Leovegildo conduziu a homenagem em que um emocionado Galvão Bueno elogiou a atuação de Ana Thais Matos... |
Assim que Lionel Messi ergueu a taça da Copa do Mundo da FIFA ™ ao lado de seus companheiros de equipe da Argentina, a Globo iniciou na posição da emissora no Estádio Lusail uma homenagem ao locutor Galvão Bueno, em sua despedida dos Mundiais de futebol, a qual durou mais tempo que as premiações realizadas no gramado... Essa atitude da emissora, de voltar-se para si mesma e atribuir-se uma relevância maior do que aquilo que transmite, é conhecida como tautismo (Wilson Ferreira, corre aqui...) e é manifestada com frequência pela Globo, por exemplo, quando William Bonner diz ao Luis Inácio no “Jornal Nacional”, representando a empresa que trabalha, “devo reconhecer que o senhor não deve nada a Justiça”, depois da participação ativa nos eventos que levaram ao “impeachment” de Dilma Rousseff e a prisão do próprio Luis Inácio, ou quando o mesmo “Jornal Nacional” faz uma longa série de reportagens sobre a Constituição de 1988 com o objetivo profundo de lembrar o artigo que impedia o presidente Jair Bozo de cassar a concessão da emissora numa canetada, tanto que depois de renovada pelo Congresso, restou a Bozo, no apagar das luzes de seu infeliz mandato, ratificar a decisão dos parlamentares... Quanto à despedida de Galvão Bueno, ela representa o fim de uma era, não apenas pela saída de cena do narrador - em Copas do Mundo, pois a extensão do contrato por mais dois anos indica que o adeus definitivo será em Paris, nos Jogos Olímpicos de 2024 - mas porque este deve ser o último Mundial que a Globo mostrará com exclusividade na televisão aberta, fechando um ciclo iniciado na Espanha em 1982, exatamente a primeira Copa global de Galvão, então ainda o segundo locutor da equipe liderada por Luciano do Valle... A Globo aproveitou o fim dramático da TV Tupi, em 1980, para conseguir os direitos exclusivos de transmissão do Mundial junto a entidade credenciada pela FIFA para as negociações, a Organização de Televisão Iberoamericana (OTI), de modo a afugentar a concorrência imposta pela TV Record de Silvio Luiz e Flávio Prado nas transmissões de jogos da Seleção Brasileira, sendo que a emissora de Paulo Machado de Carvalho ainda conseguiu concorrer com a Globo de forma indireta, transmitindo pelo rádio com a imagem da TV... A entrada no mercado televisivo de novos “players” em dia com as anuidades da OTI, as redes Manchete e SBT, além da Band falando "o canal do esporte" a cada jogada terminada em tiro de meta, fez com que as quatro Copas seguintes tivessem vários canais abertos na transmissão, até a Globo romper com o esquema de aquisição de direito via uniões de radioteledifusão (OTI, Eurovisão...) e comprar os direitos dos Mundiais de 2002 e 2006, com exclusividade, em rádio e televisão, para toda a América do Sul junto a então parceira comercial da FIFA, a ISL, três anos antes dela ir a falência em 2001, deixando a emissora numa situação financeira complicada e gerando situações inacreditáveis, como a Rádio Bandeirantes levando ao ar comerciais do BBB e da novela “O Clone”, da Globo, como parte do pagamento pelos direitos, ou da Jovem Pan, sempre ela, fazendo debates durante os jogos... Novamente o monopolismo servia para levar vantagem sobre o inimigo, agora o avanço da televisão por assinatura, e a exclusividade seria levantada apenas em 2010 e 2014, quando a Band transmitiu as Copas realizadas na África do Sul e no Brasil, momento em que o rival a ser enfrentado era a internet, e que levou ao retorno do monopólio em 2018 e 2022... Acontece que o escândalo FIFAgate, cuja origem remete exatamente a escolha de Rússia e Catar para sediar as duas últimas edições do torneio, inflacionou os direitos televisivos (pois as propinas cobradas anteriormente não podiam ser mais pagas e todos os valores tinham que ser recebidos às claras pelos dirigentes...), e a pandemia de Covid-19 aumentou a dificuldade da Globo para pagar a conta, fazendo a emissora abrir mão de torneios como a Copa Libertadores (esse já recuperado, como faziam questão de lembrar os locutores do SBT quando falavam em “honrar os compromissos” na decisão deste ano...) e até da Fórmula-1, por décadas a transmissão esportiva mais rentável financeiramente da Globo, e que tornou o próprio Galvão Bueno conhecido nacionalmente, para manter o principal, os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo... Acontece que o sacrifício já não vale mais a pena, e o acerto para 2026, contempla a participação de outras emissoras na transmissão de televisão aberta, principalmente porque está cada vez mais difícil competir com a tecnologia, como demonstra o streaming, onde a Amazon Prime Video financiou todo o esquema de transmissão do youtuber Casemiro, uma figura emergente da internet, forçando a Globoplay a improvisar Tiago Leifert, que tinha saído da Globo, entre outras razões, para acompanhar o tratamento médico da filha, na transmissão de um jogo diário, mas sem o mesmo impacto de Casemiro, cuja caricatura nos microfones do streaming foi parar nas pinturas de rua cariocas, Diogo Defante, com suas reportagens únicas de ambiente e no meio da torcida, e companhia...
