segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Show da Vida 5.0 (III): Mister M e os 500 Anos do "Fantástico"...

"Fantástico" revelou identidade do "repórter secreto", mas não do Mister M, isso é um espanto, Cid Moreira...

 













O terceiro episódio da série dos 50 anos do “Fantástico” é introduzido por Poliana Abritta, “uma mistura de jornalismo, entretenimento e magia”, Maju Coutinho pega o gancho, “o passeio pelos 50 anos do Show da Vida chega à década de 1990, tempos de personagens inesquecíveis, de quadros divertidos e casos misteriosos, que faziam muita gente dormir de luz acesa”, Poliana continua, “o Fantástico” abriu um espaço grande e generoso para reportagens investigativas, de escândalos de corrupção a perigosas falhas de segurança”, os créditos, por favor, Maju, “este episódio tem direção de Cristine Kist, produção de Alice Melo e edição de Giulia Haddad” - jogo do contente de Poliana à parte, vamos ao contexto, na década de 1990 a televisão brasileira ainda vivia a fase do “liberou geral” desencadeada pelo fim da censura oficial, com a promulgação da Constituição de 1988, e que só teve freio com a portaria do Ministério da Justiça que oficializou a classificação indicativa, em 2000, freio em termos, porque a nostalgia daqueles tempos hoje é um poderoso motor de sites e canais nas redes sociais, a Globo teve duas importantes mudanças durante a década, em 1995, Evandro Carlos de Andrade substituiu Alberico Souza Cruz no comando da Central Globo de Jornalismo, e em 1997, José Bofe Fácil de Oliveira Sobrinho, o Bofão, cedeu seu lugar na direção-geral a Marluce Dias da Silva, a megalomaníaca Tia Marluce, bem antes dessas transições, a Record mudou de dono em 1987, sendo assumida pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e em 1991, o "Fantástico"  ganhou um novo concorrente direto, o "Topa Tudo por Dinheiro",  do SBT, cuja principal atração eram as "Câmeras Escondidas" em que Ivo Holanda clamava pela produção depois de se meter em encrenca na rua,  fria que entrava em geral com a ajuda de Gilberto Fernandes, o Gibe, aliás, Papai Papudo e redator do “Trapa Hotel”, que nas horas vagas, passeava na garupa de uma caveira motociclista em frente a um cemitério, enquanto Fernando Benini, sem as redes sociais para propagandear o Papaco, fazia as propostas mais absurdas aos pedestres, Ruth Romcy chegava junto dos homens cheia de amor para dar, e na outra ponta, como madre superiora de um convento, se enojava com a mulher em trajes sumários que saía de um bolo, e Celso Portiolli passava bala em quem se atrevia a cobrar suas dívidas, treinando para o 11 de setembro (!!!), humor da melhor qualidade,  tanto que alguns vídeos da época ainda são mostrados no "Programa Silvio Santos", falando em câmeras escondidas, desde o tempo do "Show de Calouros" a resposta do "Fantástico"  era deixar de lado o entretenimento, os musicais e os "fait divers"  e investir em reportagens  policiais, especialmente durante o período que Carlos Amorim, um especialista do gênero,  foi diretor, no início da década de 1990, sucedendo José Itamar de Freitas, trabalhando forte no dinamismo proporcionado pelas câmeras de vídeo portáteis, o "Aqui Agora" do SBT tinha muito a ensinar, sem esquecer do sangue e do sensacionalismo, este último desde há muito praticado pelo programa, não esqueçam que o piloto do Linha Direta passou pelo programa em 1998, com Marcelo Rezende entrevistando Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, e em matérias investigativas,  que também tiravam proveito da miniaturização dos equipamentos de filmagem, e aqui a inspiração vinha do "Documento Especial" da Manchete... Então é por isso que depois de serem focalizados objetos característicos dos anos 1990 - bonecos Trolls, xícara de Duralex, celular com jogo da cobrinha, Super Nintendo - e de um telespectador zapear por um clipe do "É o Tchan", o "Topa Tudo por Dinheiro" (isso é coisa do Paulo Vieira,  cuja marca registrada é citar concorrentes da Globo na emissora -  e denunciar  quem faz o mesmo, vide Larissa do BBB23, podia ser a Câmera Escondida da Mão Presa no Carro...) e o próprio "Fantástico", anunciado por Cid Moreira, “está começando o Fantástico, e hoje é dia de relembrar as reportagens, os quadros e os personagens mais marcantes da terceira década do programa”, mostrando cenas de uma reportagem sobre surfe ferroviário antes do programa ir para o intervalo… Não que o “surifsta de canais” (essa a gente tirou do desenho do Máskara…) tenha se empolgado, ele pega uma câmera em miniatura, dessas usadas hoje para identificação em portarias de prédios, coloca-a na camisa, ajeita no espelhinho de borda alaranjada, abre uma sacola, coloca roupas e… uma bomba-relógio!!!... O homem sai de casa e a explicação para sua atitude vem de 1996, com Chico Pinheiro, recém-chegado da Record, a caminho de se tornar a cara do jornalismo da Globo em São Paulo, que finalmente ganhou sede própria em 1999,  “resolvemos testar a segurança dos aeroportos mais movimentados do Brasil, e é possível embarcar com uma bomba na bagagem???”, Pedro Bial, que foi de correspondente em Londres, testemunha ocular do fim da União Soviética em 1991, a apresentador do “Show da Vida” em 1996 - BBB, só em 2002 -  dá continuidade, “o nosso repórter despacha a falsa bomba, o embarque é feito sem problemas” - muito antes do “Aeroporto Área Restrita”, digo... Nesse momento, no cenário não iluminado dos 50 anos, uma pessoa é orientada a comparecer, “você entra e senta ali”, e na poltrona ele falava, “eu sempre quis mostrar aquilo que todo mundo sabia que acontecia, mas que ninguém nunca tinha visto, a microcâmera, quando ela aparece nos anos 1990, foi justamente a possibilidade de mostrar aquilo que não tinha sido mostrado na televisão, naquela época se falava muito em terrorismo, não sei o quê, e eu já tinha a informação que não existia raio-X 100%, aí eu dei essa ideia e nós fizemos”, e o repórter paaseia com a sacola pelos setores de embarque e desembarque dos aeroportos brasileiros”, Bial em 1996 contabiliza, “ao todo foram quatro viagens e quatro possibilidades de atentado” - e indiretamente, uma leve insinuação de defesa da privatização dos aeroportos, o neoliberalismo de FHC estava então no poder… A figura na penumbra explica, “as pessoas fazem muita confusão, achando que eu não mostro meu rosto pra me proteger, mas na realidade, eu nunca mostrei meu rosto pra proteger o meu trabalho, porque o fato de eu não ser conhecido me possibilitou fazer muitas matérias de infiltração, de frequentar lugares sem ser reconhecido, então foi esse o motivo, e eu acho que agora está na hora de descansar um pouco, não tem mais porque eu me esconder”, as luzes se acendem, mostrando um homem de cabelos e barba grisalha, usando camisa social, tênis e óculos, “tô nervoso aqui, tô agitado aqui, tentando… me encontrar nesse universo aqui”, e por fim, ele é identificado na tela como Eduardo Faustini - que começou no "Fantástico" em 1995, mesmo ano que Tim Lopes, o próprio, após passagens por Manchete e SBT, exatamente as emissoras que andaram para a Globo correr… Pedro Bial apresenta o repórter, “um supercraque da reportagem investigativa, ele é o homem da primeira página, Eduardo Faustini faz as primeiras páginas”, o nome do jornalista é repetido em matérias narradas por Bial, a da segurança nos aeroportos, e Celso Freitas (guarde este nome…), sobre corrupção no Detran, eventualmente mostrado pela câmera, mas com o rosto desfocado, o repórter, ainda ansioso pela revelação que fez, pede, “pô tem uma água, minha boca tá seca, minha boca tá sequinha, eu tô extremamente desconfortável fazendo isso aqui, eu vou pegar aquela água de novo, agora, quando eu tô fazendo o meu trabalho, eu não sinto nada, eu não posso tremer, não posso gaguejar, isso possibilitou muitos eventos importantes que fizemos ao longo dos anos no Fantástico” - Faustini era o que se chama de repórter produtor, que apura a matéria, cabendo ao repórter que aparece na tela apresentar a história e ouvir os envolvidos, quase sempre confrontando-os com o que foi apurado, função comum em reportagens de TV investigativas e policiais, logo, ele não mostrava a cara, porém era sempre creditado nas matérias, e mais que isso, aparecia em todas as premiações de jornalismo,  o nome dele e de outros “repórteres secretos” do programa só começou a ser ocultado depois do assassinato de Tim Lopes, em junho de 2002, quando apurava uma matéria para o "Fantástico", e o nervosismo de Faustini deixa entrever os riscos (e a falta de retaguarda…) dessas pautas, mesmo anos depois de serem feitas… Pedro Bial volta em 2002, depois do primeiro BBB, e antes da saída de cena de Tim Lopes, para chamar a matéria que, na época, não por acaso, foi chamada de “Big Brother da Corrupção”, “nunca casos de corrupção, ofertas de propinas, comissões, foram registradas