segunda-feira, 24 de abril de 2017

De Paulo Autran a Renato Aragão, perfis com doçura...

Repórter da revista conseguiu arrancar de Baldaracci o segredo... De como fazer molho de macarrão...






















































A exibição da novela “Pai Herói” no canal Viva está na reta final... Uma excelente oportunidade para resgatar uma reportagem sobre um dos atores mais importantes da trama, Paulo Autran, o Baldaracci... Publicada em julho de 1979 no primeiro número da revista “Doçura”... Que apesar de se intitular a “Revista Brasileira de Culinária e do Lar”, e de ser vendida nas filiais do Pão de Açúcar, trazia perfis e entrevistas no melhor estilo do “new journalism”... Vide expediente com diversos nomes que trabalham forte nesse gênero textual, como Narciso Kalili, Sérgio de Souza, Gabriel Romeiro, Mônica Teixeira... A matéria de capa, “Meu maledetto encontro com Baldaracci”, escrita por Ricardo Vespucci, não encontrou Paulo Autran gripado, porém a dificuldade de conseguir a entrevista, tornou-se um dos assuntos principais do texto... “Pelo telefone:  Eu digo: ‘Paulo, queria bater um papo com você, fazer uma entrevista’. Ele responde, exaltado:  ‘Ah, eu tô cansado de dar entrevista, meu filho!!! Ando muito ocupado: agora mesmo estou escrevendo uma carta sobre problemas que estão acontecendo no meu teatro e...’ Eu interrompo:  ‘Mas não precisa ser já. A gente pode marcar uma horinha, pra um papo não muito demorado’... ‘Sobre o quê???’, ele pergunta, com impaciência e raiva. ‘Macarrão’, eu respondo. Silêncio. ‘A ideia é pegar o seu talento culinário, misturar com o fato de você estar interpretando um italiano perfeito na televisão e fazer uma reportagem’. ‘Mas eu não gosto de macarrão!!!’, diz ele agressivo. ‘E além do mais, tô de regime!!!’... ‘Mas eu sei que você sabe fazer macarrão’, insisto. ‘Claro que eu gosto muito de um macarrão aos quatro queijos... Olha, escreva o que você quiser, invente alguma coisa, qualquer coisa, diga que eu disse, que eu assumo, não tem importância. Afinal, a gente diz uma coisa e vocês sempre escrevem outra!!!’ ‘Bom, eu não sei trabalhar assim’, digo, deixando transparecer que me sinto ofendido. ‘E como é que seria a reportagem???’ ‘Vamos ver sua casa, sua cozinha, você cozinhando’... ‘Não quero tirar fotografia cozinhando!!!’ ‘Você comendo...’ ‘Não vou tirar fotografia comendo!!!’ ‘Bom, e como é que pode ser, então???’ ‘Me liga na segunda, na hora do almoço’. ‘Uma hora, uma e meia???’ ‘Não’, diz ele secamente, ‘às 11’, e desliga”... O repórter reflete sobre o entrevistado... “Os que o conhecem dizem que ele é tranquilo e carinhoso. Então, concluo que aquele cara que atendeu ao telefone e que mais parecia o Conde Baldaracci nos seus mais azedos momentos não era o verdadeiro Paulo Autran. Peguei o homem no dia errado, puro azar, certamente”... Em seguida, comenta sobre as críticas feitas ao trabalho de Autran no teatro e em seu papel de estreia nas novelas... “O engraçado é que as críticas não recaem sobre o ator. Recaem sobre o cantor, sobre o encenador ou sobre a escolha do repertório. Nunca sobre o ator. Também em ‘Pai Herói, a primeira telenovela de que ele participa, as críticas se dirigem ao texto e à maioria dos artistas, mas Paulo Autran fica como espécie de exceção permanente, com o seu impagável Bruno Baldaracci. Assim, se eu for procurar vingança através de críticas desfavoráveis  àquele homem, não vou conseguir nada”... O jeito é ligar segunda, no horário combinado... Entretanto, quem atende o telefone é a empregada... Seis vezes pergunta do ator, nas seis ouve que ele está dormindo... Na sétima, Autran saiu... A matéria precisa estar pronto no dia seguinte...  “À noite, completamente convencido de que ele realmente não quer dar entrevista, o jeito é mudar de tática. O fotógrafo George Love, com seu sotaque estadunidense adocicado, fala pelo telefone com a empregada de Paulo Autran... ‘Boa noite. Meu nome é George Love. Eu quero falar com Paulo Autran... Não está??? Por favor, diga para ele me telefonar no telefone tal, apartamento tal, que eu sou fotógrafo e quero fotografar ele. Obrigado’. ‘Minutos depois, toca o telefone no quarto de hotel na praia do Flamengo. George Love atende. É Autran e o diálogo é este: ‘Quem fala???’... ‘George Love’, responde George. ‘Não conheço’, diz Autran. ‘Eu seu que não conhece, por isso ligou para saber quem era’. George se explica em seu português enrolando e acaba acertando:  amanhã, terça-feira, às 13 horas, nos estúdios da Globo’... Depois de discutir por mais de meia hora com a segurança da emissora sobre onde retirar a credencial... Paulo é entrevistado no intervalo das gravações... “E surge vestindo terno, colete, e com um grande anel, caracterizado como o Conde Baldaracci”... Numa sala apertada, dividida com outros repórteres que entrevistam atores da novela “Feijão Maravilha”, Autran comenta sobre a  caracterização de seu personagem, e enfim menciona o macarrão... “Como eu já lhe  falei, um macarrão aos quatro queijos é uma delícia. E um bom capeletti in brodo, bem simplesinho e bem temperado, não fica atrás. Mas no Rio não se pode comer macarrão, pois não há um restaurante italiano que preste. Só em São Paulo, mesmo, e até fora do Bexiga”... Mais adiante, o ator fala do preparo do molho ideal... “Eu faço assim: frito um bom pedaço de carne no azeite, mas sem sal. Deixo a carne fritar toda. Enquanto frita, vou batendo tomate fresco e cebola, no liquidificador. Aí é que entra o sal, a gosto. Depois, despejo esse molho na carne e deixo cozinhar até ficar bem apurado. E no fim, pode-se comer a carne junto com o macarrão”.... A maior polêmica da entrevista, no entanto, é a maneira com que prepara vatapá, que entra em choque com uma canção de Dorival Caymmi... “Não vai fubá.  Vatapá leva camarão fresco, camarão seco, amendoim, castanha de caju, cabeças dos camarões frescos torradas e moídas, leite de coco, dendê e azeite doce, postas de peixe ou mais camarões inteiros à vontade, sal e pimenta. As quantidades e a maneira de preparar e misturar os ingredientes ficam por conta de cada um, cada um vai descobrindo”... O repórter está de acordo... “E porque é difícil duvidar da palavra de Caymmi, vamos deixar como está esse vatapá, sem fubá, que podemos chamar até de Vatapá Paulo Autran”... Quem sabe fosse melhor explorar sua predileção por pratos em que o doce e o salgado se misturam, no melhor estilo francês...  Por exemplo, maionese com salada de frutas... Na página seguinte à entrevista, há o famoso anúncio em que Mônica e Cebolinha trabalham forte no sotaque francês para anunciar o Molho de Maionese Rosé da CICA... 































