segunda-feira, 4 de março de 2024

RC Especial Modelo 1978: Fragmentos do Precursor do Criança Esperança...

Não era "Arquivo Confidencial" do Faustão, mas a primeira professora de Rei entregou que ele não tinha voz... 

 



































O Roberto Carlos Especial – Um Milhão de Amigos, apresentado em 28 de dezembro de 1978 e já exibido pelo canal Viva em  2 de abril de 2022, é na realidade um compacto dos melhores momentos do “telethon” realizado pela Globo e conduzido pelo Rei alguns dias antes, em 16 de dezembro, para assinalar a chegada do Ano Internacional da Criança, definido pela ONU para 1979, em colaboração com o Unicef, ou seja, um precursor do “Criança Esperança”, que surgiria apenas em 1986, já sob o comando do Doutor Renato Aragão e os Trapalhões, onde toda a emissora trabalhou forte na arrecadação de recursos para as crianças carentes, visando o que chamou de “Ano 1 da Criança Brasileira”, em resumo, o que vemos no programa são fragmentos de uma longa maratona, sem alusões ao projeto presente da Globoplay... O fio condutor do especial são os dez princípios da Declaração dos Direitos da Criança, proclamada pela ONU em 1959, e o próprio Roberto explica os motivos da campanha, “todas as vezes que eu gravava os meus especiais de fim de ano eu conversava com os meus amigos, com Augusto César Vannucci, sobre a possibilidade de fazer uma campanha como essa, de fazer da música um objeto de transformação, que pudesse beneficiar as crianças”, pelo que se pode ver ao longo do programa, Roberto conduziu a campanha com um discurso incisivo, semelhante ao que Silvio Santos adotava quando pedia doações no Teleton da AACD, lembrando que a tradição de campanhas de arrecadação do Unicef começaram com um comediante estadunidense, Danny Kaye, e outro cômico popularizou o formato de maratona televisiva, Jerry Lewis... Durante a noite, a repórter pergunta a uma garota negra o que ela quer ganhar de final de ano, “uma bicicleta”, ela não sabe se irá receber o presente, respondendo sobre o que ganhou ano passado, “nada”... Roberto Carlos narra em “off”, entre imagens de bebês engatinhando, com mamadeira, segurando boneca e rostos de crianças em close, “foi proclamada pela Assembleia das Nações Unidas a Declaração dos Direitos da Criança, um documento com dez artigos, que todos nós brasileiros devemos conhecer, o primeiro diz que a criança gozará de todos os direitos constantes da declaração, sem distinção ou discriminação, quer seja por motivo de raça, cor, sexo, língua, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social e demais condições, quer sua ou de sua família”, notem a versão instrumental de “O Homem” na trilha, sendo que a declaração pode ser lida no “Manual da Mônica”, que Maurício de Souza lançou em 1979 como contribuição ao Ano Internacional da Criança... A abertura é musicada com outro tema, “Eu Quero Apenas”, canção obrigatória em todos os especiais de Roberto nos anos 1970, “Amigo” tinha acabado de entrar no repertório do Rei e “Emoções” aparecia anos depois, em 1981, o verso mais conhecido da música foi parar no nome do especial, “Um Milhão de Amigos”, o logotipo não é uma criação de Hans Donner, “sino” a marca oficial do Ano Internacional da Criança criada pela ONU, o pictograma de uma criança de braços erguidos abraçada por um adulto, símbolo que aparece também no palco onde Roberto conduziu a maratona e em todos os gibis que foram editados naquele ano... Crianças brincam num parque de diversões Tivoli Park, hoje Parque dos Patins, na região da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, podiam ter feito no Playcenter, em São Paulo, que abriu em 1973, Cirilo, é você, e Roberto comparece a 300 quilômetros por hora no carrinho de batida, dando carona a uma menina negra, camisa e calça brancas, boné do Milton Nascimento, cantando que quer apenas cantar seu canto, ultrapassando a bolinha da Globo na autopista, querendo apenas um vento