sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Valeu Jô, pela Resenha do Livro...

Primeiro volume da "autobiografia a quatro mãos" vai do nascimento, em 1938, até convite da Globo em 1969...




























































José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares, rendeu 14 pontos do "Bolão Pé-na-Cova" na noite desta quinta-feira... Sempre disposto a esclarecer a piranha que não é o Edson (OG),  Jô chocou muita gente ao dizer que seu marceneiro é bom de cama, embora poucos se lembrem da treta com André Gabeh na primeira edição do BBB ou que em determinado momento pensou em abrir um açougue, pois ele perdeu 80 quilos e o público começou a achar que um quilo de toucinho era mais engraçado... A história de Jô é contada em suas próprias palavras - com a ajuda do jornalista Matinas Suzuki Júnior - nos dois volumes de "O Livro de Jô - Uma Biografia Desautorizada", publicados em 2017 e 2018, devidamente resenhados por este vlog e que são republicados abaixo para que ninguém precise ficar esperando que o Viva volte a reprisar a temporada de 1987 do "Viva o Gordo", inclusive o Pancada, desejando que as pessoas percebam que o fim do "Programa do Jô" em 2016 foi apressado pela entrevista que Jô fez com a presidenta Dilma Rousseff... Ops!!!...


Lançado em 2017, “O Livro de Jô – Uma Biografia Desautorizada” é o primeiro volume das memórias de José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares, escrito em parceria com Matinas Suzuki Júnior, o próprio... Com direito a texto introdutório escrito pelo saudoso Millôr Fernandes – da série “Retratos 3X4 de Amigos 6X9”, já usada pelo autor no livro “O Astronauta Sem Regime”, de 1983 - um perfil que muito antes da dublagem do “Chaves”, aquela que falava na "loira que aparece pelada no programa do Jô Soares", usou a palavra “cordura”...  Por ser o “Volume 1”, aborda o período que vai do nascimento de Jô, em 16 de janeiro de 1938, na região do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, até 1969, precisamente quando José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – no livro chamado de “Bonifácio” – o procurou para fazer um convite... Que não menciona, sem querer dar spoiler do segundo volume... Desse modo, o leitor terá que esperar para saber de alguns episódios marcantes da carreira de Jô...  Por exemplo, a saída da Globo e a ida para o SBT em 1987... Aquela que motivou um polêmico discurso no Troféu Imprensa de 1988... “Com impecável senso de oportunidade, a Globo escolheu o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra... Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora, corre o risco de não poder trabalhar mais em comerciais, sob ameaça que estes não serão lá veiculados... Uma rede que detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam pensar em artistas que possam desagradar (...) Que as chamadas do ‘Gordo ao Vivo’ não passariam na Globo eu já sabia desde outubro, do próprio Boni, quando fui em sua sala para me despedir... ‘Já mandei tirar todos os teus comerciais do ar... Chamadas do teu novo show no Scala 2, também esquece... Estou vendo como te proibir de usar a palavra gordo’... Claro que essa última ameaça ficou difícil de cumprir... A megalomania ainda não é lei fora da Globo (...) Escrevo sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliezer Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais... As agências foram informadas, não oficialmente, é claro, como aliás acontece em todas as listas negras, que suas participações não seriam aceitas... É triste, neste momento em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, uma empresa que é concessão do Estado, cerceie impunemente o trabalho do artista brasileiro... Finalmente eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni, numa entrevista, de ‘office boy de luxo’... Nenhum office boy consegue guardar tanto rancor no coração”...  