sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Pancada Sabe Tudo da Mobilidade Urbana de Valparaíso...

Não é todo dia que a gente encontra um trólebus Pullman Standard estacionado na rua, totalmente disponível para fotos....





























































A cidade portuária de Valparaíso, banhada pelo Oceano Pacífico, é a sede do Congresso Nacional do Chile, o que fez dela um dos centros dos protestos que agitam o país desde outro... Novamente, Pancada sabe porque esteve lá... Saindo de sua base nas proximidades do palácio La Moneda, nosso humorista e fornecedor de DVDs foi pegar o metrô na estação homônima à sede do governo do país... Desta vez o embarque aconteceu no contra-fluxo de passageiros, o que permitiu ao internauta ir sentado durante toda a viagem... De La Moneda, o trem da CAF passou pelas estações Los Heroes (uma das mais danificadas nos protestos, aberta apenas para “combinación”...), República, Unión Latino Americana,  Estación Central, Universidad de Santiago, San Alberto Hurtado – nada a ver com o Seu Furtado – Equador, onde foi preciso efetuar uma troca de trem, trocando o vermelho e branco da CAF pelo azul da Alstom – Las Rejas e Pajaritos... Que apesar do nome tinha sua plataforma tomada por cachorros vira-latas... A viagem até Valparaíso aconteceu em um ônibus da Irizar, trafegando por entre montanhas e pedágios... O tempo que estava bom em Santiago ficou nublado em Valparaíso... O terminal rodoviário fica bem perto do ponto inicial de um dos marcos da mobilidade urbana da cidade –os famosos ônibus elétricos da Troleybuses de Chile S.A... A única linha do sistema, a 800, sai da da Avenida Argentina, ao lado de uma cabine em forma de trólebus Pullman Standard, fabricados nos Estados Unidos, que iniciaram as operações dos trólebus da cidade em 1952 – alguns operam até hoje... Só como comparação, o sistema de São Paulo, onde também circularam carros Pullman Standard, é de 1949... A viagem de Pancada, no entanto, é feita em um trólebus de fabricação Suíça, fabricado em 1989 e operando em Valparaiso desde 2014... A passagem, paga diretamente ao motorista, custa 300 pesos (pouco menos de 2 reais...), vide tíquete ilustrado com a foto de um farol... Saindo da Avenida Argentina, o ônibus elétrico entra em uma avenida transversal, a alguns quarteirões  da costa do Pacífico, e segue pela parte baixa da cidade até a Praça de Armas e a região da Aduana, voltando até o ponto inicial... Pelo caminho, além do casario antigo, as pichações e cartazes de protesto, itens obrigatórios na paisagem chilena... Um dos mais recorrentes era um desenho do presidente Sebastián Piñera com o olho pintado de vermelho – mencionando a violência na repressão aos manifestantes... No caso daquele dia, em que o ônibus terminou a viagem em frente a um hospital, na altura da Avenida França...  Enquanto uma fila de trólebus suíços se formava, Pancada reparou que havia um mercado de pulgas ao lado do hospital e foi ver se encontrava algumas fitas VHS... De fato, entre as mercadorias expostas na calçada – um ambiente muito parecido com os dos vendedores que ficam ao redor das grades da Praça da República (aka Campo de Santana...) no Rio de Janeiro – havia algumas fitas a 500 pesos (3,50 reais...), porém o mais interessante estava numa rua atrás do hospital... Nada menos que uma fila de trólebus antigos estacionados, todos eles nas cores verde e bege... Não que nosso colega de rede seja do hobby, mas valia a pena fazer um registro – sempre que os carros e vira-latas que passavam assim o permitiam... Ainda bem que o tempo estava mais nublado, porque Pancada até pensou em tomar um pouco de água das vasilhas deixadas na calçada para os cães de rua... Ops!!!...




























Sendo que o trem da Alstom do metrô de Valparaíso (Merval) permite o acesso á vizinha cidade de Viña Del Mar...





























