forte na nave espacial, ter um milhão de amigos na subida da roda gigante, os filhos na montanha russa, todos vestidos com a camisa da Seleção Brasileira, muito antes do gado (!!!), a criançada acena na autopista para o Rei, que quer apenas um quintal sem muro para o filho pisar firm, cantar alto e sorrir livre, mais roda gigante, suave na nave, a pista é de madeira mais o carrinho é ligeiro, olha o Segundinho aí, o homem canta sem bater em ninguém com o carrinho, a roda gigante tem vista para a Lagoa, autopista congestionada, a criançada sorri, o Rei retribui no seu carrinho de batida, a roda gigante sobe de novo, apesar da vista do alto ser outra, Roberto quer olhar os campos e cantar com um coro de passarinhos, o carrinho continua não batendo em nenhum outro, sempre suave na nave, acelerando na autopista mesmo com a velocidade limitada dos veículos, na roda gigante um cachorro quente, quem será que vai me oferecer, não, pera, esse é o tema da série “Punky”, agora ele bateu o carrinho, e bateram nele, a menina até riu... Ops!!!... Terminada a brincadeira, Roberto Carlos aparece numa foto como palhaço triste e ao som de “Meu Pequeno Cachoeiro”, surgem imagens de sua terra natal, Cachoeiro do Itapemirim, vem a narração afirmando que a cidade “está se preparando mais do que qualquer outro lugar para participar do Ano 1 da Criança Brasileira, aqui encontramos a primeira professora de Roberto, irmã Cecília do Rosário, hoje aposentada, que falou muito do Roberto Carlos menino, que ela conheceu com cinco anos” – um ano antes do acidente, que, por razões óbvias, não é citado... Numa sala de estar cenográfica montada nos estúdios da TV Gazeta de Vitória, Cecília, que vivia no Pensionato Pio XII,  “então ele não lembra muito de mim, eu é que lembro dele, mas ele não lembra, Roberto Carlos sabe que quando eu fui professora dele eu era muito mocinha ainda, por isso que ele não me conhece direito” – Roberto sorri – “eu sempre fui professora deles, eu era professora de letras, no jardim de infância, primeiro ano” – mais um sorriso do Rei – “e também dava música, mas acho que ele não pegou muito não, porque eu dava música mais tarde, agora ele não tinha voz quando era pequetito, ele não tinha voz pra cantar, sempre que armava teatrinho de criança, ele não podia entrar porque não tinha voz” – Roberto ri – o repórter questiona se ele não ficava bravo, a freira responde, “não, ele falava que era difícil, era coisa de mulher, cantar lá no teatro, no parque” – o Rei olha desconfiado – “ele conheceu mais com a outra irmã, aquela que deu o medalhão pra ele, irmã Fausta, então ele não lembra muito de mim, eu é que lembro dele”, confirmando que foi a primeira professora do futuro cantor, “não conheceu outra, só eu” – “Arquivo Confidencial” do Faustão perdeu, digo... Roberto não acreditou no que viu, o locutor informa, “Irmã Fausta, a professora preferida de Roberto Carlos, foi localizada em Linhares, no norte do Estado”, entre imagens do Rio Doce e do trabalho forte na pesca, com o instrumental de “Além do Horizonte”, “um pouco nervosa, ela contou a história de um certo medalhão, que Roberto ainda usa com carinho”, conforme explica tendo um “chroma-key” do cantor usando o respectivo, “o medalhão foi o seguinte, nós estávamos para mudar o hábito, e nesse novo hábito a gente não deveria usar o medalhão, então eu pensei em dar esse medalhão a uma pessoa assim de estimação, e de imediato veio em mente Roberto” – que só observa – “foi quando em Cachoeiro em 1969 eu fui e presenteei Roberto com o medalhão” – que se tornou um ícone dos especiais de Roberto durante os anos 1970, ao lado do cachimbo, em 1975 ele foi parte do cenário do show... A cidade capixaba onde Roberto Carlos nasceu é identificada com um “lettering” diferente da fonte Globoface, em imagens do passeio de um casal de estudantes na praça, o painel com a imagem do Rei, o trânsito na região central da cidade, vide pedestre escondendo o