quarta-feira, 26 de abril de 2017

Da doçura da caipirinha às amarguras do amor e da economia...

Bebida da Europa Oriental foi popularizada pelos Estados Unidos e virou ingrediente da caipirinha na Bahia...


















































A primeira edição de “Doçura” começava com a coluna de Medicina e Saúde, assinada pelo médico José Reynaldo Magalhães, “Com o coração na boca”... Sobrou para a hidrogenação da gordura da margarina... Com o selo Meu Bicho, a reportagem “Emprestado para sempre” trazia a história do pequeno Alexandre e de seu cachorro João, um beagle, na região do Brooklin, em São Paulo... Sem crédito, seja texto ou fotos... Dicas de livros – “70 Historinhas” de Drummond, “Porque Claudia Lessin Vai Morrer”, Valerio Meinel – 10 Ideias de brincadeiras para as mães fazerem com os filhos – inclusive o bom e velho “Stop” – e chegamos à seção Mulher Impressa, com notícias internacionais... O novo emprego de Jacqueline Kennedy Onassis, a ministra francesa que sobreviveu ao Holocausto – Simone Veil – a nova prefeita de Chicago, Jane Byrne, que venceu com 82% dos votos – a rainha Juliana, que não abdicou do trono da Holanda mesmo prometendo passar a coroa aos 70, o crescente interesse por futebol das francesas e o segredo do sucesso de “As Panteras”, segundo Farrah Fawcett-Majors... “Sem dúvida é porque não usamos sutiã”...  Depois do “Pato Com Laranja”  de Paulo Autran, hora da Cozinha Experimental Doçura entrar em ação com receitas utilizando macarrão... Na época muito barato devido ao subsídio oficial às importações de trigo, cereal que a maior parte da produção vinha de fora do Brasil...  Tem Fusilli à putanesca,  Talharim com molho de porpetas (bolinhas de carne) e Macarrão picante à calabresa... Tudo acompanhado pelas dicas da chefe da cozinha experimental, Lucilla Simonsen Santos...  A seguir, um teste... “Você cuida bem do seu estômago???”...  E mais receitas, agora para o “Trivial no capricho”... Fígado acebolado, Tigelada de legumes, pão de carne...  Não esquecendo das dicas de discos... “Angela e Timóteo, Juntos”, “Pai Herói” – “está certo que às vezes falta paciência para aguentar a tirania de César, que ama Carina, que ama André”, diz Marta Penido, que prestigia a música “Pai”, “um momento de extrema babaquice do compositor Fábio Júnior” – e “O Melhor de Chico Buarque”, uma coletânea da Som Livre, Mestre... Melhor, só os “Santos Docinhos!!!”, receitas surgidas em conventos, tais como Engorda-padre, Jesuíta e Espera-Marido, mais conhecido como Ambrosia... Em “A Nova Lei do Ventre Livre”, Ricardo Vespucci traz o depoimento de Maria José Fialho Londres, a Zezinha, que teve duas filhas... O parto de Flávia foi tradicional, em uma maternidade, induzido... Já o de Marina, seguiu o método do doutor Leboyer, mais natural, no consultório da doutora Soninha... A outra, a outra... “Por que você quer emagrecer???” era a questão feita a cinco gordos, “agredidos pela moda, pela neurose do enfarte, pelos padrões de beleza e até pelas poltronas dos aviões de carreira”... Quem não passa por esse problema pode ir direto para “A Caipiroska é nossa”... Falando que drinques com vodca são “mistura de URSS com EUA que o mundo bebe na maior paz”... Só que quem colocou a bebida na caipirinha foi o Flávio Gomes, quer dizer, os baristas de Salvador...  Que criaram inclusive o termo “caipirosca”, enquanto os paulistas, sempre mais formais, vão de “caipirinha de vodca”...  A matéria traz outras receitas de drinques com vodca, como Bloody Mary – vide pimenta Tabasco © - Coquinho e Vodca Negroni, internauta Pedro Henrique...  O Mestre do Jornalismo Econômico, Aloysio Biondi, no artigo “Ótimo, uma greve contra a inflação”, mostrava o caminho para as donas de casa enfrentarem e derrubarem os preços altos dos gêneros alimentícios... “Não tem nenhum mistério nessa história não: quando os preços de uma comida ou outra mercadoria sobem demais, o consumidor estadunidense, ou inglês, ou francês, corta completamente, por alguns dias, as compras que costumava fazer”... As orientações incluem um apelo pioneiro à reciclagem, para a indústria economizar na produção de embalagens, a estocagem de conservas de tomate para passar pela entressafra do produto e o uso de milho para substituir a farinha de trigo... Afinal, o milho traz lucro para o agricultor brasileiro, e o já subsídio ao trigo custava o equivalente a dois meses de importações de petróleo, outro item do qual o Brasil não era auto-suficiente... Hoje, o subsídio acabou há muitos anos, mas o Brasil ainda importa metade do trigo que consome, principalmente da Argentina, Estados Unidos e Paraguai...  “Leia este título todo sem piscar” traz logo no título um exemplo de atividade que gasta calorias, ao lado de uma tabela com as calorias dos alimentos, afora os truques para cortar calorias... “Prefira galinha à frango”... Ops!!!...  “Inverno brasileiro à cores” aborda o cultivo de flores em vaso e “Use e abuse de Lucilla” traz dicas de cozinha... Como por exemplo, engrossar o caldo do feijão com água fria ou ferver água com a panela tampada... Para fechar, o horóscopo de Jean Perrier... 


















