com tanta clareza”, Celso Freitas (olha ele aí…) narra em “off”, “durante um mês, um repórter do Fantástico, ocupou o gabinete de uma prefeitura do interior do Estado do Rio com a concordância do prefeito” - na verdade, era São Gonçalo, na região metropolitana, o Bial de 2023 vê a matéria e ri nervoso - “sem o mínimo constrangimento, o ex-vereador mostra o que fez na Câmara Municipal quando era presidente, aumentava o salário de assessores, mas quem ficava com o dinheiro eram os vereadores”, e vem a explicação, “um chefe de gabinete ganhava 500 e poucos, eu botei 4.500, igual a secretário, só aí o vereador apanhava do cara 4 mil”, Faustini aponta, “essa é a primeira vez que na televisão se falou de rachadinha, que tá tão em moda hoje” - alis, o programa deste domingo começou com uma reportagem sobre as joias do Bozo, que junto com seus filhos popularizou a prática nos gabinetes parlamentares - o político continua se justificando, “vai dizer que o Geraldo roubou, diz que eu vou lá e digo, eu roubei não, nós roubamos”, o letreiro só vem, “José Geraldo da Cunha foi julgado e condenado em primeira instância e absolvido em segunda instância em 2016”, Eduardo reflete, “o jornalismo não investiga pra punir, ele investiga pra informar, às vezes ele é punido, essas pessoas, quando a gente denuncia e leva ao ar no Fantástico no domingo, não acaba na segunda-feira, essas pessoas são processadas, presas, presas são fechadas, casamentos são desfeitos, eu sabia o peso dessa responsabilidade, eu tenho a ideia que eu sacrifiquei a minha mulher, a minha família, meu filho, e eles nunca me cobraram, mas…" - isso apesar do nome de Faustini ter sido ocultado quando a reportagem foi premiada... "Cara, é difícil, mas sabem o que eles passaram, meu filho fez a faculdade dele com policiais na porta da sala de aula quase toda, tem esse lado que eu não posso negar que isso aconteceu, faz parte da minha vida, graças a Deus eu tô aqui, eu só tenho gratidão” - menos de dois anos depois, o sacrifício de Faustini e outros repórteres foi colocado a serviço dos interesses políticos dos donos da emissora, nas câmeras ocultas que revelaram o escândalo do Mensalão, e o empenho para trazer os fatos a tona mesmo colocando a vida em risco foi posto de lado na cobertura do Petrolão e da Operação Lava Jato, a denúncia do “triplex” do Luis Inácio no Guarujá feita por Sérgio Moro era baseada em uma matéria isolada do jornal “O Globo”, os equívocos da mídia e da Justiça foram tantos que William Bonner teve de reconhecer, na entrevista que conduziu no “Jornal Nacional” em 2022, após quatro anos do desastre Bozo, que veio na esteira da prisão do ex-presidente, que não havia nada contra o Luís Inácio… O chefe de produção Carlos Eduardo Salgueiro fala sobre Faustini, “foram mais de 20 anos trabalhando com ele, aprendi muito, ele era uma referência pela capacidade de enxergar a notícia, o que é que a gente precisava para aquela história dar certo, e como ele iria fazer para conseguir aquela imagem”, o repórter pontua, “a magia da televisão é o limite, é mais fácil de entender, de ficar indignado com aquilo que você está vendo”, segue-se a matéria de 1997 sobre surfe ferroviário, narrada por Bial, “cara de lata, é assim que o trem do subúrbio é chamado pelos surfistas dos trilhos”, Salgueiro observa, “eu tô no Fantástico há 28 anos, pouquíssimas vezes eu tive a oportunidade de fazer a matéria com imagens que me chamaram tanto a atenção assim”, o Bial de 1997 vai em frente, “os surfistas desviam de árvores, sinais de tráfego, passarelas, viadutos, brincam driblar cabos de alta tensão”, Salgueiro explica, “a gente tem uma história, mas quer saber como você vai mostrar essa história, encontrar garoto que sobreviveu, garoto que sofreu acidente”, um deles dá depoimento na reportagem, “minha mão começou a sair fumaça, aí um mano chegou, aí, sangue bom, acende um cigarro na sua mão”, Salgueiro aponta, “cê vai ver essas imagens lindas, marcantes, que o Lúcio fez” - na reportagem, é creditado o cinegrafista Lúcio Rodrigues - “mas aí faltava o pulo do gato, e se a gente viajar em cima do trem, aí a gente foi negociar um jeito de fazer isso sem correr risco, um belo dia a gente pega o trem 4 horas da manhã, sobe, e vamos nessa, é um filme”, vide entrevista com surfista ferroviário na região do Maracanã, “tem que surfar”, Salgueiro lembra, “é é muito louco, nesse dia três pessoas morreram, nessa viagem, inclusive o entrevistado é flagrado sabendo de uma das mortes, o coordenador conclui, “mas a gente cumpriu o nosso papel, de denunciar, de mostrar, de cobrar as autoridades, que isso fosse feito, pra que isso não continuasse acontecendo” - algum tempo depois da dramaturgia, pois em 1991 a novela “O Dono do Mundo” apresentava um personagem, Beija-Flor, que era surfista ferroviário, na mesma época em que Ivo Holanda fazia outra importante denúncia na Câmera Escondida Bomba na Fila do Gás (!!!), é preciso levar em conta as mudanças de comando da Globo e no governo federal nos seis anos entre a novela e a reportagem (que foi incluída no DVD “Grandes Reportagens”, lançado em 2004, sem créditos, refletindo o impacto da saída de cena de Tim Lopes, falando no repórter, uma das reportagens no disco é sobre os bondes dos bailes funk, assunto análogo ao que estava apurando quando foi assassinado…), porém ela pode ser vista de certa forma, como um apoio velado à privatização das ferrovias, que Fernando Henrique executava justamente quando foi realizada a matéria, e também como um reflexo das mudanças que aconteceram no próprio “Fantástico”... É justamente nesse momento que aparece na telinha o verdadeiro personagem principal deste capítulo da série, o jornalista Luiz Nascimento, diretor do “Show da Vida” entre 1993 e 2017, “o Fantástico tem um poder inimaginável, eu lembro de uma matéria que o Caco Barcelos mostrou uma mulher que foi diagnosticada com Aids, descobriu-se depois que ela não tinha Aids”, o repórter tem a palavra na reportagem de 1998, “a partir desta semana, o exemplo de Silvana vai servir de alerta para quem for fazer exames de Aids, um só não basta”, Luiz lembra, “essa matéria levou o Ministério da Saúde a estabelecer contraprova de teste de Aids, não existia isso” - o que dizer do papi de Carol Barcelos e seu trabalho forte na reportagem, acompanhado ou não de repórteres-produtores, focado em temas sociais, generoso em ensinar as novas gerações de jornalistas no “Profissão Repórter”, mas que pagou pelas opções políticas de suas chefias ao ser contestado por manifestantes contrários ao “impeachment” de Dilma Rousseff… Nascimento aparece em várias fotos, numa delas com Mister M, e descreve sua trajetória, “eu fui chamado no final de 1992 pra ir pro Fantástico, recebi a orientação de manter a chama da inovação, da novidade, da surpresa, dessa forma, criei uma fórmula muito interessante, misturar informação com diversão”, Salgueiro confirma, “Luizinho tem um papel muito importante no Fantástico, acho que ele é o diretor que ficou mais tempo no Fantástico, e o Luizinho trouxe uma inovação muito grande, ele resgata a coisa da revista, da diversidade de temas, esse “mix”, que traduz muito bem o que é o Fantástico” - explicando melhor, Luiz, ou Luizinho, como é mais conhecido, assumiu a direção quando as matérias policialescas, marca de seu antecessor Carlos Amorim, além de não trazerem um diferencial do noticiário exibido durante a semana, deixavam o programa meio sisudo, reforçando às críticas de que com duas décadas no ar, a atração estava superada (quantas vezes Décio Piccinini repetiu isso no “Troféu Imprensa”, sempre exibido pelo SBT na hora do “Fantástico”...), e então é por isso que o diretor começou o trabalho forte de introdução de quadros de entretenimento (isso abordaremos com mais detalhes na sequência…), afinal, no DVD dos 30 anos, lançado em 2003 - que chegou a ser recolhido por conter imagens do acidente fatal de Ayrton Senna, questões de direitos - ele reconhece que a mistura de seriedade e descontração não era criação dele, e o fazia chamar a atração de “o programa do Bofe Fácil”, um resgate que por muito tempo foi pontuado por escaladas e "flashs" jornalísticos ao som do tema musical do programa usado em 1976, ao mesmo tempo que teve cuidado de dar mais lastro às matérias jornalísticas, que começaram a privilegiar temas investigativos e de denúncia, contando com apoio das câmeras ocultas, processo iniciado com a primeira versão do "Profissão Repórter",  conduzida por Tim Lopes -  que os cassetas, numa ironia com forte dose de crítica,  rebatizaram como "Biscate Repórter", colocando Hubert Aranha num espeto de frango assado (!!!) - e atingiria o ápice na época da matéria dos surfistas de trem, em 1997, fase em que as mudanças de comando no jornalismo global levaram a uma separação maior dos setores de jornalismo e entretenimento da emissora, sem contar que