Como se vê, assunto não irá faltar, pois ainda que Jô tenha retornado à Globo em 2000, três anos depois da saída de Boni da direção-geral da emissora, Bonifácio é alvo dos maiores elogios no primeiro volume... No Troféu Imprensa do ano passado, já vivendo um “ano sabático” depois do fim do “Programa do Jô”, visivelmente emocionado, Jô agradeceu a Silvio Santos por tê-lo reinventado e exaltou sua “intuição de fera”, lembrando que no momento em que  assinou contrato com o SBT, quando pretendia fazer um programa de entrevistas semanal, ouviu de Silvio que a atração deveria ser diária, pois só assim iria pegar... Tomara que ao escrever sobre seus 28 anos trabalhando forte no “talk-show”, ele não esqueça de mencionar sua entrevista mais conhecida, aquela com Carlos Villagrán, vestido de Quico e dublado ao vivo por Nélson Machado, no “Jô Soares Onze e Meia”, em 1996... Agora, para quem quer saber de programas como “Satiricom”, “O Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”, Jô dá uma palinha ao contar sobre o encontro com uma figura com quem costumava contracenar por meio de efeitos especiais nas aberturas de seus humorísticos na década de 1980 – Mikhail Gorbachev... Por meio da Brahma, que patrocinou a realização de seu programa de entrevistas nos Estados Unidos durante a Copa do Mundo de 1994, Jô compareceu em Moscou, já que a estreia do Brasil seria contra a Rússia... Ali, entrevistou Gorbachev... Que mediante o pagamento de um cachê de 5 mil dólares, fez até o gesto do “número 1”, típico da propaganda da cervejaria... Também será a oportunidade de contar mais uma vez como se arrependeu de ter reduzido seu peso de 160 para 80 quilos, como fez no programa “Em Nome do Amor”, quando de sua despedida do SBT, em 1999... “Primeiro que as pessoas diziam assim... Ah, você perdeu a graça, você era mais engraçado gordo... Se gordura fosse engraçado, não precisava de humorista, você comprava um quilo de toucinho e ria o ano inteiro com aquilo”...  Leandro Hassum só não começou assim porque há quem diga que nem gordo ele era engraçado... Ops!!!... Pancada ficou interessado pelo livro porque ficou muito interessado em saber o que Jô comentaria sobre um dos grandes comediantes com o qual contracenou, no caso, Ronald Golias... Ficou surpreso ao saber que antes da “Família Trapo”, Jô e Golias participaram de uma novela chamada “Ceará Contra 007”... Escrita por Marcos César, nascido Ary Madureira Filho, o mesmo que depois escreveria os esquetes do Azambuja para Chico Anysio, com título inspirado no filme “Moscou Contra 007”, mais uma manifestação daquele insólito hábito de Paulinho Machado de Carvalho em criar nomes de programas que eram paródias... Vide “Os Insociáveis”, que Renato Aragão nunca entendeu e Dedé Santana achava uma... PIIIIIIIIIIIIIIIII!!!... “A história girava em torno de uma quadrilha internacional que queria roubar a fórmula do jabá sintético, criada pelo grande cientista Bartolomeu Guimarães”... Personagem de Golias, algo que Pancada sabe muito bem... No entanto, Jô faz uma revelação surpreendente... Golias odiava o personagem!!!... Inclusive conta em detalhes a história de um trote telefônico em que se passava por Paulo Machado de Carvalho, dono da TV Record, que supostamente estava interessado em contratar Golias para um show, mas com uma condição... Que interpretasse seu personagem preferido, o professor Bartolomeu Gonçalves... Golias, a quem Jô considera um dos maiores talentos que conheceu, mas que também via como muito inseguro e cheio de manias – atender telefone, qualquer um, era uma delas – propôs se apresentar como Bronco, porém o falso Paulo de Carvalho se manteve inflexível e ele aceitou fazer o experiente professor... Porém, quando Jô foi dar o endereço do show, mandou Golias tomar no... PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII... E não conseguiu mais segurar o riso do outro lado da linha... Quanto às manias de Golias, Jô lembra de quando ele convenceu o dono de um paletó surrado numa tinturaria a lhe dar a roupa de presente, nos tempos da Record, e de quando lhe ofereceu um blazer de que havia gostado – e que ficou muito maior  - já no SBT... Ou quando levou o comediante para comprar um mocassim artesanal, que o fez passar dias ligando de madrugada, pois dormia tarde, para ajustar o salto... Ou que suas caminhonetes estavam sempre com as rodas sujas, porque limpas elas não passam confiança...  Ou ainda que passou a viver em uma casa sem móveis quando se separou de Lúcia... Sem contar que fez questão de receber um cachê do Bradesco em dinheiro vivo, recusando o cheque assinado por um dos diretores do banco, o ex-governador Laudo Natel... Também lembrou que seu primeiro trabalho foi como “executivo da agricultura”, ou melhor, recolhendo esterco para vender como adubo... Tarefa na qual era ajudado por um garoto chamado Euclides... Então é por isso que o Bronco falava “Ô cride, fala pra mãe!!!” na música de abertura do “Tem Que Dar”, digo... 

























