segunda-feira, 12 de agosto de 2024

RC Especial Modelo 2002 (off): Uma Pirâmide de Cristal Para Glória Maria...

O palco do Via Funchal em São Paulo estava tão suntuoso que o diretor fez questão de atrair os méritos para si...

 

















Depois do arremedo de “Acústico MTV” apresentado no especial de 2001, a direção do programa global, pertencente ao núcleo de Roberto Talma, voltou a pensar grande, e a atração exibida em 18 de dezembro de 2002 (no canal Viva, em 2018...), teve apresentações realizadas no Aterro do Flamengo, quando foi gravado o disco do ano, uma antologia, e na casa de shows Via Funchal, em São Paulo, onde foi colocada no palco uma imensa pirâmide de cristal, da qual o Rei saiu para cantar, outro incremento para o especial foi uma nova entrevista conduzida por Glória Maria, que já tinha conversado com Roberto em outros dois especiais, na gestão Jorge Fernando, a conversa, que contém uma confissão sobre TOC e uma importante revisão de conceitos do cantor sobre ecologia, também para destacar a única faixa inédita do disco de 2002, o rap “Seres Humanos”, afora o novo olhar sobre as músicas religiosas pós-Maria Rita, ajudou a elevar o patamar do programa, um show de DVD, focado no artista e no palco, incluindo músicas inéditas em especiais, casos de “Amor Perfeito” e “Por Isso Estou Aqui”, que entraram no disco para compensar a quase ausência de novas canções, com os closes na plateia reduzidos ao mínimo indispensável – Fafy Siqueira, que poderia perfeitamente estar no lugar do Rei... Ops!!!... O programa tem início com uma imagem da luz do sol refletida na água, do próprio sol, acordes de orquestra, uma vista aérea da cidade de São Paulo, bolinha na tela, “Rede Globo apresenta”, um anúncio, “senhoras e senhores, Roberto Carlos”, o palco do Via Funchal se ilumina, destacando uma imensa pirâmide de cristal, o maestro Eduardo Lages rege os músicos, vem o logotipo prateado, “RC especial”, a pirâmide se abre, a orquestra toca “Emoções”, “convidada Glória Maria”, lotação esgotada na plateia, “autor roteirista Rafael Dragaud”, o palco visto de longe, “direção geral Mário Meirelles Roberto Talma”, Roberto Carlos comparece no palco pela abertura da pirâmide, “núcleo Roberto Talma”, vestido com uma túnica branca desabotoada em cima, nas mesas de pista  é focalizada Ana Maria Braga, o Rei faz uma reverência a plateia, na plateia, Serginho Groisman, em pessoa, ele e Ana gravavam seus programas em São Paulo, Roberto sorri, aplaude a orquestra, uma panorâmica do palco, Paulo Ricardo e esposa no gargarejo, em 2002 foi lançado o “reality-show” “Big Brother Brasil”, cujo tema “Vida Real”, é interpretado por ele até hoje, em novas versões, o Rei aplaude os músicos e cumprimenta Lages, mais uma reverência, Roberto segura o microfone, uma olhadinha no trombonista (!!!), a orquestra para de tocar, o público vibra, o Rei canta “quandoeuestouaquieuvivoessemomentolindoolhandopravocêeasmesmasemoçõessentindo”, ou seja, “Emoções”, lançada em 1981, quase obrigatória nos especiais, presente no repertório do disco ao vivo de 2002, os violinos na citação instrumental de “Detalhes”, um aceno para as saudades partindo, o braço do violão apoiado na cauda do piano, flautas a postos, o maestro passando por trás do cantor (!!!), trombones e trompetes em ação, a música é creditada quando apresentada, não no final do especial, como de hábito, “Emoções (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)”, na parte instrumental, o Rei é focalizado de longe, não que ele vá fazer a dancinha, foca nos saxofones, trombones e no teclado, Roberto abre os braços, “eu estou aqui, vivendo este momento lindo, de frente pra você, e as emoções se repetindo”, já vimos aquela câmera no BBB, “depazcomavidaecomoqueelametraz féquemefazotimistademaissechoreiousesorrioimportanteéqueemoçõeseuvivi”, o baterista trabalha forte e o gemidinho chega arrasando, “éééé” – bem melhor que prolongar o “i” de vivi, digo...  Glória Maria começa a entrevista com Roberto Carlos, observada pelos músicos do cantor, aquela ambientação de ensaio tão cara ao diretor Roberto Talma, usando calça preta e uma blusa branca, Roberto vai de jeans, jaqueta e calça, Glória pergunta, “você sempre falou de amor, você sempre fez músicas sobre amor nos anos 1960, 1970, nos anos 1990, e você continua fazendo música divinamente bem, agora, mudou alguma coisa, você acha que o jeito de amar, a maneira de amar muda com o tempo???”,  Roberto responde, “não, eu acho que não é bem a maneira de amar que muda com o tempo, a gente ama de acordo com a pessoa que a gente ama, não acho que a gente ama menos ou ama mais, entende, não é com o tempo que se muda a maneira de amar não, logicamente com o tempo a gente tem experiência, tem uma consciência maior das coisas, e sabe até como se deve conduzir em todas as situações, e até ser melhor, vamos dizer, quando ama”, Glória Maria mexe na orelha e passa para a questão seguinte, “Roberto, você que tem mudado tanto, você ainda acha que pode voltar a amar como amou Maria Rita???”, ele afirma, “não”, ela insiste, “não, mas você acha que pode voltar a amar???”, ele pensa um instante, “não, amo as pessoas, amo meus amigos, amo as coisas”, ela questiona, “por que o amor é o tema da sua vida???”, ele diz, “porque o amor é a coisa mais importante da vida, o amor é simplesmente tudo, e deixa eu te falar uma coisa, às vezes eu digo isso, eu digo que o amor que Maria Rita e eu temos, comparado a esse amor, Romeu e Julieta tiveram apenas um flerte” – modéstia