segunda-feira, 15 de maio de 2017

Silvio Santos, A Trajetória de Um Mito de Verdade...

Quando Silvio comparou Globo a supermercado e SBT a quitanda, não sabia que Bofinho tem alma de quitandeiro...






















































Nos últimos tempos,  o conceito de “mito” vem sendo atribuído a pessoas que nem de longe são merecedoras desse título... Claro que este não é o caso de Silvio Santos... Então é por isso que o titulo da biografia escrita por Fernando Morgado, “Silvio Santos A Trajetória do Mito” é totalmente adequada à personalidade retratada em suas páginas... Morgado não conseguiu entrevistar Silvio durante a elaboração do livro, no entanto, ao chegar às mãos do apresentador do SBT, a obra conseguiu repetir a façanha de “A Fantástica História de Silvio Santos”, de Arlindo Silva... Se tornar uma biografia não-autorizada anunciada na emissora de televisão do próprio biografado... Não que os livros publicados sobre Silvio sejam extremamente críticos, exceto “Adelaide Carraro no Mundo Cão do Silvio Santos”, de Shirley Queiroz, em que a famosa escritora relata sua experiência como produtora do “Programa Silvio Santos” na década de 1970, porém o foco aqui são suas divergências com a equipe da atração, em especial com a jornalista Silvia Donato, que apresentou alguns dos primeiros noticiários policiais do SBT, e revelações sobre a vida pessoal de Silvio... Há também os estudos acadêmicos, tais como “Linguagem Autoritária”, de Maria Thereza Fraga Rocco – que depois se tornou jurada do “Troféu Imprensa” – e “Circo Eletrônico”, de Maria Celeste Mira... A revista “Contigo”, que já teve Iris Abravanel como colunista, lançou “Silvio Santos, A História de Um Vencedor”, um relato altamente elogioso... Em termos de mitomania, no entanto, nada se compara às três edições de “A Fantástica História de Silvio Santos”, lançadas em 1972, 2000 e 2002 – esta, um “upgrade” menos conhecido da edição anterior, acrescida de capítulos sobre o desfile na Tradição no Carnaval, os sequestros de Patrícia Abravanel e do próprio Silvio, e a primeira edição da “Casa dos Artistas”, fatos acontecidos em 2001...  O livro de Morgado é dividido em capítulos temáticos... “Negócios”, “Artista”, ‘Dono de Televisão”, “Política” e “Vida Pessoal”... Além de um capitulo introdutório chamado “O homem por trás do sorriso” no começo da obra e uma cronologia no final... Em cada capítulo temático há uma coletânea de frases de Silvio Santos, pesquisadas pelo autor em livros, periódicos e sites da internet... Em “Negócios”, é relatada toda a trajetória empresarial de Silvio, desde a venda de carteiras para título de eleitor na região da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, em 1945, até a venda do Banco Panamericano para o BTG Pactual em 2011... Na realidade, quase toda.... Apesar do texto e das frases apontarem diversos altos e baixos dos empreendimentos de Silvio, a maior parte deles surgidos para dar apoio à atribuição de prêmios no programas televisivos e do Baú da Felicidade, faltou mencionar, coisa pouca, a pressão que Silvio fez para vender o Banco Panamericano... Inclusive declarando textualmente que se a instituição financeira quebrasse, aconteceria um efeito dominó e vários grandes bancos também iriam à bancarrota... Na verdade, depois da crise financeira internacional de 2008, Silvio já tinha vendido 37% das ações do banco para a Caixa Econômica Federal (apoiado em uma Medida Provisória que autorizava a Caixa e o Banco do Brasil a adquirir participações acionárias de bancos pequenos e médios...), já que o principal negócio do Panamericano , o microcrédito, estava em baixa devido à falta de dinheiro para oferecer empréstimos, a inadimplência dos tomadores... BV Financeira começou assim... Ele falou grosso porque não queria uma intervenção federal – risco surgido devido às operações fraudulentas de Luiz Paulo Rosenberg – e muito menos vender o restante do banco para a Caixa, que já ocupava metade das vagas do Conselho de Administração do Panamericano... Seria o fim da fama de empresário que prosperou sem depender das benesses de governos... O que de forma alguma obscurece o brilhantismo de Silvio na área empresarial, vide Jequiti...





























