sexta-feira, 6 de abril de 2018

Todas as Copas (1978): Argentinos pagam para ver Peru amolecer...

Combinação de camisetas de manga comprida com shortinhos curtos ainda hoje é lembrada pelos aficionados...






















































(Publicado originalmente em 24 de fevereiro de 2014...) A Argentina conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 1978 no Congresso da Fifa realizado na cidade de Londres, em... 1966!!!... Ou seja, doze anos para preparar o Mundial, mais do que o Brasil... Durante esse período, o país platino registrou uma alternância de governos civis e militares, até um golpe militar em 1976 depor a presidente Isabelita Peron... Com mais uma ditadura instalada na América do Sul, surgiram pressões para que a Copa fosse tirada da Argentina... Até mesmo o Brasil, que também era comandado por um governo militar (e com governadores nomeados que tinham a insistente mania de construir grandes estádios...), se ofereceu como alternativa para receber o Mundial... Pretensão que foi repelida exatamente por um brasileiro, João Havelange, presidente da Fifa desde 1974... E que fora obrigado a deixar a presidência da CBD... O governo da época, por meio do Conselho Nacional de Desportos (CND), baixou uma resolução proibindo a reeleição de presidentes de entidades esportivas – norma que vigoraria até a promulgação da Constituição de 1988... Assim, Havelange foi cuidar da Fifa enquanto a presidência da CBD era assumida por um militar, o almirante Heleno Nunes, irmão do ministro da Marinha na época, o também almirante Adalberto Nunes... Enquanto inflava o número de participantes do Brasileirão por política (e pela porcentagem das rendas dos jogos que cabia à entidade...) , Heleno trouxe para a Seleção um técnico que já havia comandado a equipe nacional antes da ascensão de Havelange – Osvaldo Brandão... Que a despeito da boa campanha em amistosos ao longo do ano de 1976, foi demitido depois do primeiro jogo das Eliminatórias com a Colômbia – um empate em 0 a 0 na cidade de Bogotá... Demissão no avião, diga-se... Em seu lugar, entrou Cláudio Coutinho, o pai do Cascão, preparador físico das seleções de 1970 e 1974 e que trouxe um sofisticado repertório tático, com direito a “overlapping”, “ponto futuro”, “polivalência”, entre outras novidades para a época... Conseguiu a classificação, eliminando os colombianos e o Paraguai, e assegurando a vaga direta no triangular final disputado com Peru e Bolívia – que eliminou o Uruguai, mas não foi a Copa porque perdeu a repescagem para a Hungria... Enquanto isso, Havelange garantia com os militares argentinos a realização da Copa, mas sem o prometido aumento do número de seleções de 16 para 20... A mudança ficaria para a Copa seguinte... Assim, a África continuaria com uma única vaga... Ainda por cima conquistada pela Tunísia, que superou Egito e Nigéria no triangular decisivo, internauta Pedro Henrique... Na Ásia e Oceania a decisão aconteceu em um penagonal final entre Irã, Coreia do Sul, Kuwait, Austrália e Hong Kong... Sendo que a seleção kuwaitana era dirigida por Zagallo, o que não passou batido pelos iranianos, que se classificaram para a Copa e dedicaram ao Velho Lobo a canção “Zagalu”, que pode ser ouvida no Youtube... Na Concacaf, o México voltava ao Mundial... O mesmo não aconteceu na Europa com a Inglaterra – eliminada pela Itália no saldo de gols – e a União Soviética – que perdeu para a Hungria o direito de disputar a repescagem... A França estava de volta e a Espanha também – dando o troco na Iugoslávia, que a eliminou da Copa de 1974... 


















Realmente, a revolução no Irã começou um ano antes, com a primeira participação do país em um Mundial...






















































