segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

RC Especial Modelo 1975: Roberto Carlos e a Wanderléa Cor de Rosa...

Mas digam uma coisa, aquela loira usando vestido branco que vem vindo ali é a Florinda Meza ou a Wanderléa...



















Em 1975, ao mesmo tempo que  a TV Globo completava dez anos de atividade, Roberto Carlos comemorava os dez anos da Jovem Guarda, contados a partir da estreia do programa da TV Record, em 22 de agosto de 1965,  atração que tem apenas um programa sobrevivente, o que comemorou os 25 anos de Roberto, em 19 de abril de 1966, o festejo serviu para o Rei colocar no especial, “um programa Augusto César Vannucci e Ronaldo Bôscoli”, os companheiros de Jovem Guarda e um velho conhecido do Teatro Record na região da Rua da Consolação e do embate entre a guitarra elétrica e o violão, Caetano Veloso... A contagem regressiva acontece com Roberto em um quarto de hotel, fumando o então indispensável cachimbo e vendo um filme de faroeste, “Eu Quero Apenas” na gaita, "Rede Globo Apresenta Roberto Carlos Especial", neste ano o logotipo lembra outro acessório que era obrigatório no figurino do Rei, o medalhão,  com ele próprio em efígie,  "Direção Geral Augusto César Vannucci"... O quarto de hotel serve para representar a rotina agitada do cantor em turnê,  ouvindo um recado em espanhol, alusão a seu empresário na época, o argentino Marcos Lázaro, sobre entrevistas a conceder para a imprensa estrangeira, lembrando que Lázaro também agenciava os amistosos da Seleção Brasileira no exterior, e seu irmão, José Lázaro, foi um dos fundadores da Traffic, empresa que foi uma das pivôs do escândalo do FIFAGate, que levou a renúncia do presidente Joseph Blatter em 2015, e aqui estamos com o Xandão, quer dizer, o Infantino,  cenas do show no Radio City Music Hall registradas em película alternam-se com a agitação das fãs e conselhos do médico, e a tudo isso Roberto reage cantando "Quero que Vá Tudo pro Inferno" com a orquestra da Globo, regida por Leonardo Bruno, num palco decorado com o medalhão do Rei...De volta ao quarto, uma pergunta em francês,  um recado de Erasmo Carlos sobre duas músicas novas para mostrar,  cenas do filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de 1970,  algumas filmadas no Japão,  porém Roberto queria estar em Nova York, onde compareceu no filme anterior, "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", de 1968, o médico pede que tire férias... Começa o "momento Juarez Machado", garantia de cenários e figurinos surrealistas, também a primeira aparição de Wanderléa nos especiais de Roberto, cantando "Pare o Casamento", de 1966, ao lado de Erasmo Carlos,  transformados em fantoches do Senhor Juiz e da noiva - mas ela não queria acabar com o casório??? - o teatrinho segue com Roberto Carlos na cabeça de um lobo de olho na Ternurinha de Chapeuzinho Vermelho, com uma árvore estilizada fazendo as vezes de bosque e cantando "Lobo Mau", de 1965 - a referência ao "Show do Dia 7" gravado quatro anos depois é clara, a diferença é que os porquinhos perderam a vez - agora Erasmo é um gato no telhado, cantando para Wandeca na janela,  vejam só, "Negro Gato", que Roberto tinha gravado em 1966, Luiz Melodia, corre aqui... "Ternurão" e "Tremendíssimo" são apresentados pelo “Brasa” e ela se diverte ao saber que  nas internas, eles, Roberto e Erasmo, são conhecidos como "Purinho" e "Moroso", Erasmo canta, de capa e sax,  depois com seu violão,  sentado numa meia lua (!!!), o rock "1990 - Projeto Salva Terra", música de 1974, uma solução com cara de problema,  porque as ilustrações de Juarez mostram a Terra destruída por um míssil, que era uma borboleta , revelando um feto no interior do planeta,  quando o Tremendão oferece seu violão em oferenda, profundo, Wanderléa comenta que está sempre matando leões e recomeçando,  o que é a deixa para Roberto lembrar de quando a apresentou pela primeira vez no Teatro Record,  e a ternurinha vai de "Feito Gente"', de 1975, composição de Walter Franco, o próprio, um cara cabeça, vestida de branco, flores no decote, na beira de um rio, olha a janela do Juarez, passando por figuras de uma orquestra e ciclistas da "Belle Epoque", a tela toda cor de rosa,  não,  pera, quem viu os episódios do Chapolin de 1974, ou até alguns de 1975, como o das pedras, digo, dos aerólitos, tem a certeza de que está diante de um vermelho que desbotou, e naquela época quem passava o desenho da Pantera Cor-de-Rosa era a TV Tupi, Erasmo volta para opinar sobre o envelhecimento, dos cabelos brancos que são mais visíveis pessoalmente do que na "tevelisão", "as pessoas envelhecem", diz de forma sagaz o Tremendão (os canalhas também, digo...), e o Rei aproveita para reverenciar um dos grandes responsáveis pela explosão da música jovem no Brasil,  que descreve como um senhor de cabelos completamente brancos, com quase 50 anos, Jair de Taumaturgo (e que saiu de cena aos 52, em 1970...)  então é por isso que ele canta "Mexericos da Candinha", de 1965, ao lado do desenho de um calhambeque sobre cavaletes e de dançarinos vestidos de boca e orelhas que já foram fazer fofoca, representando a "banca digital" da década de 1960, a música leva o nome de um quadro do programa de Silvio Santos na Rádio Nacional de São Paulo,  adaptado de uma coluna impressa e conduzido por Lucimara Parisi, a própria,  isso numa época em que Jair, o outro, o outro!!!, comandava o programa "Hoje é Dia de Rock" na TV Rio, Cristiane Torloni, corre aqui, consagrando-se com o bordão "tirem os móveis da sala", que ao ser repetido por Nelson Motta no primeiro Rock in Rio, em 1985, levou a uma tremenda bronca do Bofão,  "Jair de Taumaturgo é a PQP", Roberto se diverte com os tiroteios do faroeste na televisão do hotel, nessa época a programação da Record, concorrente da Globo, já era dominada pelo bangue-bangue, tentando relaxar com seu "indispensável" uísque, seria um chá com pedrinhas de gelo no copo, na medida que o tiroteio na telinha permitir, melhor chamar o intervalo, a vinheta é o retrato do cantor em negativo e o letreiro "Roberto Carlos Especial" na fonte Nebiolo Extending Bold crescendo na tela...