Trajetória global de Galvão foi resgatada desde quando era o segundo locutor da casa, na Espanha, em 1982... |
A última Copa do Mundo de Galvão Bueno deveria começar com a cerimônia de abertura e o jogo inaugural, porém o narrador pegou Covid-19 alguns dias antes do início da Mundial e o início da despedida foi adiado para a estreia do Brasil contra a Sérvia, ausência que o locutor compensou com seus vídeos nas redes sociais, inclusive no Tik Tok ©, com quem tem contrato, e de outras empresas das quais é garoto-propaganda, a alternativa pensada pela Globo para segurar o locutor quando renegociou suas bases salariais... Galvão foi substituído por Luis Roberto, que teve um problema de garganta e não pode fazer o jogo entre Alemanha e Japão, o qual se tornou a grande oportunidade de Renata Silveira, a primeira mulher a narrar jogos de Copa do Mundo na emissora, mesmo que dos estúdios no Rio de Janeiro, até então confinada aos sonolentos jogos da “madrugada”... E Renata, que em todo o período de quatro jogos diários sempre teve a sorte dos gols das partidas das sete acontecerem no último terço dos confrontos, fase em que soltava a voz e dava brilho a jornadas monótonas, foi escalada para fazer a surpreendente virada dos japoneses em cima dos alemães, aumentando com sua narração o peso da façanha do Japão e do vexame de Alemanha... Alis, como a Globo seguiu o exemplo dos Jogos do Japão ano passado, economizando no isopor e não montando um estúdio no Catar, como havia feito na região da Praça Vermelha em 2018, e ter feito os jogos no Rio de Janeiro é uma das razões mais fortes para o adeus definitivo de Galvão Bueno acontecer nos Jogos de Paris, em 2024, também ficou no Brasil Gustavo Vilani, cujo estilo zoeiro – o comentarista Paulo Nunes era seu “esparro” - e "secador" teve seu melhor momento com o tropeço da Argentina na estreia e as eliminações precoces de Alemanha, Bélgica e Espanha, mas ficou um pouco ofuscado quando o Brasil saiu da Copa e a Argentina chegou à final, e os mata-matas foram o momento em que Luis Roberto cresceu ao poder retomar seus deslumbrados bordões, “sabe de Kane”, “esses negros maravilhosos”, num momento em que Galvão, envolvido pelo tautismo da despedida, pegava leve nas criticas a Seleção Brasileira depois da derrota para a Croácia e pedia desculpas por ter faltado voz para gritar o terceiro gol de Mbappé para a França na final... Luis teve o privilégio de narrar os jogos "in loco", acompanhado por Caio Ribeiro e Roger Flores, que chamava de “meus influencers”, sempre com um “quiz” para testar seus conhecimentos sobre Copa do Mundo, tipo o “hat-trick” do tcheco Thomas Skuravy nas oitavas de final de 1990, deferência negada a outro experiente locutor global, Cleber Machado, uma pista de que Luis será o novo "number one" da emissora, isso e ter aparecido na cabine do Lusail durante as homenagens a Galvão, embora Cleber tenha se mantido em evidência por outro motivo além das narrações... Entre os comentaristas, tivemos Ana Thais Matos, com observações precisas durante os jogos do Brasil, que Galvão Bueno gostaria de ter como sucessora, que fez as partidas da Seleção acompanhada do experiente Leovegildo Lins da Gama Júnior – que chamou de “juvenil” os pênalti do francês Dembelé na final - e do tetracampeão Roque Júnior... Falando em tetracampeões, Ricardinho (OG) trabalhou forte nos Estúdios Globo ao lado de uma excelente revelação, Diego Ribas (OG), que acabou de deixar os gramados, e que conseguiu ser efetivado na emissora após o “estágio” na Copa, Paulo Nunes, também no Brasil, impressionou-se com a seleção de Marrocos, isso quando Gustavo Vilani não lembrava que Louis Van Gaal era o técnico no Ajax que venceu o Grêmio nos pênaltis no Mundial de 1995, Richarlison foi um ponto de apoio importante nas heroicas narrações de Renata Silveira nas “madrugadas” da Copa, além do trabalho forte do inoxidável Zé Roberto (OG)... Entre os