no “Topa Tudo por Dinheiro”, Ivo Holanda estava retirando cachimbos de motos para vender a peça aos próprios motociclistas furtados por ele… Ops!!!... A transição foi à moda brasileira, lenta, gradual e segura, condicionada ao contexto concorrencial da televisão brasileira da época, e então é por isso que vemos a repórter Glória Maria perguntar, “então ok, vamos???” e saltar de “bungee jump”, com Pedro Bial comentando, “Glória propicia ao telespectador uma experiência, e o telespectador embarca e se sente mais que representado, ele se sente vivendo junto”, Glória, na ponta do cabo do salto, pede, “pode me puxar de volta, eu quero subir”, Bial aponta, “a chegada da Glória ao Fantástico, representou um reconhecimento mais do que devido, demorou”, Glória mostra as mãos após ser trazida para a plataforma de saltos, “eu tô tremendo”, Bial é enfático, “ela é a uma estrela de televisão”, Glória em pessoa diz em 2021 – e desde 2010 ela estava no “Globo Repórter”, depois de ter apresentado o “Fantástico” entre 1998 e 2007 - “todo esse tempo que eu vivi apresentando o Fantástico com Pedro foi um período inesquecível que faz parte da parte mais bonita da minha história profissional”, o Bial de 2023 sorri, “só o Brasil poderia produzir uma Glória Maria” – entra imagem de Glória sorrindo – “assim como só no Brasil poderia haver o Fantástico, ele reflete muito o que é a cultura brasileira, as aspirações do povo brasileiro, as ilusões, as desilusões, um programa muito brasileiro” – fixada em matérias de aventura e viagem, explicando porque domina esse DVD da série dos 30 anos, depois de um longo período lidando com “hard news” (quando era chamada por um de nossos generais presidentes de “aquela neguinha da Globo”...), Glória simbolizava exatamente esse difícil rito de passagem de um jornalismo “espetacularizado” para um padrão de reportagens mais “objetivo”, e não só apenas isso, era a cara do programa, posto que dividia com Pedro Bial - até ele começar a apresentar o BBB – e Zeca Camargo, hoje na Band - e que ainda não deu o ar de sua graça nesta série – não por acaso a concorrência dominical, quando quis dar um ar de respeitabilidade às suas atrações, vestiu-se de repórter, mostrando com imagens de helicóptero o local do acidente dos Mamonas Assassinas, na região de Guarulhos, em 1996, ou colocando Gugu Liberato vestido como morador de rua no “Sentindo na Pele” do “Domingo Legal” , em 1999... Com a palavra, Sandra Annenberg, “nos anos 1990, o Brasil, recém-saído da ditadura, eu acho que as pessoas buscavam explicações, que tinha muito mistério, que tinha muita dúvida, que tinha muito questionamento, tinha muita coisa mal explicada”... E olhe que ela não está falando necessariamente de política, “sino” de um tema que é apresentado por Celso Freitas (como diria o bordão de um quadro do programa na época, “estamos de olho”...) em 1996, “três pessoas de Varginha, no Sul de Minas juram que viram um ser muito estranho, nem homem, nem bicho”, e por Sandra, “muita gente acredita que trata-se de um extraterrestre” – antes de continuarmos, cabe chamar a atenção para o generoso tempo de tela dado a um apresentador da atração que saiu da Globo e continua na ativa, isso levando em conta que uma figura na mesma situação, Carolina Ferraz, atual apresentadora do “Domingo Espetacular” na Record, foi ignorada pela série especial, pressão do público depois do programa ter resgatado Cidinha Campos ou uma elaborada indireta para a concorrente, bem, dessa hipótese falaremos depois... Bial dá um risinho sarcástico, “o ET de Varginha, eu tenho a impressão de que tem as digitais do Luiz Petry nessa história”, alis, é ele o desorientado da vez no cenário do cinquentenário, agora com as luzes acesas, “o que eu faço, sento ali???”, devidamente acomodado, o ex-chefe de redação do “Fantástico” inicia o depoimento, “naquele tempo, as matérias de mistérios, que envolvessem discos voadores, ETs, eram coisas que eram comentadas” – ainda hoje, tinha golpista de cantar hino pra pneu que clamava pelos discos voadores para impedir a posse do Luis Inácio, digo – “tinha muito interesse nisso, quando uma fonte nossa de ufologia ligou e disse, apareceu um ET em Varginha, eu fiquei assim” – Olavo de Carvalho, é você??? -  “aí eu fui lá, entrevistei as meninas, elas estavam assustadas mesmo”, Liliane Silva, uma das garotas, se pronuncia, “tinha perna e braço normal, de um homem normal assim, mas a gente olhou direito não era assim um homem, tinha chifres” – talvez tenha sido Silas Malafaia, quem sabe... O terreno baldio onde teria aparecido o alienígena é mostrado em 1996 e em 2023, e a mesma Liliane, 27 anos depois, volta a relatar no local, “tinha uma criatura com três chifres na cabeça, chifres ou calombos na cabeça, era um homem bem baixo, braço e perna bem fino”, o terreno é focalizado do alto em 2023, e voltando a 1996, Celso Freitas narra, “segundo a descrição das três, o ser que elas viram teria esta aparência”, Petry olha com atenção e estranha, “é o grande retrato falado do ET de Varginha, é, antes era sem chifre, não sei porque em Minas eles ganharam chifre, não sei explicar” – de acordo com o Casseta e Planeta, a queixa do alienígena é outra, como dizia o humorista Reinaldo Figueiredo vestido como o ET numa visita à cidade onde zoou até o prefeito, “esse negócio de ET de Varginha tá pegando mal, não dá para ser ET de Pau Grande???”... Prossiga, Celso, “a história foi manchete nos jornais da cidade”, o povo se posiciona, “eles falam que parece um ET”, “pode ser”, “eu acho uma coisa satânica”, “ah, isso tá parecendo mais um capetinha”, avançando no tempo, são mostradas imagens aéreas de Varginha, incluindo edificações e um monumento em forma de disco voador (!!!), e a Liliane de hoje, pedagoga, afirma, no “Memorial do ET”, “pra cidade de Varginha foi muito bom, vem turista, tirar foto, vira e mexe a gente tá passando na nave, então tem gente tirando foto”, e tome “souvenirs” do extraterrestre, Bial tenta se levar a sério, “em tantos lugares do mundo escolheu Varginha, tem que se sentir agraciada”, mais ETs pela cidade, Bial faz o cético, “mas alguém arrumou alguma boa explicação pra aquilo, Petry possivelmente”, fala, Petry, “eu acho que a explicação mais plausível pro ET de Varginha é o seguinte, naquela rua, onde foi avistada a estranha criatura, morava um rapaz com deficiência, que ficava de cócoras, e o ET também ficava de cócoras, eu tendo a achar que a solução mais racional, é admitir que aquele rapaz foi confundido com um ET”, Liliane, que sabe porque esteve lá, discorda totalmente, “esse homem é o seguinte, ele mora no bairro onde foi avistada a criatura, e eles falaram que era essa pessoa pra abafar o caso, né, pra falar, foi ele e acabou, só que não foi isso, não foi ele”, a palavra está com Petry, “acho que é forçar demais a crença da gente, saber que existe um rapaz nessa situação, e não juntar as duas coisas, por que o ET apareceu de cócoras, nunca vi ET de cócoras, geralmente aparece, leve-me ao seu líder, imponente”, e revela, “a única coisa que foi boa pra mim é que algumas mães me acusaram de assustar as crianças, elas diziam, meu filho não tá dormindo, amanhã tem aula cedo, como é que você faz isso com as crianças” – um ano depois da reportagem do “Fantástico”, um repórter do “Ratinho Livre”, da TV Record, programa apresentado por Carlos Massa, que tinha sido contratado da CNT porque seu programa “190 Urgente”, onde comentava casos policiais, tirava Ibope do “Cidade Alerta”, convenceu um conhecido em Osasco, na região da Olaria do Nino, conhecido como “Sabiá”, a entrar dentro de uma caixa que seria aberta por Ratinho ao vivo no palco do programa, momento em que o repórter diria que se tratava de um alienígena, só que quando ele saiu da caixa, começou a brigar com os dois, e nesse momento surgiu a dupla ET e Rodolfo, integrada por Cláudio Chirinhan, o ET, e o repórter que o encaixotou e levou para os estúdios da Record, Rodolfo Carlos de Almeida, que se transferiram para o SBT dando cano ao vivo na atração dominical de Ratinho, o “Ratinho Show” e aparecendo no “Domingo Legal” de Gugu Liberato, onde fizeram matérias acordando celebridades – vide manchete “Gil Gomes dá tiro no ET” – invadindo festas, casas assombradas e praias de nudismo, que serviriam de inspiração para o Vesgo e Sílvio no “Pânico na TV”, alguns anos depois, alcançando um sucesso meteórico que os levou a lançar dois CDs, se bem que no segundo, Rodolfo já tinha brigado com Gugu, que preferiu ele mesmo fazer seu bonequinho comemorar a liderança no Ibope trabalhando forte no “Sentindo na Pele”, e a dupla se desfez, a gente não queria dar “spoiler” da participação de Paulo Vieira no especial, mas, enfim, ele vai citar a dupla do SBT na Globo... Ops!!!...

















Paulo Vieira faz o "Repórter Por Um Dia" trazendo o que mais tem no YT:  "react" de matérias dos anos 1990...