à parte, apesar do disco de 2002 ter duas músicas sobre Maria Rita, “Eu Te Amo Tanto” e “Amor Sem Limite”, elas não entraram no especial, sobre novos amores, nomes como o de Luciana Vendramini, em 2005, e Paula Fernandes, em 2010, foram especulados,  em 2013 foi noticiado que Roberto estava namorando a baiana Luciana Sobreira, em 2020, as suspeitas recaíram sobre a cantora capixaba Tamara Angel, porém Léo Dias, o próprio, mencionou o nome da também capixaba Lidiane Barbosa, em 2023, na coletiva de retomada do projeto “Emoções em Alto Mar”, Roberto declarou que está namorando,  sem citar o nome da “sócia”, e para compensar, confirmou que sua primeira namorada foi, como diriam os cinéfilos de rede social, a atriz brasileira Maria Gladys, a Lucimar de “Vale Tudo”, avó da também atriz Mia Goth... Ops!!!... Voltamos ao palco, onde Roberto Carlos interpreta “Eu Te Amo Eu Te Amo Eu Te Amo”, do disco “O Inimitável”, de 1968, incluída no CD do “Acústico MTV”, lançado em 2001, e que ficou de fora da seleção para o álbum de 2002,  “quanto tempo longe de você, quero ao menos lhe falar, a distância não vai impedir, meu amor de lhe encontrar, cartas já não adiantam mais, quero ouvir a sua voz, ou telefonar dizendo,  que eu estou quase morrendo, de saudade de você, eu te amo, eu te amo, eu te amo”, o Rei está sempre na tela, visto de longe ou de perto, em plano aberto ou close, caminhada com o microfone, a orquestra é focalizada na hora do refrão, a câmera-robô do BBB atrás do Rei, uma ajeitada no cabelo, close nos saxofonistas, “eu te amo, eu te amo, eu te amo”, corta para Glória Maria, “nós nos emocionamos cada vez que a gente ouve você cantando essas canções, sempre”, Roberto concorda, “eu me emociono sempre, eu me emociono muito, às vezes eu até choro durante um show, de emoção, muita coisa me emociona no show, olhando as pessoas, o sorriso, o aplauso, às vezes até certos gestos na plateia, e logicamente que as minhas coisas íntimas, meus pensamentos, meus sentimentos”, voltamos ao show na parte que as cartas não adiantam mais, olha o crédito, “Eu Te Amo Te Amo Te Amo (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)”, o trombone no momento de telefonar, outra ajeitada no cabelo, “mas o dia que eu puder te encontrar,  eu quero contar o quanto sofri, por todo esse tempo, que eu quis lhe falar”, um incentivo ao “eu te amo” da plateia, “quero ouvir, quero ouvir”, foca no baterista, o Rei faz sua parte de “eu te amo”, os sopros e o coral finalizam na hora dos aplausos – de novo o diretor usa o recurso de substituir o “stand-up” antes da músicas por um depoimento previamente gravado, citar as emoções das canções não é por acaso, apenas uma música do novo disco é inédita, e a ideia de resgatar as músicas dos anos 1960 vem forte desde o especial de 1993, onde Jorge Fernando recolocou a Jovem Guarda em lugar de destaque, os “covers” de roqueiros brasileiros no disco “Rei”, de 1994, o contrato publicitário que colocou em evidência “Como é Grande o Meu Amor por Você” em 1996, a versão dos Titãs de “É Preciso Saber Viver”, lançada em 1998, o próprio “Acústico MTV” em 2001, o “remix” de “O Calhambeque” em 2002, o duro é o Regis Tadeu se queixando de falta de renovação, digo... Mais uma questão de Glória Maria, “essas antigas canções ainda lhe trazem novas emoções???”, Roberto Carlos diz, “novas emoções???, sim, novas emoções no momento em que estou cantando” – “novos sentimentos???”, reitera a repórter – “não” – o Rei ri litros – “se é o que eu tô pensando que você tá perguntando, não”, a jornalista também ri, “não, eu só queria saber se quando você canta Emoções, Detalhes, aquelas músicas que fazem parte do consciente, do inconsciente de todos nós, você canta assim com as emoções que já viveu, ou emoções novas???”, Roberto fala, “eu canto, eu canto e sinto no momento em que tô cantando, o que diz a letra, né, eu sinto e vivo tudo aquilo que eu tô vivendo naquela letra”, Glória insiste, “o Roberto que hoje canta Seres Humanos, é o mesmo Roberto da Jovem Guarda, o que é que mudou e o que ainda permanece igual???”, o cantor declara, depois de pensar e pigarrear, “eu acho que e gente é a gente mesmo sempre, a gente aprende sempre e procura se melhorar através do tempo, que é exatamente o que eu digo em seres humanos, é, eu acho que eu sou o mesmo Roberto, o mesmo cara da Jovem Guarda, só que com muitos anos mais, hehehe, muitos anos mais, e com muito mais experiência através desses anos, mais vivência, bem mais vivido, enfim, muita coisa, né”, a repórter prossegue, “agora, Roberto, você é muito conhecido, todo mundo acha, todo mundo que conversa com você, convive com você, considera você um homem extremamente simples, mas ao mesmo tempo, e eu tô aqui pra dizer, existem aquelas histórias, as manias do Roberto, isso pode, isso não pode, pra mim já virou uma coisa engraçada, suas manias eu considero uma coisa assim, piada, eu já não levo mais a sério” – o Rei ri – “mas, mania, você tem mesmo mania, como é que é, qual é a mania mais engraçada que você tem, por exemplo???”, ele responde, “não tenho” – Glória também ri, “não tem???” – “não acho que, não acho nada engraçado minhas manias, detesto minhas manias, não gosto delas, entende, porque as minhas manias incomodam hoje em dia, entendeu, as minhas manias não posso nem falar, porque são ridículas, entende”, risos, “as minhas manias eu descobri que, antigamente eu pensava que fosse supersticioso, mas depois eu descobri que sou obsessivo compulsivo, que é muito pior que