Sem rodeios, Aloysio Biondi explica os efeitos da condução da economia no bolso dos brasileiros...















































































Aloysio Biondi seguia uma linha de jornalismo sobre economia que seria consagrada por Joelmir Beting e alguns comentaristas televisivos... Embora sempre se mantivesse atento à movimentação da economia nacional e global, Biondi procurava trazer as implicações desses movimentos no dia-a-dia do cidadão comum brasileiro e como ele poderia agir para defender seu salário na hora de fazer as compras... Alis, sua coluna se chamava “Colher de Pau”... Em “Guarde. Comida é dinheiro”, o recado era claro... “Formando pequenos estoques no final da safra, o consumidor pode evitar os preços altos da entressafra”...  No caso do arroz, feijão, óleo de soja e milho, em março... Apesar dos avanços da agricultura brasileira, isso acontece até hoje, vide arroz... Da carne, inclusive conservas, no primeiro semestre... Assim como do leite em pó... Verduras e legumes sobem de preço no inverno e no verão... Aí vale fazer conservas ou congelar... Em caso de notícias – confirmadas pelo governo – de quebra de safra – a estocagem deve começar antes... Leite começou assim, há alguns anos atrás... É preciso ficar atento, vide matéria “Incrível! O ar enferruja comida”, de Avani Xavier Bon, do Centro de Aconselhamento Dietético... Ah, sim... “Pode, sim, senhor!!!” é o aviso para aqueles que querem ter cachorro em apartamento, como é o caso de Ivoty Macambira e do cachorro Moleque... Seis jovens eram questionados sobre o que esperavam do casamento... Mulher trabalhando em casa, casamento só com a maturidade, aos 17 ou aos 21, sete filhos, se a condição econômica permitir... “Criança perigo” mostra como socorrer em caos de quedas, intoxicação, queimaduras e objetos estranhos... “Bate, rebate, mexe, remexe, maionese” tem até bolo de laranja com o molho, caseiro ou comprado pronto... Ainda no setor culinário, drinques com champanha, reaproveitamento de sobras de comida, Lavoisier – vide Croquetes de Carne, Sopa da Batatas e Salada de Arroz – e “Chocolate Docemente ele entra no bolo”...  O internauta Pedro Henrique, sempre que pode, faz um Bolo crioulo, com café solúvel... O teste do “Programa Nacional de Salvação do Sanduíche” antecipa os conselhos de Ruth Lemos, sem gaguejar...  A vida era celebrada em “E o câncer não venceu” – inclusive Helga virou voluntária do setor de oncologia depois de superar um câncer de mama – e em “A Paciente saiu verde do hospital. Estava curada”... No caso, a planta levada ao “Hospital” da botânica Carlota...  O número 7, de janeiro de 1980, marcou a estreia do encarte Viva -Ideias Luminosas, reunindo as respostas dos colaboradores da revista às dúvidas dos leitores...  Aproveitaram para encaixar ali também as notas da sessão Mulher Impressa – vide Oriana Falacci arrancando o véu  do rosto no Irã depois de ouvir ao aiatolá Khomeini numa entrevista que ele era para mulheres jovens e honestas, chamando-o chador de “estúpido e medieval” -  e os artigos de colunistas, como o de Aloysio Biondi, que saúda a nova política de reajustes salariais semestrais adotada pelo governo federal...  “Fica mais fácil enfrentar a carestia sem reduzir tanto as compras”...  