Redator e ator em "Família Trapo", Jô revela que Ronald Golias odiava o personagem Bartolomeu Guimarães...





























































Quanto à “Família Trapo” propriamente dita, Jô conta que o programa era “gravado ao vivo” no Teatro Record...  A atração, que sem a menor, modéstia considera um marco histórico da televisão brasileira, surgiu de conversas entre Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, Nilton Travesso e Manoel Carlos, o Maneco...  “A ideia era criar uma sitcom de humor, com uma família bem escrachada... A Record tinha um elenco maravilhoso, e cada membro da família foi sendo desenhado a dedo para o cast de atores da casa... O nome Trapo saiu da família Von Trapp, do filme “A Noviça Rebelde”, com a Julie Andrews, embora  a única coisa em comum entre as duas famílias fosse a sonoridade do nome... Os pais, Othelo Zeloni (Pepino Trapo) e Renata Fronzi (Helena Trapo) eram velhos conhecidos das chanchadas, e principalmente, das revistas musicais...  Funcionavam perfeitamente como marido e mulher... A Cidinha Campos (Verinha) e o Ricardinho Corte Real (Sócrates), nos papeis de filha e filho... A estrela do show era o Ronald Golias, no papel de Carlos Bronco Dinossauro, o cunhado folgado que morava de favor na casa da família... Eu fazia uma ligação entre os quadros, no papel do mordomo factótum, Gordon”... Que eventualmente, quando a plateia não ria a contento das piadas, caía em cena... “Poder fazer humor com  as quedas no palco era uma das vantagens que eu tinha por ser um gordo leve”, confessa... O roteiro era escrito por Jô em parceria com Carlos Alberto de Nóbrega, o próprio – que segundo ele, recebeu do pai um banco muito melhor do que qualquer banqueiro... Cada programa tinha de 18 a 20 cenas, então após definirem as linhas gerais da história, dividiam o trabalho meio a meio, ficando com as cenas que tivessem mais à ver com o estilo de cada um... Em certa época, Jô chegou a ditar os textos para uma secretária... Como precisava ditar também a pontuação das cenas, desistiu... “Descobri que escrever e ditar são duas coisas completamente diferentes... São atividades que mexem com áreas separadas do cérebro”... Em cena, Jô revela que trabalhava forte com a TOC de Golias, sempre se posicionando à sua esquerda, e ele preferia que os outros atores estivessem à sua direita... “Todo mundo achava que o Ronald Golias improvisava o tempo todo, que ia criando as suas falas enquanto o programa ia se desenvolvendo... Nada mais falso... O Golias não improvisava muito, gostava de seguir o script... Claro que, como todo bom comediante, tinha momentos de invenções geniais, mas isso só acontecia porque estava seguríssimo com o texto... Só entrava em cenas com suas falas bem decoradas, firmíssimas... Quando necessário, ele improvisava”... Vide queda do cano por onde descia do andar de cima do cenário da casa dos Trapo... Em um dos cadernos de fotos do livro, Jô aparece ao lado de Golias na primeira vez em que atuaram juntos, no filme “Tudo Legal”... Há também uma foto com Moacyr Franco, na entrega do prêmio Roquette Pinto, de quem se recorda durante o apogeu na TV Excelsior – dirigido pelo Boni, que considerava o inventor do piso na televisão... Ops!!!...  “Houve um momento em que o nome do Moacyr chegou a ser mais importante que o do Roberto Carlos”... E pensar que o SBT o dispensou, lamenta o Pancada... Então é por isso que ele  aguardava ansiosamente o lançamento do segundo volume de “O Livro de Jô: Uma Autobiografia Desautorizada”,  a continuação das memórias de Jô Soares, no final de 2018... Ele pediu para um colega de rede de São Paulo adquirir o livro, o que não foi tarefa fácil... Em uma grande rede de livrarias, que atravessa dificuldades financeiras, só estava à venda o primeiro volume... Cada filial tinha uma restrição diferente... Uma não vendia mais revistas, outra não tinha mais o leitor de código de barras que fornece o preço dos livros e aquela sequer existia mais, substituída pelo posto de troca da promoção de Natal do shopping... A obra só apareceu na livraria do Terminal Rodoviário