sexta-feira, 24 de março de 2017

Outra noite em 67...

No mesmo palco, alguns meses antes do violão quebrado, deram bolo... Para o aniversário do Bronco...





















































A história da final do terceiro Festival de Música Popular brasileira, realizado pela TV Record em 1967 (e transmitido para o Rio de Janeiro pela Globo...), é contada no documentário “Uma Noite em 67”... No filme, o diretor da Record na época, Paulo Machado de Carvalho Filho, conta, sem meias-palavras, que a diretriz que norteava os festivais era a mesma dos combates de luta-livre transmitidos pela televisão, o popular telecatch... Tudo armado, desde a torcida e suas infalíveis vaias, até os resultados da disputa... Paulinho, como era conhecido, embora estivesse cercado por alguns dos maiores criativos da televisão brasileira na época, dava a palavra final quanto a nomes de programas, em especial os de humor, geralmente buscando inspiração em filmes de sucesso... Assim, “Moscou Contra 007” foi parodiado no nome da novela “Ceará Contra 007”... A família Trapp, do filme “A Noviça Rebelde”, serviu para batizar o humorístico “Família Trapo”... Já na década de 1970, quando contratou Renato Aragão e Dedé Santana, lembrou da série “Os Intocáveis” para dar o nome do programa “Os Insociáveis”, o qual Renato nunca gostou e nem mesmo entendeu... No caso da “Família Trapo”, o nome não foi obstáculo para o público gostar do programa, que estreou em 25 de março de 1967... Tanto que o aniversário do protagonista, Carlo Bronco Dinossauro, vivido por Ronald Golias, seria o tema do “Show do Dia 7” do dia 7 de julho de 1967... Realizado no mesmo teatro na região da Rua da Consolação – hoje Lustres Yamamura – em que aconteciam os festivais de MPB, inclusive o retratado no documentário... Em comum entre o show e o festival também há o comparecimento de grandes nomes da nossa música, de Elizeth Cardoso a Wilson Simonal, passando por MPB-4, Jair Rodrigues, Erasmo Carlos e Ronnie Von... Apresentações entremeadas pelo texto redigido por Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares, que apesar ser mais longo que o dos episódios da “Família Trapo”, dava muito espaço ao improviso, como lembrou o próprio Jô em uma entrevista à Record em 1988... Quando o episódio foi reapresentado... É essa exibição que foi parar no Youtube ©... O cenário da festa é o suntuoso jardim da casa dos Trapo – enquanto a casa, em algumas temporadas da série, não tinha vaso sanitário no banheiro – vide imenso portão de ferro... É ali que o chefe da família, Peppino di Trapo (Otelo Zeloni, um mito do humor que saiu de cena precocemente...) comparece impaciente, perguntando sobre sua “farfalla”, enquanto o mordomo Gordon (Jô Soares, também redator... ) tenta colocar seu terno... Antes da “farfalla” aparecer, Peppino quase bate em seu filho Sócrates (Ricardo Corte Real, o