Lembrando que o arrocho salarial era uma das medidas que preparou o terreno para o “milagre brasileiro” dos anos 1970... O Brasil ainda era governado pelos militares, e até em questões de gênero a revista apontava “As dificuldades do bipartidarismo”... Na política, houve a reforma partidária... Quanto aos gêneros, ainda hoje há quem não aceite o pluripartidarismo... No número 8, Aloysio Biondi vai direto ao assunto ao mostrar  o quanto a política econômica dos governos ditatoriais era equivocada em “O modelo 1970 marcha a ré!!!”, metáfora da “família amplificada” à parte, Ruy Barbosa... “O Brasil entrou por este último caminho: resolveu crescer depressa de qualquer jeito aí por 1970. Tomou dinheiro emprestado à vontade e chamou como sócios as multis, para abrir aqui as fábricas que quisessem. O erro do modelo – Muito bem. O Brasil começou a produzir bastante. Carrão, aparelhos eletro-eletrônicos, esquadrias de alumínio, maravilhosos objetos de acrílico... Mas o país não produzia aço, alumínio, plástico, zinco, cobre, papel... Muito menos o petróleo para mover os beberrões de combustível, que tomaram o lugar dos trena (estes sim, grandes economizadores, mas onde estão???) Também não produzimos os fertilizantes, que passaram a ser usados até exageradamente  pela agricultura, etc, etc.... É um desastre – O Brasil, diz um ex-ministro, fez uma ‘industrialização às avessas’, isto é, começou pelo fim, começou a produzir bens de consumo, antes de produzir as matérias-primas necessárias; antes sequer de pensar em produzir máquinas e equipamento para as fábricas. E quem teima em colocar o carro adiante dos bois, está procurando o desastre. O Brasil passou a importar tudo, para manter as fábricas funcionando. E importar quer dizer pagar em dólares. E tome dinheiro emprestado, e tome importação, e tome dívida”... E salários arrochados, que eram a base de tudo... Vide a ideia de crescer o bolo (fazer a economia crescer...) para depois reparti-lo (melhorar a renda da população...), Delfim Netto... Com o baixo poder de compra dos salários, bens de consumo eram para quem ganhava mais (os trabalhadores mais qualificados, que ganhavam espaço com a expansão da indústria e dos serviços...) ou tinha acesso ao crediário... A crise do petróleo de 1973 – vide derrota dos árabes para Israel na guerra do Yom Kippur - fez o preço do produto, importado em grande parte, disparar... Ao mesmo tempo, aumentou a disponibilidade de dinheiro no exterior, que os países produtores de petróleo disponibilizavam em bancos estadunidenses e europeus... Como o governo precisava reforçar as indústrias de base (vide Petrobras...) para sustentar o topo da pirâmide da produção, pegou empréstimos a rodo... Para o brasileiro, o aumento dos custos e da matéria-prima levou a uma subida dos preços, que elevou a inflação e pressionou os salários já arrochados... Então é por isso que surgiu o novo sindicalismo... E os militares, pressionados pelo endividamento que disparou com a crise do petróleo de 1979 – cuja origem está na revolução islâmica do Irã, Oriana Falacci –tiveram que estimular as exportações... E o que o Brasil exportava, basicamente???... As boas e velhas commodities, produtos agropecuários, alguns minerais... Cujo baixo valor agregado sempre fazia a conta do balanço de pagamentos entre importações e exportações não fechar... Então é por isso que a década de 1980 é considerada a “década perdida” da nossa economia... E olha que a análise de Biondi não entra na questão das despesas públicas, de como os juros dos títulos da dívida criam um círculo vicioso que emperra o setor produtivo, e por aí vai...





















































Da simples ida de três crianças a uma banca de jornais, surge uma questão extremamente desafiadora para a época...





















