Tietê, que não vende mais revistas e jornais, à maneira das bancas na região de Copacabana, no Rio de Janeiro... Atendido o pedido de Pancada, o internauta pode ler sobre a controvertida transferência de Jô Soares da Globo para o SBT, em 1987... Nosso companheiro de web ficou contente em saber que quem sugeriu a Silvio Santos que contratasse Jô foi ninguém menos que Carlos Alberto de Nóbrega, com quem dividiu a redação da “Família Trapo” na Record, na década de 1960... Silvio, alguns anos antes de fazer a contratação, pedira um favor a Jô... Que fizesse um show para a Feira da Providência, em Brasília, pois a primeira-dama da época, Dulce Figueiredo, era madrinha da barraca do Distrito Federal... Era a época que o apresentador de programas de auditório trabalhava forte no “lobby” para conseguir do governo federal as concessões das emissoras que viriam a compor o núcleo inicial do Sistema Brasileiro de Televisão... Que já estava no ar há seis anos quando seu proprietário fez a proposta a Jô... Que nem pensava em dinheiro, mas na possibilidade de fazer um programa de entrevistas, algo que não tinha conseguido na Globo, a não ser durante a breve existência do “Globo Gente”, entre abril e setembro de 1973... Que estava longe do ideal, pois era semanal e sem plateia...  O interesse de Silvio era o programa de humor, porém Jô colocou a ideia do “talk-show” e, diante do impasse, o dono do SBT pediu um tempo para pensar... E para anunciar no telejornal “Noticentro” uma reviravolta na televisão brasileira: a contratação de Jô Soares... Notícia que surpreendeu a Globo, em especial seu homem forte na ocasião, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, hoje mais conhecido como o pai do Bofinho... Chamado para uma conversa, Jô voltou a falar que queria ser entrevistador, seguindo a receita bem-sucedida da televisão estaduinidense... Boni respondeu que não havia espaço para “talk-shows” no Brasil e pediu que esperasse uma semana... Passadas duas semanas, sem obter resposta, Jô assinou com o SBT... Ao encontrar-se com o jornalista Roberto D’Ávila no aeroporto, comentou sobre a mudança, e a novidade foi parar na coluna de Zózimo Barroso do Amaral, no “Jornal do Brasil”... Inconformado, Boni mandou cancelar dois especiais de final de ano do humorístico “Viva O Gordo”, estrelado por Jô, suspendeu o comentário que ele fazia no “Jornal da Globo” e proibiu a exibição de anúncios com ele na emissora... Enquanto Jô ganhava o apoio de colegas de trabalho como Paulo Celestino, que foi com ele para o SBT – “Sou marinheiro, eu quero é navegar” – Boni chegou a cobrar a devolução de duas sungas que haviam sumido do acervo de figurinos da Globo... Jô não deixou por menos e, após ter encontrado apenas uma das sungas, entregou um cheque com valor equivalente ao dobro do maior preço de venda da peça de roupa em São Paulo... O auge da polêmica aconteceu em 30 de abril de 1988, quando Jô publicou no “Jornal do Brasil” o artigo “Agora falando sério”... Aquele, lido no “Troféu Imprensa”, em que Jô não chamava Boni de “office boy” de luxo porque “office boys” não guardam tanto rancor no coração... Foi preciso que o dono da Globo, Roberto Marinho, convidasse Jô para um jantar, de modo a encerrar a briga...  Um ano depois, já com o “Jô Soares Onze e Meia” no ar -  Boni ligou para Jô dizendo que havia um espaço disponível para o “talk-show” na grade da Globo e queria o seu retorno... Jô recusou, pois não poderia deixar Silvio na mão... Vide a ocasião em que ele não quis desfazer a contratação de Gugu Liberato pela emissora e Silvio, abalado por um problema nas cordas vocais, teve que pedir a Roberto Marinho a liberação do apresentador... Da parte do Pancada, faltou dizer que um dos convidados do primeiro “Jô Soares Onze e Meia”, em 16 de agosto de 1998, foi Marcelo Gastaldi, o primeiro dublador do Chaves – no livro só é mencionada a atriz pornô Makerley Reis, que queria entrar para a política – e a entrevista mais famosa da passagem de Jô pelo SBT, feita com Carlos Villagran, o Quico, em 1996  - vide participação de seu dublador, Nelson Machado...



















