sexta-feira, 26 de abril de 2019

De novo a CMTC das ruas para o museu e o livro...

CMTC começou a operar em 1947 com bondes herdados da São Paulo Tranway Light and Power, que desistiu da concessão...
















































(Publicado originalmente em 10 de fevereiro de 2017...) Os ônibus de São Paulo são hoje em dia operados por empresas particulares, em regime de concessão, sob a supervisão da São Paulo Transporte, a SPTrans... Empresa que sucedeu a Companhia Municipal de Transportes Coletivos, a CMTC, criada em 1947 para operar os bondes elétricos da São Paulo Tranway Light and Power, mais conhecida como Light, inaugurados em 1900... Durante a sua trajetória, a CMTC criou um Museu dos Transportes Públicos, inaugurado em 1985... Que publicou nessa época o livro “Pequena História dos Transportes Públicos de São Paulo”, escrito por Miriam Oeslner Lopes... Que relata a evolução do transporte público na capital paulista desde a primeira linha de bondes, puxada por burros, inaugurada em 1872... Com tarifa de 200 réis, a qual só mudou quando a CMTC assumiu o serviço de bondes... Com a reforma monetária que substituiu o mil-réis pelo cruzeiro, 200 réis viraram 20 centavos... O aumento da tarifa para 50 centavos, que provocou protestos e depredações de bondes, fez a nova empresa ser chamada de “Custa Mais Trinta Centavos”... A defasagem no preço da passagem – e a recusa de um plano de ampliação do sistema que pretendia superar as dificuldades advindas do racionamento de energia elétrica em 1924, causado pelas secas, com o aumento de tarifa - fez a Light desistir da operação dos bondes em 1937, quatro anos antes do fim da concessão... Prorrogada até 1947, devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial, o que levou à Prefeitura a criar na gestão Prestes Maia, a Comissão de Estudos de Transportes Coletivos... Uma de suas conclusões foi a de que uma empresa municipal deveria incorporar não só os serviços da Light como o das empresas particulares de ônibus surgidas desde 1924... Assim, a nova companhia absorveu 31 das 34 empresas existentes na cidade em 1947 – três delas ficaram de fora da encampação, Alto do Ipiranga, Alto da Mooca e Alto do Pari... Uma das empresas incorporadas era a Viação Jabaquara, cujo representante legal, João Havelange, chegou a ser convidado para ser o primeiro presidente da CMTC... Proposta recusada, o cargo foi assumido em 14 de março de 1947, no final do mandato do prefeito Abrahão Ribeiro, por Aldo Maria Azevedo... Os donos da Viação Jabaquara abriram outra empresa, a Viação Cometa, na qual Havelange foi diretor paralelamente à sua trajetória como dirigente esportivo...  O prefeito seguinte, Christiano Stockler das Neves, autorizou a operação da companhia, que iniciou a operação em 1º de julho... Além de fechar os bondes abertos herdados da Light, a CMTC começou a instalar abrigos em pontos de ônibus, primeiro em lona e, em  1952, de alumínio, mais conhecidos como “meia-cana”, vide exemplar remanescente na região da Lapa... Em 1955, pouco antes da Prefeitura autorizar a volta das empresas particulares, a CMTC 65 linhas de bondes, 8 de trólebus – cuja rede começou a ser implantada em 1949 – e 174 de ônibus...

