rosto com um jornal (!!!), o narrador prossegue, “depois das professoras que ensinaram as primeiras lições escolares, faltava alguém que tivesse ensinado música ao Roberto Carlos menino” – o de 1978 só observa – “aos 13 anos, o novo aluno da professora de piano Helena Mignone afirmava com convicção que ainda seria um grande artista”... Ou como a própria Helena conta no estúdio da Gazeta, “ele falava sempre, ia ser muita coisa na música”, entra uma foto de Roberto, a professora conta que “ele gostava de toda a música em geral, clássica, popular, ele gostava bem”, o Rei continua só observando, entra a capa do LP que lançou em 1970, e uma das canções do disco, “Uma Palavra Amiga”, então é por isso que o narrador acreditou que as três professoras de Roberto mandaram “uma palavra amiga para a criança número 1 do Brasil”, mas só deixaram no compacto a mensagem de Helena, “as crianças do Brasil sempre esperaram muito de você e eu acho que esse ano agora, no Ano Internacional da Criança, você vai fazer muito mais agora pelas crianças”... Isto posto, Roberto Carlos decreta, “depois disso, eu acho que somente a emoção cabe nessa campanha, eu sinceramente jamais pensei, quando eu morava em Cachoeiro de Itapemirim, que eu teria uma responsabilidade dessas, jamais pensei que um dia estaria comandando uma campanha como essa, mas eu fico muito feliz, com a honra de estar aqui, com toda essa equipe, com todos os meus amigos, aqui por exemplo o maestro Chiquinho de Moraes, a quem eu peço uma salva de palmas especial por estar aqui nos prestigiando, todo o RC9, amigos que me acompanham em todas as batalhas, há tanto”, e segura o microfone para cantar, “Meu Pequeno Cachoeiro”, de Raul Sampaio, também lançada do álbum de 1970, quem poderia imaginar, há tempo para um último recado da Irmã Cecília, “eu gostaria, Roberto Carlos, que você fosse como foi desde pequeno, obediente, bonzinho, inteligente, e você gostava muito das irmãs, que agora você continuasse também” – tu o disseste... Doutor Renato Aragão, todo de branco, cercado por quatro garotas vestidas de Papai Noel e segurando ursinhos de pelúcia, anuncia, “e agora com vocês, as Patotinhas e os Patetões”, as quatro integrantes da primeira formação do grupo, surgido naquele mesmo ano de 1978, Mônica Toniolo, Cecília Salazar, Márcia Jardim e Kátia Romão, ah, sim, Eliana foi integrar o grupo apenas em 1986, quando Cecília saiu, antes do lançamento do décimo-primeiro disco do grupo, e os quatro Trapalhões, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, também trajados como o marido de Mary Christmas, elas cantam “Noite Feliz”, eles trabalham forte na coreografia, tanto quanto permite o salto plataforma do Doutor, recurso muito comum usado pelo comediante nos musicais do programa, assim como terminar os esquetes com uma versão da Marcha Nupcial de Felix Mendelssohn, que serve como deixa para a Patotinha cantar “Feliz Natal Pra Todos”, canção que ficou conhecida devido a animação “O Natal da Turma da Mônica”, produzido por Mário Lantana, o mesmo que realizada os comerciais da Cica com os personagens da Turma da Mônica, exibida nos intervalos comerciais da Globo em dezembro de 1976, que ganhou um “remake” em 1980, vendido em cópias super-8 para exibição caseira (e mostrado pelo SBT em dezembro de 1981...), como se trata de uma “lost media”, há muitas informações desencontradas, mas a sinopse dá a entender que a nova versão era uma propaganda de panetone, em 1999 surgiu outro “remake”, agora como mensagem de Natal na Globo, durante o período que Maurício de Souza foi contratado para a emissora adquirir “know-how” em parques temáticos e eventualmente exibir seus desenhos, digo, sobre os Trapalhões, foi a primeira vez do quarteto nos especiais de Roberto Carlos, três anos antes de comandarem seu próprio “Teleton”, nas comemorações dos 15 anos do grupo, em 1981, de Renato realizar a campanha “SOS Nordeste” em 1983, e, por fim, os cômicos comandarem