segunda-feira, 23 de julho de 2018

Copa nos tempos da Manchete, Alberto Léo e João Saldanha...

Livro de Alberto Léo foi uma das fontes da série do "Trivela" sobre as Copas na televisão brasileira...














































A magnífica série do “Trivela” sobre as transmissões da Copa do Mundo na televisão brasileira, que ganhou um novo capítulo logo após o final da competição na Rússia, trouxe a lembrança dos três Mundiais acompanhados pela extinta Rede Manchete de Televisão, em 1986, 1990 e 1998... Em todos esses torneios, um dos integrantes da equipe de transmissão era o saudoso jornalista Alberto Léo... Que escreveu o livro “História do Jornalismo Esportivo na TV Brasileira”, lançado postumamente no ano passado... O qual é uma das principais fontes da série de textos publicados pela Trivela, também no que diz respeito às duas primeiras Copas transmitidas pela Manchete... Como o ponto final do livro é o primeiro título do tenista Gustavo Kuerten em Roland Garros, transmitido pela própria Manchete em 1997, ficou de fora o Mundial de 1998, na França... Apontado como a principal causa da crise que levou a família Bloch a vender as emissoras próprias da rede em 1999 para os atuais proprietários da Rede TV!... Em 22 de novembro último, o seu Bloquinho Virtual publicou uma resenha do livro, assinalando a presença de Alberto Léo nos noticiários e transmissões esportivas da emissora, e a permanência do antigo edifício-sede da Manchete, na região do Paraíso, quer dizer, da Glória, no Rio de Janeiro, no imaginário dos cariocas... Afinal, “o 433 passa na Manchete”... Nos trechos sobre as transmissões das Copas, o maior destaque é para a presença de João Saldanha no México em 1986 e na Itália, em 1990 – seu último Mundial... Após o torneio na Rússia, que ficou marcado pela presença pouco expressiva de torcedores europeus, vale lembrar o que Saldanha dizia para seus colegas de equipe da Manchete em 1990... “O europeu não gosta de Copa aqui”... O “coronista” comentava sobre o ódio dos moradores de Roma pelo comparecimento dos estrangeiros, que colocariam em risco os monumentos da capital italiana... Não que essa fobia de turistas não seja incomum na Europa – algumas cidades, como Barcelona e Veneza, querem distância dos visitantes – mas esse desprezo dos italianos em 1990 contrasta com a atitude atual da Itália, que uma vez fora da Copa do Mundo, começou a “secar” sem do nem piedade todas as outras seleções que estiveram na Rússia, vide meme em que todo o Sistema Solar torcia para a Croácia na final contra a França... E o que Saldanha diria da eliminação brasileira, então???... 








