segunda-feira, 15 de junho de 2020

Saga da América (I): Nas primeiras três décadas, dois títulos do Brasil...

Título do Uruguai no primeiro Campeonato Sul-Americano só não foi mais brilhante porque não usaram vermelho...




















































(Nesta semana deveria estar em disputa a Copa América, realizada simultaneamente na Argentina e na Colômbia... No entanto, devido à pandemia de Covid-19, a competição foi transferida para 2021... Sendo assim, resta ao seu Bloquinho Virtual recordar o histórico da competição de seleções iniciada em 1916 no Uruguai, e cuja última edição aconteceu ano passado no Brasil... Na sequência, passaremos em revista as três últimas finais do torneio - Chile e Argentina em 2015 e 2016, Brasil e Peru em 2019 - e por fim recordaremos algumas das grandes mutretas do futebol no continente americano...)

(Publicado originalmente em 20 de maio de 2019...)  Em junho do ano passado, o Brasil recebeu a 46ª edição da Copa América... Que começou em 1916, com a denominação de Campeonato Sul-Americano de Futebol... A Argentina sediou o evento,  realizado entre 2 e 17 de julho, em meio a Primeira Guerra Mundial na Europa, idealizado para comemorar o centenário da independência argentina, acontecida em 9 de julho de 1816... Seis anos antes, o pais tinha realizado um torneio para comemorar a Revolução de Maio (referência ao início da guerra de independência do país, em 25 de maio de 1910...), que reuniu as seleções argentina, chilena e uruguaia, competição que é considerada hoje um campeonato sul-americano não oficial...  Durante a competição, aproveitando o comparecimento das entidades que dirigiam o futebol de Argentina, Brasil (Confederação Brasileira de Desportos, fundada em 1914 como Federação Brasileira de Sports, e que dias antes do início da disputa, fundiu-se com a Federação Brasileira de Football, por interferência do Itamaraty, e recebeu a denominação que permaneceu até 1979...) e Chile, o dirigente uruguaio Hector Rivadávia Gómez propôs a criação da Confederação Sulamericana de Futebol, hoje conhecida como Conmebol... Fundada oficialmente em 9 de julho de 1916 – dia da independência da Argentina - sendo que o próprio Rivadávia Gómez foi seu primeiro presidente... As quatro seleções participantes – Argentina, Brasil, Chile e Uruguai jogaram todas contra todas, em turno único, sistema adotado até 1967... As partidas aconteceram no campo do Gymnasia Y Esgrima, em Buenos Aires... No primeiro jogo, o Uruguai venceu o Chile por 4 a 0, com dois gols de José Piendibene e dois de Isabelino Gradín... Os chilenos chegaram a protestar contra a presença na equipe uruguaia de dois jogadores negros – Juan Delgado e o próprio Gradín – alegando que eles eram na verdade africanos... A reclamação não foi levada em conta e o torneio prosseguiu... O Uruguai em seguida venceu o Brasil por 2 a 1 de virada, com gols de Gradín e Tognola... O gol brasileiro foi marcado por Arthur Friedenreich, filho de uma negra e um alemão, depois apelidado pelos próprios uruguaios de “El Tigre”... O último jogo, com a Argentina, começou no Gymnasia Y Esgrima, no dia 16 de julho, mas teve de ser interrompido com apenas cinco minutos de bola rolando, já que as arquibancadas ficaram pequenas para o grane número de torcedores que compareceram à decisão... Os argentinos venceram também golearam o Chile (6 a 1), e apesar do empate diante do Brasil (1 a 1), bastaria vencer o Uruguai para levarem o título... A partida foi adiada para o dia seguinte, no estádio do Racing em Avellaneda... Terminou empatada em 0 a 0, o que fez do Uruguai o primeiro campeão sul-americano – “El Negro Gradín” foi o artilheiro, com três gols... Os empates com  Argentina e Chile (ambos os dois por 1 a 1...) garantiram o terceiro lugar para a Seleção Brasileira, dirigida por seu primeiro treinador, Sylvio Lagreca...  