sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Segundo volume do "Livro de Jô" não tem mutreta...

Saída da Globo em 1987 levou Jô a incluir uma "cláusula da sunga" em seu contrato quando retornou à emissora... Ops!!!...

















































Pancada aguardava ansiosamente o lançamento do segundo volume de “O Livro de Jô: Uma Autobiografia Desautorizada”,  a continuação das memórias de Jô Soares... Ele pediu para um colega de rede de São Paulo adquirir o livro, o que não foi tarefa fácil... Em uma grande rede de livrarias, que atravessa dificuldades financeiras, só estava à venda o primeiro volume... Cada filial tinha uma restrição diferente... Uma não vendia mais revistas, outra não tinha mais o leitor de código de barras que fornece o preço dos livros e aquela sequer existia mais, substituída pelo posto de troca da promoção de Natal do shopping... A obra só apareceu na livraria do Terminal Rodoviário Tietê, que não vende mais revistas e jornais, à maneira das bancas na região de Copacabana, no Rio de Janeiro... Atendido o pedido de Pancada, o internauta pode ler sobre a controvertida transferência de Jô Soares da Globo para o SBT, em 1987... Nosso companheiro de web ficou contente em saber que quem sugeriu a Silvio Santos que contratasse Jô foi ninguém menos que Carlos Alberto de Nóbrega, com quem dividiu a redação da “Família Trapo” na Record, na década de 1960... Silvio, alguns anos antes de fazer a contratação, pedira um favor a Jô... Que fizesse um show para a Feira da Providência, em Brasília, pois a primeira-dama da época, Dulce Figueiredo, era madrinha da barraca do Distrito Federal... Era a época que o apresentador de programas de auditório trabalhava forte no “lobby” para conseguir do governo federal as concessões das emissoras que viriam a compor o núcleo inicial do Sistema Brasileiro de Televisão... Que já estava no ar há seis anos quando seu proprietário fez a proposta a Jô... Que nem pensava em dinheiro, mas na possibilidade de fazer um programa de entrevistas, algo que não tinha conseguido na Globo, a não ser durante a breve existência do “Globo Gente”, entre abril e setembro de 1973... Que estava longe do ideal, pois era semanal e sem plateia...  O interesse de Silvio era o programa de humor, porém Jô colocou a ideia do “talk-show” e, diante do impasse, o dono do SBT pediu um tempo para pensar... E para anunciar no telejornal “Noticentro” uma reviravolta na televisão brasileira: a contratação de Jô Soares... Notícia que surpreendeu a Globo, em especial seu homem forte na ocasião, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, hoje mais conhecido como o pai do Bofinho... Chamado para uma conversa, Jô voltou a falar que queria ser entrevistador, seguindo a receita bem-sucedida da televisão estaduinidense... Boni respondeu que não havia espaço para “talk-shows” no Brasil e pediu que esperasse uma semana... Passadas duas semanas, sem obter resposta, Jô assinou com o SBT... Ao encontrar-se com o jornalista Roberto D’Ávila no aeroporto, comentou sobre a mudança, e a novidade foi parar na coluna de Zózimo Barroso do Amaral, no “Jornal do Brasil”... Inconformado, Boni mandou cancelar dois especiais de final de ano do humorístico “Viva O Gordo”, estrelado por Jô, suspendeu o comentário que ele fazia no “Jornal da Globo” e proibiu a exibição de anúncios com ele na emissora... Enquanto Jô ganhava o apoio de colegas de trabalho como Paulo Celestino, que foi com ele para o SBT – “Sou marinheiro, eu quero é navegar” – Boni chegou a cobrar a devolução de duas sungas que haviam sumido do acervo de figurinos da Globo... Jô não deixou por menos e, após ter encontrado apenas uma das sungas, entregou um cheque com valor equivalente ao dobro do maior preço de venda da peça de roupa em São Paulo... O auge da polêmica aconteceu em 30 de abril de 1988, quando Jô publicou no “Jornal do Brasil” o artigo “Agora falando sério”... Aquele, lido no “Troféu Imprensa”, em que Jô não chamava Boni de “office boy” de luxo porque “office boys” não guardam tanto rancor no coração... Foi preciso que o dono da Globo, Roberto Marinho, convidasse Jô para um jantar, de modo a encerrar a briga...  Um ano depois, já com o “Jô Soares Onze e Meia” no ar -  Boni ligou para Jô dizendo que havia um espaço disponível para o “talk-show” na grade da Globo e queria o seu retorno... Jô recusou, pois não poderia deixar Silvio na mão... Vide a ocasião em que ele não quis desfazer a contratação de Gugu Liberato pela emissora e Silvio, abalado por um problema nas cordas vocais, teve que pedir a Roberto Marinho a liberação do apresentador... Da parte do Pancada, faltou dizer que um dos convidados do primeiro “Jô Soares Onze e Meia”, em 16 de agosto de 1998, foi Marcelo Gastaldi, o primeiro dublador do Chaves – no livro só é mencionada a atriz pornô Makerley Reis, que queria entrar para a política – e a entrevista mais famosa da passagem de Jô pelo SBT, feita com Carlos Villagran, o Quico, em 1996  - vide participação de seu dublador, Nelson Machado...

