Empresas do grupo garantiam renda publicitária das emissoras de Silvio, vide Tamakavy na Record em 1981...






















































O capítulo “Artista” tem a sagacidade de situar o “Programa Silvio Santos”, que começou em 2 de junho de 1963, dentro de uma tendência da televisão latino-americana de “programas de longuíssima duração, que tudo cabe”... “Esse formato, chamado de ônibus ou contêiner, tem segmentos que funcionam como vagões de um trem conduzido pelo animador”... Entre os quais se inclui o “Siempre En Domingo”, de Raul Velasco, aquele do “C” com a mão para indicar o comercial, na Televisa mexicana, que os cômicos do programa “Los Polivoces” rebatizaram de “Siempre Lo Mismo”... O Troféu Imprensa é citado em seu aspecto mais essencial... “Foi Silvio quem decidiu entregar aos premiados uma estatueta idêntica à do Oscar ©, feita na Vila das Mercês pela Piazza”... Quanto ao Miss Brasil, faltou dizer que a Suzy Rego, Miss Pernambuco, perdeu por pouco em 1984, digo...  E a obra não esconde as  inspirações das atrações de seu programa... “Para Silvio, as viagens serviam como fonte inesgotável de ideias para novas atrações... Não foram poucos os jogos que ele apresentou após vê-los em uma feira de negócios ou no quarto de um hotel”... Uma lista que inclui até o “Show do Milhão”... Que era “Jogo do Milhão”, até Silvio se desentender com o empresário Jacques Glaz, que criou o formato, baseado no game-show estadunidense “Millionaire”... O fato é que Silvio e sua equipe trabalham tão forte na tropicalização de formatos que quando Luciano Huck lançou “Quem Quer Ser Um Milionário”, com direitos adquiridos e tudo, muitos o acusaram de plagiar Silvio... Que muito modestamente disse em 2001 que seu game “é o único no mundo que tem as opções de arrisca tudo, cartas, placas e universitários”...  Está certo disso???... Sem contar a “Casa dos Artistas”, Endemol...  Antes, em 1987, confessou que por volta de 1974 pedia cartas de recomendação para Manoel... De Nóbrega a fim de assistir os programas de jogos das grandes redes estadunidenses do estúdio... Em 1969, atribuiu ao radialista Almirante uma frase que vive repetindo em seu programa atualmente... “Rádio só é diversão pra quem ouve... Pra quem faz é profissão como outra qualquer”... Claro que hoje ele troca “rádio” por “televisão”... Ah, sim... “O Preço Certo”, no original “The Price Is Right”, foi pensado para ser feito por J.Silvestre na TV Excelsior, em 1963 pelo diretor-geral Edson Leite, apesar dos protestos de seu braço-direito, o Boni...  “Ninguém sabe o preço de coisa alguma e aqui programas de perguntas e respostas só funcionam quanto têm um conteúdo humano e emocional”... Vide “O Livro do Boni”... Que a despeito do aproveitamento quase total no livro de um depoimento  concedido por Silvio a coletânea “50/50”, organizada por Boni em 2000, nas comemorações dos 50 anos de televisão no Brasil, o diretor-geral da Globo entre 1967 e 1997 é uma figura muito prestigiada em uma declaração de 1988, reproduzida no capítulo “Dono de Televisão”... “O Boni é o melhor profissional da televisão brasileira, mas nunca vai ser dono porque não tem estrutura moral para isso... Não tem ética, é passional”... E pensar que no começo deste século, Boni era sempre apontado como possível comprador do SBT, que preferiu contratar o Ratinho... Isso antes da Rede Vanguarda, é claro...  Alis, esqueceram de colocar a declaração que Silvio fez para o repórter Thiago Rocha, da Rede TV!, em uma entrevista exibida em 30 de março de 2015... “A Globo está em crise? Ah, eu compro. Eu compro a Rede Globo, não tem problema. Eu pago para os Marinhos. Pago à prestação, mas pago”... Se for verdade, é melhor que Silvio corra, pois segundo Paulo Henrique Amorim, o magnata mexicano das telecomunicações, Carlos Slim, deve levar a Globo e os Marinhos vão se dedicar às fazendas de café dos Panamá Papers, digo...  Nesse capítulo também está a famosa comparação entre Globo e SBT, feita em 1987... “A Globo é um supermercado, eu sou uma quitanda”... Trinta anos depois, quem tem alma de quitandeiro é o Bofinho, diretor de núcleo do BBB, pautando “twists” em seu “reality-show”  apenas para enfrentar estreias na concorrência... Morgado localizou a frase na extinta revista “Afinal”, no entanto ela foi feita na célebre entrevista concedida a Marcos Wilson e Luiz Fernando Emediato, do “Estadão”... Que levou ao convite para os dois reestruturarem o jornalismo do SBT, Boris Casoy...  O autor ressalta o fato de que Silvio é avesso a entrevistas, mas nesse caso, os entrevistadores o agradaram tanto que acabaram indo trabalhar na emissora... As muitas frases de Silvio para a revista “A Crítica”, em 1969, vieram de uma entrevista feita por Décio Piccinini... Que depois escreveu as colunas de Silvio em jornais e revistas na década de 1970 e se tornou jurado do “Show de Calouros”...  O próprio Arlindo Silva, antes de se tornar assessor de imprensa e biógrafo do apresentador, escreveu um perfil publicado pela revista “O Cruzeiro”, em 1971... E também quando Ricardo Valladares escreveu o perfil que foi matéria de capa da revista “Veja” em 2000, uma das principais fontes do livro... Seis anos depois, o setorista de televisão da publicação da Abril se tornaria diretor artístico do SBT, por um breve período, sendo sucedido pela filha número três, Daniela Beyruti...  Alis, por falar em programação, um parágrafo só sobre “Chaves” é muito pouco... Pelo menos não repetiram a informação fantasiosa da biografia de Arlindo Silva, de que “Chaves” e “Chapolin” teriam sido adquiridos em um único lote de 500 episódios, em 1982... Hoje já se sabe que os episódios vieram em quatro lotes, em 1983 (vide vídeo em que o diretor de dublagem do SBT, José Salathiel Lage, diz que a emissora se preparava para dublar “comédia em videotape”...), 1986, 1989 e 1992... 

