próprio...) que explicou que “farfalla” quer dizer “gravata-borboleta”... Sua outra filha, Verinha (Cidinha Campos, a própria), explica que conseguiu trazer vários artistas para a festa, com uma ajuda de seu novo namorado, Carlos Leitão... Que na verdade é um dos cantores convidados, mas isso veremos mais adiante... Agora, essa piada do Gordon deixar cair uma bandeja com os copos pregados é velha, Jô... A ideia é aprovada pela mãe de Verinha e irmã de Bronco, Elena (Renata Fronzi, muito antes do “Bronco”...), enquanto Sócrates trolla Verinha dizendo que ela vai montar uma arca de Noé... Os primeiros convidados a chegar são o casal Blota Júnior e Sônia Ribeiro, que também apresentavam os festivais de MPB... E que atendendo a ordem da Record, vieram apresentar o show... Mesmo sendo italiano, Otelo votou em Blota... Ops!!!... Em seguida, entram os conjuntos Som Três, quinteto do Luis Loy e regional do Caçulinha... Blota pede a família Trapo “aquele ar aparvalhado de quem aparece pela primeira vez na televisão” e pede a Sônia, que chame, diretamente do jardim da mansão Trapo (na verdade, o jardim é da prefeitura, eles só colocaram as cadeiras, intervém Elena e Peppino...),  Elizeth Cardoso...  A “Divina” interpreta “Amor de Carnaval”, de Gilberto Gil...  Depois da apresentação, Sônia quer saber onde está o aniversariante... Enquanto Bronco não comparece, até porque ele está dormingo e a família quer fazer uma surpresa – e Peppino não quer o pessoal do albergue noturno para a festa – o MPB4, saudado como “maior conjunto vocal do Brasil” por Blota, que promete uísque para o grupo, canta “Cheguei (Avisa Maria)”... Na sequência, Peppino é surpreendido pelo pedido de demissão de Gordon... Acontece que ele gosta de trabalhar sozinho, e seus patrões contrataram uma empregada para servir os convidados da festa... Benedita, ou melhor, Hebe Camargo...  Que na melhor tradição de Nair Bello, não segura o riso diante dos chistes de Jô e Zeloni... Sônia diz que a empregada lembra muito uma amiga dela – ah, o humor interno – e apresenta Erasmo Carlos... Que acompanhado do conjunto “Os Vandecos” interpreta “O Caderninho” – Hebe serve Elizeth, que ri – e “Pode vir quente que eu estou fervendo”... Depois do abraço de Elena, claro... De pijama (e sapato...), Bronco finalmente comparece na festa e descobre que ela é em sua homenagem, com quase todos os artistas da Record – e avisa a Blota que prefere aniversário a presente... Enquanto chama um amigo para cobrar ingressos, quer dizer, vai colocar um terno (chamando Peppino de “Mussolini” e “nazista”...), Sônia anuncia Jair Rodrigues... Que estava comendo... Isso fica para depois de cantar “Triste Madrugada”... Depois de oferecer salgadinhos servidos por Hebe, ops, Benedita, para o pessoal no fosso da orquestra, o “Cachorrão” vai de “Rapaz da Moda”... Fazer na guitarra plim-plim, que papo é esse???....




















