Superinteressante” e “Mundo Estranho”...  “Na primeira metade da década que iniciou o novo século, a Abril passou a fazer revistas de amenidades e curiosidades mais populares, como a série “Mundo Estranho”... “Superinteresante”, que nasceu com foco no ensino de ciências até o segundo grau, desviou de rota e passou a tratar temas mais sensacionalistas e oportunistas para alcançar outras faixas de públco dentro do que já fazia a concorrente Escala focada nas classes D e E”... Sendo que a “Mundo Estranho” foi descontinuada em agosto de 2018, junto com outras 14 revistas... O comentário é ilustrado pela capa de um especial da “Mundo Estranho” sobre os super-heróis da DC Comics e de uma edição da revista “Flashback”... Que de fato concorria com revistas de baixo preço de capa – a menção à editora Escala se deve ao fato que no período ela oferecia forte concorrência aos produtos da Abril vendidos em banca, principalmente com revistas femininas e sobre televisão - porém “Flashback”, um especial da “Mundo Estranho” mais voltada ao público “geek” de todas as classes sociais – aqueles que pudessem pagar por ela...























Fora da Abril, Cláudio de Souza realizou diversos projetos, dos quais o mais relevante foi o "Manual do Super Herói"...


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