quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Amor e Ódio em Tons de Clô...

Clodovil apresentou projeto de lei para regulamentar união civil de pessoas do mesmo sexo - que espera ser votado até hoje...




















































































A ordem estabelecida cobra padrões de comportamento da sociedade... As pessoas devem trabalhar, produzir riqueza, constituir família... A quem não se encaixa nesses padrões, é reservada a marginalização, os estigmas... Mesmo que não sejam contestados... Muitos, com medo da exclusão, aceitam as normas vigentes, ainda que lhes cause incômodo... Clodovil Hernandes era assim... “Ele sempre admitiu a homossexualidade, mas em algumas ocasiões, para espanto – e fúria de muitos ativistas gays, deixou bem claro que não sentia nenhum orgulho dessa condição... Quando estava na política, chegou a ser cobrado por não apresentar projetos em defesa dos direitos dos homossexuais, mas repetia quase sempre em tom ácido... “Deus me livre... Quais direitos???... Direito de promover passeata gay???... Não tenho orgulho de transar com homem, jamais vou  fazer apologia ao viado... Mas virava uma arara, ou um pavão, quando o assunto era homofobia...  ‘Nada é mais criminoso que mata os viados porque também é viado’”, escreve o jornalista Carlos Minuano, na biografia “Tons de Clô”, lançada pela editora Best Seller... No entanto em sua atividade parlamentar deixou um projeto de lei (PL 580/07) que regulamenta a união civil entre pessoas do mesmo sexo... Que espera pela apreciação do Congresso Nacional desde 2007!!!... União civil já existe, sim, porém os casais homoafetivos só conseguiram esse direito à custa de muitas liminares no STF... Porque existe um princípio não escrito no direito de que um casamento, para ter valor legal, precisa obrigatoriamente envolver pessoas de sexos diferentes – no caso, sexo biológico, não identidade de gênero... A princípio, não haveria qualquer problema em casais homoafetivos fazerem casamento civil, a lei é para todos... Porém, cumpridas algumas exigências, o casamento feito pelas igrejas também pode ter valor legal... Então é por isso que muitas torcem o nariz para esse tipo de união... E a recusam, alegando questões de consciência, e podem fazer isso porque no Brasil há liberdade de culto garantida pela Constituição... O que não pode ser proibido é o acesso a união civil...  Minuano cita rapidamente o projeto no capítulo “Política Estilo Clodovil”, não esquecendo de mencionar “seus discursos anti-homossexualidade”... Faz sentido, a  inciativa mais lembrada do deputado Clodovil é a proposta de Emenda Constitucional, apresentada em julho de 2008, que reduz o número de deputado de 513 para 250, uma solução sempre aventada quando se discute reforma política... No entanto, o crítico feroz das administrações municipais de Ubatuba, cidade onde possuía uma casa de veraneio, propôs várias emendas orçamentárias para a realização de obras na região... Também teve aprovado o projeto que institui a obrigação de dar créditos aos dubladores de obras audiovisuais, Pancada... Minuano também observa que alguns projetos de Clodovil “pareciam inspirados em sua própria história de vida”...  Vide a proposição para criar o Dia da Mãe Adotiva ou o PL 206/07, que se tornou a lei 11.924/09, “que autoriza o enteado a adotar o nome de família do padrasto”... Nascido em 17 de julho de 1937, na cidade paulista de Elisiário – e registrado Clodovir Hernandes, um erro do cartório que o aborrecia - Clodovil foi adotado pelo casal Domingo e Isabel Sanchez Hernandez – cuja loja de tecidos em Floreal foi seu primeiro contato com o mundo da moda – e para o autor, saber da adoção teria sido decisivo em sua formação... Inclusive, de início sua mãe adotiva o teria rejeitado, considerando-o muito feio, porém ele próprio considerava que se relacionava melhor com ela...  A primeira experiência sexual, aconteceu com um padre, professor do colégio interno que frequentava, aos 11 anos...  “Foi o que ficou daquela noite:  o cheiro horrível da lavanda barata”... Aos 13 anos, voltando da missa, encontrou o pai na cama com outro homem – seu tio, irmão de sua mãe...  “Vi e não falei nada... Não sou fiscal de bunda... A mídia é que toma conta da bunda dos outros”... E hoje, as redes sociais... Ops!!!... 







































Estilista costumava criticar patrocinadores de seus programas, porém emprestou nome a um carro, o Monza Clodovil...






















































