No início da década de 1950, a CMTC importou dos Estados Unidos ônibus Twin Coach que estrelaram filme do papi do João Dória...

















































A leitura do livro permite reconstituir a evolução da frota da CMTC... Que herdou da Light 614 bondes... E importou, em 1946, 75 bondes Centex dos Estados Unidos, que depois receberam o apelido de Gilda, Heleno de Freitas, digo, Rita Hayworth, entregues por etapas até agosto de 1947... Também adquiriu 30 trólebus – 20 Westram, 6 Pullman – similares aos que operam ainda hoje em Valparaíso, no Chile – e 4 BUT, que começaram a rodar em 1949... No Brasil, a empresa fez uma compra de 60 ônibus, 40 para 27 passageiros e 20 para 60 passageiros... Em 1950 foram importados 50 ônibus GM Coach hidramáticos e, posteriormente, 200 ônibus Twin Coach, também hidramáticos, com suspensão Torsilastic... São esses veículos que aparecem com destaque no filme de Jean Manzon, “A Luta Pelo Transporte em São Paulo”, cujo roteiro foi feito pelo publicitário João Dória, pai do atual prefeito da cidade... E também em outro filme de Manzon, “O Transporte dos Cariocas”, servindo de exemplo de como os ônibus do Rio de Janeiro deveriam ser... A frota de trólebus aumentou em 1953, com 50 veículos Uerdinger Henschel Siemens-Schukert, com motor Volkswagen de reserva para casos de falta de energia... No ano seguinte, vieram mais 75 trólebus Brill, dos Estados Unidos, fabricados entre 1941 e 1947... De segunda mão, evidentemente... Dos 155 trólebus pioneiros, o livro aponta que restavam apenas 15 em 1985 – 9 Brill, 5 Westram e 1 Uerdinger... Estes dois últimos modelos reencarroçados, vide o “Vilarinho” que hoje está no museu da Breda e participou do passeio de trólebus do aniversário de São Paulo em 2009... Em 1956, a CMTC testou o Papa-Fila, um caminhão FNM que rebocava uma carroceria Caio e levava até 150 passageiros... Mas não emplacaram devido à dificuldade de serem manobrados nas vias da cidade... As restrições à importação de ônibus e a permissão do retorno das empresas particulares em 1957 levou a um encolhimento da CMTC... Que de 741 ônibus e bondes em 1953 passou a ter apenas 260 ônibus em 1973... Para renovar a frota de trólebus, a solução foi fabricar 139 veículos nas próprias oficinas da empresa entre 1964 e 1969, aproveitando os chassis dos ônibus GM Coach, dos trólebus Westram, FNM, Scania e Magirus-Deutz... Como o sistema elétrico foi desenvolvido pela Villares, os trólebus ganharam o apelido de “Vilarinhos”... Alguns deles operaram até 2001, já na Transbraçal... Sem contar os ônibus elétricos que aguardam restauro na antiga garagem da Rua Araguaia... 

















"Papa-Fila" com cavalo-mecânico FNM até tentou, mas não tinha elasticidade suficiente para atender demanda por transporte em 1956...


















































