quarta-feira, 22 de março de 2017

Porque a TV na TV não começou com o "Tem Que Dar"...

Pancada compareceu ao lançamento para saber do Pedrão quando ele volta a fazer "Os Caras de Pau" com Jorginho...
















































Dona Rede Globo acaba de usar mais uma vez o velho truque de lançar um livro para aumentar a respeitabilidade de um de seus programas... É um velho truque???... Sim, é um velho truque!!!... “Tem Que Dar O Livro” tem um grande mérito que é o de não esconder suas influências... Até porque muitas delas são evidentes demais... “Outros programas também se inspiraram no universo da televisão para fazer rir... No Brasil, Satiricom (1973), TV Pirata (1988) e Casseta & Planeta Urgente (1992) foram grandes expoentes... Chico Anysio Show (1971) e Viva o Gordo (1981) também parodiaram e brincaram com a TV por meio de alguns personagens”... Uma lembrança muito apropriada... Igor C. Barros – que teve uma de suas vinhetas da Salt Cover, “Sedentarismo Espetacular”, recriada pelo programa  - considera que a fase “TV QCV” do “Chico Anysio Show”, em 1985, é uma precursora do “TV Pirata”, lançado três anos depois... E o quadro do Zezinho no “Viva o Gordo” era muito mais do que um strip-tease com mutreta e trazia um refinado exercício de metalinguagem, vide as semanas a fio de menções ao quadro “Centro de Recuperação da Baba”... O "Tem Que Dar" faz algo parecido com o "povo fala" que aparece enquanto sobem os créditos do programa... Para a evocação dos mestres inspiradores de outrora ficar completa, falta citar os Trapalhões... Que trabalhavam forte nas paródias de novelas e séries desde a falecida Tupi... Na Globo, dizem que a própria Janete Clair se apetecia com as gozações de suas tramas... Os exemplos são muitos... Citações a “Os Gigantes” e “Pai Herói”, sátiras do tipo “QG da Suat”, "Jeannie é um Gênio", “Didi Homem”, "Sítio da Febre Amarela", “Sem Sentido”, “Quem Mama Não Mata”, “Doido Amor”, “Shogay”, “O Salvador da Pata”, “Espantanal”...  Até mesmo “Aventuras do Didi” transformou a novela “Avenida Brasil” em “Avenida Curicica”... As inspirações estrangeiras também são mencionadas... “Fora do Brasil, os britânicos do Monty Phyton e os estadunidenses do Saturday Night Live usaram a temática para fazer críticas à sociedade e à indústria do entretenimento, influenciando gerações de comediantes até hoje”... Muito mais que isso... Do Monty Phyton, o “Tem Que Dar” herdou o gosto pelo nonsense e as piadas sobre religião... Do SNL pegaram as participações especiais... E não são só eles que são emulados... Os jogos de palavras com nomes de programas e filmes são típicos da revista MAD, vide desenho no Cartoon Network – “Doutor Mouse”, “CSICarly”... Toda a faixa adulta do CN, conhecida como "Adult Swin", calcada no êxito dos "Simpsons", influencia bastante... Na atual temporada, o anúncio do “Branco no Brasil” é inspirado no “mockumentary” (falso documentário...)  “CSA”, que mostra como seria a história dos Estados Unidos se os sulistas tivessem vencido a Guerra Civil – e não abolido a escravidão negra... Montado como se fosse um documentário britânico, o programa fake tem comerciais que também são falsos –e sempre com os negros em posição subalterna... Vide YouTube ©... Alis, com a internet, é mais fácil encontrar e copiar quadros humorísticos... Um bom exemplo é o falso vídeo institucional “America First Brazil Second”... Baseado no quadro de um programa holandês, “America First Netherlands Second” já tinha ganhado versões em toda a Europa quando o “Tem Que Dar” fez a sua... E a equipe do prefeito de João Dória também deve ter assistido o vídeo holandês, já que realizou um “roadshow” sobre a cidade de São Paulo para mostrar a investidores em Dubai...





























Renato Aragão já fazia "TV na TV" em 1979, vide sátira à série brasileira "Malu Mulher"...
















