A história do jornalismo esportivo na televisão brasileira, contada no livro de Alberto Léo, está incompleta... O motivo é que o “coronista” rendeu 35 pontos no Bolão Pé-na-Cova, em 23 de junho de 2016... Assim, o ponto final da saga é o título do tenista Gustavo Kuerten, o popular Guga, em Roland Garros, em 1997... Como lembram os editores do livro no texto “Palavra Final”, não houve tempo para o jornalista trazer o relato até os dias atuais... Alberto Léo trabalhava na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), como coordenador de esportes da TV Brasil e da Rádio Nacional do Rio de Janeiro... Porém, ele é mais conhecido por sua passagem pela Rede Manchete de Televisão, para onde foi trazido por Paulo Stein logo no início de suas transmissões, em 1983, e também chegou à coordenação da área esportiva... O livro, é claro, aborda as principais transmissões esportivas realizadas pela Manchete, a começar pelos Jogos Olímpicos de Los Angeles, entre 28 de julho e 12 de agosto de 1984... O diretor-geral na ocasião, Rubens Furtado, conseguiu junto à Gilette ® - que se tornaria um tradicional patrocinador dos programas de esporte do canal – os recursos necessários para a aquisição dos direitos de transmissão, que na época garantiam também às redes a possibilidade de transmitir a Copa do Mundo... Uma equipe de 32 profissionais foi enviada aos Estados Unidos, dividindo os custos de satélite com SBT, Record e Band...  Já na cobertura do pré-olímpico de futebol no Equador, em janeiro de 1984, a Manchete já trazia um de seus grandes trunfos para os Jogos – a presença de ex-atletas na condição de comentaristas, neste caso, o ex-jogador Carlos Alberto Torres (OG)...  O capitão do tri em 1970 seria um dos integrantes da “Equipe de Ouro”, parte do projeto “Olimpíada Total”, ao lado de Adhemar Ferreira da Silva, no atletismo, Moreno no vôlei, Guilherme Delamare na natação e Vlamir Marques – outro que teria seu nome sempre ligado ao da Manchete – no basquete... Nessa ocasião, o esporte era chefiado por Aristélio Andrade, a direção geral era de Luis Gleiser e Paulo Stein dividia as narrações com Márcio Bernardes, o próprio... Dividir o satélite não foi problema, exceto quando Rubens Furtado acompanhava no Rio a geração de imagens de uma prova de ginástica, e ao saber que era um VT, pediu ao responsável do pool que voltasse a fita para rever a performance de um ginasta japonês – sem saber que a Band estava no ar com esse vídeo... Para a Copa do Mundo no México, em 1986, a Manchete iniciou logo no mês de janeiro o boletim “Copa Total”, vide transmissão ao vivo dos treinos da Seleção Brasileira, concentrada na Toca da Raposa, em Belo Horizonte... Alberto Léo sabe porque esteve lá, já que era um dos narradores, ao lado de Halmalo Silva e Paulo Stein... Nos comentários, junto com Márcio Guedes, estava João Saldanha, que em um amistoso da Seleção com a Iugoslávia, no Recife, em 30 de abril, em que Zico fez três gols na vitória brasileira por 4 a 2, disse... “Olha,o Brasil venceu por uma razão muito simples... Porque o Zico se chama Zico... Se ele se chamasse Zicovic ganhava a Iugoslávia”...  Quase dois meses depois, em 21 de junho, o mesmo Saldanha ia direto ao assunto ao falar da eliminação do Brasil para a França nos pênaltis, em Guadalajara... “Foi um dos jogos mais fáceis que vi... A França ficou com medo do Brasil, cansou, e a partida ficou facílima... Perdemos um monte de gols, paciência, que se dane... Mas foi uma tremenda injustiça por causa da máscara do jogador brasileiro... O brasileiro desenvolvido tem isso... Ele se coloca acima das coisas”... Isso depois da Manchete ter mantido um caminhão de externas no campo de treino da Seleção, enquanto a 300 metros dali, onde a equipe estava hospedada, um quarto servia para as narrações “off tube” e outro como “switcher” para a coordenação das transmissões... Depois, como resumiu João Aerosa na retrospectiva do esporte em 1986, exibida pela Manchete... “A taça é da Argentina... A Copa, de Maradona”... Um detalhe... Em 2006, a Cultura começou a exibir no programa “Grandes Momentos do Esporte” lances e gols das transmissões da Manchete em 1986... Como esses vídeos foram parar ali???... O comprador da antiga sede da Manchete em São Paulo, na região do Limão, encontrou os armários que haviam pertencido à emissora e eles estavam repletos de fitas de vídeo, inclusive de partidas dos Mundiais de 1986 e 1990, que foram doados à Cultura...


