Clodovil abriu seu primeiro ateliê próprio em 1962, e a fama adquirida com a alta costura o levou a televisão...  “Durante o auge da carreira de estilista, Clodovil circulava esporadicamente por programas como o de Hebe Camargo, falando sobre moda, tendências, dando palpites... Entretanto, ao ver um homossexual na TV, ainda mais dando a pinta que ele dava, era intragável para a ditadura militar casca-grossa de então... Ele, e outros, enfrentaram muito preconceito”, escreve o jornalista no capítulo “Censura, Fama e Celeumas na TV”... Ainda assim, desenhou os figurinos do programa “Mais Cor em Sua Vida”, com que a TV Tupi iniciou oficialmente as suas transmissões à cores, em 1972... Aquele musical em que Clodovil solta a voz em francês, passeando entre músicos e modelos vestindo suas criações, mostrado no “Fantástico”, é de 1974... No “game-show” “8 ou 800”, apresentado pela Globo em 1976, quando entrava em cena, pisava o chão primeiro com as pontas dos pés, e depois com o calcanhar... “Com o movimento, meu cabelo – que era comprido e liso – balançava de um jeito peculiar, perfeito para o vídeo”... Durante treze semanas, causou sensação ao responder perguntas sobre Dona Beija, que viveu na região de Araxá no século XVIII – vide consultoria ao superintendente de teledramaturgia da TV Manchete,  Carlos Heitor Cony, dez anos depois, para a novela “Dona Beija”, o que incluiu a cena recordista de audiência da cavalgada de Maitê Proença em pelo (!!!) – e não deixou de se queixar do prêmio, pois ao invés dos 800 mil cruzeiros prometidos pelo programa, teve depositados em uma caderneta de poupança da Delfin apenas 566 mil reais, pois tinham sido descontados 30% de imposto de renda...  A participação no game-show levou Clodovil a gravar um famoso comercial em 1977... “Se eu fosse você, só usava Valisere”... No “TV Mulher”, que estreou em 1980, seu quadro sobre moda ganhou espaço depois que a censura do governo militar – a mesma que havia implicado com a presença de Clodovil, Denner e Clóvis Bornay nos juris de programas de auditório no início dos anos 1970 – podou os quadros de Marta Suplicy e Afanásio Jazadji (!!!)... De sua passagem pelo programa, cabe registrar a celeuma explorada pelo “Fantástico” com a imitação do comediante Agildo Ribeiro (em “Os Trapalhões”, Mussum interpretava o “Crioulovil”...), e o livro destaca a rivalidade latente com a apresentadora Marília Gabriela, vide depoimento de seu colega de bancada Ney Gonçalves Dias... “O Clodovil e a Gabi eram inimigos mortais... Um tinha ódio do outro...  Um metia o pau no outro”... Diante das pressões sobre Marta Suplicy e seu quadro sobre comportamento sexual – vide Ney e Roberto Irineu Marinho pedindo para a futura prefeita de São Paulo “maneirar”- “o espaço de Clodovil, por incrível que pareça, era o mais leve”... “Clodovil também era consultado por telespectadoras, que escreviam cartas interessadas em dicas de trajes para ocasiões especiais, que ele lia no ar... Esse público, de mulheres mais pobres, que não tinham dinheiro para renovar o guarda-roupa a cada estação, se tornou o alvo do estilista, que sugeria ideias para reaproveitar peças antigas, provando que a moda independe de classe social”... Assim aconteceu até em 1982 – quando  o quadro passou para o estilista Ney Galvão, depois do pedido de Clodovil... Sua atuação em campanhas publicitárias e emprestando seu nome para  os mais diversos produtos também é mencionada... Vide figurinos do anúncio do cigarro Chantecler e o Monza Clodovil, uma série especial vendida na concessionária Itororó, da qual teriam sido montadas apenas 12 unidades... A atuação na publicidade é um aspecto que ele próprio se dispôs a satirizar no “Chico Anysio Show” em 1988 (no último programa exibido pelo Viva, no dia 30 de dezembro...), ao oferecer para o próprio Chico o plano de saúde “Silver Cross”... O livro cita que uma das razões para sua saída da Band, na segunda passagem pela emissora do Morumbi, em 1998, teria sido as críticas que fez a Adriane Galisteu, garota-propaganda de um dos produtos que patrocinava o programa...

















































































