sexta-feira, 15 de julho de 2016

Abrindo os Jogos Olímpicos no tempo da União Soviética...

A foice e o martelo tiveram lugar de destaque nos Jogos Olímpicos realizados na União Soviética...





















Daqui a três semanas, no dia 5 de agosto, o estádio do Maracanã sediará a cerimônia de abertura da 31ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna... A proximidade do grande espetáculo na região da Tijuca, no Rio de Janeiro, traz a lembrança de outras  solenidades vistas pela tela da televisão... A primeira delas, no nosso caso, assistida em um televisor Philco-Ford recém adquirido à prestação no Jumbo Eletro – no carnê o nome ainda era Eletrorradiobraz, aquela da Celso Garcia – em 1980... Quando os Jogos Olímpicos aconteceram em Moscou, na então União Soviética... Um país socialista, numa época em que o Brasil ainda era uma ditadura militar de direita... Que coisa, não...  Um ano antes, aconteceu a invasão soviética no Afeganistão... Em represália, os Estados Unidos decretaram um embargo econômico e o boicote das nações ocidentais aos Jogos...  O Brasil não aderiu por dois motivos... A interferência de João Havelange, então presidente da FIFA, que não queria desagradar os aliados que tinha no mundo socialista, fundamentais em sua primeira eleição, em 1974, e em outras ações, como a eleição de Juan Antonio Samaranch, um catalão franquista, para a presidência do Comitê Olímpico Internacional...  E a perspectiva, coerente com a política externa de “pragmatismo responsável e ecumênico” de fazer negócios com os soviéticos, passando por cima do embargo estadunidense... Na mesma época, a Argentina, também governada por militares, aproveitava para exportar trigo aos soviéticos... Quanto ao Brasil, o principal item de exportação seria a soja, usada pelos soviéticos para alimentação do gado... Ganhar mais medalhas também estava nos planos com a não adesão ao boicote, vide primeiros ouros desde 1956, no iatismo...  Os Jogos teriam transmissão exclusiva da Globo, cortesia da Organização de Televisão Iberoamericana (OTI) ao negociar os direitos de transmissão com exclusividade para a Copa do Mundo de 1982... Como parte do acordo, os direitos foram repassados à então Radio e Televisão Cultura de São Paulo para permitir a transmissão pelas emissoras educativas dos outros Estados... Então é por isso que o vídeo da cerimônia de abertura existente no Youtube © tem a narração de Luis Noriega, Orlando Duarte e Carlos Eduardo Leite, todos da equipe esportiva da Cultura...  A transmissão, ao som do tema do filme “Jornada das Estrelas” começou com imagens da abertura dos Jogos de Montreal, em 1976... O texto do narrador falava da questão racial nas competições, entremeadas pelo desfile das delegações, a chegada da tocha olímpica e performances de Nadia Comaneci – a romena que virou fetiche dos estadunidenses – e João do Pulo – ídolo de infância do internauta Pedro Henrique... Depois de comparar o “Dia Antropológico” em Saint Louis, em 1904, com as demonstrações de superioridade racial conduzidas por Hitler em 1936, a narração menciona Yoshinori Sakai, o “Garoto de Hiroshima”, nascido no dia em que os Estados Unidos lançaram a bomba na cidade japonesa... Nascido a poucos quilômetros do local em que a explosão atômica fez 80 mil vítimas...  Em 1968, havia mais soldados que atletas no estádio, reflexos do “Massacre de Tlateloco”, a brutal repressão oficial aos estudantes...  Hora de falar de Felix Carbajal, que desfilou maltrapilho na abertura dos Jogos de 1904 e foi quarto colocado da maratona... Jim Thorpe, que perdeu as medalhas ao ser acusado de profissionalismo, e morreu em 1953 sem ser reabilitado – o que só aconteceu em 1979... Fanny Blakners-Koen, apelidada de “vovó” aos 32 anos, dominou o atletismo de velocidade em 1948... Abebe Bikila, bicampeão olímpico da maratona, em 1968, desfilou de cabeça baixa, após ter sido preso por conspirar contra o rei da Etiópia... Agora, o assunto são as ausências que repercutem mais que as presenças na cerimônia... Vide boicotes africanos e de Taiwan – que recusou-se a desfilar sem bandeira – nos Jogos de Montreal, em 1976... E nesta edição olímpica, dos Estados Unidos... Mas havia uma esperança de retorno aos bons tempos... A Grécia pretendia sediar os Jogos Olímpicos em caráter permanente... Sim, isso foi muito antes do prejuízo crônico de 2004... E pela terceira vez, era reprisado o acendimento da pira olímpica em Montreal... O assunto do locutor terminou, porém o desfile continua, sempre intercalado com cenas de competições... Hora de comentar com um treinador as chances do atletismo brasileiro nos Jogos...  Agberto Guimarães provou que os atletas do Norte e Nordeste tem o seu valor... Quando o comentarista mencionava a ausência dos atletas dos Estados Unidos podendo favorecer Agberto nos 800 metros, imagens de Moscou!!!...




