O livro dá um salto no tempo e menciona a compra de 2.000 ônibus monobloco Mercedes-Benz O362 em 1975, na gestão Olavo Setubal... Mas a foto que ilustra essa aquisição é de um O355, de um lote de 200 adquiridos em 1969 pelo prefeito Paulo Maluf... O mesmo que privatizou a CMTC em 1993... O fato de terem a mesma pintura creme e roxa confunde um pouco, digo...  Ainda na administração Setubal, em 1976, foi elaborado o programa Sistran, que previa a operação de 1.280 trólebus na cidade... Foram adquiridos apenas 200, correspondentes ao programa prioritário, a partir de 1979, com carroceria Ciferal Amazonas – levando à quebra da encarroçadora quando os investimentos foram reduzidos, e em 1982, 90 veículos com carroceria Marcopolo San Remo... Todos reencarroçados em 1995 pela Eletrobus... Restou apenas um San Remo, hoje usado para treinamento na Metra, que opera o corredor do Grande ABC... O qual originalmente fazia parte do Sistran e foi construído pelo governo estadual... Em março de 1985, a CMTC possuía 437 dos 663 trólebus em operação no Brasil... A Ambiental, que hoje opera os trólebus na capital paulista, tem 201 ônibus elétricos – e 59 a diesel... Alis, a CMTC adquiriu em 1982 um lote de 250 ônibus monobloco Mercedes-Benz O364... Já com a pintura branca, azul e roxa que costuma ser associada à gestão Mário Covas – mas o prefeito era Antônio Salim Curiati... Que também adquiriu 350 ônibus Caio Padron II Volvo... Covas fez a aquisição de mais 100 ônibus, com carroceria Marcopolo e chassis Scania e Volvo, apelidados de “Trovão Azul”... Os monoblocos, com motorização mais deficiente, eram chamados de “Burrinhos”... A gestão de Covas e do secretário Getúlio Hanashiro realizou a instalação de 4.000 abrigos para pontos de ônibus... Que passou a ser conhecido entre os fabricantes de mobiliário urbano como “Covas”...  Outras realizações de peso foram a introdução da gratuidade para passageiros com mais de 65 anos em 1983 e a polêmica intervenção nas empresas particulares em 1984... Na qual Covas assinou o decreto na garagem da CMTC na região da Rua Santa Rita, e foi pessoalmente entrega-lo na empresa Alto do Pari... Hoje, o neto de Covas, Bruno, é o vice de João Dória... O livro reproduz um mapa das rede de trólebus em São Paulo, enumerando as paradas de cada linha, e o esquema das linhas do terminal São Mateus, inaugurado em março de 1985... “Dentro dos terminais de transferência você pode tomar qualquer linha de ônibus gratuitamente”... 3058, Parque Boa Esperança... 3060, Jardim Santo André... 3065, Cidade Tiradentes... 3069 e 3070, Terceira Divisão... 3071, Parque São Rafael... 3072, Jardim Colonial... 3073, Jardim Rodolfo Pirani... 3074, Jardim Vila Carrão... 3075, Jardim Santa Adélia... 3076, Jardim Ester... 3077, Jardim Iguatemi... Bons tempos de integração gratuita... Também há um capítulo sobre as projetos e a implantação do Metrô em São Paulo - que foi uma empresa municipal entre 1968 e 1979... Sendo que a rede básica, com 70 quilômetros e quatro linhas, deveria estar concluída em 1977... Não deu... O ramal da atual Linha 1 não foi construído... A atual Linha 3, que deveria ser toda em túnel, foi construída em sua maior parte na superfície, paralela à linha ferroviária da antiga Rede Ferroviária Federal... O ramo Sudeste da atual Linha 4, foi considerado não prioritário e seu traçado foi aproveitado pelo  Expresso Tiradentes...  Para terminar, o livro fala sobre o Museu CMTC dos Transportes Públicos, inaugurado em 20 de março de 1985, com área construída de 1.600 metros quadrados...  Somente nas primeiras seis semanas visitaram o museu 2.000 alunos do primeiro grau...  Na ocasião estavam em exposição um bonde elétrico, do primeiro lote adquirido pela Light em 1900, três trólebus antigos e um ônibus “Mônika”, construído pela CMTC a partir de um projeto da Metropolitana, com carroceria em duralumínio... O bonde “Gilda” estava sendo restaurado... Hoje no Salão de Viaturas do Museu – que chegou a ser repassado ao SEST/SENAT quando Maluf era prefeito, em 1995, há três bondes – um é replica do bonde à burro que circulava na região de Santana –dois trólebus (um Brill e um Grassi-Villares), um monobloco MBB O355, que operava nas linhas de ônibus executivo, criadas em 1977, e um Thamco DD, conhecido como “Fofão”, desenvolvido durante a gestão de Jânio Quadros, em 1987... Estes dois restaurados na gestão Kassab... Hoje, o museu, que merecia uma ampliação, já que para expor o “Fofão” foi preciso retirar o bonde “Camarão” que havia no Salão de Viaturas - leva o nome de seu idealizador, Gaetano Ferolla – não citado no livro...




















E os trólebus começaram a circular nas ruas da capital paulista em 1949 e em 1963 faziam a clássica linha Santa Margarida Maria...

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