sexta-feira, 14 de outubro de 2016

São Paulo preferiu a madame ao doutor e ao Zé em 2000...

Apesar da experiência, Romeu Tuma não deixou de recorrer ao clássico recurso da apresentadora...













































Há 16 anos atrás, a “Máfia das Propinas” descoberta  durante a gestão de Celso Pitta na prefeitura de São Paulo fez com que o combate à corrupção se tornasse o principal mote dos candidatos à sucessão do “poste” eleito por Paulo Maluf em 1996... Com o país ainda envolto em uma séria crise econômica, que vinha desde o ano anterior, FHC, a segurança era outro tema constante dos concorrentes à administração da capital paulista... Foram para o segundo turno a crítica à corrupção – de Marta Suplicy, do PT, pois Geraldo Alckmin estava mais a par dos problemas de Pindamonhangaba do que os de São Paulo  – e a defesa da segurança – de Paulo Maluf, do PPB, já que Romeu Tuma tinha mais experiência na polícia que na política...  Venceu Marta, já que a corrupção do governo do apadrinhado de Maluf não foi esquecida e o PT não era lembrado pela corrupção... Ops!!!... Vide... https://www.youtube.com/watch?v=nRadozTx5TE ...  Na campanha de 2000, quem tinha praticamente um terço do tempo no horário eleitoral – que durava meia hora, ao invés dos dez minutos atuais - era Romeu Ruma, candidato do PFL, apoiado pelo PMDB, com os dois partidos formando a coligação “Mãos Limpas”... “Basta! Na violência... Basta! Na corrupção... Basta! Na impunidade... Tuma 25, a estrela da segurança!!!... Tuma, a melhor estrela para São Paulo!!!”... O pessoal do PT ficou com as orelhas ardendo... Recortes de jornais relembram a atuação de Tuma na Polícia Federal – na DOPS, pula, pula... Uma apresentadora negra fala com indignação sobre a vida que levam as pessoas da periferia... “Se a gente estivesse falando de uma cidadezinha do interior, sem força para reivindicar, seria até compreensível... Mas não, estamos falando de São Paulo, a cidade mais poderosa e rica do Brasil”... Que apesar do orçamento de 6 bilhões de reais e de ter sido governada por políticos de direita e de esquerda, não resolveu seus problemas sociais... “Essa gente da periferia, entra prefeito, sai prefeito, continua na mesma”... Entram imagens de uma maleta cheia de dólares, para exemplificar o dinheiro que é desviado pela corrupção...  Sendo que a mão que mexe nas notas é algemada... “Basta! Eu quero Tuma”... Sagaz, o candidato diz que o dinheiro da corrupção serviria para segurança, construção de escolas, creches, acabar com a vala negra, tirar os buracos da rua... Só é preciso alguém que combata a impunidade... Ele próprio, óbvio... Agora, uma estrela de xerife é forjada para Tuma, “forjado nos mais nobres ideiais”... Cenas do “showmício” – isso não é proibido??? – com “Gian & Giovane” na região de Perus...  Entre a dupla sertaneja, observado por lideranças do naipe de Jooji Hato e Lidia Corrêa, Tuma lembrou do acidente com o trem da CPTM acontecido em 28 de julho daquele ano no bairro – o programa foi exibido em 18 de agosto -  prometendo punição aos responsáveis... Esse é um candidato que sabe as atribuições do prefeito, digo... Anúncio do próximo “showmício”, com o grupo Negritude Júnior, na região da Vila Sabrina... Notícias da “Folha” sobre o desempenho de Tuma nas pesquisas e a clássica versão eleitoral de “Só Você”, Chico Santa Rita... Muito lúdico e pouco propositivo, não???...  Com muito menos tempo, Marcos Cintra, do PL, transformou seu espaço no horário eleitoral em um videoclipe... O sol, cenas da cidade, a música... “O caminho é um só... O caminho é Marcos Cintra... Ele é único, Marcos Cintra... Nele eu posso confiar”... O candidato caminha pelas ruas e começa a ser seguido pelas pessoas, sem precisar tocar uma flauta mágica, digo... O slogan alude à proposta do economista de criar o Imposto Único... Também é feito um recurso pioneiro às novas tecnologias... “Venda discutir na internet o que Marcos Cintra tem falado na TV”... Privatização da CMTC, por exemplo???... O PTN, que concorreu à prefeitura paulistana com Dorival de Abreu em 1996, lançou seu irmão José de Abreu em 2000... Ao contrário do discurso solene de quatro anos atrás, os marqueteiros resolveram anunciar uma espécie de “anti-candidato”, vide fala do respectivo... “A prefeitura de São Paulo sempre foi disputada por Alckmins, Erundinas, Suplicys e Malufs... Chega de doutor e madame, tá na hora de um Zé na Prefeitura!!!”... Em seguida, a paródia da música “Como tem Zé na Paraíba”, gravada por Jackson do Pandeiro... “Ouçam a voz do povo, não se iludam com a figura, tem madame, tem doutor, só falta um Zé lá na Prefeitura”... Muito adequado para o dono de uma rádio especializada em música nordestina – vide aparição ao lado de Reginaldo Rossi – com citações explícitas a Marta Suplicy, proféticas até,  e Romeu Tuma...  Uma campanha inovadora, mas cujo modelo não foi seguido pela filha do próprio candidato, a atual deputada federal Renata Abreu, quando elegeu-se em 2014... 