Como diria Marcelo Rezende, “pensa no seguinte”, Celso Freitas, que apareceu quase como em um “easter egg” anunciando uma das reportagens sobre o ET de Varginha, foi o primeiro apresentador do “Domingo Espetacular”, o emulo do “Fantástico” lançado pela Record em 2004, e cujo primeiro diretor era o mesmo Carlos Amorim da fase “barra pesada” do programa no início da década de 1990... O relato de Petry, evocando filmes clássicos de ficção científica, coloca em descrédito a narrativa de que o alienígena apareceu de cócoras, relato que lembra um reportagem que o “Domingo Espetacular” exibiu em outubro de 2010, feita por Arnaldo Duran, também ex-global, sobre o extraterrestre que aparecia no meio de um matagal, na região de Corguinho, no Mato Grosso, ao qual o repórter da Record foi conduzido pelo ufólogo Urandir Fernandes de Oliveira, e fez um pedido expresso aos terráqueos, “busquem conhecimento”, ET Bilu, o próprio – coincidência??? Nós achamos que não!!!... Então é por isso que Paulo Vieira trabalha forte como "scream queen" ao ver a imagem de um ET na tela da televisão com antena interna Plasmatic ®, seguido da respectiva apresentação, “oi, eu sou Paulo Vieira, eu sou Repórter Por Um Dia no Fantástico, eu sempre quis dizer isso quando era pequeno”, conseguindo agora comparecer no quadro que estreou em 1998, vide narração de Pedro Bial, “a partir de hoje no Fantástico, gente famosa vai ser repórter por um dia”, começando com Ivete Sangalo, “vai encarar???”, função que vários ex-BBBs desempenharam, muito antes do humorista ter quadro no "reality", Paulo prossegue, “como todas as crianças dos anos 1990, eu cresci traumatizado e fascinado pelas matérias que o Fantástico apresentava na época, então eu trouxe pro meio da rua essa televisão de tubo, vinda diretamente dos anos 1990, pra gente assistir novamente essas matérias e superar nossos medos, ela só precisa funcionar, anos 1990 sem Bombril na antena, apagou, é que ela esquenta” – o cenário está mais para uma cidade cenográfica na região de Curicica, mas, enfim... A primeira entrevistada é a executiva de conta Paloma Moussin, que ao ser perguntada, “você tinha medo???”, responde sem rodeios, “de muita coisa”, Paulo pede um exemplo, “o que eu mais tinha era do ET de Varginha”, Paulo concorda, “eu também”, Paloma recorda, “e foi ali, ET de Varginha e Chupa Cabra”, entra reportagem de César Tralli, feita em 1997, “galinhas, porcos, ovelhas, animais mortos de forma brutal e sem explicação”, a humorista Arianna Nutt aponta, “quando o Chupa Cabra apareceu, meu pai falou, taí as trombetas, porque meu pai é da igreja, olha as trombetas”, um relato da época dá conta do modo com que a criatura balançava a cabeça, além de fornecer seu retrato falado – e pensar que o avanço das igrejas evangélicas na verdade diminuiu o espaço para esse tipo de pauta, não que emissoras, pertencentes a igrejas ou não, tenham eventuais recaídas, mas, enfim... Paulo Vieira pergunta a advogada Larissa Voltarelli, “que matéria mais te meteu medo???”, ela aponta, “a autópsia do ET, quem não ficou em choque”, Paulo a cumprimenta, “agora você deu truco, essa pra mim é a melhor de todas”, Fátima Bernardes surge esguia em 1995, “ficção ou realidade???, as cenas da suposta autópsia de um extraterrestre só agora são mostradas na TV criaram uma enorme polêmica no mundo inteiro”, vem o filme, narrado por Celso Freitas (não dissemos???...), “as primeiras cenas do filme mostram o corpo do ET estirado sobre a mesa” – Larissa e Paulo só observam – “ele tem uma forma humanoide, crânio, tronco e membros”, o humorista comenta com a empresária e mãe de santo Jênnifer de Paula, “não dá pra falar de anos 1990 sem falar de ET, ET de Varginha, autópsia do ET, ET e Rodolfo” – aqui Paulo introduz sua “gag” verbal preferida, citar a concorrência da Globo, rotina cômica da qual tem o maior ciúme, vide o dia que gastou um “Big Terapia”quase inteiro para esculachar Larissa Santos, do BBB23, por ter citado o “Masterchef”, garantindo a repercussão do quadro ao cutucar sua “fanbase”, exibido antes da primeira eliminação de Larissa, quando ela, sem o filme queimado pelo Fred Boco Roso, liderava os rankings de popularidade dos competidores do “reality” – de volta a autópsia, Vieira vai de “tautismo”, “a Globo hoje só mostraria o corpo, blurzinho e ia falar assim, será que é verdade???, mas a Globo dá época”, Jênnifer ri, “ela ia fundo”, Paulo acrescenta, “eles vão cortar esse corpo, eles vão mostrar órgãos, eles não vão dar nenhuma satisfação”, Celso Freitas narra, “é um corpo sem pelos, com um crânio desproporcional, e um abdômen proeminente”, Paulo Vieira constata, “essa descrição, era a minha descrição”, Arianna ri litros, “e hoje só mudou o pelo”, o humorista finge contrariedade para prolongar o “punch” da piada, “ah, engraçado”, Celso encerra sua narração, “fim do filme”, Pedro Bial relata, “eu investiguei aquilo e foi um golpe espetacular”, ou como perguntou em 1995, “até agora, quanto dinheiro o senhor ganhou vendendo esse filme”, teve como resposta de Ray Santini, o descobridor da película, “não vendi ainda”, Bial alerta, “pelo menos nessa resposta, Ray Santini não disse a verdade, nós obtivemos um fax da empresa dele” – “Roswell Footage”, referência ao local onde teria sido feito o filme, em 1947 – “cobrando de uma TV norte-americana a quantia de 200 mil dólares, pelo acesso às imagens” – é comovente o esforço global para demonstrar o “rigor jornalístico” das matérias sobre ETs – Arianna comenta, “a matéria da autópsia do ET foi demais, eu tive medo” – se bem que na semana seguinte a exibição da matéria, Fausto Silva disse no “Domingão do Faustão” que um sobrinho perguntou sobre o alienígena para ele, “é o Zé Gotinha???”... A humorista Anne Freitas fala para Arianna que também ficou com medo da reportagem sobre a menina que chorava cristais, “eu fiquei uma semana assim” – puxa as pálpebras – “pra saber como devia ser pra sair esse vidro, por dentro”, Pedro Bial apresenta a história em 1996, “as lágrimas de cristal de uma garota de 12 anos intrigam os cientistas e comovem o mundo”, Cesar Tralli comparece na casa de Hasna, no Líbano, “a família de Hasna mora num vilarejo no Bekaa, próximo da Síria, Hasna, o motivo da nossa longa viagem, aparece depressa”, Tralli relata em 2023, “e lá estava aquela menina nos esperando, tímida, tava o pai, a mãe, um médico oftalmologista que a gente pediu pra ir junto, também pra dar uma olhada nessa situação, o que era isso”, voltando a 1996, “Mohamed abre o olho da menina, e de repente salta da pálpebra uma pedrinha cristalina”, retornando a 2023, “nós sentamos, ficamos horas ali com a família, esse médico não conseguia entender o que era aquilo”, de novo em 1996, “naquele dia, foram retirados seis fragmentos de cristal”, para o doutor Nassib, não há nada parecido na literatura científica mundial”, mais uma vez em 2023, “nós voltamos para o Brasil e explodiu aqui a história da Hasna”, cabe a Luizinho Nascimento esclarecer, “depois descobriram que era o pai que colocava pequenos pedaços de vidro no olho da menina, e ao comando do pai, a menina expelia alguns pedaços de vidro, mas aí é o seguinte, o Tralli voltou lá, pra mostrar que aquilo era uma farsa na verdade”, vide coletiva com a bandeira da Arábia Saudita ao fundo, “uma equipe de oftalmologistas sauditas e libaneses anuncia o o fim doi mistério, Hasna não é paranormal”, Tralli em 2023 conta, “nós voltamos lá para tentar entrevistar o pai, pra questionar em relação a esse fato”, e em 1996, “Mohamed se recusa a mostrar a menina e se descontrola quando perguntamos se tinha conhecimento da farsa”, na verdade, respondeu em francês, de cigarro na mão, “je ne sais pas”, porém Arianna é taxativa, arrematando a piada, “dá pra ver escrito na cara do pai, charlatão em Times New Roman”, Paulo Vieira se acaba de rir, despedindo-se, “então é isso, eu queria destraumatizar o povo, eu fiquei mais traumatizado, esse vai ser o meu presente de 50 anos pro Fantástico, um processo, brincadeira, então é por isso que a gente ama esse programa, faz parte da nossa vida, eu sou Paulo Vieira, e eu fui Repórter Por Um Dia no Fantástico” – quem veio pelo vídeo do Canal 90, curte aqui, não que Paulo Vieira tenha feito algo extraordinário, algumas cenas lamentáveis ficaram de fora de seu "react",  como por exemplo a matéria que  Pedro Bial fez em Londres com o falso guru Baba Wa Samba e sua "Terapia do Leão", em 1995, popularizada pelo canal Galãs Feios, ou o áudio vazado do mesmo Bial em 1998, no início de uma reportagem de Glória Maria sobre o balé Kirov,  na Rússia,  "isso é coisa de veado", e que forçou ele a fazer uma retratação no domingo seguinte, a matéria de Tralli já é de uma época que o videocassete era mais disseminado nos lares brasileiros, e as gravações feitas então começariam a aparecer no YT uma década depois, alimentando mais alguns anos a frente uma onda de canais de nostalgia e de "react", ou com ambas as duas coisas, está aqui o Nogy que não nos deixa mentir com seus   vídeos sobre a garota que chorava cristais, o Padre Quevedo... Alis, é sobre ele que fala Pedro Bial, “nessa tradição de histórias sobre um sobrenatural, inexplicável, o show da vida, viagens que não se pode contar, o Padre Quevedo dá um cavalo de pau, trata desses mesmos assuntos, mas já os questiona frontalmente” – inclusive o médium João de Deus, anos antes do documentário feito pelo próprio Bial -  segue-se vinheta, “Padre Quevedo, O Caçador de Enigmas, Luiz Petry assinala, “o Padre Quevedo pra mim teve papel fundamental nessa transição do Fantástico para a ciência, pro lado racional das coisas, o esforço da gente para desmascarar falsos paranormais, falsas casas assombradas” – bem diferente da fase em que o programa dava crédito, por exemplo, ao místico Thomas Green Morton, aquele do “Rá!!!”, mas isso a Globo não mostra, o Canal 90 sim – Petry prossegue, “o episódio do Quevedo que ficou mais famoso, foi aquele que ele entrevistou o próprio diabo, seu Lucífer” – a