supersticioso, então as minhas manias hoje em dia eu detesto elas, porque elas são da obsessão compulsiva, que é um negócio insuportável na vida de uma pessoa”, a jornalista ri litros, “mas você não consegue se livrar disso, Roberto???”, que diz, “é difícil, tô tentanto, tô tentando, até me tratando de certa forma, entende, tenho até melhorado um pouco” – “melhorou???”, quer saber a repórter – “um pouquinho, né, mas é...”, Gloria intervém, “dá um exemplo de melhora”, Roberto reage, “não vou dar um exemplo de melhora, porque nem sei dizer em que melhorei, nem quero dizer aqui, mas esse negócio de entrar por uma porta e sair pela mesma porta, essas coisas todas, isso é muito chato” – “você continua fazendo isso???”, diz a repórter – “faço, mas isso é muito chato, então é por isso que eu não gosto das minhas manias, não acho nenhuma graça nelas”, Glória Maria observa, “é, mania é uma coisa complicada e a gente sabe”, Roberto aponta, “incomoda todo mundo que tá a minha volta, hehehehehe” – a falta que faz um disco de estúdio cheio de músicas inéditas, digo, não que as canções antigas tenham seu valor, literalmente, o importante é que esqueçam o Paulo César de Araújo, que nessa época estava lançando seu livro sobre a música brega, “Eu Não Sou Cachorro Não”, só quem sabe da TOC de Roberto é Glória Maria... Ops!!!.. No palco do Via Funchal, Roberto Carlos vai de “Força Estranha (Caetano Veloso)”, que gravou em 1978, “por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha no ar, por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha”, foco total no cantor, que quase declama a música, deixando os agudos para o refrão, tome close na parte dos “cabelos brancos na fronte do artista” e ao cantar “o tempo não para e no entanto ele nunca envelhece”, mete um caco, “é que o Caetano fez essa música há trinta anos já”, aplausos, seguindo com sua interpretação intimista, um “flash” da plateia, encontraram o trompetista e os violinos, “por isso uma força me leva a cantar,  por isso essa força estranha no ar, por isso é que eu canto, não posso parar, Por isso essa voz, essa voz, essa voz tamanha”, e um gesto de “c’est fini”, tipo Bertoldo Brecha (!!!), a câmera se aproxima e se afasta do público no momento dos aplausos – tirando o final, o foco foi todo em Roberto, algo que Talma fez no especial de 1998, os planos mais fechados descartaram o gestual do cantor, que estranhou a ausência de plateia fixa, limitando as interações, em 2000 e mesmo em 2001, as excessivas inserções dos globais no gargarejo desviavam a atenção das músicas, desta vez, e especificamente nesta música, deu para ficar atento a letra e até as espiadinhas que o Rei dava para lembrar dos versos, o que faz todo o sentido, seu resgate não foi mero acaso, já quando foi gravada sua visão de mundo era  diferente daquela expressada pelo cantor, digo... 


































Em seu terceiro especial entrevistando Roberto, repórter Glória Maria ficou sabendo tudo sobre TOC... Ops!!!... 





























Roberto Carlos confessa a Glória Maria, após a vinheta de volta do intervalo, o conhecido mosaico de imagens do Rei, ao som do instrumental de "Emoções", “a única mania que não me incomoda realmente é vestir azul, esse eu gosto, é uma coisa que eu gosto, que me dá prazer, é diferente de ser uma mania”, a repórter é enfática, “sempre foi assim, sempre você quis vestir azul”, o cantor confirma, “sempre, sempre, desde menino”, Glória segue questionando, “e tem aquelas cores mesmo que você abomina???”, Roberto põe a mão no queixo, “não é que eu abomino, eu não gosto, né”, risos, a jornalista continua, “Roberto, é claro que você é um rei” – ele discorda, “não, eu canto” – “você é um rei, indiscutivelmente, e claro você sempre desperta curiosidade de nós, seus súditos” – o Rei ri litros, “ora!!!”, e põe a mão no cabelo de Glória, “é verdade, eu te conheço esses anos todos e não sei coisas assim básicas de você, simples, que a gente convive e não tem coragem de perguntar, por exemplo, assim, como é você na intimidade, no dia a dia, na tua casa, o que você gosta, por exemplo, eu nunca te perguntei isso”, Roberto responde, “eu sou como qualquer outra pessoa” – “quando ninguém tá te olhando”, instiga a repórter – “eu sou com todo mundo, não tem grilo”, Glória Maria quer saber mais, “você lê jornal, vê televisão???”, o cantor relata, “vejo televisão, leio jornal” – “vai na janela???”, indaga a jornalista – “jornal não leio não, muito pouco, só para quando eu quero saber alguma coisa mais do que eu vi na televisão, eu vejo televisão, gosto de chegar na janela, ih, adoro janelar” – pessoal da região da Urca, corram aqui – Glória emenda outra pergunta, “você vê novela???”, o Rei diz, “vejo, vejo novela sim” – “acompanha???”,  fala a repórter – “acompanhar não dá pra acompanhar porque minha vida é muito corrida, não tem, vamos dizer, chance de acompanhar uma novela todo dia, mas quando eu posso eu acompanho sim”, a jornalista indaga, “mas você tem aquela coisa, você curte os personagens, tem gente que você gosta mais, tem gente que você gosta menos, você conhece os atores, essas coisas assim???”, o cantor esclarece, “ah, conheço, como todo mundo” - é preciso dizer que nenhuma das novelas lançadas pela Globo em 2002 fez um grande sucesso, “O Beijo do Vampiro”, quem sabe, “Coração de Estudante”, talvez, porém “Desejos de Mulher”, “Esperança” e “Sabor da Paixão” hoje em dia ninguém fica pedindo por elas nas redes sociais, nesse ano, a emissora trabalhou forte