De forma pioneira, Zé de Abreu do PTN fez um discurso altamente crítico contra Marta...













































Logo depois do Zé veio a “Madame”, digo... Marta, ainda Suplicy e do PT, vestindo azul e com uma foto do Vale do Anhagabaú ao fundo, em tom realmente professoral, falou do “mau exemplo” da administração municipal, cuja corrupção fez sumir 15 bilhões de reais... Depois, seguindo o figurino clássico das campanhas petistas pré-Duda Mendonça, uma luta de boxe... “São Paulo X Corrupção”... Eduardo Suplicy, na juventude, foi “um Matarazzo nos ringues”, digo... Tudo para apresentar o slogan “São Paulo vai dar a volta por cima”... O que segundo a candidata, seria conseguindo “fechando a torneira da corrupção e trabalhando com a população”... Para terminar, um jingle até aceitável, tendo em vista as músicas apresentadas em outras campanhas por Marta... “São Paulo vai dar a volta por cima, com a Marta e a cidade sem propina, nossa estrela vai brilhar”... E o anúncio de um comício na região do Ipiranga, vide imagens com Suplicy e o candidato à vice, Hélio Bicudo... Nada do Luis Inácio???... João Manuel, do PSDC, trazia uma nova versão do jingle da campanha para governador em 1998, onde enfrentou a própria Marta – “Pra São Paulo o meu eleito, é João Manuel para prefeito” e o discurso em defesa da família do líder máximo do partido, José Maria Eymael... “Todas as minhas ações estarão à serviço da família, de todas as famílias desta cidade”, enfatizou o candidato... Uma apresentadora introduz a história de Luiza Erundina, candidata do PSB, no programa da coligação São Paulo Somos Nós, desde o nascimento em Belém do Rio do Peixe, hoje Uírauna, na Paraíba... Só que ela não foi secretária de educação em Campina Grande porque esse cargo não existia na cidade paraibana na época, digo... É apresentada sua trajetória como assistente social em São Paulo e a eleição para a prefeitura da capital paulista em 1988 – sem citar o PT, é claro... O problema é que na hora do discurso, quem comparece é o candidato à vice, o empresário Emerson Kapaz... Pelo menos ele abraçou a cabeça de chapa – “Luiza e eu não vamos decepcionar vocês” – e não falou sozinho, como faria Michel Temer quatro anos depois...  Geraldo Alckmin, do PSDB, apesar de ser o vice do governador Mário Covas, não era considerado suficientemente conhecido pelos seus marqueteiros, por isso eles resgataram sua saga desde os tempos de Pindamonhangaba – “prefeitava e estudava medicina” – com direito ao repórter Leonel da Mata mostrando que foi o autor do projeto do Código de Defesa do Consumidor... Que Celso Russomanno não saiba, digo... Em um escritório cenográfico, Alckmin diz que o Código é um bom exemplo de como se deve fazer política para as pessoas... “Pra ser médico, a pessoa precisa gostar de gente... Pra ser administrador público, mais ainda”, afirma... Garante que prefere fazer creches, locais de lazer e cursos profissionalizantes a pontes, viadutos e túneis “onde só passam automóveis”... João Dória começou assim, digo... Hora de listar as realizações do governo do Estado... Poupatempo, redução de impostos para micro-empresas, Dose Certa, Médico de Família... Alckmin retorna e reafirma seus compromissos em defesa da cidade e das pessoas... “Não roubar, não deixar roubar e não permitir bagunça...  Sem briga, mas com autoridade”... O funcionalismo estadual percebeu a estocada contra as greves que fizeram o governador Covas partir para a briga no início do ano... Enfim, percebe-se que o “João Trabalhador” foi muito mais eficiente que o “Geraldo, é meu prefeito, honesto, experiente e com a cabeça no lugar”... Mais uma fala de Alckmin, que como médico, sente-se no dever de lembrar da vacinação... “Mais que um compromisso” – levou o dedo indicador à cabeça – “é um gesto de amor” – colocou a mão no coração... Bem, ainda não foi dessa vez... Mas o jingle “fail” de 2000 voltou com nova letra e fez sucesso dez anos depois... “Geraldo, está de volta, não falta no serviço e faz a obra acontecer”... Ops!!!...