versão do “Hermes e Renato” é melhor ainda – Cid Moreira narra em 2000, “esta noite o Padre Quevedo vai enfrentar um homem que afirma ter feito pacto com o demo”, Petry relata em 2023, “a casa do seu Lucífer era bem longe, um lugar meio perigoso, inclusive”, Lucífer ri – diabolicamente, claro – Quevedo pergunta, “boa noite, senhor Lucífer, o senhor é Lucífer”, ele confirma, “Sou Eu Mesmo”, Quevedo folheia seu livro “Antes Que Os Demônios Voltem”, originalmente uma tese de doutorado, que o levou a seis anos de “silêncio obsequioso” por seu superior na ordem dos jesuítas, do qual saiu por interferência direta da CNBB junto ao Santo Ofício no Vaticano, Petry revela, “o que tem de interessante nessa matéria é que não aparece na tela, é o seguinte, em volta daquela conversa tinha um monte de seguidores do capeta ali, e com o tempo, esse pessoal foi ficando irritado com Quevedo, porque Quevedo tava simplesmente achincalhando a entidade que eles glorificavam”, Cid Moreira em 2000 narra, “Lucífer se irrita”, ele fala, “eu posso matar, eu posso destruir”, Quevedo provoca, “eu estou pedindo quixotescamente de joelhos, a Lucífer, que com os seus poderes, me dobre este dedo” – um clássico, não acha, Fausto Carvalho – Petry acrescenta, “e o principal de tudo é quando ele se ajoelha e pede pro diabo, mate-me, me peço de joelhos, mate-me, por favor”, o próprio Quevedo pede, “mate-me, te peço de joelhos”, Lucífer responde, “terás aquilo que mereces”, Petry conclui, “então fomos verificando que Lucífer foi ficando hostil, até que a gente foi obrigado a pegar o Quevedo pela mão, tirar ele dali, colocar na van e trazer de volta, porque o negócio podia ficar feio” – embora agora o “Fantástico” reconheça os méritos da postura de Quevedo (mais o ceticismo que o método científico, mas, enfim...), na ocasião que foi lançado o quadro era tratado com o sucessor de “Mister M”,  grande sucesso do programa em 1999, revelando os truques por trás de mágicas famosas (e que na década anterior preenchiam espaços generosos na atração...), porém, como vamos mencionar mais adiante, o quadro ia além da revelação da prestidigitação, e durou pouco... Sandra Annenberg comenta, “o Fantástico tem uma história de 50 anos, porque ele conseguiu ao longo desses 50 anos, contar a nossa história, eu tava vendo ali o Retrato Falado da Denise Fraga, que era brilhante, era brilhante, porque ela falava do público, o retrato era o retrato do telespectador”, entra vinheta, Denise narra, “essa semana o Retrato Falado vai contar a história da Eliane de Melo, de São Paulo”, que relata, “aí a Natália cismou de querer entrar no cemitério”, a atriz vivendo Eliane reluta, “entrar no cemitério no escuro, nem morta, quer dizer, só morta, e olhe lá” – só uma coisa não bate, a indicação de que o quadro foi exibido de 2000 a 2007, o episódio não é sobre a década de 1990???... Denise conta, “a gente recebia muitas e muitas cartas e e-mails por semana, essas pessoas eram entrevistadas nas suas cidades, em todo o Brasil, e aí vinha essa fita, com essa entrevista, ficava vendo ouvindo aquela pessoa, vendo aquela pessoa, tentando colocar aquela pessoa dentro de mim”, a atriz toma um susto no cemitério, Eliane relata, “quando a gente voltou no portão, ele estava fechado”, momento em que recebem a ajuda de ninguém menos que Sandy e Júnior, “tenta pular que a gente segura”, e a filha pula sem que a mãe perceba, enquanto Sandy aconselha, “vamo, tia, pula” – sem alusões aos presentes, digo  - Denise continua, “uma coisa que eu acho linda no Retrato é que ele era uma homenagem a essas mulheres que tiveram a capacidade de rir de si mesmas, a gente sempre se preocupava em ri junto com ela, em rir do que ela ria, e nunca rir dela, mas ri com ela”, então é por isso que Sandy e Júnior começam a cantar “Vamo Pulá” na porta do cemitério – do que os contratos de exclusividade da gestão Marluce Dias da Silva (1997-2002) eram capazes... A repórter Renata Ceribelli senta na poltrona e recorda, “nos anos 1990, a gente vivia a expectativa da virada do século, será que o mundo vai acabar”, Renata ri, entram imagens apocalípticas de filmes estadunidenses e de uma procissão no interior do Brasil, que Pedro Bial narra, “quantos profetas do apocalipse não anunciaram, de 2.000 não passarás, a equipe de produção do Fantástico fez um levantamento e descobriu que no Brasil vários grupos acreditavam no juízo final para o último dia 31”, o Bial de hoje explica, “como no jornalismo o motor de todo pensamento é a desconfiança, apesar de saber que é muito improvável que o mundo acabe de 1999 para 2000, vamos mandar a nossa repórter lá pra mostrar o pessoal que acredita nisso, se o mundo acabar, a gente vai ter o relato dela, aí a Renata Rodrigues, cumpriu essa missão”... É a deixa para Denise Fraga reviver seu quadro, “e hoje, Bial, a gente vai fazer um Retrato Falado especial pra contar a história da Renata Rodrigues, a história da Renata faz parte da história do Fantástico, e é uma história fantástica”, a própria Renata, hoje coordenadora de produção internacional do programa, relata, “eu tava trabalhando no Fantástico tinha só uns três meses, mais ou menos, recém-chegada, só que a vaga que eu tava ocupando, era temporária, ia acabar depois de alguns meses, eu queria impressionar, pra não sair do Fantástico nunca mais, pelo resto da vida”, questionamento feito por Denise interpretando a repórter, “o  que eu faço, 100 Pais-Nossos, 100 Ave-Marias”, vem a resposta, “aqui não adianta apelar para Deus, tem uma figura acima dele, o Luizinho, o homem que não sorri” – no caso, Luizinho Nascimento, diretor-geral do programa, que aparece numa atitude um tanto quanto diferente do estilo que adotou na atração, em que quadros de comportamento, dramaturgia e humor eram o contrapeso das reportagens (a princípio...) mais sérias... Que é o foco do relato de Renata, “sei que um dia eles convocaram a equipe pra uma reunião de pauta especial, era pra gente sugerir pautas pra virada do ano, de 1999 pra 2000”, o que a faz a versão Denise da repórter acabar com o estoque de revistas da banca, “preciso inventar uma pauta, é a única chance que eu tenho de continuar aqui”, sem achar nada de interessante, “nadica de nada, todo mundo só fala dessa bobagem de Bug do Milênio” (o “nadica de nada” é maneirismo de Denise, hein...), e tome arte, “o Bug do Milênio não é o bugue de um sujeito chamado Milênio, é uma falha geral nos computadores, muitos sistemas foram programados usando apenas os dois últimos dígitos do ano pra economizar espaço de armazenamento de dados, e quando o ano 2000 chegasse, esses sistemas poderiam interpretar que estavam em 1900, muita gente pensava que isso poderia causar desastres terríveis, mas a única coisa que aconteceu é que alguns computadores mostraram a data errada” – essas artes explicativas, que em geral eram narradas pelo ator José Rubens Chachá, eram a marca registrada do quadro, e serviam como assinatura do seu principal roteirista na época, o escritor e jornalista José Roberto Torero... Nesse momento, Denise, encarnando Renata, exclama, “opa, isso aqui pode dar alguma coisa”, e a repórter lembra, “em uma das revistas, eu achei lá uma notinha falando que existia uma seita em Juazeiro do Norte, no Ceará, que achava que o mundo fosse acabar no final do ano, de 1999 pra 2000”, Denise indaga, “será que o Luizinho vai gostar”, a colega de redação responde, “só Deus sabe”, a repórter vivida pela atriz apesenta a pauta meio sem jeito, “e é isso aí”, e o diretor versão “Retrato Falado” se pronuncia, “deixa eu ver se eu entendi, você quer fazer uma reportagem sobre uma seita que fala que o mundo vai acabar, você acha que isso é uma boa pauta, é ótima, vamos nessa”, Denise comemora, “ai que bom, o difícil vai ser achar um repórter que tope perder a passagem de ano”, Luizinho arremata, “isso não é problema, você que vai”, deixando a Renata do quadro perplexa, “eu, que maravilha” – bom “punch” de humor, quase no mesmo patamar da Câmera Escondida em que Gibe, fantasiado de profeta do apocalipse, fazia explodir bombinhas nos bancos de praça ocupados na região central de São Paulo... Ops!!!... Onde estávamos, Renata, “ai, quando veio nas vésperas de eu viajar, bem assim tipo véspera mesmo, eu ligo para a seita para acertar tudo da minha chegada, e o coordenador lá da seita, vira e vem me falar assim, olha, como você é mulher, aqui mulher só entra na seita se estiver vestindo azul, longo, mangas compridas, aqui fechado”, colocando a mão no pescoço, Denise questiona, “mas onde que eu vou arranjar uma roupa dessas, acha que eu tenho um acervo de figurino, ah, eu tenho sim”, Renata continua, “eu liguei no acervo e perguntei, né, vocês tem um vestido azul assim assado, o cara olhou assim pra minha cara, olha, tem um manto de Nossa Senhora aí, serve”, lá vai a atriz pedir a aprovação da redação, “o que você acha dessa roupa”, “divina”, “divina do céu ou divina de bonita”, o Luizinho do quadro ri, “milagre de Nossa Senhora”, Renata confessa, “eu pensei assim, vai que o mundo acaba, eu tô abençoada, e fui-me embora”... A expectativa era de um massacre de fanáticos religiosos, a realidade, ilustrada com trechos da matéria original, “quando eu cheguei em Juazeiro, eu comecei a vestir o manto azul dentro do carro, e eu lanço mão dos óculos escuros pretos, e até hoje eu não sei o sentido daquele visual que eu tava usando, aí eu viro para a pessoa que eu tava acompanhando, tem uma forma de eu me reportar ao líder da seita”, a resposta é usada na chegada ao local do culto, “oi, meu Mestre”, - Renata vai em frente, “chegou de noite, e era hora de ir para o cemitério, eu cheguei, era um cemitério que não tinha luz elétrica, enorme, não se via nada na frente, e a única coisa que podia iluminar a gente eram as tochas, só que, por sua vez, as tochas atraíam uns bichos que ficavam voando na luz, tudo na boca da gente, então, então eu botava a mão na boca, com o microfone, tipo, protegendo para o Ano Novo”- aqui se nota que a parte registrada pela reportagem