"Manchete Esportiva", inicialmente um segmento do "Jornal da Manchete", depois chegou a ter duas edições diárias...














































Depois da Copa de 1986, o livro aborda a Copa União de 1987, mostrando as negociações de João Henrique Areias, do marketing do Menguinho, para o Clube dos 13 vender os direitos de transmissão dos jogos – que quebraram o “tatu” de mais de 20 anos sem futebol nos domingos à tarde – com exclusividade para a Globo, em um tempo que Boni tinha receio da queda de audiência junto ao público feminino... Então é por isso que o futebol hoje é sempre depois da novela, digo... Faltou mencionar um fato que é citado no livro “Os Donos do Espetáculo”, de André Ribeiro... A Manchete transmitiu com exclusividade a finalíssima do Brasileirão de 1986, entre Bambi e Guarani... Isso certamente influenciou na decisão da Globo de transmitir à Copa União – tendo em vista que pelos clubes também negociava o diretor de marketing do Pó-de-Arroz, Celso Grellet... Quanto à Areias, ele concebeu um projeto para a transmissão do Campeonato Carioca, que com o nome de Copa Rio, começou a ser transmitido pela Manchete em 1988... Mesmo ano dos Jogos Olímpicos de Seul, em que a Manchete compareceu com 38 profissionais – mais uma vez Alberto Léo era um dos narradores, agora acompanhado de Osmar Santos  – inclusive os comentaristas Adhemar Ferreira da Silva, Wlamir Marques, Ênio Figueiredo (vôlei), Fernando Brochado (ginástica) e João Saldanha... Que faria a última Copa do Mundo de sua vida em 1990, na Itália, vide comentário antes do jogo entre Brasil e Chile no Maracanã, em 3 de setembro de 1989, que definiu a classificação da Seleção para o Mundial, farsa do goleiro Rojas à parte... “A única chance deles é a de nós perdermos a cabeça, aceitando as provocações tolas que andaram fazendo”... Um fato curioso é que a partida não foi transmitida ao vivo para o Rio de Janeiro, embora assim que Rojas aproveitou um sinalizador que caiu no gramado para se cortar e fingir que havia sido atingido pelo artefato e a partida foi interrompida, a Manchete entrou ao vivo do Maracanã, interrompendo o filme “O Desafio de Um Ideal” – e uma telespectadora reclamou que o filme saiu do ar... O “zoom” que a emissora deu com o equipamento ADO  nas imagens do incidente provaram que o sinalizador não atingiu Rojas e ajudaram Ricardo Teixeira, presidente da CBF a assegurar a classificação brasileira para a Copa junto à FIFA, vide oráculo de Armando Marques, ex-árbitro que com seus comentários também se tornou sinônimo de esporte na Manchete, até no debate em que Saldanha pediu para que falasse com voz de macho... Ops!!!... No ano seguinte, a presença do comentarista na Itália era colocada em dúvida por causa de sua saúde debilitada... Ainda assim, Saldanha tinha fôlego para discutir com Zagallo, que também comentaria a Copa na Manchete, o episódio da convocação de Dario para o Mundial de 1970... Depois do embarque para Europa ser cancelado duas vezes, Saldanha comprou a passagem por conta própria – o que revelou apenas na transmissão do jogo de despedida de Júnior do Pescara – e viajou de cadeira de rodas e oxigênio a tiracolo, devido a problemas respiratórios... Sem condições de comparecer aos estádios, Saldanha comentava do Centro de Imprensa, em Roma... Vide o improviso sobre a estrutura metálica do estádio de Bari, feitas com trilhos de estrada de ferro, antes do jogo entre Camarões e Romênia, em 14 de junho,  narrado por Osmar de Oliveira, que também auxiliava nos cuidados médicos ao comentarista... Não era verdade, assim como muitos dos detalhes da história que contou sobre seu companheiro de quarto, o editor Roberto Chaves, indo comprar remédio para ele em Roma e sendo perseguido por usuários de drogas... E olha que Chaves, apelidado de “Paulista”, fazia um agrado diário a ele, comprando um sorvete de creme coberto de chocolate...  A saúde de Saldanha teve uma melhora e ele pode comentar a Copa... Não levava a menor fé na Seleção Brasileira, dirigida por Sebastião Lazaroni, e depois da eliminação para a Argentina, em 24 de junho  não hesitou em dizer ao próprio Alberto Léo (episódio não mencionado no livro...), que o Brasil adotou um esquema tático covarde, abandonado pela Itália em 1934... Saldanha comemorou seu aniversário no Centro de Imprensa, pouco antes de comentar a semifinal entre Itália e Argentina, em 3 de julho,  e após o jogo recebeu os cumprimentos de Alberto Léo na abertura do “Toque de Bola”... Estava bem, mas no dia seguinte não conseguiu comparecer para a transmissão da outra semifinal, entre Alemanha “Occipital” e Inglaterra... Havia passado mal, e foi levado de ambulância para uma UTI... Dois dias depois da vitória alemã na final da Copa, em 10 de julho, Alberto Léo veria Saldanha pela última vez, pelo vidro da UTI... No dia 12 de julho, quando a equipe da Manchete retornava ao Brasil, Saldanha morreu em Roma...

