Nosso companheiro de web voltou à avenida por onde passavam os trólebus, e ao ver mais vendedores do lado oposto da rua, atravessou e seguiu na direção do mercado público da cidade... Ali, entre aposentados – os que sobreviveram  aos fundos de pensão criados na década de 1980 pelo irmão do presidente Piñera e cuja extinção é uma das principais reivindicações dos protestos – e ambulantes vendendo palta – Pancada encontrou uma espelunca, quer dizer, o restaurante da Dona Florinda, ou melhor, um bar onde pode comprar sua garrafinha de água... Seguindo na direção do mercado, passando pelos camelôs e estabelecimentos comerciais com as portas baixadas, logo de viu diante de uma área fechada por tapumes de zinco e os restos calcinados de uma concessionária de automóveis... Ambos os dois decorrentes dos protestos que aconteceram na região... A concessionária, com carros queimados esmagados por uma montanha de ferros retorcidos e vários grafites de protesto, poderia ser o cenário de uma distopia ambientada no apocalipse nuclear... A vida porém continuava na agitação dos arredores do mercado público, com camelôs que vendiam até fotos da Copa do Mundo de 1962... Pancada tem que andar, mas sua disposição terminou bem na avenida beira-mar, onde foi sentar em um banco no meio da alameda de palmeiras imperiais cujas sementes foram presenteadas pelo Pedrão, quer dizer, por Dom Pedro II... Alis, por falar em figuras históricas, as estaltas entre as palmeiras estavam todas pichadas, uma atitude iconoclasta frequente nos protestos... E hoje vai ter mais, como demonstra o grupo de jovens com bandeiras indo na direção oposta da estação Francia do Merval, o metrô de Valparaíso... O internauta deixou pela observação dos coloridos micro-ônibus da cidade, que sobem os morros onde o trólebus não chega... A variedade de marcas nada fica devendo às cidades brasileiras – Mascarello, Caio, Marcopolo, Busscar, Neobus,  Maxibus, Comil, Bepobus... TMG e Inrecar são exclusividades daqui... Quando nosso colega de rede recuperou o fôlego e comprou um cartão para ir até a vizinha cidade de Viña Del Mar – a viagem custará 595 pesos (cerca de 4 reais...)... A estação nada mais é do que uma plataforma com uma pequena cobertura... O trem da Alstom é moderno, e tem música ao vivo, para apreciar enquanto se observa o Oceano Pacífico – ainda que Pancada esteja no plano Atlântico... Ops!!!... Versão modernizada do antigo trem que ligada as duas cidades costeiras, o Merval opera desde 2005 e após passar pelas estações Barón, Portales, Recreo e Miramar para comparecer à Viña Del Mar... Vide vendedor de pão integral de turbante no acesso à estação... Pancada resolve sentar-se um pouco num banco da praça em frente... Originalmente chamada de Sucre, mas rebatizada de Praça da Dignidade... Alguns ambulantes vendiam bandeiras do Chile, dos indígenas mapuches  (Made in China...) e dos povos originários da Bolívia (Wiphala...)... Faz sentido, porque rapidamente manifestantes de todas as idades – e até um rapaz fantasiado com um ET em suas costas – ocuparam toda a praça...  Nosso colega de rede até pensou em comprar uma bandeira, mas onde ia enfiar o mastro... Ops!!!... Outra dúvida era do porque do comparecimento de uma pessoa com camisa do Fluzinho... Será que estão protestando para impedir o rebaixamento da equipe no Brasileirão???... Ele ficou mais impressionado do que com as bandeiras chilenas tingidas de preto...  No meio da multidão que se concentrava para mais um protesto, Pancada preferiu voltar para Valparaíso... A passagem custou os mesmos 595 pesos da ida, apesar do destino ser a estação Puerto, ponto final da linha, duas depois de Francia... Desta vez, a música ao vivo estava na plataforma, onde um chileno cantava “Você abusou”, de Antônio Carlos e Jocafi... Não dava para tocar o tema de “A Grande Família”, pensou o nosso companheiro de web... Ao chegar na estação Puerto, exatamente por se situar ao lado do porto de Valparaíso, o internauta reparou que o edifício era uma réplica em tamanho menor da estação da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que abriga um shopping center... Então é por isso que ele almoçou ali mesmo... Na saída, atravessou a rua e chegou até a Plaza de Armas, que abriga a única “estalta” que provavelmente não está pichada em todo o país, porque vigiada por dois marinheiros vestidos como o Popeye nos desenhos da década de 1950... Isso deve teve a ver com o fato da sede da Marinha do Chile ficar ali mesmo na praça... Na Calle Serrano, entre o casario com cartazes de protesto, Pancada encontrou um elevador que dá acesso à parte alta da cidade... O problema é que estava fechado e ele se recusou a subir pela escadaria... Só de ver as centenas de degraus, preferiu sentar num dos degraus do prédio da Marinha, sem medo do gesto subversivo... Aquele turista britânico fotografava o hotel em estilo neoclássico ou os micros da Neobus que passavam???... Quando ouviu rumores de que a estação do Merval ia ser fechada – protestos à vista - o internauta apressou-se em pedir um Uber até a rodoviária – e o motorista, quando chegou ao destino, foi embora mais rápido ainda... 



