Avanço da telefonia não tirou a graça do quadro do Araponga, aquele que respondia "Quein???" para todo mundo, digo...

















































Antes de se mudar para o SBT, Jô Soares estrelou o “Viva O Gordo” entre  9 de março de 1981 a 15 de dezembro de 1987, depois de participar os humorísticos “Faça Humor, Não Faça Guerra”, “Satiricom” e “Planeta dos Homens” – em que não queria servir de escada para o macaco Sócrates, Orival Pessini... Pancada assistiu e gravou toda a temporada de 1987, exibida pelo canal Viva... Então é por isso que se apeteceu em ler o trecho do livro sobre um de seus quadros preferidos, o da tentação de Frei Serapião...  “Anos mais tarde, já no ‘Viva o Gordo’, um quadro marcante foi o da dupla Frei Cosme (eu) e Frei Damião (Paulo Silvino), os devotos de Frei Serapião (personagem invisível, que Frei Cosme dizia ser ‘narigudo e charutudo’)... Tratava-se  de um esquete todo na base da insinuação maliciosa, tipo de humor em que o Paulo Silvino era imbatível... Nós aproveitamos um bordão que ele costumava usar na vida real (‘Ah!!! Como era grande!!!  Ah!!! Como era enorme!!!’) e o repetíamos  toda vez que mencionávamos o nome de Frei Serapião:
- Ah!!! Como era grande – eu dizia...
- Ah!!! Como era enorme – completava o Silvino...
Aos poucos, fomos trabalhando mais os esquetes e personagens, tornando mais longos os quadros nos humorísticos... Frei Cosme e Frei Damião chegaram a ficar no ar, no mesmo programa, por quase sete minutos... Só quadros muito bons seguram tanto tempo... Criamos até um hino – em ritmo de tango – em homenagem a Frei Serapião...
Como era grande, como era enorme, 
Com essa tentação ninguém mais dorme
Como era enorme, como era grande
Essa tentação que mais expande
Ela era muito grande
A enorme tentação
Do fundador da ordem
Que era Frei Serapião
Por isso a sua força
Era mesmo admirável
Já que a tentação que tinha
Era incomensurável...
Paulo Silvino, amigo querido e inesquecível... Ah, como era grande!!!... Ah, como era enorme!!!... Beijo grande e enorme para você”... Pancada até lembrou que num dos esquetes chegou a aparecer uma “estalta” de Frei Serapião, “narigudo”, “charutudo”  - e a cara do Paulo Celestino... E no quadro em que o hino foi tocado, Francisco Milani fez o Frei Aprígio, que acompanhou a música no órgão...  Como Alexandre Régis também compareceu, dificilmente o internauta ia esquecer... Jô tem a melhor das impressões sobre Silvino e cita outro esquete recorrente em 1987, o do “Jornal do Gordo”, destinado a “pessoas mais ou menos surdas”...  ‘Eu adorava fazer os quadros com o Silvino... Aproveitando o advento da janela de Libras para tornar a televisão acessível pra pessoas com deficiência auditiva – nós fazíamos um jornal divertidíssimo para ‘quase surdos’, o Silvino na maior seriedade”... Também comenta o estilo de Silvino, que ficava evidente no quadro que sempre pegava uma mulher pelos braços e dizia que ia fazer aquilo tudo SEM PARAR MEU AMOR... “Fazia parte dele o humor devasso, de duplo sentido, insinuando sexo, e a sacanagem em qualquer situação... Esbanjava um talento natural nessa pegada cheia de malícia... O Silvino era rei de fazer essas coisas, era a pessoa mais à vontade que conheci pra andar nessa linha do humor bandalho”...  Olavo Gosta de um bandalho... Ops!!!... No livro, chamou a atenção do Pancada o fato de muitas de suas preferências no “Viva o Gordo” coincidirem com a de Jô... “Outro que eu adorava era a Dalva Mascarenhas, a mulheríssima de bigodes... Não chegou a ser tão popular, na verdade era um tipo complexo, não era tão fácil de pegar... Dalva vestia um terno cor-de-rosa, fumava com piteira e dizia com voz grossa...
- Eu tenho este buço, mas faço questão de mantê-lo, porque eu sou mulher, eu sou mulheríssima... De vez em quando umas moças se atiram em cima de mim, mas sem sucesso... Eu sou muito fêmea!!!”... Na obra também é lembrando o tipo que não reconhecia nenhuma pessoa ao telefone, por mais célebre que fosse...  “E foram outros tantos bordões reproduzidos Brasil afora... ‘Ah, eu quero aplaudir!!!’.... ‘Criança sofre’... ‘O menino o quê, Nair???’... ‘Perguntar não ofende’... ‘Tem pai que é cego’... ‘Falha nossa’... ‘Quain???’, dito pelo recepcionista Araponga, e outros mais”... Sem contar que Jô contava com um elenco afiado para fazer suas sátiras políticas...  “No começo da Assembleia Constituinte, em 1987,o  maravilhoso Flávio Migliaccio (irmão da idem Dirce...) fazia um Ulysses Guimarães perfeito, só que transportado para a Grécia Antiga... Um dia cheguei pro Max Nunes e disse... “Eu faço um Moreira Franco muito bom... Eu tenho me olhado no espelho e vejo o Moreira Franco”... Ele duvidou e eu me transformei no então governador do Rio: cabeça branca, sobrancelhas pretas e óculos... O Max tomou um susto...
- Mas é o Moreira!!!...
Ficou tão parecido que criamos um quadro onde o governador dizia... “Meu nome é trabalho, meu nome é trabalho”... E é mesmo... Continua dando trabalho pro Brasil até hoje”... O trabalho forte no escracho se repetia no início de cada programa...  “Outras inovações aconteceram nas aberturas de ‘Viva O Gordo’... No início eram desenhos do Redi, depois tinha uma abertura com música, atores e convidados, até que o Hans Donner (...) começou a fazer umas montagens na qual eu, como o Zelig do Woody Allen, aparecia interagindo com personagens do noticiário da época: espatifando uma janela de vidro entre o casal Ronald e Nancy Reagan, tirando a mancha da cabeça do Gorbachov, levando bofetada da princesa Diana, cozinhando para Margatet Thatcher, tomando pito do papa João Paulo II, batendo bola com o Maradona, afanando a carteira do Orestes Quércia”... 



















