segunda-feira, 15 de abril de 2019

A Volta do Bronco Total, O Rei do Ibofe...

Para imitar Silvio Santos, bastou Ronald Golias pendurar um microfone em sua gravata...





















































(Publicado originalmente em 6 de abril de 2017) No dia 15 de novembro de 1972, uma quarta-feira, às 20h45, a TV Record exibiu o programa “Bronco Total”, gravado dois dias antes, e protagonizado por Ronald Golias,... Em que o comediante parodiava Silvio Santos e seu programa “Sua Majestade, O Ibope”, apresentado nas quintas-feiras, às 21 horas, na TV Tupi... O vídeo que está no Youtube © é de uma reapresentação de 1988, na série “Momentos Inesquecíveis”... Cuja abertura e encerramento é uma montagem com imagens de programas clássicos da Record  - dos festivais de MPB até o humorístico “Os Insociáveis”, com Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum – ao som do tema do filme “E o vento levou”... Creditado como produção da “Equipe A” – composta na ocasião por Antônio Augusto Amaral de Carvalho (“Seu” Tuta da Rádio Jovem Pan, diretor de TV...), Nilton Travesso (diretor), Raul Duarte e E. Margherito – responsável pelas principais atrações da emissora em seu apogeu, entre as décadas de 1960 e 1970... Uma inquestionável raridade... Mais ainda pelo fato que provavelmente não há nenhum registro em vídeo do programa original... Provavelmente as fitas, bem como os teipes de outros programas do apresentador realizados desde o início do “Programa Silvio Santos”, em 1963, foram destruídas no incêndio dos estúdios da Vila Guilherme...  Que pertenciam a TV Excelsior, cuja concessão foi cassada em 1970, e estavam em poder da Caixa Econômica Federal, que os alugava à produtora de Silvio, em 6 de dezembro de 1972... O que resta hoje são apenas matérias nos jornais da época e algumas fotos, com a que estava na exposição do Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo... Com base neles tem que dar para entender como era “Sua Majestade, O Ibope”... E como até o cenário foi imitado pela sátira da Record, vide tapadeiras com losangos... O título do programa, claro, faz referência à obsessão das emissoras de televisão pela audiência de todas as classes sociais, medida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, mais conhecido como Ibope... Durante a exibição, Silvio apesentava diversas atrações, que eram julgadas por representantes de cada estrato socioeconômico da população – e dos estudantes... A paródia de Golias - que começa com uma das músicas de sintetizador compostas por Jean-Jacques Perrey, muito usadas como BGMs, vide séries de Chespirito -  fazia exatamente o mesmo, e para imitar seu amigo de muitos anos, ele simplesmente pendurava o microfone na gravata e ria muito ao falar com a plateia... “Não que a gente não acredite nas pessoas, mas nóis quer saber o que qui ocês pensam... E importante saber o qui ocês pensam... É ou não é, minhas colegas de trabalho???... Tá fraco demais... Ou tem colega de trabalho a menos”...  Conseguida uma resposta satisfatória da plateia, o apresentador vai iniciar a conversa com seus “cãovidados” (porque “conhecem as coisas pra cachorro”...) não sem antes reclamar da produção... “Não gosto que me chamem a atenção no programa, Luciano... Senão eu mando embora... Eu mando embora!!! Mando embora ou não mando, colegas de trabalho???... Olha que eu não mando... Mando ou não mando???”...  Uma referência ao produtor e diretor Luciano Callegari, já então um dos homens fortes do verdadeiro Silvio... Que já na ocasião se apetecia em ficar zoando no ar a própria equipe, digo...


















Representando a "crasse" dos estudantes, Tavinho, que fazia comunicações...

























