Muito antes da Telesena, Liderança Capitalização já tinha prêmios milionários como grande atrativo...






















































Em janeiro de 1981, a emissora paulista de Silvio Santos ainda era a Record – metade das ações adquiridas por meio de um testa-de-ferro (o livro não menciona que Joaquim Cintra Gordinho, indicado por Demerval Gonçalves, diretor do Grupo Silvio Santos, chegou a ser procurado pelos donos da Fábrica de Móveis Brasil, que tinha um carnê similar ao do Baú da Felicidade, para vender sua participação na emissora...) e 10%, que garantiram o controle da Record, obtidos em troca de um empréstimo a Paulinho Machado de Carvalho, membro da família proprietária da emissora... Silvio só pode assumir o controle da Record em 1976, depois que saiu da Globo – Morgado cita que o contrato de aluguel de horário só foi renovado em 1972 por intervenção direta de Roberto Marinho (Boni, em sua autobiografia, lembra que Silvio emprestou dinheiro a Marinho, depois que o jornalista adquiriu a TV Paulista, onde Silvio apresentava seus programas)... No mesmo ano, entrou no ar a TVS Rio, canal 11, vide exibição do filme “O Homem Cobra” bombando na “Sessão das Nove” em 1979... Antes do SBT ser inaugurado, em agosto de 1981, e principalmente depois do fechamento da TV Tupi, em julho de 1980 – o livro relata todas as influências no processo de licitação das concessões obtidas por Silvio, vide “O Figueiredo... É coisa nossa”  – a emissora carioca e a Record exibiam o “Programa Silvio Santos” e outras atrações produzidas nos estúdios da Rua Dona Santa Veloso, na região da Vila Guilherme... Assim, a mesma vinheta “Todo Dia Toda Hora Tudo Bem”, feita em “scanimate” que seria mostrada no SBT a partir de sua entrada no ar, em 19 de agosto de 1981, aparecia no intervalo comercial da “Sessão Oscar” da Record, exatamente sete meses antes, em 19 de janeiro... A diferença é que a vinheta terminava com o logotipo da Record... Também estavam presentes nos intervalos do filme “A Marca da Forca” os anúncios das empresas do Grupo Silvio Santos... “Sabe, quem procura acha... Mas quem procura o melhor mesmo só vai encontrar no listão de ofertas da Tamakavy Móveis”, diz o ator Mário Alimari, de terno, usando óculos e com a voz do dublador Felipe Di Nardo, que era para a Elenco o mesmo que Marcelo Gastaldi era na MAGA nos estúdios da TVS na Vila Guilherme... Vide dormitório Imperador por 39.900 cruzeiros à vista ou 74.985 cruzeiros à prazo – em 15 vezes...  “Taí, quem procura acha, no listão de ofertas da Tamakavy Móveis... Mais barato, meu... Hum, hum, hum”, diz o garoto-propaganda rindo, abaixando os óculos e olhando para a câmera... Muito antes de Silvio vender a rede de lojas para as Casas Bahia... O comercial seguinte é de outra empresa de Silvio, com jingle e tudo... “Seja sócio do CLAM!!! Seja sócio do CLAM!!!”... O plano de saúde que também era título de capitalização, como relata Morgado no livro, demonstrava suas vantagens...  “Com uma pequena parcela mensal você recebe consultas com hora marcada, exames laboratoriais e radiológicos, hospitalização para tratamento e cirurgias e pronto-socorro aberto 24 horas por dia, inclusive sábados, domingos e feriados”... Essa seria uma das empresas que mais daria dores da cabeça a Silvio ao lado da Aposentec, um plano de previdência privada que pagou valores irrisórios a seus associados ao se aposentarem... E pensar que hoje o apresentador apoia a reforma da Previdência de Michel Temer, convencido de que qualquer um pode chegar aos 86 anos trabalhando como ele, digo... Já a Liderança Capitalização fazia a festa daquela mulher que em pleno salão de beleza, fazendo os cabelos e as unhas, recebia de um carteiro a notificação de que tinha sido premiada... “Os títulos da Liderança Capitalização são assim... Além da poupança capitalizada, você pode ganhar prêmios em dinheiro nos sorteios semanais”... Telesena começou assim, digo... Mas as empresas de Silvio não se esquecem de quem não tem a sorte de ganhar uma fortuna com um título de capitalização... “Tenha as férias que você deseja com o crédito pessoal da Baú Financeira”... Vide os dois ônibus “Dinossauro” da Cometa estacionados lado a lado na plataforma do antigo terminal rodoviário de São Paulo, na região da Praça Júlio Prestes... O comercial, com trilha sonora em ritmo de samba, e mostrando imagens das praias de Acapulco, quer dizer, do Guarujá, enfatizava... “Por tudo que você fez, você merece... Viagens, praias, descanso e muita alegria...  Escolha o programa, e boa viagem... A Baú Financeira financia!!!”... Basta comparecer à Rua São Bento, 272... Quer dizer, em 1981... Hoje, o jeito é recorrer ao Banco Pan, que já não pertence mais a Silvio... Ops!!!... O livro fecha com capítulos sobre “Política” – o diretor editorial da obra, Paulo Tadeu, era redator dos programas do PMB, partido pelo qual Silvio se candidatou à presidência em 1989 – vide o apresentador gravando sete programas em duas horas e pensando em contratar marqueteiro só no segundo turno – e “Vida Pessoal”... Que esclarece sobre a adoção da filha número dois, Silvinha, primeiramente oferecida a Manoel... De Nóbrega... Faltou falar um pouco mais como a filha número quatro, Patrícia, da figura transtornada pelo sequestro,  se tornou a provável herdeira artística de Silvio... Isso depois da saída de Gugu Liberato do SBT, em 2009, a princípio no “Jogo dos Pontinhos”,  em um esquema claramente inspirado em Carlos Imperial e sua filha Maria Luiza, Denilson Monteiro, depois na apresentação de programas e... A gente ia, digo...  A declaração de que “A Patrícia vai muito bem na televisão” não basta...  O que nos lembra a frase dita na Record em 3 de abril de 2016 para Edir Macedo, no Templo de Salomão, que Morgado considera o início da SIMBA Content... “Todos deveríamos nos unir para que pudéssemos alcançar melhores resultados... Seria melhor que um ficar digladiando com o outro... É besteira isso”... Vale mencionar a declaração pois as negociações com a NET para veicular o sinal digital de SBT, Record e Rede TV andam tão emperradas que o próprio Silvio Santos publicou nas redes sociais um vídeo em que ensina como posicionar a antena interna para poder sintonizar os canais digitais abertos... Para encerrar, a profissão de fé de Silvio, extraída do início do depoimento no livro “50/50”... “A minha família é de origem judaica e a minha religião é israelita, sou judeu”... Então é por isso que ele queria ser Salomão no templo de Edir Macedo, digo... 





















































Alguns empreendimentos fizeram Silvio ter dores de cabeça, como o plano de saúde e capitalização CLAM...

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