O aumento do espaço para textos do que se costuma chamar de “jornalismo de serviço” não fez a revista deixar de lado as matérias de comportamento... Na edição 8, por exemplo, Mônica Teixeira assina a matéria “Por que não tem revista de homem pelado???”... Na chamada do texto, um alerta... “Atenção: está é uma experiência sem nenhum rigor científico... Mas mostra como se comportam duas meninas e um menino, soltos numa banca de revista, com liberdade de comprarem o que quiserem”... Antes mesmo de chegar a banca, Regina, de 12 anos, declara que não gosta das revistas de Maurício de Souza... “É sempre a mesma história, a Mônica bate e o Cebolinha apanha”... Tenso, digo... No jornaleiro, Regina, Adriana, 12 anos, e o garoto Klabin, 11 anos, logo se cansam dos gibis e demonstram interesse pelas revistas de palavras cruzadas... Klabin, amigo do internauta Pedro Henrique, descobre a revista “Status”, e uma vez adquirida pela repórter e retirada do saco plástico que oculta seu conteúdo, é aberta justamente no pôster central... Para o desagrado de Adriana, que provoca... “Se você fosse mulher, você posaria nua???”... Klabin desconversa... “Você é mulher, eu sou homem”... Para Adriana, olhar pode, posar não... “O corpo da gente deve ser guardado para o marido, não para ficar mostrando por aí”... Regina, que elogia o corpo da modelo, diz não ter nada de mais... Até porque nem sente vergonha quando o pai chega em casa folheando o “Playboy”...  Diferenças de formação, digo... Klabin enfim rompe o silêncio para a repórter... “Sou menino, mas tem coisas que já sinto como gente grande”... Quico começou assim... De volta da banca, Regina faz o questionamento que dá nome à matéria... “Por que não tem revista de homem pelado???... Deve ser porque homem nu é feio. Ou será que”... A repórter prefere não responder à pergunta... Faz sentido...  Em “Quem será Jairo daqui a pouco???”, uma pesquisa sobre as crianças paulistanas realizada pelo “advogado, psicólogo e assistente social” Jacob Goldberg – o próprio -  fez a revista descobrir o pequeno Jairo, de 11 anos, que teria dado as respostas mais originais entre as duas mil crianças entre 8 e 14 anos entrevistadas... Morador de um bairro de classe média alta, longe das carências de boa parte dos meninos e meninas ouvidos pelo pesquisador, Jairo é contundente até na hora de falar sobre seus hábitos televisivos... “Dou umas beliscadinhas fora de hora, quando está passando desenho animado. Menos do Popeye, é uma droga, porque sem espinafre ele não é capaz de fazer nada”... A edição anterior preencheu essa lacuna com o perfil do "Chefinho de família" Manoel, um corinthiano de 12 anos que com seu salário de pegador de bolas no Círculo Militar, dava uma contribuição importante para o orçamento familiar... A reportagem de Álvaro Freitas inclusive aponta a "falta de privacidade" da pesquisa de Goldberg, já que a família toda divide um único quarto do apartamento no prédio onde o padrasto de Manoel é zelador... O trabalho, porém, é uma opção, seguindo os conselhos da avó que o criou, digo... José Reynaldo Magalhães, além das orientações médicas, se desdobrava na seção “Diário de Viagem”, em textos fartamente ilustrados como “Barco no Rio-Mar” – rios Madeira e Amazonas, entre Porto Velho e Manaus – e “Uai, gente, é o mar de Minas!!!” – o lago da hidrelétrica de Furnas... Esta última no número 8, que traz o perfil de Isaura, a “Piu-Piu”, “campeã nacional de basquete e atletismo” – e “paralítica”... “Sou uma mulher como qualquer outra. Normal”...  Vide os homens que atrapalhavam sua saída da lanchonete, pois não viram que ela estava em uma cadeira de rodas... No setor culinário, “É uma comidinha fácil de férias”... Inclusive o Porco agridoce, Quase um Sukiyaki e o Ensopadinho de Fígado... Que o Bertoldo Brecha não saiba, mas “É um luxo” apresenta várias receitas com camarões, entre as quais o Escabeche de Camarões, Camarões com milho e Suflê de camarões com fubá...  No longo dossiê sobre o amor da edição 15, de setembro de 1980 – vide depoimento da própria equipe de redação da revista -  está um ensaio fotográfico de moda  com “Cores, alegria, ar livre: roupas apaixonantes para maiores de 45 anos”... Entre os quais se encontra, no meio de distintas mulheres , o senhor Hely e seu blusão de buclê branco – com o logotipo da Adidas ©, internauta Chico Melancia... Nas últimas páginas, há tempo para denunciar os “sintomas”  da medicina de grupo, o popular “plano de saúde”... “Consulta em 7 minutos, médicos  mal pagos, exames de laboratório racionados”... E o Díario de Viagem, sobre o Pantanal, a cargo de um especialista sobre a região, José “Parmito” Hamilton Ribeiro, o próprio... “Por ser magro e alto, por ter guardado sotaque, ganhou dos amigos o apelido de Zé Parmito, de palmito, palmeira esguia”... Então é por isso que a Juma ia atrás de palmito “dus grandi” na novela “Pantanal”, digo...





















































Ah, o internauta Chico Melancia queria ter um blusão de buclê branco da Adidas (C) assim...

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