Francisco Milani contracenou com Jô no quadro da Vovó Naná que inspirou esquete do Tônico Piririco em "Os Caras de Pau"...

















































O internauta só sentiu falta no livro de menções a dois pontos marcantes da temporada de 1987... O quadro do Centro de Recuperação da Baba e o personagem Zezinho... Um excelente exercício de metalinguagem, em que um telespectador, sentando em seu sofá,  comentava os quadros do programa com o próprio Jô, que da televisão ouvia tudo – “e aquela baba, gordo, que coisa nojenta!!!” – enquanto esperava por um “strip-tease” – “sem mutreta, gordo!!!”... Pancada fica imaginando como seria esse quadro se Leandro Hassum tivesse emplacado o “remake” do “Viva O Gordo” no Viva... Pena que a cirurgia bariátrica de Hassum tenha feito o projeto perder o sentido... Ops!!!... Outra afinidade entre Pancada e Jô encontrada no livro era a admiração por Francisco Milani...  “Além de dirigir o ‘Viva O Gordo’, o Francisco Milani e eu dividíamos alguns quadros juntos... Um dos que eu gostava muito de fazer com ele era a Vovó Naná, a velhinha com a boca borrada de batom”... Inclusive o esquete do comercial de pinga lembra muito o do “Tônico Piririco” em “OS Caras de Pau”... Milani estaria ao lado de Jô no seu retorno à Globo, na estreia do “Programa do Jô”, em 3 de abril de 2000... “Como uma das razões para a minha volta ao canal apontada pela imprensa era o padrão de qualidade da emissora, fizemos – o Francisco Milani contracenou comigo – uma brincadeira: microfone falhou o tempo todo, eu chamava uma entrada direto de Paris e vinham imagens de outro lugar do planeta e, no final do quadro, quando elogiei o padrão Globo de qualidade, um spot da iluminação despencou no palco... Minha volta estava batizada”... Chiste feito, o primeiro entrevistado foi ninguém menos que Roberto Marinho... Que não perdia a oportunidade de perguntar a Jô Soares quando voltaria para sua emissora... O proprietário da Globo era um grande apreciador dos bordões ditos por Jô nos programas humorísticos, tais como o “Querias, mas não tos dou!!!”, o qual Boni achava que não faria sucesso...  Quando Jô sofreu acidente de moto, lá foi Roberto ligar para desejar melhoras – e ouviu um conselho de que evitasse andar com motocicleta por aí, pois era muito arriscado... A chance surgiu quando a emissora era comandada por Marluce Dias da Silva... Como Silvio Santos não fez nenhuma objeção – Jô foi negociar com a “Tia Marluce” em Nova Iorque, no mês de março de 1999... As tratativas incluíram a colocação de uma “cláusula da cueca” no contrato – ou seja, todas roupas utilizadas em cena seriam pagas pela Globo... Depois que entendeu, Marluce riu e fechou o retorno de Jô, que apresentou seu “talk-show” durante 16 anos... No final desse período, em dezembro de 2016, desgastado por uma entrevista com a presidenta Dilma Rousseff – depois de ter recusado a fazer um personagem pró-Maluf e uma proposta do deputado Roberto Cardoso Alves para ser candidato a presidente – e pela concorrência oferecida por Danilo Gentili no SBT e Fábio Porchat na Record, deixou a Globo...  Falou-se muito em retorno ao SBT – que aconteceu apenas no Troféu Imprensa, em abril de 2017 – porém o máximo a que se permitiu foi comentar a Copa do Mundo da Rússia, no ano seguinte, de seu apartamento, pela Fox Sports...  E pensar que tudo começou quando foi divulgar o primeiro volume de sua autobiografia no programa “Bola da Vez”, da ESPN, e contou que João Dória em 1989 lhe pregou um adesivo de Fernando Collor de Mello em suas costas...  A história teve tanta repercussão que, além do convite da Fox Sports, ele a incluiu no segundo volume de “O Livro de Jô”... Que coisa, não... 


















Tentação de Frei Serapião era grande, era enorme, mas a de Alexandre Régis não ficava muito atrás... Ops de novo!!!...

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