Saída da Globo em 1987 levou Jô a incluir "cláusula da sunga" em contrato quando voltou à emissora... Ops!!!...

















































Antes de se mudar para o SBT, Jô Soares estrelou o “Viva O Gordo” entre  9 de março de 1981 a 15 de dezembro de 1987, depois de participar os humorísticos “Faça Humor, Não Faça Guerra”, “Satiricom” e “Planeta dos Homens” – em que não queria servir de escada para o macaco Sócrates, Orival Pessini... Pancada assistiu e gravou toda a temporada de 1987, exibida pelo canal Viva... Então é por isso que se apeteceu em ler o trecho do livro sobre um de seus quadros preferidos, o da tentação de Frei Serapião...  “Anos mais tarde, já no ‘Viva o Gordo’, um quadro marcante foi o da dupla Frei Cosme (eu) e Frei Damião (Paulo Silvino), os devotos de Frei Serapião (personagem invisível, que Frei Cosme dizia ser ‘narigudo e charutudo’)... Tratava-se  de um esquete todo na base da insinuação maliciosa, tipo de humor em que o Paulo Silvino era imbatível... Nós aproveitamos um bordão que ele costumava usar na vida real (‘Ah!!! Como era grande!!!  Ah!!! Como era enorme!!!’) e o repetíamos  toda vez que mencionávamos o nome de Frei Serapião:

- Ah!!! Como era grande – eu dizia...

- Ah!!! Como era enorme – completava o Silvino...

Aos poucos, fomos trabalhando mais os esquetes e personagens, tornando mais longos os quadros nos humorísticos... Frei Cosme e Frei Damião chegaram a ficar no ar, no mesmo programa, por quase sete minutos... Só quadros muito bons seguram tanto tempo... Criamos até um hino – em ritmo de tango – em homenagem a Frei Serapião...

Como era grande, como era enorme, 

Com essa tentação ninguém mais dorme

Como era enorme, como era grande

Essa tentação que mais expande

Ela era muito grande

A enorme tentação

Do fundador da ordem

Que era Frei Serapião

Por isso a sua força

Era mesmo admirável

Já que a tentação que tinha

Era incomensurável...