Mesmo com Renato Aragão de cara limpa, a revista não resistia à tentação de chamar ele de "palhaço"...




























































Na quinta edição, de novembro de 1979, o personagem da capa de “Doçura” é Renato Aragão, com malha de acrobata circense e uma pergunta sobre seu peito... “Ô da poltrona, tenho cara de palhaço???”... No pé da capa, fotos dos outros Trapalhões, uma com Mussum e Zacarias, outra com Dedé Santana... Já então Didi tinha mais destaque... O título da matéria de Bernardo Lerer insiste na comparação... “Palhaço!!!”... “É um tímido, normalmente não fala com estranhos... O queixo é comprido, as orelhas saltam para os lados da cabeça, o nariz, grande e afinado na ponta. Alguém diria que o empresário Renato Aragão tem cara de palhaço. Mas não há nada de palhaço no diretor-presidente do Grupo Renato Aragão, do qual fazem parte uma produtora de filmes e uma florescente indústria de brinquedos na Zona Franca de Manaus, a Flicks, que neste ano lançará uma linha de brinquedos populares. Também não há nada de palhaço no pai dedicado que nos finais se semana, se fecha com a mulher e os quatro filhos num sítio de Jacarepaguá, no Rio”... Cabe a Dedé explicar no camarim, antes da gravação do programa “Os Trapalhões” nos estúdios da Globo na região do Jardim Botânico, sobre o “circo” que o quarteto faz... “’Circo, mesmo. Aqui, na globo, nosso estúdio vira um picadeiro de uns cem metros quadrados, se muito... É como circo do interior ou da periferia das grandes cidades, de muito teatro e quase nenhum bicho. Só que aqui o público é de milhões, o circo é eletrônico e o picadeiro de fios, cenários e luzes. De gente que não entra em cena, mas fica berrando ordens de todos os lados, junto à microfones e câmeras’... Dedé fala com a autoridade de quem nasceu e foi criado num circo, onde ganhou o apelido ainda no tempo que fazia números de equilibrista. E como qualquer circo comum, o circo eletrônico dos Trapalhões tem a ‘entrada’, a ‘reprise’, o ‘drama’ e a ‘comédia’. ‘Entrada é quando o palhaço fala, conta uma história’, explica Dedé. ‘Reprise é a piada visual, quase sem palavras, como aquela da cadeira que um puxa e o outro. O drama e a comédia dispensam apresentação. Tudo isso nós representamos no programa. E, como no circo, há um grande respeito profissional’. Está aí a receita dos Trapalhões. Mas como funciona isso??? ‘Os atores sentem quando, em determinada cena, um está muito ‘em cima’, saindo-se muito bem na sua parte. Então, os outros não ultrapassam certos limites, para não encobrir o bom desempenho dele.  É uma regra clássica de circo que nós também respeitamos. E isso vale para todos, até – e principalmente – para o Renato. Eu preparo as situações cômicas, o Zacarias é o ator, o Mussum é um comediante nato, e o Renato cria, improvisa e faz as palhaçadas envolvendo a todos”... Notem que a única cozinha mencionada no texto é a do próprio programa humorístico...  Como é o caso do próprio Renato, quando comenta sobre suas influências no humor- Oscarito, Charles Chaplin, Cantinflas... “’Minha preocupação era analisar o tipo de humor que faziam no cinema, sem pretender imitá-los. A ideia era encontrar o meu próprio caminho. De Carlitos, aprendi ser possível provocar situações engraçadas em cenas mudas e cheias de mímica. Fiquei convencido de que na televisão, eu era um palhaço e não um humorista. Humoristas são Chico Anysio e Jô Soares. Eles dizem a piada. Eu a represento’, diz o palhaço”... Sem maquiagem... “De fato, os Trapalhões dispensam os maquiladores da Globo. Basta um pó levemente aplicado no rosto, para a pele não brilhar sob os refletores. A ideia é que nenhum dos quatro deve esconder seu verdadeiro rosto. Renato diz que isso é importante para sua identificação com o homem comum, a quem ele se dirige diretamente, chamando:  ‘Ô, da poltrona!’”... Ou como resume o diretor do programa na época, Adriano Stuart... “Há uma identificação popular mais direta com Aragão e Mussum. O primeiro, porque representa o imigrante nordestino e seus desencontros no Sul. Já Mussum saiu de seu barraco para enfrentar a sociedade urbana e todas as suas consequências. Zacarias usa sua delicadeza natural para fazer um menino ingênuo. E, finalmente, Dedé, que é um tipo pouco definido, tem uma função da maior importância, junta todas as peças, trabalha como escada, preparando e encaminhando as piadas para os outros”... Relação pautada pelo profissionalismo... “A empresa de Aragão contrata os  trabalhos dos seus três companheiros com a Demuza (Dedé, Mussum, Zacarias), que constitui uma firma à parte”... Inicialmente, Renato escrevia os textos dos programas, mas ao perceber que começava a se repetir, formou na Globo uma equipe de redatores, para quem fez recomendações expressas... “Não vale apelação sexual, não se fala de política, não se faz agressão”...  Tudo tendo em vista o público infantil, já que os críticos, Renato não consegue convencer... “Mas quem me criticou foi principalmente um público mais intelectualizado, de classe A, que investia contra o programa com uma atitude preconceituosa e pré-concebida... Na verdade, depois descobri que o programa é visto por todas as classes, só que algumas pessoas não queriam admitir isso. Parece que tinham vergonha de ver o programa, como se isso fosse condenável. E qual é o crime? Não ser intelectualizado? Mas eu nunca me propus a fazer um programa desse jeito. Ainda assim, as críticas me magoavam muito. Certas pessoas diziam que era programa ingênuo demais para o seu gosto e que não se iludiam com o meu humor. Mas essas pessoas possivelmente ignoram sua própria ingenuidade e o seu próprio humor”... Críticas que sobrevivem até os dias de hoje, na internet e nas redes sociais, nas palavras de “fanboys” dos Trapalhões que ao mesmo tempo são “haters” de Renato Aragão... Insistindo, como em uma entrevista na revista “Veja”, em dizer que Didi aparecia mais que os outros Trapalhões... Nessas horas, o Pancada tem razão... Ninguém reclama que o Chico Anysio aparece demais na “Escolinha do Professor Raimundo”...
































