quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Já tivemos posses presidenciais melhores...

Na primeira posse do Luis Inácio, em 2003, não havia a preocupação de afastar o público do presidente...














































Um fortíssimo esquema de segurança para intimidar a imprensa, comparecimento de público abaixo da expectativa e discursos esquizofrênicos... Assim foi, em resumo, a posse do “Coisa Ruim” em Brasília, no primeiro dia do ano...  A suposição (ou a preocupação, ou a paranoia...) de que o novo presidente corria o risco de sofrer um atentado terrorista serviu de pretexto para que os jornalistas fossem impedidos até de levarem maçãs inteiras para fazerem um lanche durante a cobertura... Confinados em espaços restritos, os fotógrafos de imprensa foram avisados de que se movessem um centímetro seriam alvejados por “snipers”... O único perigo que o Coisa Ruim correu durante a transmissão do cargo foi o cavalo dos Dragões da Independência que desembestou por alguns instantes bem em frente ao Rolls-Royce presidencial... As notícias sobre caravanas de bolsominions que compareceriam a Brasília faziam crer que a presença de público na Praça dos Três Poderes em Brasília bateria um recorde histórico... Mais precisamente, as 450 mil pessoas que compareceram à primeira posse do Luis Inácio, em 2003... Era essa a expectativa do próprio governo empossado, que após as cerimônias, divulgou, sem muita empolgação, que 115 mil pessoas viram o Coisa Ruim de perto... A distância entre os populares e o capitão reformado, lembraram outra posse em Brasília, a do general Ernesto Geisel, em 15 de março de 1974... No vídeo, disponível no Youtube © (https://www.youtube.com/watch?v=kIVLzFvGnL4), os gramados da Praça dos Três Poderes estão completamente vazios, inclusive quando após o juramento no Congresso Nacional, Geisel e seu vice, Adalberto Pereira dos Santos (também militar, como o general Mourão...), ouviram o Hino Nacional, passaram em revista às tropas e dirigiram-se até o Palácio do Planalto em carro fechado – um Itamarati, fabricado pela Willys na década de 1960 e oferecido ao primeiro presidente do ciclo militar, Humberto de Alencar Castello Branco... Um ou outro curioso acompanhava o deslocamento da comitiva, mas eram exceções... O Coisa Ruim reuniu um pouco mais de gente, mas que foi mantida a distância pelo dispositivo de segurança, inclusive com uso de gás de pimenta para aqueles mais resistentes à revista... A poprósito, três países que enviaram seus presidentes à posse de 1974 o fizeram também em 2019... No caso, Bolívia, Chile e Uruguai... Os dois primeiros na ocasião, governados por militares que ascenderam ao poder por meio de golpes de Estado  – Hugo Banzer e Augusto Pinochet – e o terceiro, também sob um regime militar, comandado por um civil, Juan Maria Bordaberry... Que se elegeu em 1971, em meio a ameaças do governo brasileiro (também uma ditadura militar), de atacar o vizinho caso a candidatura de esquerda vencesse as eleições presidenciais... Agora, os três países são governados por presidentes eleitos democraticamente, dois de esquerda – o boliviano Evo Morales e o uruguaio Tabaré Vasquez – e um de direita – o chileno Sebastian Piñera, um entusiasta do Coisa Ruim... Os Estados Unidos foram representados em 2019 pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, enquanto o presidente Donald Trump trabalhou forte nas felicitações pelo Twitter ©... Em 1974, a investidura teve o comparecimento da primeira-dama, Patricia Nixon, mais conhecida como Pat...  O presidente Nixon teve excelentes relações com o antecessor de Geisel, Emilio Médici, vide visita a Washington em 1971, porém em 8 de agosto renunciaria ao cargo, para escapar do impeachment, motivado pelo caso Watergate... Geisel, por sua vez, romperia em 1977 um acordo militar firmado com os Estados Unidos em 1952... Uma atitude oposta à simpatia do Coisa Ruim pelo país da América do Norte... Comparável apenas ao quanto se apetece pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o famoso “Bibi”... No caso do premiê da Hungria, Vitkor Orban, a afinidade é mais ideológica, vide conservadorismo... Pelo menos nesse caso não há possibilidade de mudança de embaixada, digo...

