O apresentador começa a apresentar o júri do programa, descrevendo as características de cada uma das quatro “crasses sócio-inconômicas” presentes no júri... “Crasse A, que ganha mais de 4.500 cruzeiros por mês, e é pó-de-arroz”... Embora o respectivo representante seja Adoniran Barbosa, sabidamente corinthiano, aqui interpretando José, “de São Paulo mesmo”... Silvio Santos, ou melhor, Carlos Bronco, se irrita, pois queria saber seu sobrenome...  “Ô Luciano, eu falei pra não me trazer toupeira no programa”... Esclarecida a confusão, ele pergunta o que José faz... “Nada”, desde que cortou os cinco dedos do pé, recebendo aposentadoria desde então... “Boa profissão”, observa o apresentador, “se corta o dedo do pé dá até para comprar letra de câmbio”...  A seguir, a “Crasse B, que ganha acima de 3.000 cruzeiros, e encosta nos 4.500”, representada por Maria Tereza, quer dizer... “Eu não me chamo, porque estou sempre do meu lado... São os outros que me chamam”... Silvio, digo, Bronco, reclama de novo... “Toupeira não, Luciano... Eu sou o dono, eu peço, vocês não fazem”... A “cãovidada” não deixa por menos... “Uns me chamam de idiota, outros de benzinho, aí depende muito da ocasião”... Também não lembra onde nasceu, pois era muito criança e não reparava nessas coisas... Melhor pular para a “Crasse C, os pobre, os durão”... Momento em que faz as suas apresentações Eusébio Pereira da Silva, médico, nascido na Bahia... Com ou sem H, pergunta o apresentador... Qual a diferença, indaga a toupeira, ops, a mulher da classe B... “Bahia com H é onde nasce os baianos, sem H é onde nasce de tudo”, responde... Ao ser chamado de cara de pau, diz que isso é com o tio dele, porque a “sócia” reclamou de manchas de batom na camisa e ele respondeu que o sabão não é bom...  “Luciano, quando eu contar uma piada, todo mundo tem que rir, Luciano”... Corta para a representante da “Crasse D, que é a crasse dos curinthiano, é quem ganha até 300 mangos”...  Silvio, er, Bronco, pergunta qual a profissão, pedindo cuidado com o que irá falar – e a cooperação das “colegas de trabalho”... “Eu sou doméstica” – tem cara de fera, intervém o apresentador – “sou cozinheira e copeira de uma casa”... E quanto ganha... “Isso depende muito”... Trabalhando... “280 cruzeiros por mês”... Roupa da patroa???... “Meu patrão é viúvo, chegou de Portugal, a mulher dele morreu, aí eu fui trabalhar na casa dele”... Tá explicado... Ops!!!... Por fim, a “Crasse dos Estudantes”...  Representada por “Otávio, mas pros íntimos Tavinho, entende”, sotaque carioca incluso... “Eu sou estudante, eu estudo comunicações, entende... É que nós estamos em outra, bicho, o programa aqui é legal, sacou”... Silvio, digo, Bronco, corta o papo, falando outra vez para Luciano não trazer toupeiras no programa... “Já tá enchendo, sacou”... Há uma leve suspeita de que Tavinho seja Anselmo Vasconcelos, ator que trabalhou com Golias no programa “Bronco”, da Band, o que é negado por um de seus alunos de teatro, nosso humorista e fornecedor de DVDs, o Pancada... O apresentador vai em frente e chama a primeira atração do dia, a “Personagem Ocurta”, nascida em 1932, a começar pelo que dizem os astros, ou melhor, “a muié que lê mão”...  Um homem, que desde que nasceu vive a procura da verdade, ainda não encontrou o verdadeiro amor, apesar de caso cinco vezes e de ser pai de nove crianças, vai morrer cedo, mas será feliz depois que morrer... Sem roupa dava para notar que não era mulher, observa Silvio, perdão, Bronco... E o que diz a letra dele???... É muito bonita, mas sua vida é muito triste, um sofredor, sabe que do pó viemos e ao pó voltaremos... É por isso que meu tio não toma banho, aponta o apresentador, e ao ser chamado de doloroso, diz que doloroso é banguela comendo torrada... E mais, tem tido brigas violentas com a “sócia”... Como o vizinho de Silvio, corrigindo, Bronco, ele é russo, ela é mexicana... Faltam os sonhos da personagem, estes a cargo de “Pedro da Lata” – referência a Pedro de Lara, famoso por seus “Livros de Sonhos”... Não falta nem o bate-boca que o verdadeiro Silvio costumava ter no palco com o Pedro original...  Sonha muito com cachorro, por isso acorda sempre molhado...  É um homem inseguro e triste, a sua vida vai muito mal, mas a partir do ano que vem, se Deus quiser, vai piorar... Pula para as considerações do astrólogo, e logo está no palco a personagem...  O cantor, compositor, músico, ator, produtor, narrador, desenhista, publicitário, diretor de estúdio, camera-man, Carlos Alberto de Nóbrega (criador e redator do “Bronco Total”...), ou melhor, “Vardeci da Lima”... O qual confirma que sua vida é muito triste - que nem a mulher do avestruz, afirma o apresentador – sofre há 18 anos – é corinthiano (Timão não vencia o Campeonato Paulista desde 1954...) – que ao pó retornaremos  - razão porque a avó de Silvo, opa, Bronco, não sai das olarias, sempre levando barro para casa – que tem brigas violentas em casa, quando flagra a mulher com o padeiro – embora há três meses não pague padaria, e o apresentador não pode fazer isso, pois não é “associado” (condição que Silvio escondia...) e teria de beijar o padeiro... Nega que sonhe com cachorro – só com cachorra  - e acorda molhado porque a mulher lhe joga água no rosto... Já que “Pedro da Lata” errou tudo, aos astros... Nasceu em 12 de março, do signo de Peixes – “cara de bacalhau”-  tímido – como o apresentador ao entrar no camarim das bailarinas e ficar pedindo desculpa – valente, sonhador, cauteloso, e acredita em tudo o que lhe dizem – mas não em cegonha, Papai Noel ou coelhinho da Páscoa, o que faz Sil... Golias desconfiar que ele quer um papel na novela...  O jeito é pedir aos júri as notas para a atração, de 1 a 5... João dá 6... A toupeira cochicha uma opinião sobre a guerra do Vietnã dada por um jogador marcado por Luis Pereira depois da metade do segundo tempo e dá 5, o médico também dá 5, a cozinheira, que está sendo esperada pelo patrão na porta do estúdio, 5 também, após uma discussão em que chamou o apresentador de abusado (Silvio já era dado a gracejos inconvenientes naquele tempo, digo...), e ele respondeu que abusado é o papagaio de sua casa, que leva os frangos no açougue para ver as galinhas peladas, e Tavinho... “Eu achei esse programa muito legal, mas não gostei desse quadro, entende, e tem uma coisa, a minha nota é 0”... Tem certeza de que não é o Anselmo, Pancada???... 



