Os cliques do ensaio de Vera Fischer tiveram a companha de seu sócio Perry Salles e da pequena Rafaela...






















































A matéria “O Galã”, publicada em Doçura 10, de janeiro de 1980, traz um perfil de Francisco Cuoco, escrita por Bernardo Lerer... Que conversou com o ator num sábado,  entre os estúdios da Globo e uma pelada que Cuoco pensou que seria na região da Barra da Tijuca, mas na verdade aconteceu na região dos altos de São Conrado... “E um providencial congestionamento alongou minha permanência ao seu lado”... Por “uns cinco quilômetros”, calculou o repórter... Em campo, enfrentando adversários do naipe de Armando Nogueira e Luis Carlos Miele, ao marcar um gol tem suas raízes paulistanas reveladas no cumprimento de um colega de time... “Boa, Chico!!! Mostra pra esses caras que você nasceu na região do Brás e sabe de bola”... Nesse tempo, “era também líder de um time de futebol, que, apesar dos seus esforços, não passou dos campos da várzea”... Época em que tinha o pai feirante como um grande herói... “Agora, tem um novo. É o torneiro-mecânico Luis Inácio da Silva, o ‘Lula’, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Sua opinião: ‘É um homem contemporâneo, que vive o seu tempo e sua gente, não se afasta dos companheiros nem da época em que estamos vivendo. Tem os pés no chão. Cobra, de cabeça erguida, o que lhe é devido.  Parece que dele emana um amadurecimento, raro nos homens brasileiros. Diz o que sente, com ele não há namoro nem corte. Adquiriu a consciência de sua classe e da sociedade a que pertence. É um homem na sua totalidade!!!”,  fala depois do jogo, enquanto tomava um suco de laranja e comia uma porção de queijo... Uma consciência que também se revela quando o assunto é televisão...  “É horizontal porque não tem nuances, não tem altos e baixos, não assume uma posição mais ousada, crítica. É isso mesmo: o povo tem que assumir uma posição crítica diante da TV, entre outras razões, para não ser engolido por ela. Mas aí, é claro, a coisa complica, simplesmente porque é mais desconfortável. Obriga a pensar e tira o caráter de lazer, e de não compromisso, que é bom para todos os lugares, e todos os momentos”... E o beijo na Dona Florinda???... Na edição seguinte, de fevereiro de 1980, a chamada do texto de Bernardo Lerer fazia um apelo... “Chamem todos para ver. Tiramos o retrato da mulher mais bonita da televisão”. No caso, Vera Fischer... Acompanhada de seu “sócio” Perry Salles e da filha Rafaela, que tinha pouco menos de um ano de idade... “Hoje me considero uma mulher com consciência profissional, o que me dá condições de escolher os trabalhos e evitar que as tarefas sejam colocadas diante de mim como uma questão de pegar ou largar.  Ao contrário, porque à medida que me valorizava como profissional e me respeitava como mulher, podia até discordar das propostas que me faziam.  O que não significava, absolutamente, o fim do mundo, mas um acontecimento natural na vida de uma atriz.  Sou uma atriz nem melhor nem pior que as outras, mas disposta a fazer coisas novas, sem me acomodar. Quero me movimentar mais e com maior liberdade, sem me limitar unicamente à TV. Procurar transmitir meus sentimentos, para alcançar os telespectadores, que têm vida. O telespectador não pode ser subestimado só porque tem um divertimento de baixo custo e sempre à mão. Ao contrário, precisa ser respeitado e considerado”... Nada mais de passeios em ônibus monobloco MBB da Mercedes-Benz, internauta Chico Melancia...  No número 15, publicado em setembro, em meio a uma série de reportagens sobre o amor, o próprio editor-chefe, Narciso Kalili, entrevistou  os recém-casados Carlos Zara e Eva Wilma sobre o tema... Nas palavras do ator... “O nosso amor foi construído com muito respeito pelas pessoas que nos cercavam.  A gente se gostava, se olhava, conversava, esperava. E calçava a espera com conversas sobre problemas sociais, políticos, de trabalho. A gente se encontrava no trabalho, e só. Na hora de resolver, tudo aconteceu naturalmente, Ninguém sentou e disse: ‘está na hora’. Quando achei que era a hora, comuniquei à minha mulher. Quando Vivinha achou que era a hora, comunicou à sua família”... Fala a triz... “O meu amor com o Zara não tem mais pressa. É maduro. A gente tem confiança um no outro. Não a confiança de que ele não vai me trair. Confiança como, toda vez que estou precisando e digo ‘me dá a mão’, ele a estende e a mão é tão segura... A gente sabe, sente que se faz bem. Por isso a gente se cuida, se acarinha. Acho que no relacionamento homem-mulher, a componente inicial da paixão tende a ir ficando absolutamente tranquila, transformar-se em um mar calmo, maré mansa. É o mar com seus movimentos naturais, sem tempestades. Hoje sou uma pessoa feliz”...



























Chico Cuoco confessou sua admiração pelo Luis Inácio... Eva Wilma falou do início da relação com Carlos Zara...

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