segunda-feira, 22 de julho de 2019

Campos do Jordão é a capital brasileira do “trainspotting”...

Passeio de maria-fumaça foi retomado com locomotiva alemã fabricada em 1927, emprestada pela prefeitura de Taubaté...




















































“Trainspotting” é uma expressão em inglês que quer dizer, literalmente, “observando trens"... Embora o termo seja mais conhecido pelo uso no título do filme britânico lançado em 1996 – baseado em um livro com o mesmo nome, e que compara a atividade com o vício em drogas (!!!) – basta apertar a tecla SAP para saber que observar trens, apesar de ser considerado um “hobby” por quem não está envolvido, é algo levado muito a sério na região de Clapham, em Londres... Vide anotações nos livros que listam os trens em operação, sempre que são avistados pelos observadores... Em países onde há um forte trabalho no transporte ferroviário, esse tipo de atividade é comum, no Japão, por exemplo, Doutor Kenji... No Brasil nem tanto, já que os trens não são o modal mais utilizado, porém há alguns lugares onde ele podem ser espiados de muito perto... Um excelente exemplo é a cidade de Campos do Jordão, na região do Vale do Paraíba, onde operam linhas turísticas de trem e de bonde no leito de bitola métrica da Estrada de Ferro Campos do Jordão, mais conhecida como EFCJ, inaugurada em 1914, com 46,6 quilômetros de extensão, ligando Campos do Jordão a Pindamonhangaba... Época em que o clima de montanha da cidade era indicado para o tratamento da tuberculose, e a ferrovia na Serra da Mantiqueira facilitava o acesso à estação mais próxima da Central do Brasil, a ferrovia que interligava São Paulo com o Rio de Janeiro, então capital federal...  Como a via não é segregada, as pessoas podem caminhar por entre os trilhos... Especialmente entre a última passagem de nível antes do final da linha, no cruzamento da Avenida Emílio Ribas com a Rua Camilo de Moraes, pouco depois da parada Damas, e a parada Emílio Ribas, no Parque do Capivari, ponto inicial e final do percurso... Nesse trecho, há uma calçada que segue paralela ao leito da via férrea... Assim, é muito comum os turistas que comparecem a cidade, em especial nos finais de semana, fazerem fotos equilibrando-se sobre os trilhos, ou sentados nos dormentes... Os “sócios” se beijam para as câmeras, algumas pessoas seguram as folhas de plátanos, árvore típica da região, aquela que no Canadá está na bandeira e é chamada de “maple”, para compor a foto... Alguns até trabalham forte na “selfie”, de preferência com o trem chegando... E, claro, há aqueles que vem praticar a antiga e nobre arte do “trainspotting”, registrando a passagem do trem e dos bondes com suas câmeras, apenas fotografando ou filmando... Não que a frota seja muito variada, mas a programação dos passeios favorece a observação durante uma tarde de domingo, por exemplo...  A proximidade da parada Emílio Ribas permite esperar as saídas e chegadas  dos bondes e dos trens para trabalhar forte nos registros... Não que isso não aconteça também em outros locais... Por exemplo, na Avenida Frei Orestes Girardi, entre as regiões Capivari e Jaguaribe,  que também está paralela aos trilhos... Não é incomum, quando o trem a vapor apita, algumas pessoas saírem das lojas  onde são vendidos chocolates em forma de Nokia 3310, queijos apimentados, pinhões em conserva e aguardentes com nomes sugestivos - vide Amansa Sogra,  cujo rótulo tem a figura da Velha Surda - e pegarem seus celulares para flagrar a passagem da maria-fumaça... Tudo bem que vai ter um monte de gente "cebolando" a foto, mas, enfim...




















Risco dos registros do trem saírem "cebolados" é grande devido a intensa movimentação de turistas junto à linha férrea...




















































Os experientes bondes elétricos A5 e A7, de fabricação alemã (Siemens e MAN...), fazem o percurso entre as paradas Emílio Ribas e Portal, localizada pouco à frente do marco da entrada da cidade - e do grande terreno baldio que serve de estacionamento para os ônibus de excursão que comparecem na cidade... O bonde A5, de 1930, tem 9,8 metros de comprimento comporta 32 passageiros, mesma capacidade do A7, fabricado em 1924 e que possui 11 metros de comprimento... Ambos os dois pertenciam ao “tranway” de Acapulco, quer dizer, do Guarujá, e vieram para a EFCJ em 1956... A distância entre as duas estações é de 8 quilômetros,  e a viagem de ida e volta é feita em 40 minutos,  sem paradas pelo caminho...  A automotriz V1 - construída pela British Electric, que é chamada de "vagão", pois originalmente era destinada ao transporte de cargas, reboca um carro de passageiros, faz um percurso um pouco maior,  de 8,5 quilômetros,  até a parada São Cristóvão,  a primeira depois de portal, na direção de Pindamonhangaba...  Toda revestida em madeira, a composição lembra as  linhas de subúrbio da EFCJ, que durante a semana saem da estação na região central de Pinda com destino às paradas Expedicionária e Piracuama,  antes da subida da Serra da Mantiqueira... Nos finais de semana da alta temporada, como no último domingo, os bondes e a automotriz saem juntos,  em comboio,  para dar conta da grande demanda de turistas... O preço da passagem é de R$ 16... Crianças com menos de 5 anos de idade não pagam, desde que viajem sentadas no colo...  Alis, em junho,  tanto o parque do Capivari quanto o teleférico – quer dizer, o miniférico - do Morro do Elefante foram entregues em concessão para uma empresa privada... Que já anunciou a substituição das tradicionais cadeirinhas, impulsionadas pelo motor tirado de uma locomotiva elétrica da ferrovia,  por cabines fechadas... Mudança que deve ocorrer no final deste ano... O que vai tirar a oportunidade dos visitantes subirem o morro enquanto balançam as pernas... Ops!!!... Sob a responsabilidade da EFCJ restaram a operação da ferrovia e o Centro de Memória Ferroviária, para qual serão remanejados os funcionários que cuidavam do parque e do miniférico... Alis, no Centro, instalado na antiga estação Emílio Ribas, está exposta uma cadeirinha do miniférico, já antecipando a nostalgia do sistema que será substituído, e uma automotriz a gasolina construída em 1917, com mecânica de um automóvel Berliet – em 1922, foi colocado um motor Mercedes – que operou nas linhas de subúrbios e em serviços de manutenção e vistoria até 1970, vide manivela para dar... A partida... Ops de novo!!!... 





