A segunda edição do torneio foi realizada no Uruguai, no Parque Pereira em Montevidéu, em setembro e outubro de 1917... Pela primeira vez foi colocada em jogo a taça – confeccionada na joalheria Casa Escasany, de Buenos Aires, e oferecida pela chancelaria argentina... Os uruguaios golearam Chile e Brasil por 4 a 0 e venceram a Argentina por 1 a 0 – gol de Hector Scarone, na ocasião uma jovem promessa de 18 anos, que atuava com o irmão Carlos, de 28, faturando o bicampeonato... No jogo decisivo, o goleiro Cayetano Saporiti se machucou, sendo substituído pelo zagueiro Manuel Varela... O treinador do Uruguai era Ramón Platero, que trazido ao Brasil para dirigir o Fluzinho em 1919, comandou diversos clubes do país até encerrar a carreira no Bambi, em 1940 – o que inclui o comando da Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1925... Devido a pandemia de gripe espanhola, o campeonato de 1918 foi adiado, acontecendo apenas no ano seguinte... O torneio aconteceu na capital do país na época, o Rio de Janeiro, onde o Fluzinho construiu o estádio das Laranjeiras, com capacidade para 25 mil torcedores... Inaugurado em 11 de maio de 1919, vide comparecimento do presidente Delfim Moreira, com lotação esgotada e cerca de 10 mil pessoas do lado de fora... Nesse mesmo dia, no jogo de abertura, a equipe brasileira – comandada por um comitê formado pelos jogadores Amílcar e Arnaldo Silveira, além Mário Polo, Afonso de Castro e Viana Neto – venceu o Chile por 6 a 0, com três gols de Artur Friedenreich, principal jogador do país na época, dois do corinthiano Neco e um de Haroldo Domingues... Uma semana depois, nova vitória, 3 a 1 na Argentina, gols de Heitor Domingues, do também corinthiano Amilcar e Millon... Contra o Uruguai, em 26 de maio, empate em 2 a 2 – dois gols de Neco... Os uruguaios vinham de vitórias diante da Argentina (3 a 2) e Chile (2 a 0)... Mesmo abalados com a perda do goleiro Roberto Chery, o empate levou a realização de um jogo extra... Disputado em 29 de maio, terminou empatado em 0 a 0 no tempo normal... Mesmo placar da prorrogação de 30 minutos... O que levou a disputa de mais uma prorrogação de 30 minutos – aos 3 – Friedenreich aproveitou a bola chutada por Heitor e afastada pelo goleiro Saporiti e marcou – 1 a  0 Brasil, confirmando a conquista... Com o título, as chuteiras de Friedenreich foram expostas na vitrine de uma joalheria, e em homenagem ao gol, Pixinguinha e Benedito Lacerda compuseram o choro “Um a Zero”... O Chile sediou o torneio pela primeira vez em 1920, na cidade de Viña Del Mar... O Uruguai voltou a ser campeão... Após o empate com a Argentina (1 a 1) – o goleiro Jean Leganazzi defendeu o pênalti cobrado pelo argentino Calomino, fato inédito na competição até então – o time de Ernesto Figoli goleou o Brasil por 6 a 0 e venceu o Chile por 2 a 1... Superou a Argentina em número de pontos, pois o time de Eduardo Uslenghi venceu o Brasil (2 a 0), mas empatou com o Chile (1 a 1)... Uma divergência causada pela disputa de um troféu entre os campeões paulista e carioca fez com que a Associação Paulista de Esportes Atléticos se recusasse a ceder jogadores de seus filiados para a disputa no Chile... Assim, apenas atletas cariocas – e do Peixinho – disputaram o torneio continental...  O Brasil, treinado por Oswaldo Gomes, venceu apenas o jogo de estreia com o Chile, por 1 a 0, gol do gaúcho Ismael Alvariza, do Brasil de Pelotas, primeiro jogador fora do eixo Rio-São Paulo a figurar na Seleção Brasileira... Alis, esse foi o único gol da equipe brasileira, que além da goleada do Uruguai, perdeu para a Argentina... A solitária vitória se deveu principalmente ao fraco futebol dos chilenos, numa época em que o boxe era o esporte mais popular no país... Antes da volta ao Brasil, aconteceu um amistoso na Argentina contra a seleção local, disputada com menos jogadores em campo, pois parte dos atletas se revoltaram com a charge de um jornal de Buenos Aires, que os retratava como “macaquitos”... Em 1921, o campeonato retornou a Argentina, que finalmente conquistou o título... No estádio do Club Sportivo Barracas, venceu Brasil (1 a 0), Paraguai (3 a 0) e Uruguai (1 a 0) – o gol decisivo foi marcado por Júlio Libonati, artilheiro da competição com três gols, um em cada jogo... O Brasil, ainda imerso na rixa entre paulistas e cariocas, dirigido por Viana Neto, venceu apenas uma partida, contra o Paraguai (3 a 0) e ficou em terceiro lugar, vide atuações elogiadas do goleiro Júlio Kuntz...  