no lançamento e na consolidação do BBB em suas duas primeiras temporadas, imaginando que o sucesso da “Casa dos Artistas” do SBT fosse duradouro, porém Silvio Santos parou na terceira edição, ainda em 2002, além dos esforços com o “talent-show” “Fama”, cujo foco na preparação dos futuros astros da música não conseguiu superar o “Popstars” do SBT, em que o importante era o produto final, a “girl band” “Rouge”, que fez um sucesso avassalador com “Ragatanga”, ao menos o BBB deu uma levantada no “Fantástico” e ajudou Faustão a retomar a liderança de audiência perdida para o “Domingo Legal” de Gugu Liberato... Corta para o palco da pirâmide, onde os violinistas estão a postos para Roberto Carlos cantar “Amor Perfeito”, acompanhados do fiel tecladista, vide aliança no dedo, olha os compositores na tela, a plateia acompanha, “fecho os olhos pra não ver passar o tempo, sinto falta de você, anjo bom, amor perfeito no meu peito, sem você não sei viver, vem, que eu conto os dias,  conto as horas pra te ver, eu não consigo te esquecer, cada minuto é muito tempo sem você, sem você”,  andando com o microfone, close no violinista, os contrabaixos também, “eu não vou saber me acostumar, sem sua mão pra me acalmar, sem seu olhar pra me entender, sem seu carinho, amor, sem você, vem me tirar da solidão, fazer feliz meu coração, já não importa quem errou, o que passou, passou, então vem, vem, vem, vem”, mais violinos, maestro percorrendo o palco atrás do Rei, a plateia e os saxofonistas, Roberto marcando o ritmo com palmas, a câmera abre e a pirâmide de vidro impressiona, olha o maestro passando de novo, um pouco mais de sax, “vem, que nos seus braços, esse amor é uma canção, e eu não consigo te esquecer, cada minuto é muito tempo sem você, sem vocêêêêêêêêêêêêê”, aquela prolongada na última palavra igual a que substituiu o gemidinho em “Emoções” no especial do ano passado, vista de longe, a plateia aplaude -  “Amor Perfeito” é criação de quatro dos maiores fazedores de sucessos da música pop brasileira, Michael Sullivan, Paulo Massadas, Robson Jorge e Lincoln Olivetti, gravada por Roberto Carlos no disco de 1986, ela não foi incluída na “playlist” dos especiais, enquanto entravam composições próprias do Rei que não estavam tão a altura, como “Nega”, “O Careta” - alis, por essa época, Roberto e Erasmo Carlos foi intimado pela Justiça a pagar indenização ao compositor Sebastião Braga, ao ser comprovado que a música era um plágio de  "Loucuras de Amor", escrita por Braga - “Se Diverte e Já Não Pensa em Mim”, “O Tempo e o Vento”, “Pássaro Ferido”, em 1990, quando apresentou outra composição de Sullivan e Massadas, “Meu Ciúme”, demonstrou que esse também era seu sentimento com relação a música, comparando-a com “Cama e Mesa”, de sua autoria, isso porque segundo Michael Sullivan revelou recentemente, o nome “Amor Perfeito” foi uma imposição do próprio Roberto, o fato é que a canção só compareceu no especial depois que foi gravada por Cláudia Leitte, é a primeira faixa do primeiro CD do Babado Novo, lançado em maio de 2002, o show que serviu de base para o disco do ano, onde a música estava na “playlist”, aconteceu em novembro... Retornamos a Glória Maria, “agora, você disse que ia lançar esse ano um disco com músicas inéditas, e não deu, não aconteceu”, Roberto Carlos reconhece, “é”, a repórter pergunta, “o que houve, Roberto, você disse, dessa vez vai ser um disco de inéditas e não tem um disco de inéditas”, ele explica, “eu teria que lançar esse disco inédito agora em dezembro, né, e demorei muito, demorei a compor, demorei a entrar em estúdio, e essa demora toda, eu pra fazer esse disco eu ia ter que correr, eu teria que fazer muita coisa que poderia prejudicar a qualidade desse disco, né, e esse disco é um disco que eu gosto muito, das canções que fiz, das canções que estou gravando de outros compositores, enfim, é um disco que eu considero muito bonito, do meu gosto, logicamente, né, ahn, e quero fazer esse disco muito bem feito, e com o tempo que eu tinha não ia ficar, então eu acho que qualidade é uma coisa muito importante, quando a gente pode fazer uma coisa com qualidade, e a gente precisa de tempo para dar qualidade a esse produto que vai lançar, a gente tem que tratar disso, estou lançando outro disco esse ano, um disco ao vivo, gravado no Flamengo, naquele show que fizemos”, entram imagens do público que lotou o Aterro na comemoração dos 90 anos do bondinho do Pão de Açúcar, que por acaso fica perto da casa do Rei na região da Urca, apresentação com arrastão incluído (!!!), Roberto canta e a multidão estimada em 250 mil pessoas acompanha, “como é grande, o meu amor, por você”, o piano e as imagens aéreas, close no pianista trabalhando forte no teclado, um aviso na tela, “gravado em 17 de novembro de 2002 no Aterro do Flamengo – RJ”, a plateia segura mensagens e agita a bandeira branca da paz, cantando junto o tempo todo, na tela, o crédito, “Como é Grande o Meu Amor com Você (Roberto Carlos)”, do disco de 1967, “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, gravado ao final de um período de afastamento entre o Rei e Erasmo Carlos, então é por isso que só uma música é em parceria, “Eu Sou Terrível”, Roberto é focalizado “discostas” para ressaltar o dueto com o povo no Aterro – o álbum de 2002 tem apenas uma canção inédita, que é o tema da próxima intervenção de Glória Maria... “E agora, você gravou um disco, tem algumas músicas, uma música inédita”, Roberto Carlos relata, “essa música se chama Seres Humanos, dizendo