Vardeci da Lima, personagem da semana, teve de confirmar para o apresentador que é homem...





















































Depois do intervalo, a próxima atração do “Sua Majestade, o Ibofe” é a gincana, com as frases de para-choque de caminhão... “Quem refresca rabo de pato é lagoa”... “Este caminhão é que nem pobre, só leva ferro”... “Urubu e mulher, eu trato na pedrada”... “Se o mundo fosse bom, o dono morava nele”...   A representante da classe B, Anunciata, que tem cara de Matilde, considera as frases muito profundas, e alerta que o caminhão com ferro pode enferrujar... Também não entende porque o pato refresca o rabo, já que flutua com a barriga, mas dá nota 5 para tudo... Tavinho dá 0 para tudo, e quando a opinião da copeira, pode ser depois, na saída de emergência... Ops!!!... Silvio, quer dizer, Bronco, liga para o homem do Ibofe... O qual afirma que a verdade dói, mas tem que ser dita, e como ele não falha, falou que Mc Govern venceria as eleições dos Estados Unidos...  O apresentador lembra que Nixon venceu, e ele responde que não disse qual eleição... Também assegura que o Timão não faz gol nem no treino, embora em seguida entre a narração de um gol da equipe corinthiana, a cargo de Joseval Peixoto, da  rádio Jovem Pan... Quanto à previsão do tempo, vai fazer uma noite ensolarada – e começa a chover... O homem do Ibofe é mais conhecido por suas participações no programa “Show de Rádio”, exibido após as transmissões de futebol  da Pan (comandada pelo mesmo Tuta que produziu o “Bronco Total”...), que errava todos os prognósticos das partidas, tendo por trás a intenção de ironizar os resultados das pesquisas de audiência do Ibope...   O quadro seguinte é “O Dia em que Você Nasceu”, com Rivellino da Vila Matilde... Que segundo a mãe, nasceu em 29 de fevereiro de 1950... Silvio, retificando, Golias, se admira... No que dia em que ele nasceu, a mãe estava presente, ao lado dele, mãe é sempre mãe, e que apesar de coração de mãe ser sempre bom, há muito filho da mãe por aí...  Rivellino sabe que nasceu em um ano bissexto, conta que tem posto, como o outro Rivellino, que jogava então no Timão –  “você tem cara de que troca óleo a toda hora” – e o apresentador promete levar seu “Dauphinão 59” para abastecer...  Para apresentar as músicas famosas da época em que Rivellino nasceu, comparecem  Os Originais do Samba, vide Mussum, que cantam “Enlouqueci”, música que gravaram três anos antes, em 1969... Que fez sucesso pela primeira vez com Linda Batista... Em 1948!!!... O apresentador pergunta para Mussum a razão dele estar mancando...  Mordida de cachorro, ele foi tentar pegar o leite do português da padaria, deu de cara com um “capa pretis, da Força Publiquis” – e imita os rosnados... Quando foi “se pirulitar”, levou a dentada – e devolveu na mesma moeda... Ainda se tivesse avisado que estava ali, não seria necessário, mas nunca mais ele abana o rabo para ninguém... De volta a Rivellino, é o único animal na casa, ao contrário do apresentador e seu buldogue, que toda vez que é pisado, pula pela janela e já ganhou o apelido de pizza napolitana... No dia em que ele nasceu, foi inaugurado um trem tão veloz que chegava dez minutos antes de sair...  Também inauguraram o Hyde Park, não confundir com raio que o parta, onde se pode falar o que quiser, desde que a sogra não esteja...  Em Porto Alegre, um senhor careca passou uma pomada dos índios para crescer cabelo – nasceram dois fios, cada um com 1,5 quilo... Em Niterói, um barbeiro coloca uma bolinha de pingue-pongue na boca dos fregueses que vão fazer a barba – e se alguém engole, devolve no dia seguinte... Na progressista cidade de São Carlos, um garoto que se tornaria o maior humorista da televisão sulamericana viu uma porca dando de mamar e disse que os porquinhos estão comendo todos os botões da camisa da porca... Em Fortaleza, uma velinha colocou um toldo na janela do apartamento para pegar os rapazes da academia de judô no andar de cima... Em Manaus, um homem premiado na loteria, feliz como um passarinho, viveu uma tragédia – botou um ovo... Silvio, perdão, Bronco, diz que Rivellino receberá de Luciano um presente do qual se lembrará o ano inteiro – uma folhinha de 1973... Ouvido o júri, a toupeira se apeteceu com a história do buldogue, porque tem um cachorro que abana o rabo sempre que seu “sócio” chega – na frente do focinho...  