A Globo desde a década de 1970 detinha o “estado da arte” do humor televisivo... Inovações que surgiam fora da emissora eram rapidamente incorporadas... A posição seria perdida a partir de 2003, com a estreia do “Pânico na TV”, na Rede TV!, e depois, em 2008, com o início do “CQC”, na Band...  Na ocasião, a emissora não se importou muito, preferindo concentrar esforços na produção de sitcoms, que eram o “top de linha” nos Estados Unidos antes da ascensão das séries dramáticas, de investigação policial e de fantasia... E deixou o “Casseta e Planeta Urgente” se exaurir com o tripé sátira política-paródias de novelas-reportagens (o "Tem Que Dar" não faz estas e aborda genericamente aquelas...) até sair do ar no final de 2010, com uma tentativa frustrada de retomada, com o nome de “Casseta e Planeta Vai Fundo”, em 2012... Quando a Globo quis reverter a desvantagem, teve dificuldades para assimilar o boom do “stand-up comedy” e depois do humor de internet... Nem as sugestões de aproveitar os destaques do humor no Multishow foram colocadas em prática depois do fiasco do "Junto e Misturado", calcado no "Cilada"... As novelas, pressionadas pela concorrência da Record, conseguiram se renovar em todos os horários com “Cordel Encantado”, “Cheias de Charme” e “Avenida Brasil”... Conseguiram graças a novos autores, alguma inovação temática e o uso de tecnologia digital para dar um acabamento cinematográfico às produções... Resolvido o problema da teledramaturgia, a direção da Globo  escolheu o humor para o próximo esforço de renovação... No começo de 2013, mesma época em que Carlos Henrique Schroder assumiu a direção-geral da emissora, saíram do ar “Os Caras de Pau” e “Aventuras” do Didi... E começaram a estudar o fim do “Zorra Total” e de “A Grande Família”... Foi então que aconteceu o seminário para discutir os novos caminhos do humor na emissora... Que os autores do livro dizem ter coincidido com o início do projeto do “Tem Que Dar”... Se bem que... “TV Pirata” começou assim, com o projeto “Humor Novo”, desencadeado pela saída de Jô Soares da Globo em 1987... Será que não quiseram confessar outra inspiração???... O “Tem Que Dar” começou com a reunião de Marcelo Adnet, Marcius Melhem e da roteirista Daniela Ocampo... Adnet, que teve pequenas participações em programas da própria Globo (vide mecânico Boca, em "Palhação"...), deixou para trás cinco anos de programas de humor na MTV para voltar à emissora carioca com status de grande astro em 2013... A Globo não sabia muito bem o que fazer com Adnet e tentou encaixá-lo como protagonista da série cômica “O Dentista Mascarado”... Melhem e Daniela ficaram sem emprego depois do adeus do diretor de núcleo Marcos Paulo e do fim do programa “Os Caras de Pau”... A que horas ele volta???... A eles juntaram-se o diretor Maurício Farias, que tinha comandado em 2011, “Junto e Misturado”, com Bruno Mazzeo... Uma tentativa mal-sucedida de ampliar a comédia de costumes do “Cilada”, que contava com um dos criadores do “Porta dos Fundos”, Fábio Porchat...  Alis, as primeiras ideias sobre a estrutura do programa incluíam, além da sátira televisiva  quadros sobre “situações do cotidiano”, que é a base do “Porta dos Fundos”... O qual em 2013 lançou um livro reunindo os textos de alguns dos vídeos mais populares do canal do Youtube ©... Então é por isso que o “Tem Que Dar” lançou um livro, digo...  Além do mais, o programa também viraliza alguns quadros, para repercutir nas redes sociais e não depender apenas da audiência da televisão aberta, que costuma preferir o humor mais clássico, pastelão ou de bordão, a trabalhos mais calcados em citações... Sem contar que o mix entre paródias e crítica de costumes era também a base do “TV Pirata”... Só que no caso do projeto de Adnet, Farias e Melhem, “a agilidade de linguagem da TV fazia com que as cenas que aconteciam fora da tela parecessem lentas, o que deixava o programa desequilibrado... Chegou-se à conclusão de que a TV, presente em quase todos os lares brasileiros, e diversificada em formatos, era o melhor cmainho para o projeto dinâmico que desejavam. Além disso, uma grade de canais seria o espaço para Adnet usar todo o seu repertódio. Então, abandonou-se o cotidiano”... Na verdade, o cotidiano ficou para o “Zorra Total”, transformado por Maurício Farias e Marcius Melhem no“Zorra” em 2015, depois que o “Programa da Sabrolha” na Record começou a incomodar a Globo nas noites de sábado... Então é por isso que o “Zorra” hoje é uma espécie de “Tem Que Dar” que não e´sazonal, não tem as sátiras a programas de televisão (embora por um bom tempo tenha insistido em ironizar a fase anterior da atração...) e tampouco Marcelo Adnet... Só a sua sócia, Dani Calabresa... Juntos, só na "Escolinha do Professor Raimundo", em que Bruno Mazzeo assume o papel do pai, Chico Anysio... E Marcius Melhem pontifica como Seu Boneco, que era vivido pelo irmão de Bruno, Lug de Paula... O "Tem Que Dar" reproduz as zapeadas que tanto roubaram a audiência da Globo, em especial com o surgimento da TV por assinatura... Dá um ar de agilidade ao programa... E indiretamente, faz propaganda da Net, ao imitar seu display de canais...
