que o ser humano realmente é maravilhoso, e é muito comum a gente dizer, ouvir, muito comum a gente ouvir que os seres humanos fazem isso, aquilo, fazem tudo errado, depredam isso e aquilo, enfim, isso ou aquilo é culpa do ser humano, até as coisas da natureza, então eu comecei a ver que não é nada disso, que não é bem assim, às vezes nós fazemos alguma coisa errada num momento, mas em seguida estamos consertando, e às vezes fazemos por necessidade, e sempre em busca da felicidade, que é o que a música disse”, entram imagens de pessoas desembarcando de um trem de subúrbio, crédito na tela, “Seres Humanos (Roberto Carlos Erasmo Carlos)”, Roberto surge cantando em ritmo de rap, “que negócio é esse de que somos culpados,  de tudo que há de errado, sobre a face da Terra, que negócio é esse de que nós não temos, os devidos cuidados com o mundo em que vivemos, fazemos quase tudo por necessidade, vivemos em busca da felicidade”, palavras da letra são destacadas na tela, “culpados”, “necessidade”, “felicidade”, “somos seres humanos, só queremos a vida mais linda, não somos perfeitos ainda”, a imagem da multidão saindo do trem funde-se com a do Rei, “afinal nem sabemos por que aqui estamos, e mesmo sem saber seguindo em frente vamos, vencemos obstáculos todos os dias, em busca do pão e de alguma alegria, não podemos ser julgados pela minoria, nós somos do bem e o bem é a maioria, somos seres humanos, só queremos a vida mais linda, não somos perfeitos ainda”, Roberto enfatiza o “ainda”, volta a multidão e ele canta o refrão, “só quero a verdade nada mais que a verdade, não adianta me dizer, coisas que não fazem sentido, que tal olhar as coisas que, a gente tem conseguido, e o mundo hoje é bem melhor, do que há muito tempo atrás, e as mudanças desse mundo, o ser humano é que faz”, o povo segue circulando e o Rei volta a fazer o “rapper”, em fusão com as palavras e as pessoas passando, “estamos sempre em busca de uma solução,  queríamos voar, fizemos o avião, o telefone, o rádio, a luz elétrica, a televisão, o computador, progressos na engenharia genética, maravilhas da ciência prolongando a vida, nós temos amor, ninguém duvida, somos seres humanos, só queremos a vida mais linda, não somos perfeitos ainda”, nova ênfase no “ainda”, uma mulher na beira de um rio ergue o filho na direção do sol, quase como em “O Rei Leão”, vem o “rapper” Roberto na base da fusão, “mas que negócio é esse de que somos culpados, de tudo que há de errado, sobre a face da terra, buscamos apoio nas religiões, e procuramos verdades em suposições, católicos, judeus, espíritas e ateus, somos maravilhosos, afinal somos filhos de Deus, somos seres humanos, só queremos a vida mais linda, não somos perfeitos ainda”, mais uma ênfase, vem o refrão cantando no seu próprio estilo, fundido com a multidão, “só quero a verdade nada mais que a verdade, não adianta me dizer, coisas que não fazem sentido, que tal olhar as coisas que a gente tem conseguido, e o mundo hoje é bem melhor, do que há muito tempo atrás, e as mudanças desse mundo, o ser humano é que faz”, agora as pessoas caminham na praia, o Rei insiste, “só quero a verdade, nada mais que a verdade”, voltando a questionar se tem culpa a humanidade (!!!), lembrando que “não somos perfeitos ainda”, e insistindo em querer a verdade, “somos filhos de Deus”, a imagem do cantor se funde com a de fieis acendendo velas numa procissão, “não somos perfeitos... ainda!!!” – olha o revisionismo do Rei, renegando as tantas canções ecológicas e reflexivas que fez principalmente nas décadas de 1970 e 1980, o que inclui “O Progresso”, “O Ano Passado”, “As Baleias”, “Apocalipse”, “Todo Mundo é Alguém”, “Amazônia”, entre outras, o máximo de engajamento a que Roberto se permitia numa fase de profundas mudanças na política e na sociedade brasileiras, musicalmente falando, o “hip-hop” substituiu o samba como o alvo de incursões eventuais nas composições, embora fique evidente, pela letra da música, que Roberto considerou muito pessimista o que ouviu do gênero, e os arranjos da música acabam remetendo a “Que Beleza”, de Tim Maia, em termos televisivos, é um resgate dos clipes colocados entre as apresentações no palco, tão comuns nos especiais da década de 1980... Então é por isso que na volta do intervalo, logo após a vinheta com o instrumental de “Emoções”, Glória Maria questiona, “mas durante um tempo você denunciava, você dizia que nós seres humanos estávamos acabando com a natureza” – “é, O Progresso”, diz Roberto Carlos – “mudou alguma coisa???”, o cantor argumenta, “mudou que eu agora sei mais do que antes” – risos – “antigamente eu acho que eu era um ecologista emocional, eu acho que hoje eu sou, nem tenho a pretensão de ser um ecologista, tenho um interesse por ecologia, eu acho que hoje eu sou um ecologista técnico, e tem que ser assim, não pode ser emocional, tem que ver as coisas realmente como elas são, professor”, Glória observa, “mas você é uma pessoa que vive da emoção, de repente você também consegue racionalizar sua emoção???”, o Rei responde, “com certeza, a emoção tem que existir sempre, mas em certas coisas a gente tem que agir de forma realista”, a repórter fica surpresa, “você dizendo isso”, Roberto confirma, “com certeza, eu descobri essas coisas questionando muito”, a jornalista diz, “o sofrimento te ajudou a descobrir isso???”, o cantor confirma novamente, “com certeza, com certeza, sem dúvida alguma” – muita coisa mudou depois de Maria Rita, agora,  se não dá para ser um dos Racionais MCs, que