Não foi Roberto cantar "como dois e dois são cinco" que fez Caetano Veloso disparar a frase "Cê é burro, cara"...






























Roberto Carlos deixa a TV de lado, dedilha o violão e confessa, entre os arrependimentos por coisas que não fez, de não ser o compositor de "Qualquer Coisa", de 1975, cantada em seguida por seu autor e interprete, Caetano Veloso, sozinho no palco, dentro de uma espécie de caixa, ou seria a armação de uma tenda de beduínos no deserto, com o piso prateado fazendo as vezes da areia, afinal, uma importante cidade marroquina é citada, “esse papo já tá qualquer coisa, você já 'tá pra lá de Marraquexe”,  a imagem de um enorme trompete tocando atrás (!!!), melhor dar um close no cantor, se os refletores  deixarem, o papo já saiu de Marraquexe e chegou a Teerã, na ocasião o Marrocos, em evidência pela anexação do território do antigo Saara Espanhol, e também o Irã eram monarquias, a marroquina sobrevive até hoje, quando o país foi escolhido para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2030, o instrumental cita "Detalhes" rapidamente, Caetano vai para o "switcher" contar que do alto de seus três, quatro anos de idade, sabia de cor uma música de Nelson Gonçalves,  "Maria Bethânia", composta em 1945 por Capiba, e fez ela se tornar o nome de sua irmã,  que a propósito  viria a ser pouco tempo depois uma grande intérprete das músicas feitas por Roberto e Erasmo, por ora, Caetano e o Rei voltam para a tenda estilizada, cada um com seu violão,  para cantar "Como Dois e Dois", de 1971, feita por Veloso para o Rei, este com camisa vermelha, Caetano de azul, com a mesma cara da famosa entrevista do "Cê é burro, cara", que aconteceria três anos depois,  em 1978, no programa "Vox Populi", da TV Cultura,  como resposta a uma pergunta do jornalista Geraldo Mayrink,  da revista "Veja", sempre ela, sobre as críticas de Caetano a imprensa especializada,  a parte do "tudo certo como dois e dois são cinco" começa a fazer mais sentido quando um solo de gaita começa a abafar a voz dos cantores, corta para o “switcher”, onde Roberto pergunta na lata, "Emilinha ou Marlene???", evocando a famosa rixa do rádio dos anos 1940 e 1950 entre as cantoras Emilinha Borba e Marlene, esta que foi casada com Luiz Delfino, algo que nas redes sociais dos dias de hoje poderia ser "Anitta ou Ludmilla???"", Caetano diz que em público era neutro no auge da rivalidade, mas preferia Emilinha, embora naquele momento (em 1975...), admire muito Marlene,  toca a gaitinha, o Rei responde a Veloso que seu ídolo aos 4 anos era Bob Nelson, o cantor country que se apresentava vestido de caubói, sabia todas as músicas, inclusive “O Boi Barnabé”, de 1946, e nunca o chamou para nenhum especial,  queixa que Nelson fez até sair de cena, em 2009, e aos 9 anos, Nelson Gonçalves e o português Albertinho Fortuna, de quem Caetano se recorda pela sinceridade na voz quando cantava tango, como na gravação de 1952 para “Mano a Mano”, tome gaitinha,  e Caetano não deixa Roberto sair da sala do controle-mestre sem descobrir que ele preferia Emilinha, até porque o Rei é ligeiro e depois de uma passada rápida por seu quarto de hotel, ele já está em meio aos profetas bíblicos esculpidos por Aleijadinho na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais,  para cantar "O Homem", de 1973, no caso, "ecce homini", Jesus Cristo, aqui descrito de forma mais poética que na música de 1970, “tudo que aqui ele deixou, não passou e vai sempre existir, flores nos lugares que pisou, e o caminho certo para seguir”, apesar da ambientação em uma das igrejas católicas em estilo barroco de Minas, a letra da canção não seria de Roberto e Erasmo, "sino" uma psicografia do médium Chico Xavier, notem também que "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", feita por Roberto em 1971, sobre o exílio de Caetano em Londres por razões de ditadura militar no Brasil,  nem foi citada, pois Veloso voltou em 1972, porém a ditadura permaneceu até 1985, que coisa, não...