Na segunda posse, em 2007, apesar da chuva, o vice era confiável o suficiente para fazer a subida da rampa...














































Os discursos do Coisa Ruim no Congresso Nacional e no parlatório do Palácio do Planalto, sempre naquele pouco espontâneo, tiveram o mesmo tom esquizofrênico de suas falas após ser eleito no segundo turno... Ao mesmo tempo em que fala um pouco em respeito à Constituição e as instituições democráticas, ataca seus adversários sem esconder seu viés ideológico conservador... “Aproveito este momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a definitivamente do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade economia e da submissão ideológica. Temos diante de nós uma oportunidade única de reconstruir o nosso país e de resgatar a esperança de nossos compatriotas”... Notem a associação do punitivismo com a criminalização das esquerdas”...  “Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo, alcançaremos exito em nossos objetivos e pelo exemplo e pelo trabalho levaremos as futuras gerações a nos seguir nesta tarefa gloriosa. Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas. Pretendo partilhar o poder de forma progressiva, responsável e consciente, de Brasília para o Brasil, do poder central para estados e municípios. Minha campanha eleitoral atendeu ao chamado das ruas e forjou o compromisso de colocar o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”... “Ideologia de gênero” não existe, é uma tentativa dos conservadores de acusarem os adversários de fazerem aquilo que pretendem, a imposição de identidade de gênero por determinismo biológico...  “Por isso, quando os inimigos da pátria, da ordem a da liberdade tentaram por fim à minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas. Uma campanha eleitoral transformou-se em um movimento cívico, cobriu-se de verde e amarelo, tornou-se espontâneo forte e indestrutível e nos trouxe até aqui. Nada aconteceria sem o esforço e o engajamento de cada um dos brasileiros que tomaram as ruas para preservar a nossa liberdade e democracia. Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão”... Não deixem de assistir o documentário “A Facada no Mito”, no Youtube © (https://www.youtube.com/watch?v=8hv1D6EgWfc), já que o Adélio não pode falar, digo...  “Daqui em diante nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros que querem boas escolas, capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a militância política. Que sonha com a liberdade de ir e vir sem serem vitimados pelo crime. Que desejam conquistar, pelo mérito, bons empregos e sustentar com dignidade suas famílias, que exigem saúde e educação, infraestrutura e saneamento básico e respeito aos direitos e garantias fundamentais da nossa Constituição. O pavilhão nacional nos remete a ordem e ao progresso. Nenhuma sociedade se desenvolve sem respeitar esses preceitos. O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender respeitando o referendo de 2005, quando optou nas urnas o direito à legítima defesa”... Como a reforma da Previdência exigirá negociações com o Congresso, a “pauta moral”, que no caso inclui a flexibilização, leia-se inviabilização, do Estatuto do Desarmamento, vai na frente... Até porque atende as necessidade de pelo menos um grupo de pressão que trabalhou forte pela eleição do Coisa Ruim, os ruralistas...

















Em 2011, Dilma recebeu do Luis Inácio a faixa presidencial que poderia ter devolvido a ele em 2019...













































A fala do Coisa Ruim no Parlatório foi precedida pelo discurso em Lingua Brasileira de Sinais da primeira-dama, Michelle Bolsonaro... Uma quebra de protocolo relevante, porém não mais importante que os discursos da mulher eleita presidenta nas duas posses anteriores... Discursos propositivos, como foram os de seu antecessor - em 2003, o Fome Zero, em 2007, o Programa de Aceleração do Crescimento - hoje preso em Curitiba, por ordens do juiz de primeira instância que se tornou Ministro da Justiça do presidente que deve sua eleição ao encarceramento de seu principal concorrente... Quem sabe não seria melhor  deixar de ouvir o que o novo presidente tinha a dizer... “É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”... Pior...  “Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego recorde, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos, e da desconstrução da família. Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do Governo sobre quem trabalha e quem produz... Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares. Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança”... Novamente adversários políticos criminalizados e pouca referência a planos de governo... “Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica, que é a que realmente transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade social...  Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade... Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais. Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e os brasileiros!!!... Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste país”... Discurso de ordem, é tudo o que o Coisa Ruim tem a oferecer... O resto é polêmica sobre a caneta com que o presidente assinou as nomeações de seus ministros, como se fossem menos importantes que as políticas antipopulares do novo governo... A começar pela redução do aumento do salário mínimo... Temer não quis assinar o decreto que elevaria o valor de R$ 954 para R$ 1.006... O Coisa Ruim, na noite da posse, cortou 8 reais do aumento, fazendo o mínimo subir para R$ 998... Oito reais que fazem muita falta, de onde se nota a sensibilidade social que a administração terá nos próximo quatro anos... Então é por isso que na hora do “beija-mão” no Itamaraty, a Globo encerrou a transmissão e colocou no ar a reprise da novela “Belíssima”, vide Bia Falcão e a pobreza que pega que nem sarna... Ah, sim... O SBT, não deixou de seguir a tradição de exibir “Chaves” na ocasião da posse presidencial – só que desta vez, o fez antes da cerimônia, vide “O Belo Adormecido”...


















Em 2015, foram poucos os momentos em que Michel Temer não esteve de olho na faixa de Dilma...

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