não se torne um negacionista, digo... De volta ao palco, Roberto Carlos canta, conforme indicado na tela, “É Preciso Saber Viver (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)”, incluída no disco de 1975, com aquela alteração ligeira na letra, que o Rei destaca no improvido, “se o bem e o bem existem, não tem escolha, você pode escolher, é preciso saber viver”, o coral acompanha, “Paulinho na guitarra solo, violão Alberto solo, isso é um acústico”, Zeca Camargo, o próprio, aplaude na plateia, num dos raros flagrantes da turma do gargarejo neste especial, close no violão acústico, o maestro bem atrás do Rei, “se o bem e o bem existem, você pode escolher”, foca no flautista, “é preciso saber viver”, o cantor do ponto de vista do trombonista e de suas partituras, das mesas de pista aos banquinhos do coral, um pouco mais dos instrumentos de sopro, aplausos, mais uma rara chance da plateia aparecer, esse ano foi bem regulado – “É Preciso Saber Viver”, antes de ser lançada em disco, entrou na trilha do filme “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa”, de 1970, e do que se nota pelas reflexões de Roberto, o conceito da Jovem Guarda permanece quase inalterado... Mas diga, Glória Maria, “hoje, talvez pela dor, pelo sofrimento, você acredita mais nas pessoas, você confia mais no ser humano???”, Roberto Carlos ressalta, “confio no ser humano, confio na capacidade do ser humano” – ajeita o cabelo – “confio, vamos dizer, na capacidade do ser humano de arranjar, de conseguir soluções pros problemas que ele tem, entendeu, como por exemplo, na ciência, o progresso da ciência, a engenharia genética, que é um negócio simplesmente fantástico, o DNA hoje em dia tem resolvido problemas seríssimos, que nós não tínhamos, nós não tínhamos isso há 20 anos atrás, praticamente não tínhamos isso”, Glória prossegue, “agora, todo mundo acha que você é uma pessoa assim, que tem aquela opinião, que você pensa algumas coisas e você não muda, e a gente tá vendo que você agora tá absolutamente flexível, você mutante, foi a dor que fez você mudar, Roberto???”, que ri e responde, “com certeza, com certeza, perguntando por que, por que isso, por que aquilo, por que as coisas são assim, por que nós estamos aqui, o que estamos fazendo aqui, o porquê do sofrimento, então, vivemos com explicações baseadas em suposições”  - acredito muito na ciência, como diria Doutor Renato Aragão, ou o Rei noveleiro andou acompanhando “O Clone”???... Entram cenas de “O Diamante Cor-de-Rosa”, com Wanderléa e Erasmo Carlos, enquanto Roberto faz uma narração em “off”, “anos 1960, emoções alegres, pouquíssimas lágrimas, quase zero, quando aconteciam eram azuis, lágrimas azuis de emoções, ou de emoção, usávamos fórmulas simples para falar do amor, Jovem Guarda”, segue-se um solo de cravo, tirado no sintetizador do tecladista, o Rei canta “E Por Isso Estou Aqui”, do disco “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, de 1967, “olha dentro dos meus olhos, vê quanta tristeza de chorar por ti, por ti, olha, eu já não podia mais viver sozinho, e  por isso eu estou aqui”, a música e seu compositor – Roberto Carlos, conhecem??? – são creditados na tela, a plateia acompanha, entra a arte com nomes de músicas da Jovem Guarda, inclusive a bastarda “Louco por Você”, e imagens da época, já usada no especial de 2000, nas cores amarela e verde,  enquanto a orquestra toca a parte instrumental, “juro que eu não sabia, que viver sem ti eu não poderia, olha, quero te dizer todo aquele pranto, que chorei por ti, por ti. tinha uma saudade imensa, de alguém que pensa e morre por ti”, o tecladista vem com um “sampler de gaita” e Roberto vai de stand-up, “anos 1970, nessa década já um, um pouco de ousadia, uma sensualidade nas canções, numa proposta feita com palavras cuidadosas, eu diria”, cantando não outra canção “sino” “Proposta”, de 1973, “eu te proponho,  nós nos amarmos, nos entregarmos, neste momento,  tudo lá fora, deixar ficar”, a plateia vibra, créditos na tela, “Proposta (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)”,  foca nos violinos, “eu te proponho, na madrugada, você cansada, te dar meu braço, no meu abraço, fazer você dormir”,  o Rei do ponto de vista do baterista, a imagem do cantor se funde com a das cordas do violino, “eu te proponho, não dizer nada, seguirmos juntos, a mesma estrada, que continua, depois do amor, no amanhecer”, olha a partitura do tecladista, mais violinos, só faltou aquele bate-bola com o público, “eu te... proponho”, digo – “Por Isso Estou Aqui” também está no filme “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, é o tema de abertura, que não tem muito a ver com a pegada “roqueira” do filme, porém indica o rumo romântico que Roberto tomaria, bem assinalado no monólogo que lembra os textos de Ronaldo Bôscoli usados nos shows e nos especiais dos anos 1970 e 1980, a Jovem Guarda, que já foi a parte “infantil” e o “momento rock and roll” do programa, agora ganha “status” de paraíso perdido, de todo o repertório restou o romantismo, o problema é que vamos para o terceiro especial seguido sem o comparecimento de Erasmo Carlos, uma economia de isopor que se reflete no reaproveitamento de artes em seguidas edições do programa, e que definitivamente não combina com a “mise-em-scene” suntuosa do Via Funchal...O próximo depoimento de Roberto Carlos é um “teaser” antes do intervalo, “pra mim existem duas verdades absolutas, que eu realmente acredito, o amor e Jesus”  - nem tudo mudou, não é mesmo... Ops!!!...