No canto inferior direito da foto está João Havelange, que não foi chamado para a tribuna de honra...














































Um atleta com a tocha percorre as ruas da capital soviética, seguindo por um pelotão de corredores de branco e um carro negro tipo “rabo de peixe”, desses que eram a última moda no Ocidente na década de 1950... Já era esperada a participação da equipe em moscou – Carlos Eduardo Leite, Luis Noriega e Orlando Duarte... Os veículos de apoio do percurso da tocha também demonstram que a indústria automobilística soviética adotava um estilo, digamos, retrô...  O comentarista fala da atleta do pentatlo Conceição Geremias, que não teve condições de se preparar no exterior, enquanto se nota que a avenida em que a tocha é levada é bastante ampla, e uma multidão foi às ruas, ninguém com a intenção de apagar o fogo, cremos... Enquanto a chama é passada de um corredor a outro, Carlos Eduardo Leite inicia seus trabalhos, com aquele “som de lata” tão caro ao Flávio Gomes... Não falta sequer o clássico bordão... “Esporte é Cultura”... Depois dos agradecimentos à secretaria estadual de cultura  e a secretaria municipal de esporte de São Paulo, começa a relacionar as emissoras parceiras na transmissão... TV Nacional de Brasília canal 3... TV Educativa do Rio de Janeiro canal 2... TV2 Guaíba de Porto Alegre... TV Alterosa de Belo Horizonte canal 2... TV Uberaba de Uberaba canal 2... TV Iguaçu de Curitiba canal 4... TV Tibagi Apucarana canal 11... TV Cultura de Florianópolis canal 6...  TV Universitária de Natal canal 5... TV Educativa do Amazonas Manaus canal 2... TV Educativa do Espírito Santo canal 2... TV Educativa do Rio Grande do Sul canal 7...  TV Educativa do Maranhão canal 2... TV Universitária de Pernambuco canal 11... TV Educativa do Ceará, canal 5... Rádio Jovem Pan São Paulo Brasil... O estádio Lênin está completamente lotado, à espera da chama que veio do monte sagrado de Olímpia... O publico é entretido com uma “programação musical de altíssimo nível”  - no caso, um solo de piano - enquanto Luis Noriega tem a palavra detalhando o programa da cerimônia... Às 15h59, horário local, conforme a descrição do narrador, soa o carrilhão e comparece à tribuna de honra o Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e presidente do Soviete Supremo – cargo do chefe de Estado do país – Leonid Brejnev...  Ao toque das trombetas no gramado, Noriega anuncia o inicio do espetáculo...  O líder soviético acena para a multidão enquanto o locutor diz que a cerimônia terá nada menos que 16 mil atores profissionais, “praticamente todo o balé da União Soviética”... Aplausos das arquibancadas para Brejnev e o presidente do COI, Lord Kilanin, que será sucedido pelo “espanhol Samanch”...  Começa a ser executado o hino da União Soviética... Em 2018, na abertura da Copa do Mundo, no mesmo estádio, agora chamado de Lujinki, a mesma música será ouvida, apesar da União Soviética ter acabado em 1991... A letra é outra, mas Vladmir Putin resgatou a melodia do hino da URSS em 2008... Do lado oposto da tribuna, junto à pira olímpica, um gigantesco painel é formado com a foice e o martelo do brasão da União Soviética... Brejnev é focalizado de perfil e alguém “cebola” a imagem... Ao seu lado, o presidente do Conselho de Ministros, o chefe de governo da União Soviética... Numa tomada mais afastada da tribuna, é possível perceber logo abaixo o presidente da FIFA, João Havelange... Que talvez quisesse estar junto a Brejnev, ele que tinha os dirigentes da “Cortina de Ferro” como aliados fieis... Após o hino, os desenhos do painel vão mudando... O número da Olimpíada – XXII – o símbolo da competição -  inspirado na arquitetura dos grandes edifícios de Moscou...   Nesse momento, os anéis olímpicos comparecem na pista de atletismo do estádio, carregados por atletas vestidos com togas gregas, usando coroas de louros na cabeça...  Noriega repete as emissoras componentes da “Rede Olímpica de Televisão”...  São seguidos por bigas e mulheres vestidas de sacerdotisas... No painel, uma imagem do Kremlin, sede do governo russo sob os tzares, durante o regime comunista e agora o lugar de onde Putin teria ordenado o golpe militar na Turquia, digo...