Jô Soares era o mordomo da Família Trapo e Hebe Camargo descolou um bico para servir os convidados da festa, digo...




















































Blota Júnior anuncia que agora Jair Rodrigues pode comer sem ser interrompido para cantar, quando Gordon avisa ao pé do ouvido que o português chegou... Na verdade, é, nas palavras de Blota, “a atração máxima da festa”... O comediante português Raul Solnado... Que engata um stand-up com Peppino e seu sotaque italiano... Veio de avião (“A tapa???”... “Varigui”... “Eu também tenho umas varigui”...), onde uma inglesa saiu da avioneta para fumar, a pedido da “aerobalzaquiana”, e ele sonhou que era uma noiva – e acordou quando aceitou ir com o noivo... Peppino conta que sonhou que ia a pé comprar doces para Elena no bairro do Limão (“são todos azedos”...) Sonaldo lembra que sonhou ter encontrado com Brigitte Bardot e Sophia Loren (“chope, amendoim, chope, amendoim, mais chope que amendoim”...) e não chamou Peppino pois ele tinha saído para comprar doces... Em seguida, Solnado coloca um chapeuzinho, pede um telefone, chama Gordon de “fio de azeite”, e faz o famoso número popularizado anos depois pelo “Fantástico”, em que falava à maneira dos portugueses das antigas... “Está lá!!!”... A conversa com “Vashinton”- a orquestra fazia a música de espera, “Oh, Suzana” - foi com o presidente dos Estados Unidos na época, Lyndon Johnson... Ele quer saber como procederam com o avião russo, pois tiveram um problema parecido... Com um pato em Ranholas City... Notem que ele não cita Portugal, vide salazarismo... “Só que não era espia, ele estava a caçar minhocas”... E mencionando a questão do Canal de Suez, oferece a ajuda das tropas de Ranholas (vide baixinho na Romi-Isetta que não mata, mas insulta muito...) e pede um empréstimo da NATO para comprar balas, pois estão disparando supositórios... “Além de não matar, ainda curam”...  Depois de “pregar” o foco de luz no chão, declama um “poema surrealista”, com acompanhamento de piano (vide papagaio reclamando do dia curto...) e apresenta uma de suas especialidades, o monólogo sobre a guerra de 1908, bala da Guerra dos Cem Anos e prisioneiro que não quis vir incluído...  Bronco reaparece no palco “stalkeando” Hebe Camargo, quer dizer, a empregada Benedita... “Gata!!!”... Típico... Depois de Bronco se vangloriar da elegância de seu traje, Blota Júnior pede a palavra para dizer que ele e Sônia tomaram a inicativa, em nome da Record, de trazer o show... Bronco interrompe, dizendo que repetiu a fala, e como Blota quer falar, dá licença ao “colega de bancada” – ele era deputado... “Eu já tenho feito discursos em lugares piores”... E trabalha forte no elogio a Bronco... Então é por isso que trouxeram os artistas – “mais homens que mulheres, a lista foi a sua sobrinha que fez”... Bronco fica sensibilizado, não abraça Sônia por motivos óbvios, e elogia Blota... “Tem uma bibrioteca na cabeça... É um homem com “O” maiúsculo”... E dá os pêsames... Ops!!!... Melhor continuar o espetáculo... Verinha grita... “É o Leitão!!!”... Na verdade, Carlos Leitão, seu “sócio”...  Gordon avisa que para as coxinhas e empadinhas não esfriarem,  comeu metade... Depois de impedir que Peppino bata em Gordon – seria preciso desligar as câmeras, “tem que estar tudo certinho, quem vai ganhar, quem vai perder” (ah, os festivais, digo, o telecatch...) – Blota chama Leitão e seu irmão, o Leitão “um pouco maior que ele”, para cantar... Na verdade, são Os Vips, os irmãos Márcio e Ronaldo Antonucci, e coube a Márcio o papel de “sócio” de Verinha - depois ele se tornaria produtor musical, de grande influência no meio musical... Desde que o Maneco não saiba, tudo bem, digo... A dupla interpreta “Sou eu” e “Faça alguma coisa pelo nosso amor”...




















Lado a lado, o português Raul "Está lá!!!" Solnado e Otelo "Penacchia!!!" Zeloni e seu sotaque italiano...






















