Interesse do fotógrafo era pelo hotel Rainha Vitória, em estilo neoclássico, ou pelo Caio Foz que passava na Praça de Armas???...





























































A rodoviária de Valparaíso poderia estar numa cidade pequena do interior de São Paulo... A entrada lateral fica em frente ao mercado público... De um lado estão as plataformas dos ônibus e do outro a entrada principal... Bem em frente, o Congresso Nacional do Chile...  Um pouco mais adiante, os tapumes e os restos da concessionária incendiada... O movimento era pequeno na entrada da rodoviária... Um vendedor de jornais expunha seu produto num pano estendido no chão... A vendedora de empanadas estava posicionada com seu forninho – Pancada comprou uma napolitana por 1.000 pesos (7 reais...)... Diante deles, um Comil Svelto com pintura de camuflagem, usado para transporte de tropas dos Carabineiros... Era o primeiro sinal de protestos recentes na área... Um quarteirão antes da rodoviária, um blindado que lança jatos d’água para dispersar protestos – pressionada pela opinião pública, a polícia anunciou que não usaria mais armas nas manifestações, há controvérsias, mas, enfim – era abastecido displicentemente por um policial de camiseta branca, que nem se importava com a água vazando da mangueira... Chegando à Avenida Argentina, ruas e calçadas estavam vazias, embora o chão estivesse repleto de pedras e paus... O protesto já havia sido dispersado pelos “Pacos”... Não havia nenhum trólebus, a cabine estava fechada e pichada – “Me cago em sua normalidade”... Então é por isso que a única pessoa no meio da Avenida era um morador de rua com uma barra de ferro na mão, zoado pelos passageiros dos poucos micro-ônibus que passavam... A essa altura dos acontecimentos, os olhos do Pancada lacrimejavam mais do que os da torcida do Foguinho... Uma comprovação de que os policiais haviam trabalhado forte na represessão, distribuindo bombas de gás lacrimogêneo a todos os que compareceram no protesto... Nosso colega de rede teve de voltar às pressas para a rodoviária e pagar 300 pesos (2 reais...) para poder usar o banheiro e lavar o rosto... Resolvido o incômodo, nosso companheiro de web foi esperar o ônibus para Santiago... A vida no terminal transcorria como se estivesse sediado em outro país... Vendedores ofereciam “Sopas” – revistas de caça-palavras – e água mineral – que Pancada não comprou porque desconfiou que o vendedor bigodudo agiu como seus congêneres no Rio de Janeiro e encheu as garrafinhas na torneira...  Um funcionário empenhava-se em afugentar os pombos que entravam no saguão das bilheterias...  Imitando o arrulhar das aves, pegava-as com as próprias mãos e as expulsava do recinto... A empresa mais presente na rodoviária é a Pullmann Buss Central, com seus carros cor rosa salmão – brasileiros, Comil Campione e Marcopolo Paradiso, e chineses, da Zhongtong... Alguns saíam da garagem da empresa, na lateral das plataformas, outros compareciam pela entrada ao lado do painel homenageando a cantora Violeta Parra... O internauta não teve coragem de usar o Wi-Fi dos ônibus, nem o da Pullman Bus Lago Peñuelas, que não vão para Santiago... Assim não pode ver o vídeo em que os trabalhadores da obra do Congresso Nacional vaiaram Pinochet em 1989... Quando seu ônibus saiu, às 18 horas, ele foi parado logo em seguida, por alguns passageiros que compraram bilhete e não embarcaram, num caso evidente de “overbooking”... Ninguém abre mão de protestar, nem a mulher que estava ao lado do Pancada, que participou dos protestos do dia em Valparaíso – vide nuvem de gás lacrimogêneo que cobria a cidade nas fotos de primeiras páginas dos jornais de Santiago no dia seguinte... Com livre acesso ao Wi-Fi, Pancada teve acesso às primeiras notícias sobre o acidente sofrido por Gugu Liberato em sua casa na região de Orlando... O apresentador da Record rendeu 40 pontos no Bolão Pé-na-Cova, o que foi confirmado oficialmente apenas um dia depois, quando nosso humorista e fornecedor de DVDs viajou para Viña Del Mar... A chegada a Santiago aconteceu num local diferente da partida, no Terminal Alameda, integrado à estação Universidad de Santiago do metrô... Não que Pancada tenha comido um churrasquinho assado que levavam a churrasqueira em carrinhos de supermercado, até porque tinha compromisso marcado na sanduicheria peruana atrás do hotel... O que demorou um pouco porque o único acesso aberto da estação La Moneda era o do lado oposto ao palácio presidencial na Avenida Libertador O’Higgins... A qual só podia ser atravessada no acesso da estação seguinte do metrô, Universidad de Chile... A sanduicheria também era uma das únicas opções de alimentação nas cercanias do hotel, totalmente vazias, a não ser por alguns manifestantes que voltavam dos protestos e batiam boca com os policiais - abertas às 20 horas – ainda com dia claro, já que o horário de verão vigora permanentemente no Chile – além do Café Bombaim... Mas esse é que nem aquele estabelecimento que abriu na rua do Agostinho e ele compareceu escondido de Bebel... Ops!!!...



























O que parece ser uma típica rodoviária interiorana está bem em frente ao Congresso Nacional, local de protestos...

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