A comemoração do centenário da independência do Brasil serviu como motivo para o Brasil voltar a sediar a competição continental em setembro e outubro de 1922... Pela primeira vez, participaram cinco seleções – além do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai...  Todos os jogos aconteceram no estádio do Fluzinho, na região das Laranjeiras... Dirigido por Arthur Antunes de Moraes e Castro, mais conhecido como Laís, o time do Brasil, apesar de reforçado pelos jogadores paulistas, empatou seus três primeiros jogos, contra Chile (1 a 1), Paraguai (1 a 1) e Uruguai (0 a 0)...  A primeira vitória aconteceria apenas contra a Argentina (2 a 0), que disputava o torneio sem jogadores das principais equipes do país...  Graças aos triunfos sobre Chile (2 a 0) e Argentina (1 a 0), o Uruguai liderava o campeonato com cinco pontos – numa época em que vitórias contavam dois pontos...  No entanto, o Paraguai venceu os uruguaios (1 a 0) e também chegou a cinco pontos... A vitória brasileira sobre os argentinos provocou um tríplice empate... O Uruguai, porém, insatisfeita com a atuação do árbitro brasileiro Pedro Santos no confronto com os paraguaios, vide dois gols anulados, decidiu retirar-se da disputa... Assim, o desempate seria jogado apenas entre Brasil e Paraguai... Vitória brasileira por 3 a 0, com gols de Neco e dois de Xavier Camargo, o Formiga...  Os 15 jogadores campeões dividiram entre si um prêmio de 50 contos de réis, concedido pelo governo federal após a aprovação no Congresso Nacional... A premiação causou polêmica, também pelo fato do futebol ainda ser oficialmente amador no país,  embora o valor fosse inferior a renda obtida pela CBD com o jogo entre Brasil e Argentina – 54 contos de reís... 





















Fluzinho construiu estádio das Laranjeiras para o torneio, não agradou a todos os torcedores, mesmo com Brasil campeão...






















































O Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1923, jogado no Parque Central de Montevidéu, no Uruguai, teria um atrativo adicional... O vencedor se classificaria para a disputa do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924... Os anfitriões alcançaram seu quarto título em sete edições disputadas, naquele que foi o despontar da geração de Nasazzi, Cea, Scarone e principalmente de José Leandro Andrade... Sob o comando de Leonardo de Lucca, venceram Paraguai (2 a 0), Brasil (2 a 1) e Argentina (2 a 0), conquistando a taça e a vaga olímpica – além do artilheiro da competição, Pedro Petrone, com três gols... O Brasil de Chico Netto, com uma equipe totalmente modificada em relação ao grupo campeão em 1922 – enviada apenas protocolarmente, já que devido a desistência do Uruguai do torneio do ano anterior, em protesto contra a arbitragem, cogitou-se um boicote  - perdeu os três jogos que disputou, contra Paraguai (1 a 0), Uruguai e Argentina (2 a 1)... Para custear as passagens de navio até a Europa, o dirigente uruguaio Atilio Narancio precisou hipotecar a própria chacara... O esforço foi válido, pois os uruguaios ganharam o ouro... O Uruguai recebeu o torneio pela segunda vez consecutiva em 1924, uma vez que o Paraguai, escolhido como sede, alegou não ter estrutura para abrigar o evento... Na qualidade de organizadores, os paraguaios utilizaram as rendas dos jogos para construir um estádio em Assunção, que se chamou Uruguay, Puerto Sajonia e finalmente Defensores Del Chaco... A disputa ocorreu entre os meses de outubro e dezembro – quatro meses depois do Uruguai ter sido campeão olímpico nos Jogos de Paris... O Brasil pela primeira vez se ausentou do torneio – em julho, estourou em São Paulo uma revolta contra o governo de Artur Bernardes, mais conhecida como Revolução de 1924... A Celeste de Ernesto Meliante, após vencer Chile (5 a 0) e Paraguai (3 a 1), sagrou-se campeã com um empate em 0 a 0 diante da Argentina de Angel Vasquez no Parque Central, local de todas as partidas da competição... O empate se deveu em muito a atuação do goleiro argentino Américo Miguel Tesorieri, aplaudida pelos próprios jogadores uruguaios...  O Campeonato Sul Americano de 1925, apesar de ser organizado novamente pelo Paraguai, foi jogado na Argentina... O Chile, devido a má campanha no ano anterior, e o Uruguai, envolvido com problemas internos, não se apresentaram... Por ter envolvido apenas três seleções – além de argentinos e paraguaios, o Brasil participou – a competição teve turno e returno, na única mudança da fórmula de disputa até 1975... A Argentina – comandada pelo goleiro Tesorieri – venceu Paraguai (2 a 0) e Brasil (4 a 1) no primeiro turno... No returno, o Brasil – Ramón Platero era técnico de campo, enquanto Joaquim Guimarães atuava como diretor técnico  – chegou ao jogo contra a Argentina no estádio do Barracas com quatro pontos, conseguidos nas duas vitórias sobre o Paraguai (5 a 2 e 3 a 1...),  contra seis dos argentinos (que venceram o segundo jogo com o Paraguai por 3 a 1)... Uma vitória forçaria um jogo-desempate, e os brasileiros fizeram 2 a 0, com Friedenreich e Nilo... Entranto, uma entrada por trás de Ramón Muttis em Friedenreich, revidada com um pontapé e devolvida com um soco, levou a uma briga entre os jogadores e a invasão de campo pela torcida, irritada com os brasileiros, a quem chamava de “macaquitos”... Após a briga, o jogo recomeçou e os argentinos empataram com gols de Antonio Cerrotti e Manuel Seoane – depois técnico da seleção... O empate em 2 a 2 assegurou o segundo título da Argentina... Devido ao incidente ocorrido no último jogo, o governo brasileiro (Artur Bernardes ainda era o presidente...) decidiu que o país não participaria mais do torneio... E não só apenas isso, durante três anos a Seleção Brasileira não disputou nenhum jogo internacional... O Chile volta a sediar a competição em 1926, com o Brasil iniciando um período de ausência que durou 12 anos...  O Uruguai de Ernesto Fígoli foi o campeão, vencendo Chile (3 a 1), Argentina (2 a 0), Bolívia (6 a 0, com cinco gols de Hector Scarone...) e Paraguai (6 a 1)... Scarone e “Manco” Castro marcaram 12 dos 17 gols da Celeste no torneio, seis cada um, porém o artilheiro foi o chileno David Arellano, fundador do Colo-Colo, com sete gols, quatro marcados na vitória sobre a Bolívia por 7 a 1...  Em 1927, o torneio serviu para definir os dois representantes da América do Sul nos Jogos Olímpicos de Amsterdam, no ano seguinte... Participaram Argentina, Bolívia, Peru – país sede, pela primeira vez – e Uruguai... O Brasil, assim como Chile e Paraguai, ficou de fora – e não mandou nenhum atleta, de nenhuma modalidade, para os jogos na Holanda... Ao contrário dos chilenos, que acabaram recebendo um convite para disputar o torneio de futebol, ajudados pela fama alcançada pelo Colo-Colo em uma excursão pela Europa no ano anterior – caíram no primeiro jogo, vencidos de virada por Portugal (5 a 2)... A Argentina do espanhol José Lago Millán venceu as três partidas e conquistou o título... O Uruguai de Luis Grecco – que perdeu apenas para a Argentina por 3 a 2 – ficou em segundo... Classificadas para o torneio olímpico de futebol, as duas seleções fizeram a final – empataram em 1 a 1 no primeiro jogo, o que levou a uma partida de desempate, vencida pelo Uruguai por 2 a 1... A edição de 1929, realizada pela Argentina, originalmente deveria ter acontecido em 1928, porém foi adiada devido aos Jogos Olímpicos...  