No programa do candidato do PGT, faltou o jingle... "Canindé Pegado... Tá ligado mano!!!"...













































Ciro Tiziani Moura, do PRN, que ainda não era PTC, não aparecia em cena, apenas falava em “off”, enquanto apareciam na tela os dizeres “CIRO36” e mensagens com críticas a Erundina sem citar o nome da candidata do PSB...  “Lembra de quem parou as obras do Jânio??? Esqueça dela!!!”... “Revanchismo prejudicando a população”... E concluía... “Não deixe São Paulo parar de novo, vote Ciro 36”... O PSTU, com o slogan “Para mudar, tem que lutar”, apresentava “Todos os Homens do Presidente”... Não o filme, mas Alckmin, Maluf e Tuma, todos eles “farinha do mesmo saco” – no caso, o de FHC... Que era lembrado nas palavras de ordem do candidato Fábio Bosco... “Fora FHC e o FMI”... E lá estava o presidente brasileiro da época com Bill Clinton, o presidente estadunidense de então... “Contra burguês, vote 16”... Francisco Canindé Pegado, do PGT, preferiu “falar um pouco sobre a periferia da nossa cidade”... Na campanha do sindicalista – o PGT em 2000 era para a CGT o que o SOLIDARIEDADE é hoje para a Força Sindical - faltou apenas o jingle... “Canindé Pegado, tá ligado mano!!!”... Rui Costa Pimenta, do PCO, fez a defesa de “um governo dos trabalhadores”, enquanto eram apresentados o site e os endereços de email do partido... Ah, a bolha da internet... O PRTB esclarecia “ao povo de São Paulo” porque seu candidato era Fernando Collor de Mello... O ex-presidente apareceu rapidamente no final do programa, de pulôver rosa, dizendo... “Meus amigos e minhas amigas, vamos trazer São Paulo de volta aos nossos corações... Confio no seu julgamento!!!”... Já no caso do STF... A suspensão de oito anos dos direitos políticos de Collor, votada pelo Senado em 1992, ainda valia... Sem Duda Mendonça para fazer sua campanha, Paulo Maluf, do PPB, voltou às origens, quer dizer, ao velho apelo à ordem... Trabalhando forte no preto e nas sombras, vide terno do candidato, a começar pelo título “São Paulo Sem Medo”... Enquanto uma mãe arrumava o filho para ir à escola, outro aluno preparava sacolés de cocaína e pegava sua arma – estas cenas em preto-e-branco – para traficar no mesmo local onde estuda o outro garoto... Maluf discursa sobre segurança nas escolas, prometendo combater o tráfico de drogas... Para garantir o Leve-Leite das crianças, o ex-prefeito propõe a criação do Batalhão Escolar Anti-Drogas, com 1.700 guardas municipais, a Zeladoria Escolar, com 850 policiais, e a “Lei dos 500 metros” para os traficantes, pena dobrada em caso de flagrante, ainda que esse tipo de legislação não seja de competência da Prefeitura, digo... Numa lousa, um teste... “Escola serve para... a) entrar em greve... b) comprar drogas... c)estudar”... “Se você respondeu estudar, vote Maluf, o prefeito”... Se bem que... O que tem a ver as reivindicações dos professores com as drogas???... Esse “vigiar e punir” é o tipo do discurso retrógrado que hoje não convence mais o eleitorado, digo... O PSC trouxe de volta os peixinhos que tanto fizeram sucesso na campanha de 1998... Mas nada de Sérgio Bueno ou Falanga... Com uma cortina branca ao fundo e um computador pessoal ao lado, o candidato José Maria Marin – o próprio – declarou... “Estamos indignados com a violência que tomou conta da nossa cidade”... Lembrou que quando era governador reduziu a criminalidade em 33% e prometeu transformar a Guarda Civil Metropolitana em Secretaria Municipal de Segurança, para realizar “policiamento educativo e principalmente preventivo”... Claro que isso foi muito antes do roubo da medalha ou da prisão pelo FBI...  Alis, quem produziu “Narcos” poderia fazer a história do Marin... Se Pablo Escobar posou para fotos na frente da Casa Branca, Marin recebeu Ronald Reagan no Palácio dos Bandeirantes... Para terminar, os peixinhos gritavam em coro o nome da coligação do PSC e do PT do B... “Reaja São Paulo”... Nome de um movimento contra a violência daqueles tempos...  Sob um fundo verde, do próprio estúdio, ao som da Quinta Sinfonia de Beethoven, Enéas Carneiro, do PRONA, discursa naquele famoso tom elevado de voz... “Sou professor de cardiologia e vivo do meu trabalho... Nunca tive e não tenho nenhum cargo político... Visando a erradicar a fome e a miséria do Brasil, candidatei-me três vezes à presidência da república, tendo cada vez menos tempo para falar... Eleito aqui nesta cidade, acabarei com a desordem política, administrativa e moral que faz São Paulo chafurdar no pântano da ignomínia... Porei ordem na casa!!!... Sou candidato a prefeito, meu nome é Eneas, 56!!!”... Era o que bastava... Osmar Lins do PAN, não fazia merchan do Óleo de Péroba ®, nem rebuscava o discurso, mas prometia “mandar enxada e foice” para o Córrego da Ponte Baixa, paralelo à Avenida Guarapiranga...









Muito antes de roubar medalha e ser preso pelo FBI, a prioridade de José Maria Marin era a segurança...

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