Dizem que o quadro preferido do Pancada no "Tem Que Dar" é "Luaninha da Webcam", porém...
















































Depois de detalhar o processo de redação e produção do programa, o livro conta a história do quadro “Jardim Urgente”, que deveria ser unitário, mas conquistou mais espaço graças a atuação de Welder Rodrigues (mais conhecido como Jajá do “Zorra Total”, aquele do “Tô doido, tô doido, tô doido!!!”...) e o bordão “Foca em Mim!!!”... Que Melhem, apesar de ter sugerido a continuidade do quadro depois da primeira gravação, não queria colocar no ar, por achar infantil demais a ideia de atirarem uma foca de pelúcia no apresentador Jorge Beviláqua...  Agora, é difícil não reconhecer nos testemunhais de produtos para disciplinar crianças a inspiração na campanha “Control Toys”, que a agência de publicidade Publicis criou para anunciar a temporada de 2012 do “Super Nanny”, no SBT... Ainda no segmento infantil, a “Galinha Preta Pintadinha” e suas versões de outras religões se basearam na série de vídeos infantis surgida no Youtube © e transformada em DVDs pela Som Livre... Ops!!!... “Balada Vip” ironiza o colunismo social eletrônico, seguindo em tom ficcional a trilha dos cassetas, Rodolfo e ET e Vesgo e Silvio em reportagens reais com celebridades de verdade... “Te Prendi na TV” evoca os suspenses de João Kleber em seus programas... E pensar que João chegou a ser cotado para continuar o “Cassino do Chacrinha” na Globo depois do adeus de Abelardo Barbosa, em 1988... O “humor com as marcas” é outro traço em comum com o “TV Pirata”, em especial com o uso da tecnologia disponível na Globo para fazer paródias de comerciais muito próximas dos anúncios de verdade... E ao contrário do “Casseta e Planeta Urgente”, com liberdade para fazer trocadilho com marcas reais, sem recorrer às Organizações Tabajara... Já as piadas com religião, o Pancada não gosta... Estão ali para dar um toque “cult” ao “Tem Que Dar”, mas funcionam bem... Assim como as paródias de músicas, vide o “Jingle Eleitoral Sincero” – inspirado em um vídeo do Youtube © sobre marketing político... Nas quatro temporadas abordadas pelo livro – ser sazonal ajuda o programa a não se desgastar muito depressa, mas faz a atração ser ignorada pelo Troféu Imprensa -  já são 42 sátiras musicais... Ainda que o tema de abertura - "Televisão", dos Titãs - já tenha sido usado pelo "Bambalalão" na Cultura... Só a parte instrumental, sem o "Ô, Cride!!!" do Golias... Embora os críticos da Dona Rede Globo sejam escrachados pelas transmissões do Militante, política é um assunto abordado sem citar nomes - ainda que o esquerdismo de Adnet transpareça em muitas das sátiras, e Melhem adote uma linha mais de escracho às instituições, vide Tenente Pitombo, piadas com a polícia garantem respeitabilidade ao programa, e Doutor SUS, baseado na velha ironia com os médicos sobre o diagnóstico de virose -  para fugirem de um assunto que espanta o publico e não serem acusados de mitificarem ninguém, como acontecia com o “Casseta”... Também em relação às novelas, tanto que sátiras de tramas no ar na Globo não são muito comuns...  O que não impediu a peróla do canal Viva Um Drama, “a dramaturgia da Globo narrada por Galvão Bueno” vide “Tema da Vitória” para Dom Lázaro Venturini pedindo melão... Excelente paródia, excelente nonsense... Ao mesmo tempo, os precursores do “Tem Qur Dar” não tinham a liberdade de  ironizar os concorrentes, privilégio do qual a atração desfruta com o "Silvio Greatest Songs", entre outros quadros...  O livro fecha com as participações especiais, a mais detalhada no livro a de Carlos Alberto de Nóbrega – com Marcius Melhem fazendo a Velha Surda... Nem parece o programa que perdia para “A Praça é Nossa” nas quintas, digo...  Na lista de convidados vale destacar Bruno Gagliasso – fazendo o anúncio de Cereal Killers, inspirado numa piada de “Eu, A Patroa e As Crianças”, além da série “Dupla Identidade” – Mônica Iozzi – ironizando sua fixação por Cauã Raymond, piada recorrente que fazia no “Vidiô Xô” e Rogéria – no Campeonato Brasileiro LGBT, onde Adnet “incorporou”  Luis Carlos Júnior do Sportv, ela que Melhem transformou no pai do Pedrão em “Os Caras de Pau”... Mas é claro que Pancada deixa pelo elenco fixo - que como o "TV Pirata", privilegiou atores aos comediantes, a diferença é o comando de dois humoristas de ofício, em especial Luaninha da Webcam, quer dizer, Luana Marthau, e a princesa Leia de Está Uó, quer dizer, Georgiana Góes, ou Jorge Beviláqua, quer dizer, Welder Rodrigues... Mas só até Melhem chamar Leandro Hassum para retomarem “Os Caras de Pau” com o elenco original – Candido Damm, Augusto Madeira, Marcelo Caridad, Paulo Carvalho, Alexandre Régis, Maira Charken...

























Pancada se apetece mesmo com "Está Uó"... Mas só por causa do Welder Rodrigues!!!...

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