Paulo Silvino, amigo querido e inesquecível... Ah, como era grande!!!... Ah, como era enorme!!!... Beijo grande e enorme para você”... Pancada até lembrou que num dos esquetes chegou a aparecer uma “estalta” de Frei Serapião, “narigudo”, “charutudo”  - e a cara do Paulo Celestino... E no quadro em que o hino foi tocado, Francisco Milani fez o Frei Aprígio, que acompanhou a música no órgão...  Como Alexandre Régis também compareceu, dificilmente o internauta ia esquecer... Jô tem a melhor das impressões sobre Silvino e cita outro esquete recorrente em 1987, o do “Jornal do Gordo”, destinado a “pessoas mais ou menos surdas”...  ‘Eu adorava fazer os quadros com o Silvino... Aproveitando o advento da janela de Libras para tornar a televisão acessível pra pessoas com deficiência auditiva – nós fazíamos um jornal divertidíssimo para ‘quase surdos’, o Silvino na maior seriedade”... Também comenta o estilo de Silvino, que ficava evidente no quadro que sempre pegava uma mulher pelos braços e dizia que ia fazer aquilo tudo SEM PARAR MEU AMOR... “Fazia parte dele o humor devasso, de duplo sentido, insinuando sexo, e a sacanagem em qualquer situação... Esbanjava um talento natural nessa pegada cheia de malícia... O Silvino era rei de fazer essas coisas, era a pessoa mais à vontade que conheci pra andar nessa linha do humor bandalho”...  Olavo Gosta de um bandalho... Ops!!!... No livro, chamou a atenção do Pancada o fato de muitas de suas preferências no “Viva o Gordo” coincidirem com a de Jô... “Outro que eu adorava era a Dalva Mascarenhas, a mulheríssima de bigodes... Não chegou a ser tão popular, na verdade era um tipo complexo, não era tão fácil de pegar... Dalva vestia um terno cor-de-rosa, fumava com piteira e dizia com voz grossa...

- Eu tenho este buço, mas faço questão de mantê-lo, porque eu sou mulher, eu sou mulheríssima... De vez em quando umas moças se atiram em cima de mim, mas sem sucesso... Eu sou muito fêmea!!!”...

Na obra também é lembrando o tipo que não reconhecia nenhuma pessoa ao telefone, por mais célebre que fosse...  “E foram outros tantos bordões reproduzidos Brasil afora... ‘Ah, eu quero aplaudir!!!’.... ‘Criança sofre’... ‘O menino o quê, Nair???’... ‘Perguntar não ofende’... ‘Tem pai que é cego’... ‘Falha nossa’... ‘Quain???’, dito pelo recepcionista Araponga, e outros mais”... Sem contar que Jô contava com um elenco afiado para fazer suas sátiras políticas...  “No começo da Assembleia Constituinte, em 1987,o  maravilhoso Flávio Migliaccio (irmão da idem Dirce...) fazia um Ulysses Guimarães perfeito, só que transportado para a Grécia Antiga... Um dia cheguei pro Max Nunes e disse... “Eu faço um Moreira Franco muito bom... Eu tenho me olhado no espelho e vejo o Moreira Franco”... Ele duvidou e eu me transformei no então governador do Rio: cabeça branca, sobrancelhas pretas e óculos... O Max tomou um susto...

- Mas é o Moreira!!!...