Onde o Uruguai alcançou o bicampeonato olímpico e a Argentina conquistou a medalha de prata... Bolívia, Brasil e Chile – que disputariam a primeira Copa do Mundo, realidaza no Uruguai em 1930 – não participaram... Os únicos competidores foram Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai...  A Argentina, dirigida pela dupla Olazar e Tramultola, venceu todos os jogos e conquistou o título -  no último jogo, devolveu a derrota na final olímpica, ganhando do Uruguai de Alberto Supicci, por 2 a 0 no Estádio Gasometro...  O Campeonato Sul-Americano de Futebol teve então um hiato de seis anos, que coincidiu com a realização das duas primeiras Copas do Mundo, no Uruguai – que venceu a Argentina por 4 a 2 na final - e na Itália, a implantação do profissionalismo na Argentina, Uruguai e Brasil (abalado também pela Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas do poder...), a Grande Depressão...  Retornou apenas em 1935, no Peru, servindo como eliminatória para o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Berlim, que aconteceriam no ano seguinte... Bolívia e Paraguai, envolvidos na Guerra do Chaco, não participaram, assim como o Brasil... Apenas Argentina, Chile, Peru e Uruguai disputaram o torneio... O Uruguai dos experientes José Nasazzi e “Manco” Castro”, dirigido por Raul V. Blanco, jogou com uniforme vermelho e ganhou o título ao vencer Peru (1 a 0), Chile (2 a 1) e Argentina (3 a 0)...  Apesar da vaga conquistada, os uruguaios abriram mão de disputar os Jogos Olímpicos, alegando problemas financeiros...  Mesma justificativa da Argentina de Manoel Seoane... A vaga ficou com o Peru de Telmo Carbajo, terceiro colocado – que venceu apenas o jogo com o Chile (1 a 0)... Em Berlim, o Peru chegou a vencer a Áustria nas quartas-de-final por 4 a 2, porém o jogo foi anulado, supostamente devido a uma invasão de campo por torcedores peruanos... A seleção do Peru, atendendo a um pedido do presidente Oscar Benavides, recusou-se a disputar uma nova partida e abandonou o torneio... A Áustria foi declarada vencedora, e a avançou as semifinais – ficaria com a medalha de prata, ao ser derrotada pela Itália... O episódio motivou um boicote dos países americanos às Eliminatórias da Copa do Mundo de 1938, que teve a adesão da Argentina, preterida pela França para ser a sede da competição... O torneio de 1937, que começou em dezembro de 1936, após o Natal, aconteceu na Argentina, governada pelo general Justo – que contribuiu financeiramente para o River Plate construir o Monumental de Nuñez -  e não contou com a Bolívia, que desistiu (vide Guerra do Chaco com o Paraguai)... A Argentina de Manoel Seoane e o Brasil de Ademar Pimenta – voltando após doze anos de ausência - sem Domingos da Guia e Leônidas da Silva - travaram uma disputa acirrada pela liderança rodada após rodada: os brasileiros fizeram 3 a 2 no Peru, os argentinos ganharam do Chile por 2 a 1... O Brasil goleou o Chile por 6 a 4 e Argentina impôs um 6 a 1 ao Paraguai...  A Seleção Brasileira fez 5 a 0 no Paraguai, a seleção argentina venceu o Peru por 1 a 0... Os brasileiros ganharam do Uruguai por 3 a 2, os argentinos perderam para a Celeste pelo mesmo placar... Em compensação, a Argentina venceu o Brasil por 1 a 0... Com as duas seleções empatadas em oito pontos, teve que ser feito um jogo de desempate, em 1º de fevereiro... A partida foi interrompida quando Carnera cometeu falta no argentino Varallo e teve início uma briga entre os jogadores... Os brasileiros, já incomodados pelas ofensas raciais, foram agredidos pela polícia argentina e deixaram o campo, só retornando após terem sua segurança garantida... Empatado em 0 a 0 no tempo normal, o jogo foi para a prorrogação, e a Argentina venceu por 2 a 0, com dois gols de Vicente de La Mata... O Peru sediou pela terceira vez o Campeonato Sul-Americano de Futebol em janeiro e fevereiro de 1939 – a segunda Guerra Mundial começou em setembro – com todos os jogos realizados no Estádio Nacional de Lima... O