o “Criança Esperança” a partir de 1986, o site "Memória Globo" faz uma referência ao encontro de Roberto com a Velha Surda, o personagem de Rony Rios que na ocasião comparecia na "Praça da Alegria" onde Miele sentava no banco, porém o vídeo não aparece nem na versão do Viva nem nos programas postados no YT... Uma sequência de crianças sorridentes, uma delas também mostrando a língua, ilustra o segundo princípio da Declaração dos Direitos da Criança, “a criança será credora de facilidades que permitam seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual e social, tudo de forma sadia e normal e em condições de liberdade e dignidade”, e que venha a roda-gigante do “estamos apresentando Um Milhão de Amigos”...  O Rei volta em uma nave especial – do parque de diversões – uma criança toma água, segue-se o terceiro princípio, “desde o nascimento, a criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade”, no palco, Wanderléa abraça Roberto, que comenta, “você se lembra daquela vez também que a gente ficou um tempão recolhendo cobertores”, a Ternurinha responde, “é, passávamos assim, a noite inteira”, o Brasa prossegue, “só que a gente não conhecia as coisas como conhece hoje, os anos naturalmente se passaram, passaram devagarinho, e deu pra gente se conscientizar de uma série de coisas, e essa conscientização levou a fazer essa campanha”, Wanderléa diz, “eu acho essa campanha da maior importância”, Roberto ressalta, “mas acho maravilhoso você estar aqui”, ela concorda, “eu também”, ele está de acordo, “ah, é, então canta”, Wanderléa acha graça, Roberto fica sem jeito, ganha um abraço, e ela dá início ao dueto cantando “Ternura”, e o Rei acompanha retribuindo o abraço, que coisa, não... O repórter da Globo comparece numa rua de terra e começa a entrevistar uma criança, Sueli Ferreira, pergunta se ela está estudando, Sueli responde que sim, que está no primeiro ano, tem oito anos, apontando onde mora, em seguida, o repórter entrevista a mãe de Sueli, Maria da Conceição Ferreira, que está em frente a um armário com uma lata de polvilho Granado em cima, Maria responde que o marido trabalha como vigia, e ao ser perguntada sobre o salário do esposo, afirma, “quando ele ganha eu não sei, mas ele recebe por semana 300”, foca nos seis filhos, nesse tempo, o parâmetro do jornalismo global era a “Dona Maria”, não Homer Simpson, nem tinham lançado o personagem ainda, e o repórter fez a lição de casa... Logo depois do depoimento, Roberto Carlos é enfático e até um pouco debochado, “não fique sentado nessa poltrona, porque não dá pé, malandro, você vai fazer muito mal, você vai ficar gordo, cê vai ficar gordo se você ficar aí sentado, parado”, Erasmo Carlos concorda e acrescenta, “você fica falando aí, saiba que eu tô legal assim por causa da campanha, porque você apronta muitas coisas comigo”, o Rei nega, “nunca aprontei nada com você”, o Tremendão refuta, “apronta sim, inclusive no ano passado você quase me matou do coração com aquela música que você fez pra mim”, Roberto rebate, “mas você me matou muito mais com sua reação, tá, é isso aí”, esse diálogo um tanto quanto tenso serve para mostrarem novamente o abraço de Erasmo e Roberto e depois toda a apresentação, pela primeira vez, de “Amigo” no especial de 1977, inclusive com as cenas em família de Erasmo e a emoção de Roberto ao abraçar o amigo de fé é irmão camarada no final da música, e calma aí porque uma menina brincando de boneca traz o quarto princípio da Declaração dos Direitos da Criança, “a criança receberá os benefícios da Previdência Social, terá direito a crescer, criar-se com saúde, e receber alimentação, habitação, recreação e assistência médica adequada, esse princípio prevê, garantias e proteção especial também às mães, inclusive nos períodos pré e pós natal”, também para a mãe que leva a filha no carrinho de bebê, e o Rei vai de roda gigante para o carinho de batida, deixando os filhos chamarem o intervalo...