não foi reconstituída por Denise, coincidência ou contenção de gastos, digo... O clímax da reportagem vem na voz de Pedro Bial, “chega o Ano Novo, ao fundo Juazeiro comemora”, Renata nem tanto, “aí a meia-noite, meia-noite e alguns segundos, meia-noite e um minuto, aí ficou aquele climão, os fieis  todos lá, o Mestre, esperando o mundo acabar, aí eu falei, gente, o mundo acabou mas a matéria tem que ter um fim, missão cumprida, já tenho a matéria, só falta chegar no Luiz”, vide uma apreensiva Denise na redação, “nada até agora, fui lá, fiz a matéria sobre o fim do mundo e o Luizinho, ó, nem tchuns, meu prazo termina hoje, é o fim, colega, meu mundo acabou”, então é por isso que o diretor se pronuncia, “é, gostei da reportagem, cê tá contratada”, e uma estupefata atriz olha para a câmera, “o mundo não acabou”, e Renata diz satisfeita, “é uma história que eu conto sempre, eu adoro, faz parte da minha história, e ter feito isso no início da minha carreira no Fantástico, me deu uma ideia do que é o programa, que é um programa desafiador”, entra vinheta do “Retrato Falado” - outro recurso importante usado para enfrentar o sorriso de Silvio e as risadas de claque das "Câmeras Escondidas" e deixar o programa menos sisudo e com ar mais jovial,  de modo a não ser rotulado como "quadrado",  foram os quadros de humor, não muito destacados neste episódio para dar veracidade ao retrato do diretor Luizinho Nascimento como “o homem que não sorri”, e são dessa fase "Mister Bean",  o próprio,  com exibição de quadros extraídos dos 15 episódios da série inglesa de 1990, em 1995, o primeiro foi o da prova com o rabo da pantera cor-de-rosa para frente (!!!), "Plantão Casseta e Planeta", também de 1995, depois do grupo ter popularizado o bordão "É pro Fantástico" por meio do personagem Devagar Franco, uma imitação do presidente Itamar Franco a cargo de Reinaldo Figueiredo, em que o grupo de humoristas imitava os apresentadores e repórteres do programa (vide Celso Fritas, Ótima Bernardes - que virou garota-propaganda de um livro de cartuns de Reinaldo - Pedro Miau, Chicória Maria, Jeca Camargo, Maurício Kibrusco...) e durou até a estreia do "Casseta e Planeta Urgente" semanal, em 1998 (uma boa retrospectiva do quadro está no DVD de Humor da série dos 30 anos...), tempo suficiente para aperfeiçoar o uso do piloto Rubens Barrichello como esparro e, nas noites de terça-feira,  tirar uma com a cara do "Show da Vida" e do projeto "Brasil 500 Anos" com o quadro "Os 500 Anos do Fantástico" - conforme visto no YT, as duas atrações estrearam no mesmo dia, 23 de abril de 1995, como atestam  Fátima Bernardes, "a turma da Casseta e Planeta cada vez mais irreverente", logo na estreia colocando Rubinho na roda, e Sandra Annenberg, "Mister Bean é o personagem de uma comédia que faz sucesso em 83 países", junto com quadros apresentados por Regina Duarte, "uma dona de casa fazendo fofocas em família", diz Fátima, sem citar a evidente inspiração na personagem Vamércia, vivida pela comediante Maria Tereza em "A Praça é Nossa", do SBT, Lima Duarte, "as histórias de um mundo sem limites", segundo Celso Freitas, "histórias fantásticas", para o próprio Lima, e um enlatado dos mágicos Siegfried e Roy, "direto de Las Vegas", avisa Celso, e que não contavam seus segredos para ninguém (!!!) -  e "A Vida ao Vivo", de 1997, com Luis Fernando Guimarães Pedro Cardoso, trabalhando forte na comédia de costumes e no "nonsense" ("Mim Tarzan,  você ruiva louca da selva"...) e que daria origem ao programa "Vida ao Vivo Show", em 1998, que teve uma existência breve, inexplicável até hoje... O "Retrato Falado" já é uma manifestação tardia dessa tendência – a rigor, deveria estar no próximo episódio, sobre a primeira década do século XXI, alis, ele nem era parte do “Fantástico”, sino do “Zorra Total”, que estreou em março de 1999, criado por Maurício Sherman para atacar um flanco de audiência da Globo nas noites de quinta-feira, quando o “Ratinho Livre” da Record começou a disparar na audiência em cima das reprises dos especiais de fim de ano da Globo no começo de 1998, e um ano depois, já no SBT, o “Programa do Ratinho” alavancava seu próprio Ibope e da série de humor “Ô Coitado”, com Gorete Milagres e Moacyr Franco… Não foi o fim das dores de cabeça globais, remediadas somente com a estreia do “Linha Direta” em maio de 1999 (e cujo piloto, já comandado por Marcelo Rezende, foi mostrado no próprio “Fantástico” meses antes, ainda em 1998...) - dois meses antes de Moacyr e Gorete brigarem e encerrarem a parceria bem sucedida em “Ô Coitado”- deslocando o “Zorra Total”, ainda com o quadro de Denise, para enfrentar “A Praça é Nossa” nos sábados à noite, a atriz só  estrearia o “Retrato Falado” no “Show da Vida” em maio de 2000, realizando “Copas de Mel” em 2002, onde sua personagem acompanhava “in loco” os quatro títulos mundiais da Seleção Brasileira, tendo a sorte de testemunhar o penta na Coreia e Japão, e “Dias de Glória” em 2003, mistura de jornalismo e dramaturgia que não agradou alguns figurões do  recém-empossado governo de Luis Inácio e paradoxalmente saiu do ar quando Denise protagonizou uma peça publicitária oficial sobre a Reforma da Previdência… A atriz voltou a fazer o "Retrato Falado", seguindo com o quadro até 2007, numa fase em que o "Show da Vida", nocauteado pela "Casa dos Artistas" do SBT e com seu caráter “novidadeiro” sobraçado pela avalanche de informações oferecidas pela Internet, teve uma queda dramática de repercussão, numa crise que durou mais de uma década, e depois que Denise foi para a geladeira devido ao fiasco da série “Norma”, mostrada em 2009, após o “Fantástico”, exatamente o horário que foi exibido entre 1996 e 2002 o “Sai de Baixo”, que teve como uma das inspirações a empregada que ela vivia na peça teatral “Trair e Coçar é Só Começar”, o “Retrato Falado” reapareceu no canal Viva, a partir de 2010, junto com outros quadros de dramaturgia do “Fantástico”, quase todos produzidos na "década perdida" do  programa, como “As 50 Leis do Amor” (2004), Sitcom.Br (2004), “Damas e Cavalheiros” (2005), “O Super Sincero” (2006), “Sexo Oposto” (2008), Bicho Homem (2009), etc, etc, etc, a título de tapa-buraco… Denise Fraga diz, “a gente ficou muito contente com esse convite pra voltar a fazer o retrato, pra contar essa história, nesse programa, que faz parte da minha existência, de alguma maneira é a minha história, e o Fantástico foi sempre conhecido pelos quadros, e ser um desses quadros do Fantástico é um desses prêmios que você ganha na vida” – até porque, como já vimos, o “Retrato Falado” começou no “Zorra Total”... Corta para cenas do “Plantão Casseta e Planeta”, “A Vida Como Ela É”, “Na Geral”, com Regina Casé – Luizinho lembra, “fez várias séries no Fantástico, umas muito divertidas, outras sobre comportamento, ela adorava fazer Fantástico”, inclusive questionando o taxista que parou em cima da faixa de pedestres na região central do Rio de Janeiro, em 2002, fora do período abordado no episódio, “e você não acha que essa gente toda não tá com pressa???”, “sabe o que eu vou ter que fazer, deixar o pessoal atravessar aqui dentro do teu táxi”, teve um quadro sensacional sobre pessoas que fazem xixi na rua, porém esse é de 2003, ainda mais distante da década de 1990 – e “Me Leva Brasil”, que foi de 2000 a 2017 – ou seja, mais um anacronismo na área - com Maurício Kubrusly,”você vai conhecer agora o homem mais mau humorado do Brasil, nome, Seu Lunga”, que o repórter apresenta, “Seu Lunga tem uma loja de ferro-velho e umas ideias, e ele não gosta de dar entrevista”, o que demonstra enfiando a mão na câmera, “por que você não pede licença, porque dessa idade até ontem, eu nunca levei repreensão, eu só falo com lógica”, Maurício mostra, “a casa do Seu Lunga é essa” - não confundir com o Lunga do "Bacurau", Silvero Pereira, corre aqui - Pedro Bial lembra, “Maurício corria o Brasil a cada semana, com histórias extraordinárias que realmente expressavam a vivacidade da cultura brasileira, e ele tinha um faro, uma sensibilidade para tocar aquilo” – hoje, tipos como os descobertos pelo repórter surgem no YT, Tiringa, corre aqui – e voltando ao velho Lunga, “ele não quer conversa, melhor não chegar perto, fica sério e bravo no seu posto de sempre ali no balcão”, Bial aponta, “Maurício Kubrusly merece todas as nossas homenagens, não só pelo Me Leva Brasil, mas o Me Leva Brasil abriga toda essa obra desse enorme jornalista” – para quem quiser saber mais, um livro escrito por Kubrusly sobre o quadro foi lançado em 2005, fica a dica... Entram imagens de uma praia, que a princípio lembram o começo da matéria com Larissa Manoela, mostrada na semana passada, mas são de Maurício Kubrusly, como explicado nas legendas, “Maurício Kubrusly hoje vive no Sul da Bahia com a esposa, Beatriz Goulart, e com Shiva, o simpático cachorro que o acompanha na praia, deixou sua São Paulo do coração para mergulhar na natureza depois que foi diagnosticado com demência fronto-temporal (DFT), a memória se foi, mas como ele sempre diz, permanece sua enorme paixão pela vida e pela gente brasileira”, e o ex-repórter prossegue o passeio pela praia - na receita de Luizinho para fazer o "retrofit" do "Fantástico" nos anos 1990, havia as reportagens de fôlego, os quadros de humor, quadros de comportamento e sobre aspectos curiosos da vida brasileira, filão explorado de início por Regina Casé e consolidado por Maurício Kubrusly, e como ponta de lança da estratégia de se fazer ouvir pelo público jovem, a contratação de Zeca Camargo, que atuando em quadros como "Altos Papos" (1998), "Aqui se Fala Português" (1998) – Maurício Kubrusly fez “Aqui Não Se Fala Português”, espécie de precursor do “Me Leva Brasil” -  "A Fantástica Volta ao Mundo" (2004) – que também virou livro, as entrevistas internacionais estão em “De A-Há a U2”, lançado em 2006, inclusive o enquadro que tomou de Madonna - "Novos Olhares" (2007)” – mais um livro, Estante Virtual – e “Medida Certa” (2012), adivinhem,  foi a cara do programa por