A Copa começou em 1º de junho de 1978, no estádio Monumental de Nuñez em Buenos Aires... Ainda que para Jorge Luis Borges fosse melhor estar em qualquer lugar que não fosse seu próprio país... O clima era tenso – nós dissemos tenso... Alemanha e Polônia trajavam o figurino que não sairia da cabeça de M.B. – camisas de manga comprida com as três listras da Adidas © nos ombros e nas mangas e calções curtos, daqueles muito populares entre os nossos indígenas... O jogo terminou em 0 a 0 – quarto Mundial seguido em que o jogo inaugural não teve gols... Enquanto isso, na outra partida da primeira rodada do grupo B, a Tunísia surpreendia o México e vencia “La Tri” por 3 a 1, de virada, em Rosário... Pena que os tunisianos tenham perdido o jogo seguinte para a Polônia por 1 a 0, novamente em Rosário... Poloneses e alemães venceram os mexicanos de uniformes da Levi’s © – por 6 a 0 e 3 a 1 – e se classificaram para a fase seguinte, enquanto os africanos empatavam em 0 a 0 com os alemães em Córdoba... Os anfitriões argentinos estavam no Grupo A e estrearam vencendo a Hungria por 2 a 1, no Monumental... Mesmo placar da vitória da Itália sobre a França, em Mar Del Plata... Na rodada seguinte, a Argentina e os italianos voltaram a vencer – 2 a 1 na França e 3 a 1 na Hungria... Já classificados, os argentinos se deram ao luxo de perder para a Itália por 1 a 0 no Monumental, gol de Bettega, após tabela com ninguém menos que Paolo Rossi... Quanto a franceses e húngaros, cumpriram tabela em Mar Del Plata... Vitória Francesa por 3 a 1, sendo que os “Bleus” tiveram de abrir mão de seu mítico uniforme azul da Adidas © para jogar com a camiseta verde e branca de um time chamado Kimberley... A seleção do Irã, ainda governada pelo Xá e com o aiatolá Khomeini no exílio, estreou no grupo D em Mendoza perdendo para a Holanda por 3 a 0... A “Laranja Mecânica” sem Cruyff, dizem que em protesto contra as violações de direitos humanos na Argentina (ou premiações insuficientes...), mas com seu “sósia” Rensenbrink, que a propósito fez os três gols da partida... Em Córboba, o Peru virou o jogo com a Escócia e venceu por 3 a 1... Sendo que Willie Johnston estava dopado... Na rodada seguinte, dois empates – Peru e Holanda ficaram no 0 a 0 em Mendoza e Escócia e Irã empataram em 1 a 1 em Córdoba, gols de Eskandarian para os europeus e Danaiyfar para os asiáticos... A Escócia venceria o jogo com os holandeses por 3 a 2, de virada em Córdoba (o primeiro gol da Holanda, de Resembrink, foi o milésimo marcado em Copas do Mundo...), mas foi eliminada no saldo de gols... O primeiro colocado do grupo foi o Peru, que venceu o Irã por 4 a 1 – três gols de Teofilo Cubillas... E o Brasil? Estava no Grupo C... Enfrentou na estreia a Suécia em Mar del Plata, gols de Sjoberg aos 38 minutos do primeiro tempo e Reinaldo do Galo aos 46... Zico desempatou de cabeça no final da segunda etapa, aproveitando cobrança de escanteio de Nelinho, mas o juiz galês Clive Thomas apitou o fim do jogo antes do cabeceio do Galinho do Menguinho, que começava bem sua primeira Copa do Mundo... A Austria venceu a Espanha por 2 a 1 no José Amalfitani, o que cirava grandes expectativas para a partida com o Brasil em Mar Del Plata... Que não saiu do 0 a 0, apesar de Zico ter sido substituído por Jorge Mendonça, da Porcaria... E a Suécia ganhou da Áustria por 1 a 0, o que complicava a situação dos brasileiros... Heleno Nunes, torcedor do Bacalhau, que tem o apelido de “Almirante”, exigiu a escalação de Roberto Dinamite – o próprio – no lugar de Reinaldo... Coincidência ou não, o futuro presidente do clube de São Januário fez o gol da vitória brasileira sobre os austríacos por 1 a 0 em Mar Del Plata, aos 41 minutos do primeiro tempo... A outra vaga do grupo ficou com a Áustria, de nada servindo a vitória de 1 a 0 da Espanha sobre a Áustria... 



