Na verdade, ideia dos turistas de registrarem a chegada do trem foi a mesma que irmãos Lumiere tiveram em 1895 na França....




















































O passeio com a maria-fumaça não acontecia desde 2015, em virtude do desgaste da locomotiva a vapor da ferrovia, que agora repousa no fundo do galpão das oficinas da EFCJ, ao lado da parada Emílio Ribas... A viagem foi retomada no último dia 13 de julho, por meio de um convênio assinado em maio com a prefeitura de Taubaté... Que emprestou uma locomotiva construída na Alemanha em 1927 pela empresa  Linke Hoffmann Werke... A qual operou por quase 80 anos na região de São José da Laje, em Alagoas, até ser trazida para o Parque do Itaim, em Taubaté, em 2004... O percurso é menor, de quatro quilômetros,  entre Emílio Ribas e Abernessia,  região que é o centro administrativo e comercial da cidade... A viagem de ida e volta dura 30 minutos, com quatro saídas diárias,  às 11, 13, 15 e 17 horas, e passagens que custam R$ 23... A locomotiva a vapor, que puxa um vagão de madeira com capacidade para 64 passageiros, fascina até aquelas pessoas nas quais o trem faz parte do dia-a-dia - como os mineiros... Aquele homem de Belo Horizonte, que veio em uma excursão,  passava por perto do Parque do Capivari e quis se certificar que era ali que passava a maria-fumaça... Também queria saber qual botão apertava na câmera do celular para filmar a passagem do trem... A saída do trem, que puxa um vagão de madeira,  é assinalada pelo apito da locomotiva...  Nos horários que coincidem com a saída dos bondes,  os "tranways"  elétricos saem primeiro,  puxando o comboio... Na vez da locomotiva, a chaminé da fornalha emite uma fumaça branca e o trem começa a se mover... É o sinal para os turistas desocuparem os trilhos,  à maneira daquela câmera escondida do "Topa Tudo por Dinheiro" gravada numa feira em Maceió... Aquela que Ivo Holanda usava uma buzina para enganar os transeuntes, fazendo pensarem que o trem estava chegando e chamando a produção caso alguém não curtisse a pegadinha e resolvesse partir para a briga... O mineiro olha para o sol e decide ficar do lado direito da linha, pois a iluminação será mais favorável para sua filmagem... A locomotiva sai da estação e encontra a via já desimpedida... Exceto por duas garotas,  que permanecem nos trilhos para conseguir uma "selfie" incrementada...  O risco de um acidente sério alarma o maquinista,  que grita para elas saírem da frente... As garotas não gostam da bronca e retrucam... O maquinista para o trem e passa uma descompostura nas duas, antes de seguir com a viagem... Já o mineiro ficou satisfeito com sua filmagem, sem medo de ser redundante, falou em “trem bão”... No retorno, a composição volta com o vagão na frente da locomotiva e sua chegada é esperada por uma pequena multidão que segura seus celulares com câmera na plataforma da parada Emílio Ribas... Faz sentido, levando-se em conta que um dos primeiros filmes feitos na história era justamente um documentário sobre a chegada de um trem... Não que as pessoas hoje se assustem com a imagem de um trem se aproximando em sua direção, mas, enfim... O Instagram © parou de fornecer o número de curtidas das postagens no feed, digo... Isso porque devido a obras de melhoria não estão em funcionamento o Trem da Serra – automotrizes elétricas que fazem a viagem entre Pindamonhangaba e Campos do Jordão – o Trem do Mirante – que realiza o percurso entre Campos do Jordão e a estação Eugênio Lefevre, em Espirito Santo do Pinhal, também com automotrizes elétricas – e a maria-fumaça de Pindamonhangaba... Enfim, menos opções para o “trainspotting”... Ops, outra vez!!!...



















Certo, não é muito comum testemunhar uma locomotiva andando "dis costas" e de marcha a ré, mas, enfim...

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