Prédio na região do Paraíso, quer dizer, da Glória, no Rio, também abrigou a revista "Manchete Esportiva"...














































As últimas menções à Manchete no livro são feitas sobre a cobertura dos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona – quando a emissora, já sob o comando do Grupo IBF, enviou 25 profissionais, sempre com Alberto Léo na narração – a ausência da Copa de 1994, nos Estados Unidos – o comando da rede tinha voltado para a família Bloch, porém não foi possível adquirir os direitos, e a cobertura se resumiu a matérias no “Manchete Esportiva” e no “Jornal da Manchete” – e a transmissão do primeiro título de Gustavo Kuerten em Roland Garros, em 1997 considerado o ponto culminante de uma parceria de dez anos  com a Koch Tavares, que incluiu a exibição de programas – como por exemplo, “Mundo dos Esportes”, “Esportíssimo” e “Esporte 89”, que estrearam em 1989 – a transmissão dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1992 e dos principais torneios de tênis do mundo... Assim, não é citada a transmissão da Copa do Mundo de 1998, a última da emissora, que em situação quase falimentar, seria vendida para os empresários Amilcare Dallevo Júnior e Marcelo de Carvalho Fragalli e sairia de cena em 10 de maio de 1999, dando lugar à atual Rede TV!... No ano seguinte, em 1º de agosto, o grupo Bloch teve sua falência decretada... A sede da Manchete, que fica na Rua do Russell, na região do Paraíso, quer dizer, da Glória, no Rio de Janeiro, foi vendido em 2004 – quando o grande “M” do logotipo da emissora, no qual cada uma das pontas representava uma das emissoras próprias da rede em seu início, foi retirado do terraço -  e novamente negociado em 2010... Desde então, o prédio inaugurado em 1965, para abrigar as redações das revistas da Bloch, a começar pela de "Manchete", projetado por Oscar Niemeyer – então é por isso que JK teve escritório ali e ele foi usado para a gravação de cenas da novela “O Marajá”, inspirada no ex-presidente Fernando Collor, que foi proibida de estrear em 1993 - após uma reforma (que “retofit” o quê, pô!!!...)  passou a abrigar escritórios de empresas... Inclusive na internet há anúncios de salas para alugar no edifício, ainda que boa parte do espaço hoje seja ocupada por empresas petrolíferas... A inconfundível fachada envidraçada foi mantida, uma vez que o prédio é tombado, e um edifício-garagem, previsto do projeto original, foi acrescentado ao conjunto... Assim, ele poderá continuar a ser uma referência para os cariocas, vide linha 433... Que nos tempos da Manchete, ia de Vila Isabel ao Leblon, porém em novembro de 2015 foi encurtada, passando a fazer ponto final em Botafogo... Mudança que durou somente até março de 2016, quando o ponto final foi transferido para a Avenida Prado Júnior, na região de Copacabana... De qualquer forma, as alterações não tiraram o sentido daquela frase que era muito repetida em todo o Rio de Janeiro... “O 433 passa na Manchete”... Ops!!!...














Emissora não existe mais, entretanto, os cariocas não esquecem que "o 433 passa na Manchete"...

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