Com os direitos repassados pela Globo, a Cultura pode mostrar João do Pulo levando a bandeira brasileira...














































A delegação da Grécia, conforme o costume, abre o desfile... Precedida por uma placa com o nome do país em russo e em francês... A seguir, dirigentes e atletas, que fazem uma saudação à tribuna de honra...  Noriega explica que a ordem de entrada das delegações segue o alfabeto cirílico... Orlando Duarte explica que os australianos querem sediar os Jogos de 1988 – e lembra o ouro de Ademar Ferreira da Silva em Melbourne, em 1956, esperando que João do Pulo repita a façanha... A Áustria vem com a própria bandeira, e Duarte destaca as roupas típicas do Tirol... Enquanto a Argélia desfila, o “eclético” lembra que as delegações não vem completas, vide Rômulo Arantes, Djan Madruga e demais nadadores brasileiros...  Na vez de Angola, o narrador lembra que o país era “um dos territórios ultramarinos que pertenciam a Portugal”... Enquanto Andorra desfila – vide bandeira do COI - imagens do percurso da tocha olímpica nas ruas de Moscou... Quando passa o Afeganistão, o moço de Rancharia diz que o país foi responsável pelo “esvaziamento” dos Jogos, vide ausência de Estados Unidos, Alemanha Ocidental e Japão... Mais ou menos... O público soviético aplaude, e patrocinadores da transmissão vão passando - algumas emissoras do "pool" são privadas, vide menção às "Casas do Babá", loja de materiais para construção de Uberaba... Os afegães teriam pedido asilo político na União Soviética, fala Orlando, enquanto desfila o Benin, internauta Pedro Henrique... Também, só homens...  Enquanto a lista de emissoras é repetida, passa a Bulgária, todos de chapéu... Na tribuna de honra, alguns dirigentes usam binóculos... Brejnev vai de óculos... Antes do Brasil, Botswana...  É a vez do nosso país, com João do Pulo de porta-bandeira, seguido do chefe da delegação, André Richer... Depois dos dirigentes, as mulheres, de bolsa e os homens de blazer e camisa de gola tartaruga... Luis Noriega garante que o ambiente da delegação brasileira é bom e há chances de medalha no ciclcismo, na natação, atletismo, basquete e vôlei... Cabe lembrar que o futebol não passou do Pré-Olímpico... E medalhas, só na vela (dois ouros), atletismo (bronze, salto triplo) e natação (bronze, revezamento)... Orlando Duarte cita os vice-presidentes do COI durante o desfile da Hungria, vide mulheres de chapéu e homens de terno e gravata...  A próxima é a Venezuela, que se classificou para o futebol... Não passou da primeira fase, em um grupo com União Soviética, Cuba e Zâmbia...  O ouro ficou com a União Soviética, a prata com a Iugoslávia e o bronze com a Tchecoslováqua... Ah, o amadorismo...  E comparece o Vietnã, muito aplaudido, e não foi pelos trajes floridos das atletas...  