Ronnie Von é trazido para o palco por Bronco, que dispara um antigo bordão do Pacífico... “Olímpiaaaa!!!”... Quando Elena entrega uma flor, Bronco não perde a piada... “Manera, mana!!!”... E ainda avisa o cunhado... “Tua esposa não está conseguindo se controlar!!!”... Ronnie começa a cantar “Música para ver a garota passar”, mas não consegue segurar o riso ao ver Bronco dançando... Com direito a jogadinha de cabelo, mesmo sem ter o penteado “Pequeno Príncipe” do cantor... Em seguida, interpreta “Jardim de Infância”, e enquanto Gordon trabalha forte de garçom ao fundo, Ronnie pede um solo de piano para Caçulinha, o próprio... Na hora de “A Praça” – a música de Carlos Imperial inspirada em “A Banda”, de Chico Buarque, que o compositor promovia com acusações de plágio, vide gravação de Wilson Simonal em espanhol, Denilson Monteiro – Ronnie voltou a rir, pois Bronco começou a pegar ramalhetes de flores e atirar na plateia... Bem diferente do cantor, que beijava uma flor e jogava para o público... Hebe serve Jair Rodrigues e Bronco volta a fazer graça com Ronnie, que passa a mão em seu cabelo, enquanto ele acompanha o refrão de “A Praça”...  Sônia Ribeiro vai anunciar a próxima atração, porém Bronco a interrompe, pois acredita que ela ensinou Blota a ser apresentador e também quer seguir a carreira... Sônia elogia a “estampa” e o “cabelo da Jovem Guarda” de Bronco,  ele a interrompe para dar uma bronca na empregada, que falava com Ronnie Von... “E vai buscar cuscuz!!!”... Ela aproveita para avisar... “Eu acho que essa empregada é o tipo da empregada que destrói o lar”... Elena pega a deixa e diz que Hebe só vem de vez em quando, senão ela perde o marido... Peppino só não precisava dizer que a empregada não tem os joelhos bonitos como os de Nara Leão...  Voltando a aula de apresentação, Bronco se oferece para introduzir o próximo convidado... O que faz depois de Sônia cochichar o discurso... Menos o improviso sobre a “música pilantra”, “com muito folclore”, “muito champignon”, “muita fonte luminosa”... Comparece ao palco Wilson Simonal para cantar “Meu limão, meu limoeiro”, cantiga de roda que Carlos Imperial registrou em seu nome, Denilson Monteiro, e Simonal vai reger a plateia cantando em coro...  Primeiro, “sem champignon”...  “Ao alho e óleo, no máximo uma salsinha, uma cebolinha”... Suave, tempo de valsa... Depois de citar Geraldo Vandré ao dizer que vai “sacramentar, de direito e fato” – na plateia, Gilberto Gil é focalizado – Simonal canta com todo “champignon” – e closes de mulheres do públco – que lhe era peculiar... Regendo mesmo com Bronco interrompendo... Logo após os aplausos, “Tributo a Martin Luther King”, música que Simonal compôs com Ronaldo Bôscoli – antes do assassinato do reverendo, que liderava a luta contra o racismo nos Estados Unidos... Agora, o aniversariante faz seu discurso, com Caçulinha de papagaio de pirata... “Geralmente nesses momentos não são fáceis, são difíceis... Agradeço meus amigos, a presença de vocês todos aqui, que honestamente, Blota, eu não mereço... Não mereço pela minha modéstia... Sim, sou modesto e me orgulho disto... Por isso, eu me dirijo a vocês para não humilhar aqueles que não tiveram a felicidade de ser ‘curto’ como eu, inteligente, vocês estão entendendo, porque Blota, parece que foi ontem, meu amigo, parece que estou vendo Castelo Branco, me convidando para ser embaixador na ‘ONIS’, infelizmente não pude aceitar, enfim, são coisas que a gente não pode mesmo aceitar... Mas, Ô Blota, eu penso que nesta casa vocês se sentiram bem... Você, Erasmo, Ronnie Von, Márcio, Ronald, Jair, que veio lá de São Carlos, naquelas épocas de dureza, é batizado, quanto é, mil cruzeiros, vamo...  Simonal com essa milonga toda, vai levando todo mundo na conversa... Então acho que vocês estão se sentindo bem na minha casa, como uma pessoa presente aqui que desde que casou com a minha irmã, viveu sempre comigo na minha casa... E só uma coisa nos separa, Pipa... Pipa é diminutivo de Peppino... A morte... E se a gente morrer, precisa seis pessoas pra tirar nós daqui...  Sim, estou satisfeito, Blota, e eu me ‘como ovo’... Já recebi algumas manifestações... Me lembro na Copa do Mundo, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo, e tenho testemunhas disso, cheguei em Buenos Aires, e já estava sentindo, quanto entrei na Bahia, o caís do porto tinha mais de 40 mi pessoas, Blota, gritando feito uns desesperados... Até falei com o Edson (OG), que tava do meu lado... Eu vou me embora antes que esse povo me rasgue...  E tive que fugir, o Edson (OG) ficou sozinho...  De modo que agradeço vocês de coração, porque já me faltam palavras”... Então, que venha o bolo (trazido por Gordon...) para Bronco reger os parabéns à maneira de Simonal, e apagar as velas... Bolo cenográfico???... Difícil saber, pois a cortina do palco baixou quando Bronco cortava o primeiro pedaço...























Titio Ronnie tentava cantar, mas não conseguia segurar o riso com os passos de dança do Bronco...

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