Muito antes do "Criança Esperança", Doutor Renato pôs salto para coreografar canções natalinas da Patotinha...




























As crianças de Roberto, um bebê segurando a mamadeira e uma ciranda servem de fundo para o Rei ler o quinto princípio da Declaração dos Direitos da Criança, "a criança que seja incapacitada física ou mentalmente, ou que sofra algum impedimento social, terá direito e cuidados, mais tratamento e educação”, dá até para ouvir alguns acordes de “O Homem”... Hora da resenha com Tom Jobim no palco, “Tom, é um prazer muito grande ter você aqui, mas a gente queria que você cantasse, você já fez alguma música pra criança, Tom”, o compositor, posicionado no piano, responde, “eu já fiz várias, mas eu quero fazer aquela música que a gente faz junto, é tão bom, você e eu, pois é, a gente precisa combinar, não um encontro aqui, no meio da campanha”, Roberto responde, “vamos sim, agora eu vou ficar mais tempo aqui no Rio, por causa do meu show no Canecão e acho que a gente vai ter uma oportunidade de se encontrar”, Jobim promete, “eu vou te ver lá no show, inclusive quero mostrar uns babados pra você”, o Rei se anima, “opa”, e parte para o dueto em “Lígia”, já apresentada no especial de 1975 depois daquela conversa sobre urubus (!!!), agora com uma pequena divergência sobre a cor dos olhos de Lígia, na letra são morenos e Roberto fez questão de seguir o original, Tom, o compositor, mudou a cor e cantou “olhos verdes”... Mal dá para ver o abraço dos dois músicos, porque um garoto gordinho de cabelo “tigelinha”, apoiado em muletas, começa a falar para Erasmo Carlos “que todos colaborem dando um pouco de casa, dinheirinho da mesada, como eu tô dando agora”, Roberto diz que já sabia do comparecimento do pequeno Wilcler,  “ele veio aqui trazer a sua mesada para a criança brasileira”, o Rei pede aplausos, “veio trazer 50 cruzeiros da sua mesada e é realmente, professor, algo maravilhoso, algo emocionante, comovente, o melhor exemplo que nós podemos ter na nossa campanha, viu, Wilkler, obrigado, querido, você está dando um exemplo maravilhoso, você não é um menino, você é um homem de 30 metros de altura, com tudo isso que você está fazendo, eu quero agradecer muito a você e as crianças que estão assistindo esse programa, as crianças que precisam dessa campanha vão agradecer você por esse seu gesto e acho que isso vai naturalmente mexer com muita gente, isso vai levantar as pessoas, mexer com as pessoas, fazer com que elas se movimentem e façam, e nós estamos precisando, Wilcler veio aqui depositar 50 cruzeiros da sua mesada, e você aí que tá sentado vendo a televisão, naturalmente vai fazer o mesmo, ou mais, isso é muito importante pra nós, isso é maravilhoso, querido, muito obrigado por sua demonstração de amor, que você fez, isso é maravilhoso”, e o menino ganha um beijo na cabeça de Erasmo e outro no rosto de Roberto, que exibe o dinheiro doado – no céu tem pão... Corta para uma pista de dança com luzes coloridas e um globo espelhado, no melhor estilo discoteca, com uma sirene no meio, onde um coro de artistas e cantores interpreta “Fé”, lançamento do disco de 1978, olha a Elisângela ali, Lady Zu do lado, Frenéticas, Cláudia Telles, uma canção gospel embalada ao estilo do filme que foi o grande “hit” do ano, “Os Embalos de Sábado à Noite”, mais um pouco e a Chiquinha vai achar o John Travolta... Ops!!!... Agora estamos num dos campos de futebol na região do Aterro do Flamengo, os ônibus passando e as crianças jogando, tudo isso para Roberto anunciar o sexto princípio da Declaração dos Direitos da Criança, “a criança, para um desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, precisa de amor e compreensão, e salvo em condições excepcionais, a criança de pouca idade, não será separada da mãe”, em seguida, o Rei sobe na gigante para chamar mais um intervalo... Na descida, o Rei vai para o carrinho de batida e voltamos ao campinho de futebol, pois vem aí o sétimo