Ficou tão parecido que criamos um quadro onde o governador dizia... “Meu nome é trabalho, meu nome é trabalho”... E é mesmo... Continua dando trabalho pro Brasil até hoje”... O trabalho forte no escracho se repetia no início de cada programa...  “Outras inovações aconteceram nas aberturas de ‘Viva O Gordo’... No início eram desenhos do Redi, depois tinha uma abertura com música, atores e convidados, até que o Hans Donner (...) começou a fazer umas montagens na qual eu, como o Zelig do Woody Allen, aparecia interagindo com personagens do noticiário da época: espatifando uma janela de vidro entre o casal Ronald e Nancy Reagan, tirando a mancha da cabeça do Gorbachov, levando bofetada da princesa Diana, cozinhando para Margatet Thatcher, tomando pito do papa João Paulo II, batendo bola com o Maradona, afanando a carteira do Orestes Quércia”... O internauta só sentiu falta no livro de menções a dois pontos marcantes da temporada de 1987... O quadro do "Centro de Recuperação da Baba" e o personagem Zezinho... Um excelente exercício de metalinguagem, em que um telespectador, sentando em seu sofá,  comentava os quadros do programa com o próprio Jô, que da televisão ouvia tudo – “e aquela baba, gordo, que coisa nojenta!!!” – enquanto esperava por um “strip-tease” – “sem mutreta, gordo!!!”... Essa questão era tão forte que quando a Constituição de 1988 acabou com a censura oficial, a revista "Manchete" colocou Jô Soares na capa, caracterizado como Zezinho, ao lado de uma garota com os seios de fora, numa época que não havia redes sociais para derrubar fotos desse tipo, digo... Pancada fica imaginando como seria o quadro do Zezinho caso Leandro Hassum tivesse emplacado o “remake” do “Viva O Gordo” no Viva... Pena que a cirurgia bariátrica de Hassum tenha feito o projeto perder o sentido... Ops!!!... Outra afinidade entre Pancada e Jô encontrada no livro era a admiração por Francisco Milani...  “Além de dirigir o ‘Viva O Gordo’, o Francisco Milani e eu dividíamos alguns quadros juntos... Um dos que eu gostava muito de fazer com ele era a Vovó Naná, a velhinha com a boca borrada de batom”... Inclusive o esquete do comercial de pinga lembra muito o do “Tônico Piririco” em “Os Caras de Pau” - e os dois descendem diretamente da cena do fortificante em "I Love Lucy"... Milani estaria ao lado de Jô no seu retorno à Globo, na estreia do “Programa do Jô”, em 3 de abril de 2000... “Como uma das razões para a minha volta ao canal apontada pela imprensa era o padrão de qualidade da emissora, fizemos – o Francisco Milani contracenou comigo – uma brincadeira: microfone falhou o tempo todo, eu chamava uma entrada direto de Paris e vinham imagens de outro lugar do planeta e, no final do quadro, quando elogiei o padrão Globo de qualidade, um spot da iluminação despencou no palco... Minha volta estava batizada”... Chiste feito, o primeiro entrevistado foi ninguém menos que Roberto Marinho... Que não perdia a oportunidade de perguntar a Jô Soares quando voltaria para sua emissora... O proprietário da Globo era um grande apreciador dos bordões ditos por Jô nos programas humorísticos, tais como o “Querias, mas não tos dou!!!”, o qual Boni achava que não faria sucesso...  Quando Jô sofreu acidente de moto, lá foi Roberto ligar para desejar melhoras – e ouviu um conselho de que evitasse andar com motocicleta por aí, pois era muito arriscado... A chance surgiu quando a emissora era comandada por Marluce Dias da Silva... Como Silvio Santos não fez nenhuma objeção – Jô foi negociar com a “Tia Marluce” em Nova Iorque, no mês de março de 1999... As tratativas incluíram a colocação de uma “cláusula da cueca” no contrato – ou seja, todas roupas utilizadas em cena seriam pagas pela Globo... Depois que entendeu, Marluce riu e fechou o retorno de Jô, que apresentou seu “talk-show” durante 16 anos... No final desse período, em dezembro de 2016, desgastado por uma entrevista com a presidenta Dilma Rousseff – depois de ter recusado a fazer um personagem pró-Maluf e uma proposta do deputado Roberto Cardoso Alves para ser candidato a presidente – e pela concorrência oferecida por Danilo Gentili no SBT e Fábio Porchat na Record, deixou a Globo...  Falou-se muito em retorno ao SBT – que aconteceu apenas no Troféu Imprensa, em abril de 2017 – porém o máximo a que se permitiu foi comentar a Copa do Mundo da Rússia, no ano seguinte, de seu apartamento, pela Fox Sports...  E pensar que tudo começou quando foi divulgar o primeiro volume de sua autobiografia no programa “Bola da Vez”, da ESPN, e contou que João Dória em 1989 lhe pregou um adesivo de Fernando Collor de Mello em suas costas...  A história teve tanta repercussão que, além do convite da Fox Sports, ele a incluiu no segundo volume de “O Livro de Jô”... Que coisa, não... 



























Segundo volume aborda passagens controvertidas da vida de Jô, como a ida para o SBT em 1987...

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