Trânsito intenso na região do Maracanã, também, quem manda o Rei fazer um show na UERJ na virada do ano...




























Na volta do intervalo, close no cachimbo, Roberto comenta sobre dois grandes presentes que recebeu de Fagner e Belchior,  as canções "Mucuripe" e "Amanheceu", ambas as duas presentes no disco de 1975, que tem o cachimbo na capa, mas agora o close é no medalhão do palco para ele interpretar a música que Renato Aragão transformou em "As Véias do Macuripe" e a composição de Benito sem seu corpo, quer dizer, sem Benito e seu piano, a seguir estamos num barco onde  Dorival Caymmi cuida dos remos, Silvio Caldas da vara de pescar (!!!) e Roberto canta "Conversa de Botequim", de 1935, e fica perguntando sobre Vadico, que compôs a canção com Noel Rosa,  em terra, com o Caboclinho Querido segurando um peixe para dizer que vai se aposentar mais uma vez,  o Rei lembra com Caymmi de Dolores Duran,  os dois vão de "Ternura Antiga", dela, que saiu de cena em 1959, e de José Ribamar, gravada por Roberto em 1974, e por fim o trio canta uma composição de Dorival, "Acalanto", de 1957, que Roberto interpreta no disco “A Janela”, de 1972, depois gravada por Xuxa em 1985, quando ainda trabalhava na Manchete, e o trecho final, "boi, boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta", nos lembra que a filha do compositor,  Nana Caymmi, que também gravou a música com o pai e os irmãos, hoje é bozista ferrenha... Ops!!!... Mais um bloco termina e outro começa com a fonte Nebiolo Extending Bold e imagens do trânsito na região do Maracanã alternam-se com as do palco estrelado montado na Concha Acústica da UERJ, anfiteatro que hoje leva o nome de Marielle Franco, onde o Rei, paletó rosa-bebê com mangas bufantes, consciente de suas reízes tijucanas, canta a clássica "Detalhes", de 1971, em meio a cenas onde percorre a região da Barra que era tudo mato com seu carrão,  na sequência,  depois se dizer que "o portão é o limite do homem", interpreta, adivinhem, "O Portão", de 1974, aquela que foi usada numa propaganda de cigarros sem ele saber, que o doutor Renato diz que é à música do "caqui", "eu voltei, voltei agora pra ficar, por caqui, caqui que é meu lugar", a próxima é "Jesus Cristo", de 1970, sobre a mesma figura mencionada em "O Homem"... Roberto agradece os aplausos e declara que reparte a festa com o público,  esperando que a plateia reparta muito em 1976, porque quem reparte nunca está sozinho – e o especial foi exibido exatamente em 31 de dezembro de 1975 - foca no trânsito nas proximidades da UERJ, e tome Roberto Carlos Especial na fonte Nebiolo Extending Bold enchendo a tela... Na volta, Roberto Carlos comparece no aeroporto Santos Dumont em um Chevette "tubarão" azul, poucos anos depois do grande "merchan" da Chrysler que foi o filme "Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora" e bem antes do cantor tornar-se um revendedor da Ford, carregado de presentes, avisando na loja da Líder Táxi Aéreo, mais "merchan", que está indo para casa comemorar o Natal, avisando do brilho da joia  que Dona Nice vai ganhar e respondendo sobre o trem elétrico e a boneca pedida pelos filhos, a imagem congela com Roberto na janelinha do avião,  vista panorâmica das praias cariocas, e sobem os créditos,  sempre com o logotipo do medalhão, instrumental de "Eu Quero Apenas" em ritmo de caixinha de música ao fundo, artes de Leonardo Bruno, Radamés Gnatalli, Chiquinho de Moraes, Jimmy Wisner, Horace Hott e Lee Holdridge, inclusive reportagens de Big Boy, mais conhecido como Newton Duarte, e "Concerto de Roberto Carlos Gravado na Concha Acústica da U.E.R.J", finalizando com o logo dos dez anos da Globo, naquela que seria a despedida da bolinha do Borjalo dos especiais de Rei...

 








































Esta foi a última aparição da bolinha do Borjalo nos especiais de Roberto Carlos, na janelinha de um táxi aéreo...


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