princípio, “a criança terá direito a receber educação, que será gratuita e obrigatória, pelo menos no ensino primário”, inclusive a garotada que joga bolinha de gude em outra parte do Aterro... Voltando ao palco, palmas para uma atração que vem de “red, white and blue”, Freddy Cole, Roberto Carlos fala em inglês sobre o prazer que é recebe-lo, o músico de jazz, irmão de Nat King Cole, o próprio, agradece e o Rei retribui com um “God bless you”, e Freddy se acompanha no piano para mais um dueto de Roberto, “For Once of My Life”, de Orlando Murder (!!!) e Ronald Miller, nosso cantor tentando alcançar o timbre da voz do músico estadunidense, digo, aplausos e risos no final... Com a palavra, Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de São Paulo, “o afeto de todos os homens, mas a ecologia, as flores, as águas, os ares, e tudo o que existe, é feito para a criança, assim como ela pode sonhar com um mundo novo, os adultos são obrigados a prepararem para esta criança, um mundo melhor, um mundo novo, que o Cristo nos trouxe, de paz, fraternidade, justiça e liberdade”, o depoimento termina com um close em um crucifixo cercado de flores, o depoimento do corinthiano Dom Paulo é importantíssimo, numa época em que os militares no poder não escondiam seu desapreço pelo trabalho social e de conscientização que o cardeal desenvolvia em São Paulo, e seguindo o tema do especial, a irmã de Dom Paulo, Zilda Arns, coordenou os esforços contra a desnutrição infantil na Pastoral da Criança... Roberto Carlos comparece na sacada de uma igreja, terno escuro, lenço branco, flor na lapela, órgão de tubos ao fundo, para cantar “Jesus Cristo”, acompanhado pelo Coral Gama Filho, da universidade carioca que fechou em 2014, dando a interpretação da música um ar de canto gregoriano, acompanhada nos bancos da igreja por uma plateia de crianças, a diferença para a recém-lançada “Fé” fica ainda mais evidente... Voltamos ao jogo de gude no Aterro e a ciranda, dá para notar um ônibus lá no fundo,  pois Roberto traz antes do intervalo o oitavo princípio da Declaração dos Direitos da Criança, “a criança estará sempre, em quaisquer circunstâncias, entre as primeiras a receber socorro”, e o Rei sobe a roda gigante, suave na nave...


















Roberto não questionou se o céu tem pão para o pequeno Wilkler, preferindo receber os 50 cruzeiros da doação...





























Volta a vinheta do abraço, foca na autopista do parquinho e nos filhos de Roberto com a camisa da Seleção Brasileira, na sequência, outras crianças limpam os vidros de carros e engraxam sapatos, enquanto o cantor lê em “off” o nono princípio da Declaração dos Direitos da Criança, “a  criança deve ser protegida contra todas as formas de negligência, crueldade e exploração, ela jamais será objeto de tráfico e jamais deverá trabalhar antes de uma idade mínima conveniente”... A seguir, o discurso do Rei, “o nome desse programa é Um Milhão de Amigos, mas depois de todo esse resultado de nossa campanha, acho que podemos trocá-lo tranquilamente por mais de 100 milhões de amigos, todo esse resultado devemos a você, arrecadamos até agora mais de 40 milhões de cruzeiros em dinheiro, quase 30 milhões em imóveis, terrenos, joias, obras de arte, os números exatos serão dados no balanço final, e agora eu quero fazer um apelo a vocês, a Funabem está credenciada a procurar os doadores que telefonaram para a Globo, portanto, confirmem as suas doações, que a Funabem vai busca-las e distribuí-las para as instituições e crianças mais necessitadas, confirmem suas doações, podemos chegar aos 100 milhões de cruzeiros, porque esse ano de 1979 é realmente o ano da conscientização do povo em relação aos problemas da criança brasileira, muito obrigado por tudo o que vocês fizeram e o que estão fazendo, muito obrigado mesmo, que Deus abençoe a todos”... Com a palavra, o presidente da Funabem, Fawler de Melo, terno cinza e gravata preta tipo “petit-pois”,  “a iniciativa