Brasil, já sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, bem como a Argentina e a Bolívia (ainda a Guerra do Chaco...) não participaram... Brasileiros e argentinos preferiram retomar a Copa Roca, que não era posta em jogo desde 1923... Jogada no Brasil, a Argentina levou a melhor, iniciando uma supremacia de sete anos sobre o vizinho... Dirigidos pelo inglês Jack Greenwell,  os peruanos conquistaram seu primeiro título, vencendo todos os quatro jogos que disputou  - no último deles, ganhou do Uruguai por 2 a 1, gols de Alcalde e Bielich... Ao lado dos uruguaios, teve o melhor ataque, com 13 gols (sofreu quatro, contra cinco da Celeste...), com Teodoro Fernandez conseguindo a artilharia, com sete gols...  O recém-inaugurado Estádio Nacional de Santiago, no Chile, foi a sede da competição em 1941, já com a Segunda Guerra Mundial em andamento, vide Batalha do Rio da Prata, quando o navio alemão Graf Spee foi afundado pelos ingleses na costa uruguaia em dezembro de 1939... Não participaram Bolívia (disputas territoriais com os chilenos pesaram...), Brasil e Paraguai... A Argentina de Guillermo Stábile conquistou o título, vencendo as quatro partidas que jogou, marcando dez gols e sofrendo dois... Metade deles marcados por Juan Marvezzi, artilheiro da competição...  Mesmo número de gols do Uruguai (dois sofridos, contra um dos argentinos...), que perdeu apenas o jogo com a Argentina por 1 a 0, gol de Antonio Sastre, que jogou no Bambi entre 1943 e 1946... Após 19 anos, o Uruguai, que vivia uma década de governos autoritários (com Gabriel Terra e Alfredo Baldomir...) voltou a sediar o torneio em 1942... Todas as partidas aconteceram no Estádio Centenário, em Montevidéu... A Celeste de Juan Pedro Cea, cuja base era o Nacional, pentacampeão entre 1939 e 1942, foi campeã vencendo as seis partidas que disputou – Chile (6 a 1), Equador (7 a 0), Brasil (1 a 0), Paraguai (3 a 1), Peru (3 a 0) e Argentina (1 a 0, vide gol de Zapiraín)... A vice-campeã foi a Argentina, que impôs a maior goleada do torneio (12 a 0 no Equador) e teve os artilheiros – Hermínio Masantonio e José Manoel Moreno, ambos os dois com sete gols... Dois terços dos 21 marcados pela Albiceleste – mesmo número do Uruguai, que sofreu dois gols, enquanto os argentinos tomaram seis...  O Brasil de Ademar Pimenta, derrotado tanto pelo Uruguai quanto pela Argentina (2 a 1), e obtendo apenas um empate diante do Paraguai (1 a 1), ficou em terceiro lugar... Ainda com alguns jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 1938, o Brasil teve também a primeira participação de Zizinho, que disputaria a competição durante 15 anos...


























Seleção brasileira chega ao bicampeonato sul-americano, novamente nas Laranjeiras, e outra vez em um jogo-desempate...






















































O Campeonato Sul-Americano de 1945, realizado no Peru em janeiro e fevereiro, foi o primeiro do tricampeonato da Argentina, refletindo o domínio que o país tinha sobre o futebol do continente, vide “La Maquina” do River Plate... Sempre comandada por Stábile, que como jogador foi vice-campeão e artilheiro da Copa do Mundo de 1930, a Albiceleste conquistou os três títulos sem perder um único jogo... Ao Brasil, restava a posição de segunda força, uma inferioridade que ficou conhecida como “platinismo”... Jogando no Estádio Nacional de Santiago, a Argentina goleou Bolívia (4 a 0), Equador (4 a 2), Colômbia (9 a 1), empatou com os donos da casa (1 a 1), e voltou a vencer contra Brasil (3 a 1, vide “hat-trick” de Norberto Mendez...) e Uruguai (1 a 0), faturando o título... A Seleção Brasileira, treinada por Flávio Costa, que dirigiu o Menguinho no tricampeonato carioca de 1942, 1943 e 1944 e o “Expresso da Vitória” do Bacalhau, venceu Colômbia (3 a 0), Bolívia (2 a 0), Uruguai (3 a 0), Equador (9 a 2) e Chile (1 a 0), mas devido a derrota para os argentinos, ficou apenas com o vice-campeonato...  