A banda toca e as delegações vão chegando... Guiana, Guatemala, Guiné, Alemanha Oriental – Orlando Duarte lembra o domínio do país na natação em 1976 – Dinamarca – vide arquibancadas com africanos em trajes típicos e homens com máquinas fotográficas do tipo "xereta" – República Dominicana, Zâmbia – vide boicote em Montreal provocado pelo apoio da Nova Zelândia ao apartheid da África do Sul – Congo Kinshasa (antes Zaire, hoje República do Congo...), Índia – vide turbantes, hóquei sobre a grama e Indira Gandhi – Jordânia – mais turbantes, no estilo árabe – Iraque – Saddam Hussein manda lembranças – Irlanda – com bandeira olímpica – Islândia – que elegeu uma mulher para a presidência na época, assinala Orlando Duarte, na verdade Vigdís Finnbogadóttir era a primeira presidenta eleita em todo o mundo – Espanha – com a bandeira do Comitê Olímpico do país, vide Samaranch embaixador em Moscou – Itália – representada pelo CONI...  Luis Noriega e Orlando Duarte recapitulam as sedes olímpicas desde 1896... Camarões, uma olhada nas cabines de transmissão, Chipre, o pai de Grace Kelly nos Jogos de 1924, teleobjetivas dos fotógrafos, Colômbia, Cuba, recebida com palmas e todos de boina vermelha, bandeira levada por Teófilo Stevenson, maior boxeador amador de todos os tempos, internauta Pedro Henrique,  Kuwait, com a ilustre presença de Carlos Alberto Parreira, Orlando Duarte reconheceu Admildo Chirol primeiro, assinalando que Oto Glória era o técnico da Nigéria, o mesmo que dizia que os nigerianos não levavam jeito para o futebol,  Laos,  Abebe Bikila na São Silvestre, Lesoto, vide reverência com  chapéus, Libéria, vide saudação “black power”, sendo que o país desistiria dos Jogos logo após a cerimônia de abertura,  Libano, só homens, Temer, Libia, Lord Kilanin contra o boicote, Madagascar sem pinguins, Mali, todos de branco, Malta, tempo bom em Moscou,  México, Noriega reclamando que não mandaram a ordem das delegações, sombreiros nas arquibancadas, Duarte transmitindo ao lado do canal 13 mexicano, então televisão estatal, Moçambique, Noriega ainda chamando Maputo de Lourenço Marques,  Mongólia, dirigente do país na tribuna,  Nepal,  Instalsom, Nigéria, sem Oto Glória e sem o preparador de goleiros Raul Carlesso,  Holanda, com bandeira olímpica... Nicarágua, vide sandinismo,  Nova Zelândia,  Peru, vide vôlei feminino, técnicos de futebol brasileiro e técnicos de vôlei japoneses, Polônia e sua embandeirada torcida, vide Solidariedade, 150 mil espectadores no estádio,  Portugal com bandeira olímpica, Porto Rico sem boicote, Romênia, Senegal, Serra Leoa, torcida vibrando, Síria, Tanzânia só no passo de ganso,  Trinidad Tobago,  Uganda, Finlândia, França com bandeira olímpica, Tchecoslováquia... Falta no Youtube © o desfile da União Soviética, o acendimento da pira olímpica e principalmente o urso Misha – a choradinha do "massacote" foi no encerramento...
















Bronco em Moscou???... Não, Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção de futebol do Kuwait...

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