mais de uma década, mas hoje, prestes a estrear “Melhor da Noite”, o substituto do "Faustão na Band" – poucos minutos depois da matéria foi exibido o vídeo que Fausto Silva gravou do hospital onde está internado com insuficiência cardíaca, aguardando na fila por um transplante de coração – Zeca foi ignorado neste episódio sobre a história do "Fantástico", aparecendo somente quando aquele anúncio que fez para uma bandeira de cartões de crédito interrompe os vídeos na Internet... E para ninguém falar em implicância da nossa parte, outro esquecido ilustre desta parte do especial é Marco Antônio Uchoa, um especialista em reportagens sobre temas sociais, que saiu de cena em 2005... Começa o testemunho da repórter Renata Ceribelli, “eu já era muito fã do Maurício Kubrusly, né, o repórter era uma coisa mais engessada, mais padronizada, eu diria, a postura, e o Maurício tinha a personalidade dele, e eu lembro de falar, eu gostaria de fazer Fantástico, para ter a minha personalidade, poder rir, fazer matérias de comportamento”, e vem a vinheta, “Elas Só Pensam Nisso”, e a repórter em ação em 2001, “a gente sabe o que as mulheres pensam daqueles homens que adoram comentar entre os amigos, detalhes da noite anterior”, vem as respostas, “canalha”, “galinha”, Renata questiona, “e quando a mulher faz isso com os homens”, recebendo como respostas risos, “hã???”, “moderna”,  suspira em 2023, “eu tenho muita saudade desse quadro, eu acho que falar de sexo em televisão, é muito importante”, se empolga ao saber de “detalhes picantes” em 2000, e explica nos dias atuais, “a ideia era a gente fazer, colocar os homens em situações que a gente sempre se via, sabe, a mulher”... Então é por isso que Renata aparece num desfile de homens só de roupa de baixo, “diga-me que cueca você usa que eu te direi quem és”, a gerente de produto Lilian Tozato avalia uma samba-canção estampada com pimentas dedo-de-moça, “um homem ousado, divertido, que deixa a mulher tirar a roupa”, e a repórter ironiza, “e cair na risada”, comentando em 2023, “depois dessa reportagem da cueca, a gente foi visitada por alguns homens da redação que não gostaram, falaram, isso que vocês tão, isso não é feminismo, isso é machismo, cês não podem fazer isso, com um homens”, mais um questionamento de época, “como é que você se sente???”,  o homem responde, “traído”, a Renata atual prossegue, “é uma brincadeira, alguns viram graça, outros não viram, eu acho muito graça até hoje” – afinal, o SBT nessa mesma época oferecia o atento Moisés no “Topa Tudo Por Dinheiro”... Ops!!!... Renata reflete, “o Fantástico já era um programa que refletia o comportamento do brasileiro, as tendências, o que vinha acontecendo”, o televisor da sala do repórter secreto zapeia por clipes de pagode até chegar a “Inaraí”, do Katinguelê, Renata explica, “nos anos 1990, a gente vivia o momento de ouro dos grupos de pagode, que ficaram milionários, era uma explosão deles, e no meio disso, aconteceu um drama, que o Fantástico cobriu, e teve um final muito inusitado”, nas palavras de Glória Maria em 1999, “o sequestro da mãe do sambista Salgadinho em São Paulo mostra que a fama pode ter um preço muito alto”, Renata prossegue, “e a condição do sequestradores para devolver a mãe era, pagar acho que um milhão”, o próprio Salgadinho, em 2023, “aí eu disse, putz, como é que eu vou fazer para levantar uma quantia dessas, e aí começou o desespero, e aí a gente decidiu falar com a Renata”, que confirma, “o único socorro dele era a imprensa e eu vou falar, eu só vim para falar que eu não tenho dinheiro, me pede outra coisa”, Salgadinho declara em 1999, “se eu tivesse um milhão eu daria agora, daria mais se eu tivesse, para ter a minha mãe de volta”, a repórter continua em 2023, “e aí ele deu essa entrevista muito emocionada, muito verdadeira, e antes dela ir ao ar, o Fantástico fez as chamadas” - a cargo de Cid Moreira – “e aí corta, a mãe dele foge do cativeiro, pulando a janela, pergunto a ela, como a senhora fugiu, olha, eles estavam todos muito nervosos porque tinha aparecido uma chamada que o Salgadinho, meu filho, ia falar no Fantástico, na hora do programa, eles foram para uma casa vizinha, e me deixaram sozinha, foi o momento que eu fugi”... Hora da mãe do músico, Catarina Nogueira, confirmar tudo, “quando foi no domingo, eu planejei mesmo, a minha fuga foi fantástica, graças a Renata, foi fantástica”, a repórter fica encabulada, “indiretamente o Fantástico ajudou a liberar a mãe do Salgadinho, a gente dá risada hoje, obviamente, porque teve um final feliz na época, mas uma história muito curiosa” – vinda de dois programas focados no mundo do entretenimento, o “ViTrine” da TV Cultura, e o “Vidio Xô”, da própria Globo, Renata estava inserida no contexto, a escalada de sucesso de Ratinho,  da CNT a Record e ao SBT entre 1997 e 1998, levou a um "boom" dos programas de auditório,  em que nomes estabelecidos experimentaram um êxito renovado,  como Gugu Liberato no "Domingo Legal",  Raul Gil, o próprio Silvio Santos com a nova fase do "Qual é a Música, "Show do Milhão"  e a "Casa dos Artistas", novos apresentadores surgiram, Celso Portiolli,  Gilberto Barros, Luciano Huck, Otaviano Costa,  Ed Banana (!!!), o único apresentador de auditório que não surfou essa onda foi Fausto Silva,  ao contrário,  foram os piores anos do "Domingão do Faustão",  um sintoma de que a Globo via escapar de suas mãos,  entre plateias repletas e grupos de axé e pagode campeões de vendagem de CDs,  o controle sobre o "mainstream"  do "show business"  brasileiro,  que mantinha graças ao êxito das novelas,  e tudo isso vai desembocar em ostensivas coberturas, nas quais o “Fantástico” esteve envolvido, como a do assalto em que o ator Gerson Brenner foi baleado, o acidente de carro de Latino e sua namorada Kelly (que ainda não era Key...), o nascimento de Sasha Meneghel, o acidente em que Alexandre Pires matou um motociclista, o sequestro de Wellington Camargo e da mãe de Salgadinho,  não raro disputando entrevistados no tapa com o SBT, como aconteceu com Sônia Abrão interrompendo a entrevista com a então “sócia” de Gerson”, Denise Tacto, ou quando a reportagem da TV Serra Dourada interferiu no link da concorrente TV Anhanguera no momento em Wellington aparecia na sacada da casa da família em Goiânia após sua libertação...















"Retrato Falado" do "Bug do Milênio" não foi feito por acaso, matéria é sobre anos 1990, mas quadro é de 2000..
































E cabe a Salgadinho dar o gancho para o próximo tema, como que num passe de mágica, “nessa época, o pessoal do grupo pegava notícias na estrada pelo Fantástico, e o Mister M, assim, era o ápice, né, tipo, a aparição da minha mãe foi como que uma mágica do Mister M, cara”... Entram imagens de crianças saudando sua visita ao Brasil, em 1999, nas palavras de Cid Moreira na época, “o Mágico Mascarado pode sentir o carinho dos brasileiros”, e de um entrevistado no fala-povo, “aquela música dele faz até arrepiar”... É a deixa para a vinheta original do quadro - “Mister M, O Inimigo No 1 dos Mágicos”,  mostrado no programa entre janeiro e setembro de 1999, com base no material de quatro especiais exibidos pela Fox estadunidense e narração do próprio Cid, que também o introduz em cena agora, em 2023, “sim, é verdade, ele voltou pra comemorar os 50 anos do Fantástico, Mister M, seja bem vindo ao Show da Vida, mas o que você tá aprontando aí, hein, o paladino mascarado mostra a cadeira vazia, ele tira a capa, nada de um lado, nada de um outro, será que vai aparecer alguém ai???”... Sim, Cid Moreira em pessoa, que se mostra surpreso, “epa, como eu vim parar aqui, seu” - e encarando a câmera - “Mister M, você é Fantástico” - poderia ter dito “isso é um espanto”, bordão com que arrematar um quadro sobre fatos inacreditáveis na mesma época que os números do mágico apareceram no programa, que os Cassetas mudaram para “isso é um espeto” e Cid usou para definir o nascimento da atração no DVD de 2003, “eu era um espanto”, em especial devido a música tema que “saudava o advento de um homem de plástico”, e nem se falava na contaminação por microplásticos… Ops!!!... Uma criança de 1999 opina, “eu gostei muito do Mister M, esse foi o dia mais feliz da minha vida”, e Cid “digere” a palavra ao mágico como se fosse um velho amigo, “faz um bocado de tempo que a gente não se via”, e ele responde, “sim, tempo demais, eu passei bastante tempo esperando por este dia”... Seguem-se cenas do quadro e o relato de seu redator, o mesmo Luiz Petry que tornou famoso o ET de Varginha, “o Mister M foi a grande felicidade no Fantástico, porque a gente tinha comprado um programa enlatado, que era um mágico que explicava como funcionavam as mágicas, aí a gente estava na ilha de edição olhando, olhando, aí eu tive uma ideia meio ridícula, falei, por que a gente não bota o Cid Moreira pra ler isso, a ideia parecia ridícula porque até então o Cid, ele foi a voz da sobriedade no Jornal Nacional, e a proposta que tava sendo feita pra ela era fazer uma brincadeira, e eu preocupado com a reação dele, e aí eu fiquei surpreso quando ele ouviu a ideia e adorou” - aqui cabe um parênteses, quando o quadro estreou no programa, Cid Moreira já não apresentava o JN desde 1996, no vácuo da substituição de Alberico Souza Cruz por Evandro Carlos de Andrade, que substituiu Cid, um locutor noticiarista, por “Williams” Bonner, numa aplicação estrita do conceito de “anchorman” criado nos Estados Unidos, em que o apresentador do noticiário também é seu editor-chefe, diferente da ideia de “âncora” desenvolvida por Bóris Casoy e Joelmir Beting (este inclusive no próprio JN, quando o “TJ Brasil” de Bóris entrou no ar pelo SBT em 1988…), do apresentador que comenta as notícias, desde então, a participação de Cid se resumiu a leitura de editoriais, que apesar de representarem a “Opinião da Globo”, remetiam ao direito de resposta conseguido pelo PDT que o locutor leu em 1994, e após a saída do Bofão da Globo, em 1997, ele foi encaminhado para fazer narrações