Ao menos Heleno “Gilda” de Freitas dividiu a artilharia com Norberto Mendez, ambos com seis gols, logo em sua primeira participação no torneio... Mesma condição de dois jogadores assíduos na Seleção nos anos seguintes, Ademir Menezes (cinco gols, três contra o Equador) e Jair Rosa Pinto (OG, dois gols...) Ao mesmo tempo, o experiente Domingos da Guia disputava a competição pela última vez...  Depois da disputa, a Argentina passaria por importantes transformações políticas... O país era presidido por um governo militar desde o golpe de 1943... Um dos líderes do movimento, Juan Domingo Perón, que era secretário do Trabalho, foi preso em 1945... O movimento de massas que pediu sua libertação, não só teve sucesso, no dia 17 de outubro, como impulsionou a eleição de Perón no ano seguinte... Os dois mandatos do “sócio” de Eva Duarte marcariam profundamente a Argentina até Perón ser deposto em 1955... No torneio de 1946, acontecido nos meses de janeiro e fevereiro na Argentina, desistiram de participar Colômbia, Equador e Peru...  O Brasil, sacudido pela eleição de Eurico Gaspar Dutra e a deposição de Getúlio Vargas, foi recebido com hostilidade pela torcida local, devido ao lance com Ademir Menezes em que Battagliero fraturou a perna, na partida decisiva da Copa Roca, em dezembro de 1945, vencida pelos brasileiros por 3 a 1...  A Argentina venceu Paraguai (2 a 0), Bolívia (7 a 1), Chile (3 a 1) e Uruguai (3 a 1) antes do confronto decisivo com o Brasil... Comandada por Flávio Costa, a Seleção Brasileira venceu Bolívia (3 a 0), Uruguai (4 a 3), empatou com o Paraguai (1 a 1), e voltou a vencer contra o Chile (5 a 1)... Tinha chances de título caso vencesse a equipe de Stábile, porém acabou derrotada por 2 a 0 no Monumental de Nuñez, com dois gols de Norberto Mendéz... Em um lance de ataque de Jair Rosa Pinto (OG), o zagueiro José Salomon fraturou a tíbia e o perônio... Foi o início de uma batalha campal, com agressões entre brasileiros e argentinos, invasão de campo pelos torcedores e intervenção da polícia... A partida foi interrompida por mais de uma hora, sendo reiniciada após as expulsões de Chico e do argentino De La Mota... O bicampeonato argentino, conquistado com 100% de aproveitamento, marcaria o rompimento de relações com o futebol brasileiro... Ah, sim... A partida teve um espectador ilustre, o ator e dublador Orlando Drummond, na época contrarregra da Rádio Tupi do Rio de Janeiro... Conforme relata a biografia "Orlando Drummond - Versão Brasileira", ele teve que se valer de sua breve experiência como lutador profissional de boxe para se defender quando a briga iniciada no campo se espalhou pelas arquibancadas... E o que é pior, com a derrota brasileira, Drummond ganhou fama de pé-frio... Cruzes!!!... O torneio seguinte, realizado em novembro e dezembro de 1947 no Equador, não teve a participação do Brasil... A Argentina de Stábile venceu Paraguai (6 a 0), Bolívia (7 a 0), Peru (3 a 2), empatou com o Chile (1 a 1) e ganhou de Colômbia (6 a 0), Equador (2 a 0) e Uruguai (3 a 1)... Seis vitórias, um empate, 28 gols marcados, apenas quatro sofridos... Só não conquistaram a artilharia, que ficou com o uruguaio Nicolás Faleiro (7 gols)... Depois do tricampeonato invicto, a greve dos jogadores argentinos em 1948 levou vários jogadores destacados para o campeonato não-oficial da Colômbia... Surgido na esteira da crise política desencadeada pelo assassinato de Jorge Eliecer Gaitán, no episódio conhecido como “Bogotazo”, que depois levaria a uma guerra civil... Que é a origem do termo “Maracanazo”, digo... Tudo isso, somado ao rompimento com o Brasil, levaria ao afastamento da Argentina do torneio por oito anos... A Colômbia, devido a sua liga clandestina, sofreu sanções da FIFA e também ficou de fora... 



















Tumultos no jogo decisivo da edição de 1946 levaram Brasil a romper relações futebolísticas com Argentina...

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