tomada pela TV Globo para incentivar a proclamação do Ano Internacional da Criança, sem dúvida que significou um passo decisivo para acalentar o processo hoje instalado na sociedade brasileira que visa a torna-la mais apta a consciência nacional para enfrentar o grave problema da criança desassistida, a Funabem se irmana a TV Globo assinando um protocolo de intenções onde ela apressará a operação técnica necessária para cooperar e ajudar no sentido de tornar o mais objetivo possível a distribuição do valor arrecadado, essa participação da Funabem não se limita aos primeiros momentos da campanha, mas desejamos que se desenvolva durante todo o Ano Internacional da Criança”, o envolvimento da Funabem, criada em 1964, mesmo ano do golpe militar, dá uma ideia de como eram as políticas públicas voltadas para a infância na época, em 1979 foi promulgado um novo Código de Menores, substituindo o Código Mello Matos, que vigorava desde 1927, porém mantendo a chamada “doutrina da situação irregular”, em que toda criança e adolescente era considerado “menor” e que na prática se traduzia na atividade mais visível da Funabem, a manutenção de abrigos para crianças infratoras, um ordenamento jurídico que mudaria apenas em 1990, quando o órgão foi extinto e o Estatuto da Criança e da Adolescência (ECA) estabeleceu a “doutrina da proteção integral”... Roberto volta para ler o décimo princípio da Declaração dos Direitos da Criança,  em meio a closes de crianças olhando com curiosidade, “nenhum ato de discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza poderá atingir a criança, essa declaração de direitos, proclamada pela Assembleia das Nações Unidas, afirma ainda que a criança deve crescer num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e fraternidade universais, em plena consciência de que seu esforço e aptidão devem ser postos a serviço de seus semelhantes”, terminando com cenas de bebês engatinhando, de mamadeira na mão e o próprio cantor vestido de Papai Noel no parque de diversões com o filho Segundinho, imagem resgatada do final do especial de 1976, sem a bolinha da Globo... Corta para o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que anos depois seria a “sede” dos shows do Criança Esperança, Roberto, de terno branco com ombreiras, lenço na mesma cor em volta do pescoço e flor na lapela canta, depois de dizer, “está musica me diz muitas coisas, e eu gostaria muito de dizer muitas coisas antes de cantar, mas qualquer coisa que eu dissesse, não seria melhor do que Isolda soube dizer nessa música, ela disse realmente coisas que eu até gostaria de dizer, mas eu digo cantando, né, porque eu sinto exatamente igual tudo o que ela disse”, e vai de “Outra Vez” para o ginásio lotado, maestro Eduardo Lages do lado, depois de elogiar sua compositora, Isolda Bourdot, que saiu de cena em 2018, e Roberto homenageou o irmão dela, Milton Carlos, vítima de um acidente de carro, em 1976, uma tomada do palco permite ver a placa da Secretaria de Estadual de Esportes e Turismo de São Paulo, dona do ginásio... A próxima canção é “Fé”, a primeira do álbum de 1978, cantada pela segunda vez no especial, numa levada mais alegre que outras músicas que falam de religião do Rei, como “Jesus Cristo” ou “O Homem”, e mais descontraída que “A Montanha”, Roberto puxa as palmas da plateia e recebe os filhos Segundinho, com uma inconfundível camisa xadrez amarela e marrom, e Luciana, de vestido florido, “você pra mim é tudo, você é meu escudo, minha fé me leva até você”... O Rei agradece a todos, dá tchau e chega a bolinha da Globo, “Rede Globo apresentou Roberto Carlos Um Milhão de Amigos Realização Central Globo de Produção”, como se trata de um compacto da maratona, os créditos não foram mais detalhados...





































Intenções do Rei para com a infância brasileira eram muito boas, a legislação e as políticas públicas nem tanto...


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