do “Fantástico”, vide escalada no começo da matéria… Cid Moreira comenta, “é um outro lado meu, digamos assim”, Mister M opina, “quando estou no Brasil e alguém percebe que sou eu, o Mister M, eles começam a imitar você, tipo, oh, Mister M, todo mundo associa você ao Mister M aqui no Brasil”, e Cid fala em inglês, “my name is Cid Moreira, i am Moreira, M, i am Mister M”, o mágico ri, “oh, yes, oh yes” - Beto Hora, corre aqui… Petry prossegue, “depois que o Cid Moreira topou, aí eu comecei a pensar, bom, como é que ele vai falar, como é que ele vai se expressar, na primeira vez eu já fiz um texto infame, prevaleceu a infâmia e até o fim da série foi aquele texto infame que o Cid leu magistralmente”, e tome amostra grátis, “hoje o paladino mascarado vai enfrentar a guilhotina, as assistentes se despedem do chefe, foi bom ter conhecido você, Mister M, o mágico é amarrado a uma prancha, ele não tem onde fugir, quando tudo está pronto, eis que surge o carrasco, as preces dos mágicos foram ouvidas, mas não, o carrasco na verdade é Mister M!!!” - lembrando que o quadro chegou a ser proibido em março de 1999 pela justiça, que acolheu uma ação movida por mágicos gaúchos… Cid relembra, “desde que eu era garoto eu ficava assim, intrigado com as mágicas que eram feitas no circo, no teatro, ele veio me satisfazer essa curiosidade”, e voltando a guilhotina, “como é que ele fez isso, esta máscara de Mister M é na verdade uma duplicata, o mágico pode se soltar por baixo, o corpo também é falso, uma espécie de armadura, essa armadura é que é amarrada a prancha, tudo bem, mas cadê Mister M???, ele desceu num alçapão escondido no piso, divertido, não???”, o Cid de 2023 pergunta a Mister M, “mas isso não agradou aos seus colegas mágicos, né???”, o mágico responde, “claro não, eles não gostaram nem um pouco”, ou como o locutor reportou na época, “mágicos mineiros denunciaram Mister M porque ele estaria traindo segredos da profissão”, e as imagens mostram o mágico sendo conduzido pela polícia em Belo Horizonte, “o príncipe dos sortilégios poderia ter usado seus infinitos poderes para escapar dos tiras, mas não, ele foi até a delegacia” – como veremos adiante, a reação corporativa dos mágicos era apenas um dos problemas que a Globo teve com o quadro... Mister M comenta, “muitos anos se passaram e a mágica continua viva e melhor do que nunca” – “grande Mister M”, narra Cid em 1999 – “a primeira vez que vi o Fantástico e ouvi a voz do Cid e vi a forma com que o programa montou o quadro, foi maravilhoso, as famílias se reuniam e os pais deixavam as crianças acordadas até tarde, e elas não esqueceram disso, as crianças de hoje não tem ideia da sensação de ver o programa daquela época, o quadro tomou realmente o coração das pessoas aqui no Brasil”, Cid concorda, “tenho certeza que agradou todo mundo, toda garotada ficou satisfeita”... O passeio automobilístico do locutor e do mágico pelas praias do Rio de Janeiro em 1999, com as observações de Petry, “o Cid Moreira passeou com o Mister M em carro aberto, ele gravou um clipe com o Mister M, o funk do Mister M, foi gravado com o Bonde do Tigrão, que na época era o máximo”, segue o videoclipe, “Mister M está de volta, ele veio te despertar, os segredos das crianças, todo mundo vai gostar”, sobem os créditos da matéria, Cid lembra, “tomamos aquele coquinho, água de coco na praia” – com certeza, não foi vendido pelo Ivo Holanda, digo – os dois riem, tem mais clipe, “esse mágico é irado”, o locutor confessa, “eu fiquei 20 anos mais novo hoje” – de fato, estava mais disposto que na primeira reportagem da série – o mágico também, “foi maravilhoso o que o Fantástico fez”, Cid acrescenta, “foi um programa fantástico”, e o vídeo termina com um “remix” da voz dele, “Mister M é sinistro”, “você voltou, Mister M”, “boa noite, Mister M” – faltou só a pergunta que o locutor fez ao mágico na época, com a mesma alma carioca do funk do Bonde do Tigrão, Mister M, você é espada???”, alis, o nome Mister M é uma criação do “Fantástico”, mais precisamente do repórter especial Geneton Moraes Neto, que saiu de cena em 2016 (também esquecido nessa parte do especial...), pois quem acompanhou o retorno do mágico no canal Viva naquele mesmo ano (antes, em 2007, ele se apresentou no programa “Tudo é Possível”, apresentado por Eliana, na Record...) sabe que a série originalmente se chamava “Quebrando o Código dos Mágicos”, título sensacionalista, porém formal demais para uma época em que a televisão brasileira vivia um “boom” de programas de auditório, surfando na onda ascendente de Carlos Massa, o Ratinho, que se apresentava como uma espécie de paladino das classes populares, e havia ainda a necessidade de agregar carisma ao personagem que trazia consigo dos Estados Unidos a fama de “traidor do movimento”… E que no último episódio da série original tirava a máscara e revelava sua verdadeira identidade, Val Valentino (omitida nesta matéria...), fato que não passou despercebido no SBT, posto que Ratinho revelou a identidade de Mister M em seu programa poucos dias depois da estreia do quadro e Gugu Liberato acionou seu enviado em Las Vegas, Júnior Azzi, para levar Valentino, que foi descoberto pela Fox quando se apresentava nos cassinos da cidade, ao “Domingo Legal” (além de fazer apresentações pelo Brasil, o que explica sua detenção na capital mineira...), logo, o primeiro encontro de Cid Moreira e Mister M era um esforço desesperado para a Globo manter sob seu controle o sucesso alcançado pelo personagem, amplificado por paródias como “Mister PM”, do Casseta e Planeta, ou capitalizado por imitadores que conseguiam alcançar a fama, como o Mister W, que revelava segredos culinários no programa “Mulheres”, segundo conta, com assistentes mais bonitas que as originais, as quais não eram tão exuberantes justamente para não tirar o foco das apresentações, a entregação, quer dizer, a revelação de como as mágicas eram feitas, algo que não era problema para Ivo Holanda, que sempre mostrava a bisnaga com que fingia estar mijando nos pés das pessoas, ou o fio que colocava no banco do motorista de um carro para dar choques em quem sentava... Ops!!!... Com o fim da série do Mister M, o "Fantástico" colocou no ar um sucessor legitimamente brasileiro, ou melhor, hispano-brasileiro, o Padre Quevedo, que estreou o quadro "O Caçador de Enigmas" em janeiro de 2000... No entanto, sua participação no programa durou apenas quatro meses, terminando, dizem, por pressões de setores ligados ao espiritismo, e também pela mesma razão que fez a Globo não estrear um programa com outro sacerdote, o Padre Marcelo Rossi, a falta de exclusividade... Não podemos esquecer a tese do Dani Rodriguez, o aumento do número de evangélicos no  Brasil diminuiu muito o interesse por matérias sobre misticismo... O próprio "Show da Vida", que costumava ouvir videntes nos finais de ano para saber de suas previsões, adotou uma postura mais cética sobre fenômenos sobrenaturais, não com o rigor científico necessário, porque nesse mesmo momento, outros veículos das "Organizações", como diria o Peninha (outro que teve uma série no programa, em que abordava história do Brasil...) davam espaço a um ex-astrólogo que se dizia "agredido a chupetadas" enquanto difundia um terraplanismo político que nos levou a quatro anos aguentando o negociador de joias que é um dos destaques do programa deste domingo, e é impressionante o silêncio de Olavo de Carvalho... Ops!!!...Terminada a matéria, Maju elogia o encontro de Cid e Mister M, as histórias das duas Renatas, Poliana manda um abraço a Maurício Kubrusly, reverenciando seu talento e a contribuição ao jornalismo brasileiro, “nosso carinho por você é eterno”, Maju manda um beijo, lembra dos trechos inéditos da entrevista com Eduardo Faustini no podcast do programa, do material do Memória Globo, Poliana cita rapidamente que a viagem no tempo do Fantástico chega ao século XXI no próximo episódio, e ao dizer “domingo ela não vai”, Maju chama uma reportagem sobre o reencontro dos integrantes do grupo “É o Tchan”, ilustrada com trechos de matérias exibidas pelo programa, uma delas conduzida pelo próprio Kubrusly, em outubro de 1998 -  um dos sustentáculos do “boom” dos programas de auditório na virada do século era o sucesso dos cantores e conjuntos de axé, funk, sertanejo e pagode, que alavancavam a vendagem de seus CDs e o comparecimento aos seus shows comparecendo a todos os programas possíveis, prática que a Globo, dirigida por Marluce Dias da Silva, tentou inibir aplicando a mesma lógica de exclusividade das transmissões esportivas, funcionou com Sandy e Júnior e a série da dupla, produzida entre 1999 e 2003, deu certo por algum tempo com o Tchan, via Domingão do Faustão e os concursos que escolheram Scheila Carvalho como a nova morena do Tchan, em 1997, e Sheila Melo como a nova loira do Tchan, em 1998 – a vitória sobre Daniela Freitas é saudada em memes como “a última vez que o Brasil votou certo” – mas só até o momento que o “Domingo Legal” de Gugu Liberato começou a ganhar de Fausto Silva o ano inteiro, e fracassou com os programas “Amigos e Amigos” e “Samba, Pagode e Companhia”, por outro lado, a concorrência ter uma atração exclusiva era benéfico, casos da Feiticeira e da Tiazinha do H de Luciano Huck, da dupla Rodolfo e ET no programa de Gugu – apesar de subestimados pelo próprio apresentador, precursores legítimos do estilo de humor das matérias de Silvio e Vesgo no “Pânico na TV” -  um trunfo que levaria o SBT a obter sua maior vitória sobre o “Fantástico”, naquele que foi o “11 de Setembro” do programa global, a estreia da “Casa dos Artistas”, em 28 de outubro de 2001 - Celso Portiolli, corre aqui - um golpe do qual a atração ainda tem sequelas nos dias de hoje mas este é assunto para comentar com a exibição do próximo capítulo da série, domingo que vem...




















Nesta semana, o momento "não me sortearam a Garota do Fantástico" foi com o ex-repórter Maurício Kubrusly...


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