O apresentador se queixa com Luciano que pela terceira vez ela falou “Pra quem gosta é um prato cheio” e pede desconto no cachê... Tavinho diz que o quadro foi muito fraco, tá superado, estamos em outra, entende... E você é um chato, entende, rebate Silvio, opa, Bronco... Prometendo  manda-lo para a divisa de Mato Grosso com Pernambuco, porque o Brasil cresceu muito, de acordo com o mapa que o tio dele fez no hospício, no qual o Japão faz fronteira com a África, já imaginou, japonês preto... Ops!!!... Hora de falar novamente com o homem do Ibofe, que não falha, prevendo que não haverá congestionamento devido às compras de Natal – e tome barulho de buzinas... A próxima convidada, em cujos óculos o apresentador sentou – já viram coisas piores, garante – escreveu uma carta – não é a primeira, já mandou cartinhas para Papai Noel e a cegonha – pois quer ter filhos – se bem que... Sendo assim, analfabetos estariam bem arranjados, observa Silvio, não, Bronco... A mulher fica feliz porque isso lhe abriu os olhos – mais do que o cara que teve um filho japonês... Quando ela pede explicação sobre o chiste, os Originais do Samba voltam para cantar sua melodia inesquecível, que tocava no rádio, num baile, quando conheceu seu grande amor, com quem não se “associou” porque pediu seu pé em “sociedade”,  e vice-versa, Bronco Abravanel... No caso, “Ô, Inácio”, com os integrantes acompanhados dos respectivos instrumentos, caso do reco-reco de Mussum e o tamborim de Lelei, com direito a solos de sua voz inconfundível... Não custa lembrar que nesta ocasião, Mussum, que comparecia muito à Record tanto se apresentando com Os Originais do Samba em programas musicais quanto em participações nos humorísticos – chegando a ter um “Show do Dia 7” inteirinho para chamar de seu – desde junho de 1972 atuava ao lado de Renato Aragão e Dedé Santana em “Os Insociáveis”, Juliano Barreto... Ao se despedir da mulher, pedindo que pague suas dívidas em dia, o apresentador pede as notas do júri... José não dá nota, só recebe... A toupeira, nem precisa dizer... O doutor dá 4, sem medo de perder o cachê... A copeira achou lindo – não é a primeira vez que dizem isso para Silvio, epa, Bronco, digo... Tavinho não gostou do programa... Deixa para lá...  De acordo com o homem do Ibofe, o programa está em primeiro lugar... Por essa razão, ele vai continuar por mais três horas, terminando às 5 da manhã... Melhor avisar os integrantes do júri, que começam a se despedir do apresentador, enquanto fecham-se as cortinas do teatro da Record – hoje Procópio Ferreira, na região da Rua Augusta...  A piada de encerramento do programa é baseada em fatos reais... Conforme relatam os noticiários da época, o “Sua Majestade, O Ibope”, que era gravado no auditório da TV Tupi, na região do Sumaré, programado para durar duas horas,  frequentemente se estendia para além do horário, com Silvio introduzindo novas atrações no palco, e terminando por volta de meia-noite... Porque um programa com Ibope no nome tem que correr atrás do respectivo, digo... Quanto ao “Bronco Total”, que Golias começou a fazer em 1971, após o término da “Família Trapo”, seguiria no ar até 1973... Reexibido em diversas ocasiões pela Record nas décadas de 1980 e 1990, quando gravações em VHS serviram de base para vídeos do Youtube©, garantindo a preservação da memória televisiva, mesmo quando a paródia sobreviveu ao original... 

















Ao, final, os cumprimentos por mais um programa de muito sucesso de audiência...

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