Os closes na plateia foram reduzidos ao mínimo indispensável - Fafy Siqueira, que poderia estar no palco, digo...









































Glória Maria pergunta, “mas mudou um pouco a tua maneira de encarar a fé, não é, Roberto???” – o cantor ri litros, “completamente” – “antes a fé era a coisa que movia a sua vida, então você mudou muito, não é, Roberto???”, o Rei fica sério, “não sei se muito, mas algo mudei, mudei por exemplo, digo, até nos show, pra mim existem duas verdades absolutas, que eu realmente acredito, o amor e Jesus, mas Jesus independente de qualquer coisa que os homens e as religiões digam a respeito de Jesus, eu digo Jesus, aquilo que Jesus disse, aquilo que Jesus ensinou, a missão dele, aquilo que ele pregou, e prega até hoje, vamos dizer assim, entende, agora isso é meio complicado, né, porque, digo, que independente até mesmo das religiões, da igreja, da religião, de um modo geral, Jesus é indiscutível” – e ele não está falando do Mister Jorge Jesus, Pancada... No palco, tem “stand-up”, “anos 1980, a afirmação da fé, da religiosidade, muitas canções, em cada disco uma mensagem, falando principalmente de temas religiosos, no disco Amor Sem Limite demorei um pouco mais para fazer essa mensagem, comecei a questionar tudo, continuo questionando tudo, continuo perguntando muito e com pouquíssimas respostas, alis, as poucas respostas que tenho são dadas por mim mesmo, independente de qualquer coisa que exista a volta de tudo isso, de todo esse questionamento, independente das religiões, da igreja em geral, só existe pra mim, ou só existem pra mim, duas verdades absolutas” – faz sinal com os dedos – “o amor e Jesus”, aplausos, Roberto canta “Luz Divina”, do álbum de 1991, “essa luz, só pode ser Jesus, só”, a câmera no cantor, de longe ou de perto, o RC3 faz “backing vocal” no banquinho, foca no tecladista ao lado do coral, uma panorâmica do palco, a música é creditada, “Luz Divina” (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos), andando com o microfone, close no piano, “essa luz, só pode ser Jesus, essa luz, essa luz divina, só pode ser Jesus, essa luuuuz” – e a plateia nem foi focalizada de perto, digo, os questionamentos mostram um Roberto menos “católico”, também por perceber o crescimento dos evangélicos na sociedade brasileira, quem sabe???... Voltamos a Glória Maria, “Roberto, você encontrou alguma coisa dentro de você que substituísse essa fé absoluta que você tinha, e que agora é uma fé mais racional???”, Roberto Carlos afirma, “não creio que seja uma questão de substituir, não, eu continuo com a mesma fé, creio em Deus, penso muito, não duvido da existência de Deus, mas, é, quero muito saber como é Deus, o que eu vejo é que talvez não seja como eu tenha aprendido, até mesmo através das religiões”, Glória observa, “quer dizer, você está reaprendendo a amar a Deus, é isso???”, o Rei diz, “não, amo Deus do mesmo jeito, só que acho hoje que conheço o Deus verdadeiro, acho que conheço realmente como é Deus, Deus pra mim é um ser maravilhoso, que só nos dá as coisas boas, esse negócio de dizer que fulano está sofrendo porque é vontade de Deus, eu não acredito nisso”, a pirâmide do palco se ilumina para Roberto cantar “Além do Horizonte”, de 1975, não confundir com a novela que a Globo lançou em 2013, que só não é mais “esquecível” porque veio antes de “Geração Brasil”, prestem atenção nos créditos, “Além do Horizonte (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)”, de 1975, casa cheia, close nos violinos e no coral, o próprio compositor mudou a letra, “porque você vem comigo, é que isso tem valor, pois só vale o paraíso com amor”, mais um close nos violinos, tome “lalalalalalara”, com pedido a plateia, “quero ouvir”, o público faz seu “lalalalalalara”, todas as mesas de pista estão ocupadas, o Rei vem com mais “lalalalalalara”, ah, a contribuição do Tremendão, close nos trombones de vara (!!!), “porque você vem comigo, é que isso tem valor”, foca no coral, “pois só vale o paraíso com amor”, mais trombones e muito “lalalalalalara”, Dedé pega no ganzá (!!!), o Rei ouve o “lalalalalalara” do coral e acompanha com mais “lalalalalalara”, quem também segue o ritmo da música é Fafy Siqueira, a própria, que poderia muito bem estar no palco apresentado o especial, sem ninguém perceber que ela substitui Roberto (!!!), seu “lalalalalalara” é fortemente trabalhado com a língua (!!!), na hora dos aplausos notamos que Nair Bello está numa mesa de pista bem na frente de Fafy – nesse mesmo final de ano o SBT lançou o famoso especial humorístico “SBT Palace Hotel”, e um dos personagens, interpretado pela atriz Bianca Rinaldi, era uma cantora chamada “Lara Yah”, sobre Roberto, show de DVD, focar no intérprete e dosar os closes no gargarejo colocou o programa em outro patamar, a citação aos anos 1980 não foi por acaso, há uma intenção de veicular pelas músicas uma noção mais ampla fé, ainda que sem sair do cristianismo... Depois do intervalo e da vinheta com o instrumental de “Emoções”, Glória Maria faz mais uma pergunta, “você tem alguma técnica, alguma maneira de compor, ainda mais com essas manias todas, você tem coisas, ah, pra compor tem que ter isso, aquilo, como é que rola isso, Roberto”, o cantor e compositor explica, “não, compor a gente compõe em qualquer lugar, lógico que, logicamente que eu gosto de compor mais em casa, mas componho, componho nos hotéis, componho no avião, componho em qualquer lugar”, e ri, Glória insiste, “mas não