Embora muitos acreditem que o Peru facilitou o jogo para a Argentina, há quem jure que não houve manipulação...






















































Na segunda fase, o Brasil estreou vencendo o Peru por 3 a 0 em Mendoza... Com dois gols do “polivalente” Dirceu do Bacalhau e um de Zico – que saiu do banco para substituir o “Bufalo Gil” do Fluzinho... A Argentina também venceu a Polônia em Rosário, só que por 2 a 0, com dois gols de Mário Kempes... No dia 18 de junho, Brasil e Argentina protagonizariam a chamada “Batalha de Rosário”... O Brasil se preparou trocando Toninho do Menguinho pelo bambi Chicão, que foi a luta com os argentinos pelo domínio das caneladas... A partida ficou no 0 a 0... Para muitos coronistas, o Brasil deveria ter tentado a vitória, para ficar numa situação mais confortável na última rodada... Alguns sentiram a falta de Paulo Roberto Falcão, do Colorado, na Seleção Brasileira, não convocado por Coutinho... Tudo bem, a Argentina de Cesar Menotti – que não é o do Fabiano – deixou a jovem promessa Diego Armando Maradona, 17 anos, de fora... O adversário seria a Polônia, ainda com chances de comparecer à final depois de vencer o Peru por 1 a 0, gol de Szarmach... Nem o fato das duas partidas decisivas serem em horários diferentes no dia 21 de junho preocupou os brasileiros... Enfrentando os poloneses em Mendoza, Nelinho das Marias abriu o placar com um gol de falta, Toninho fez contra e Dinamite marcou duas vezes para garantir a vitória brasileira por 3 a 1... A Argentina precisaria vencer o Peru, já eliminado, por 4 gols de diferença em Rosário para ser finalista da Copa... Impossível, garantiam os brasileiros... No primeiro tempo, os argentinos fizeram 2 a 0, com Kempes e Tarantini... Com cinco minutos da segunda etapa, alcançaram o placar necessário, com Kempes e Luque... De lambuja, chegaram a 6 a 0, aos 22 e aos 27 minutos, com Houseman e Luque... Aí sobrou para o goleiro Quiroga, um argentino naturalizado... Algumas versões dão conta que o acerto foi a nível executivo, entre governos, o que seria mais uma ação da famosa “Operação Condor”, iniciativa de cooperação entre as ditaduras militares sul-americanas – e tanto o Peru quanto a Argentina eram regimes autoritários, comandados por Jorge Videla e Velasco Alvarado... O pagamento teria sido uma carga de trigo argentino para o Peru... Revelações que apareceram muito depois da partida... Sem condições de impedir que os argentinos fizessem a final – e os brasileiros decidissem o terceiro lugar com a Itália... Segunda colocada em seu grupo após empatar com a Alemanha em 0 a 0, vencer a Austria por 1 a 0 (gol de Paolo Rossi...) e perder para a Holanda de virada por 2 a 1... Alis, o Brasil também venceu de virada a decisão do terceiro lugar no Monumental... Causio abriu o placar, após jogada de Paolo Rossi, aos 38 minutos do primeiro tempo... Na etapa final, um chute de Nelinho de fora da área – “bola com defeito” – e uma bola de Rivellino do Fluzinho (que fazia seu único jogo no Mundial, pois devido a uma contusão não pode ser aproveitado anteriormente...) que sobrou para Dirceu garantiu a vitória da Seleção por 2 a 1... Invicta, o que levou Cláudio Coutinho a dizer que sua equipe era “campeã moral”... A revista “Veja” preferiu chama-lo de “Falso Brilhante”... Coutinho reviu seus conceitos na própria equipe brasileira – até a mudança no comando da CBD, que virou CBF, tirá-lo do cargo – e no Menguinho ... Mas não viveu tempo suficiente para dar uma resposta à altura dos críticos... No dia 25 de junho, a Argentina entrou em campo no Monumental de Nuñez para decidir a Copa com a Holanda – que fez 5 a 1 na Áustria, empatou com os alemães em 2 a 2, numa “meia-vingança” da final de 1974 e ganhou dos italianos... Mário Kempes abriu o placar com 38 minutos de jogo... A Holanda foi empatar aos 37 do segundo tempo, com Nanniga... E Resembrink perdeu um gol feito no final do tempo normal... Na prorrogação, Kempes – sexto gol no torneio, isolando-se na artilharia – e Bertoni – ajeitando com a mão – asseguraram o primeiro título mundial da Argentina... Em casa, na Copa do Mundo que demorou mais de quarenta anos para realizar... Com a Copa Fifa sendo entregue ao capitão Daniel Passarella pelo general-presidente Jorge Videla... Ai que nojo!!!... Alis, para o internauta Chico Melancia, o importante é que a seleção campeã vestia Adidas ©... 


















Entrega da Copa FIFA reuniu duas das figuras mais abjetas da Argentina - Daniel Passarella e Jorge Rafael Videla...

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