Na televisão, Clodovil até inaugurou emissora, vide show que marcou a mudança de Rede OM para CNT, em 1993...























































































A convite do diretor Roberto Talma, Clodovil foi para a Band em 1983... No ano seguinte, foi para a Manchete, saindo quatro anos depois devido a repercussão do comentário sobre a “Prostituinte” – Ulysses Guimarães, presidente da Constituinte, teria dito a Adolpho Bloch, sem rodeios, “Tirem esse viado do ar!!!” – voltando em 1992 para fazer o “talk-show” “Clodovil Abre o Jogo”, aquele da lente da verdade... No ano seguinte, comandou “Clodovil Frente e Verso”, “Retratos”  e “Clodovil em Noite de Gala”, na CNT, onde ficou por três anos... Inclusive comandou, na Ópera de Arame em Curitiba, o programa que mudou o nome da emissora paranaense de Rede OM para Central Nacional de Televisão, em 1993... Vide chegada ao palco vestindo capa, enquanto a orquestra tocava "Assim falou Zaratustra" e um coral infantil cantava o Hino Nacional...  De volta à Band, em 1998, apresentou por dois meses o “Clodovil Soft”... Em 1999, ficou um mês na Rede Mulher, saindo quando Edir Macedo adquiriu a emissora... Em 2001 e 2002, esteve na Gazeta, apresentando o “Mulheres” com Christina Rocha e depois outro “talk-show”, o “Programa do Clodovil”... Em novembro de 2003, assumiu a apresentação de “A Casa é Sua”, na Rede TV!, atração que já havia sido apresentada por Valéria Monteiro, Meire Nogueira, Castrinho, Sônia Abrão e Leonor Corrêa... “Em sua equipe, a jornalista Joana Matushita, o chef de cozinha Luiz, o modelo e assistente de palco Dimas Caetano e, principalmente, a atriz Vida Vlatt, que ficou famosa com a sua personagem, a domestica Ofrásia”... No início do programa, o estilista tinha espaço para discutir sobre qualquer assunto... “De frente ao espelho... Clodovil abre o jogo e fala sobre tudo”... Pontuava suas falas com uma frase... "Será que eu chego???"...  Podia contar sobre sua vida, como quando ia oferecer modelitos em um atelier de costura e a dona copiava “de olho”, ou o flagrante que deu em seu pai e seu tio... Também destinava farpas a pessoas ilustres, vide quando disse da inveja que Ana Maria Braga nutria por ele por não ter o mesmo conhecimento e refinamento... Outros tinham seu nome colocado na boca de um sapo de cerâmica que enfeitava o cenário... Podia fazer uma crítica social, por exemplo, ao falar que ninguém faz uma campanha nos moldes do “Criança Esperança” para a melhor idade... Em suas polêmicas contra a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, ou com o pessoal do Pânico, era esse o espaço que usava para fazer sua defesa e expor seus motivos... “Desde quando vou ficar engolindo um sujeito pavoroso com uma dentadura tentando se passar por mim???”, dizia sobre o personagem Clô, interpretado por Wellington Muniz, o Ceará... “Foi quando começou a degringolar ‘A Casa é Sua’, que acabou a casa caindo”, lembrou a jornalista Joana Matushita, que participou do programa ao lado de Clodovil, para Reinaldo Gottino, no “Balanço Geral” da Record TV!, em fevereiro do ano passado... “O Pânico estava começando na Rede TV! e  o fato do Clodovil não querer calçar as Sandálias da Humildade deu uma certa alavancada na audiência do Pânico... Só que o Clodovil era a parte prejudicada, vamos dizer assim, pois ele sofria uma perseguição dentro da própria emissora... E a insatisfação dele ficou cada vez maior”... Joana veio para o programa feminino depois de ter feito um pouco de tudo na Rede TV! – “TV Fama”, “Repórter Cidadão” e até a narração em “off” que precedia cada capítulo da novela “Betty, A Feia”, resumindo o capítulo anterior...  “Comecei a trabalhar no ‘A Casa é Sua’ como repórter... O Clodovil gostou do meu trabalho e me convidou para fazer uma participação com ele no estúdio... Eu era como eles chamavam de ‘garota mídia’, então passava notícias, de minutos em minutos, e trazia dúvidas dos telespectadores, de etiqueta, de moda”, contou Joana... Clodovil não deixa de brincar com ela, chamando-a de “vendedora de caqui”, a pretexto de criticar seu cabelo, ou fazendo piadas como a do absorvente usado pelos travestis, o “Sempre Preso”, digo... Se a imitação do “Pânico” lhe provocava repulsa, o mesmo não se pode dizer de Tom Cavalcante fazendo Tomdovil – acompanhado de Buana, vivida por Heitor Martins – no “Show do Tom”, da Record... “A gente sempre se deu bem... Ele dizia que eu era a filha japonesa dele... Talvez até pelo meu perfil, eu sou mais na minha, mais reservada, ele gostou de mim, foi com a minha cara”, disse Joana, hoje professora de técnicas de apresentação para televisão, lembrando com emoção do Dia das Mães de 2004, quando recebeu sua saudosa mãe no programa... Também teve oportunidade de fazer uma demonstração de caratê, esporte que pratica desde os 15 anos... “Ele atraía a audiência seja pelo amor ou pelo ódio”... Alis, a perseguição ao Pânico desgastou a relação de Clodovil com a emissora... Joana afirmou no “Balanço Geral” que os últimos dias na Rede TV! foram de muita tristeza... “Dada essa insatisfação dele,  com toda essa situação, o programa passou a ser gravado... Então, muito dessa autenticidade, que era a marca registrada dele, foi tirada”... Críticas no programa a Luciana Gimenez, apresentadora do “Superpop” e “sócia” de um dos donos do canal, Marcelo de Carvalho Fragalli e a Luiza Mell, que na época namorava o outro proprietário da Rede TV!, Amilcare Dallevo Júnior – que nesse caso nem chegaram a ir ao ar, aponta o livro, que coloca uma crítica a Johnny Saad, presidente da Band, como causa do fim das exibições ao vivo – apressaram a saída do apresentador... Quando Clodovil foi demitido por fax, em janeiro de 2005, Joana assumiu o comando de “A Casa é Sua” por duas semanas – dez programas que comandou com o auxílio de Vida Vlatt, ou melhor, de Ofrásia, personagem que se chamava Luzinete, mas em sua primeira aparição no programa, teve o nome mudado pelo estilista, numa homenagem a Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), herdeira, investidora financeira e filantropa do Rio de Janeiro, Wikipedia... No primeiro programa no comando, Joana repetiu a pergunta que Clodovil fazia diariamente... “Tudo bem??? Tem que estar!!!”...   Depois, ela continuou ao lado das novas apresentadoras titulares do programa, Liliane Ventura e Marisa Carnicelli – além de Ronaldo Esper, rival do costureiro -  até a produção ser terceirizada para a produtora de Sônia Abrão e a atração ser rebatizada como “A Tarde é Sua”, em 2006... Clodovil, nessa altura, já havia entrado para a política, elegendo-se deputado federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC) com 493.951 votos...  “Brasília nunca mais será a mesma!!! Vocês verão... 3611 é meu número, vocês sabem disso... Agora, por que eu escolhi o onze???... Meu amor, porque o 24 já era, queridos!!! Agora é um atrás do outro”, dizia no horário eleitoral...  Na Câmara dos Deputados, apesar da briga com a deputada petista Cida Diogo, demonstrava respeito por Dilma Rousseff, Ministra da Casa Civil no segundo governo Luis Inácio, devido à sua “história de vida bonita, marcada pela coragem”... Então é por isso que Dilma compareceu à estreia do programa “Por Excelência”, seu último trabalho na televisão, na JBTV... Nessa ocasião, Clodovil já estava vetado na Globo, devido a uma entrevista conturbada no “Altas Horas” de Serginho Groisman... Também trocara o PTC pelo PR - vide quando colocava em "A Casa é Sua" o trecho da ópera de Verdi que costumava abrir os programas eleitorais do partido, nos tempos do PL - superando um processo por infidelidade partidária movido por seu antigo partido em 12 de março de 2009, cinco dias antes de render 29 pontos no Bolão Pé-na-Cova... Restaram  as reportagens do “Fantástico” sobre sua casa em Ubatuba e o leilão de seus objetos pessoais...  Sem contar que o Instituto Clodovil Hernandes, responsável pelo acervo do apresentador, não permitiu o acesso do biógrafo... 
























































"Ele atraía a audiência pelo amor ou pelo ódio"... Tu o disseste, Joana, que o substituiu na Rede TV! por dez dias em 2005...

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