tem uma técnica pra você compor, não precisa estar tudo certinho???”, Roberto prossegue, “não, preciso de um violão, de um piano, papel, e uma caneta”, risos, “e logicamente o principal, que é a inspiração, né”, a repórter observa, “você compõe só com inspiração, né, Roberto???”, ele diz, “é, é, eu só digo nas canções o que eu canto é o que eu realmente penso”, corta para o palco, onde um foco de luz destaca Roberto Carlos do alto de seu banquinho, acompanhando-se do próprio violão para cantar ”Detalhes”, de 1971, a pirâmide se converte num céu estrelado, o Rei visto “discostas”, close nos violinos na parte que a moldura não é ele que sorri, foca nos contrabaixos para não dizer seu nome na hora errada, “até nesse momento você vai, lembrar de mim”, a citação a um dos grandes vilões do Chapolin, “do tempo que transforma todo amor, em quase nada”, panorâmica do palco e o crédito, “Detalhes” (Roberto Carlos/Erasmo Carlos), a deixa para plateia vem com um adendo, “lembrar de mim, Roberto!!!” – é você, Fafy???, insistimos, não foi o “Acústico MTV” que inventou essa versão “unplugged” de “Detalhes”, ela já esteve presente em shows e até em alguns especiais... De pé, Roberto Carlos canta “Parei na Contramão”, de 1963, olha o maestro Lages do ponto de vista do guitarrista da orquestra, entram cenas do filme “Roberto Carlos a 300 Km por Hora”, de 1971, que ilustram a música “O Calhambeque-Remix” (Erasmo Carlos / Gwen / John D. Loudermilk), após um longo instrumental, entra o começo falado por Roberto, “essa é uma das muitas histórias que acontecem comigo, primeiro foi Susi que tinha lambreta, depois comprei um carro e parei na contramão, tudo isso sem contar o tremendo tapa que eu levei, com a história do splish splash, mas essa história também é interessante”, agora as cenas são de “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, então é por isso que o sintetizador vai mudando o ritmo da música lançada em 1964, vide a palavra “Cadillac” na tela, cenas dois dos filmes se alternam, até o calhambeque de 1974 aparece, “bem, vocês me desculpem, mas agora eu vou embora, existem mil garotas querendo passear comigo, mas é por causa desse calhambeque, sabe, bye, byyyye, byyyye, vrrrrummm!!!”, olha aí de novo o velocímetro voador – em 2002, uma antologia de “hits” de Elvis Presley incluiu um “remix” de “A Little Less Conversation”, porque o nosso Rei, que é fã do Rei estadunidense, não ia fazer igual???, sem contar que o disco de 2002 também conta com um remix de "Se Você Pensa"... A vinheta com “Emoções" vem e vai”, Glória Maria questiona, “e agora, você gravou um disco, tem algumas músicas, ou uma música inédita, você voltou a compor, você voltou a fazer alguma música pra Maria Rita, Roberto???”, ele sorri, “todas, todas, todas as que eu fiz nesse novo que nós vamos lançar só no ano que vem, entende, são feitas pra ela, entende, ou tem ela na música de alguma forma, entende”, a jornalista tem mais uma pergunta, “eu gostaria de saber mais uma coisinha, só, por exemplo, eu tava naquele show do Aterro, e me impressionou muito, tava todo mundo lá ansioso, Roberto vai chegar, Roberto vai cantar, parará, parará, e de repente, quando você entra no palco, e que você começa a cantar, que você solta a voz, a primeira frase, é um silêncio absoluto, fica todo mundo pá, babando, encantado, você sente isso, Roberto, na hora que você tá cantando, você sente essa entrega absoluta do público”, o Rei declara, “ah... na verdade eu sinto que o público vê a minha entrega nessa hora, e isso é, isso é uma, isso é um, um, uma compatibilidade que nós temos, sabe, eu, eu, eu acho que o público e eu, eu e o público temos um entendimento, eu acho que , sei lá, eu acho que a gente se ama muito”, Glóra Maria sorri, Roberto canta, “detalhes de uma vida, histórias que eu contei aqui”, entra o instrumental de “Detalhes”, o Rei afirma, “já contei um bocado de histórias pra você aqui, Glorinha, nas suas entrevistas”, faz sentido, só nos especiais esta é a terceira, afora o famoso “Globo Repórter” de 1991, entre outras, Gloria abre um largo sorriso, Roberto continua a cantar “Emoções”, sobem os créditos, “percussão Dedê Marques”, ao fundo, o maestro Lages no piano, “cenografia Mauro Monteiro”, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”, a dedicatória surge quando Roberto é focalizado, “para Maria Rita”, Glória se empolga, “uau!!!”, bolinha na tela, “Realização Central Globo de Produção © 2002 TV Globo Ltda”, o rei repete, “já contei um bocado de história pra você nessas entrevistas todas, né” – sem oferta de flores, o especial retomou uma tradição dos especiais da gestão Augusto César Vannucci, o último bloco é para os créditos do programa, naturalmente com Roberto Carlos cantando, talvez um sinal da queda de Marluce Dias da Silva e da ascensão de Octávio Florisbal no comando da emissora, acontecida em setembro de 2002, em meio á crise provocada pelo elevado endividamento em dólar do Grupo Globo, oficialmente a alegação foi de uma licença médica para tratar um câncer, porém ela não retomou o cargo, a novidade foi uma espécie de “trailer” do próximo especial, quando Roberto falou do disco que lançaria em 2003, e essa confissão por debaixo da bolinha da Globo, digna das melhores cenas pós-créditos do cinema... Ops!!!...


















































Remixaram a música do Rei estadunidense, por que o Rei brasileiro não pode fazer com "O Calhambeque"???...


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