repórteres, descontado o empurrão do experiente Eric Faria ao vivo, no "Bom Dia Brasil", pouco antes do início do torneio, e o comparecimento tardio de Fernanda Gentil, que escalada para fazer reportagens destinadas ao "Mais Você" e a interagir com Ana Maria Braga, repetindo a experiência de 2018, chegou ao Catar depois da eliminação no Brasil e reclamou que já queriam seu retorno, cabe ressaltar o talento emergente de Karine Alves nas entradas ao vivo, ao lado dos já conhecidos Felipe Andreoli e Carol Barcelos, acompanhando a Seleção Brasileira, e as matérias de Carlos Gil, Edgar Alencar, Edson Viana, Felipe Brisolla, Guto Rabelo, Júlia Guimarães, Marcelo Courrege e Pedro Bassan... Como o assunto são os repórteres, não poderíamos deixar de registrar a declaração que a repórter Daniella Dias ouviu do funcionário público Matheus, na entrada da estação Carioca do Metrô Rio, durante uma entrada ao vivo no "Bom Dia Rio" em 28 de novembro, de que o Brasil venceria a Suíça com gol de Arrascaeta... Ops!!!... Ainda focando nos "reporteros", lembramos a atuação dos repórteres das emissoras que não transmitiram os jogos da Copa, mas que resolveram ir além do pacote de compactos de três minutos dos jogos vendidos pela Globo e mandaram equipes ao Catar... O SBT contou com a dupla André Galvão e Sérgio Utsch nas reportagens e entradas ao vivo, como a que entrevistaram Celso Portiolli depois da vitória do Brasil sobre a Coreia do Sul no “SBT Brasil” e o trabalho forte de Domitila Becker para o “SBT Sports”, seja entrevistando irananias que protestavam contra as restrições impostas pelo governo no país (chegando a ser agredida por torcedores pró-regime...) ou chamando o confronto entre Estados Unidos e Inglaterra de “partida de tênis”... A Record, que adquiriu os direitos de transmissão para a TV Miramar, de Moçambique, no Brasil veio com a “Conexão Catar” nos telejornais, apresentada por Marina Sibilada, digo, Milena Ceribelli, com reportagens do experiente Roberto Thomé e de Bruno Piccinato, este que fez o Defante falando de falcoaria numa reportagem do “Domingo Espetacular”... Falando em experiência, o “Jornal da Band” trazia os comentários de Elia Júnior, o próprio, diretamente do Catar, além das reportagens de Fernando Fernandes, Nivaldo de Cillo, e de Glenda Koslovsky, a própria, que acompanhou a Copa de 2018 pela Globo, o que lembra a presença de Casagrande e Mauro Naves, dois nomes globais do Mundial anterior, na UOL e na ESPN Brasil, também no país-sede do torneio, enquanto as cornetadas de Milton Neves e Neto (OG) fizeram-se ouvir nos estúdios da região do Morumbi, pois, segundo consta, a Globo não licenciou a Bandsports para transmitir os jogos... Até a Rede TV! mandou o repórter Marcelo Oliveira ao país do Oriente Médio, enquanto exibia os comentários de ninguém menos que Silvio Luiz, apostando na longevidade de Messi para a Copa de 2026... Por falar em irreverência, o pessoal do "Central da Copa" viveu o seu melhor momento desde que foi criado por Tiago Leifert na Copa de 2010, comandado por Alex Escobar, em boa parte graças ao talento de Marcelo Adnet, que roubou a cena imitando Galvão Bueno, Neto (OG) – em intervenções quase tão polêmicas quanto as do original, que desceu a lenha no Adenor depois da eliminação do Brasil - Silvio Santos e Tite, entre outros, encarnando ainda o repórter Eli Teral, uma gozação com as metáforas e rimas das passagens das reportagens televisivas (um pouco Britto Junior, um pouco Régis Rosing...), e alcançando o feito de comandar um programa inteiro caracterizado como Cleber Machado, o melhor desde a estreia da Central, onde Escobar, Lucas Gutierres, o ex-jogador Fred e Jojo Todynho trabalhavam forte nas piadas internas... Não, a Deborah Secco fez o “Tá na Copa” na Sportv, um figurino por dia, conforme atesta o Instagram ©, embora Pancada tenha priorizado os comentários do técnico do Foguinho, Luis Castro e as performances dos cavalinhos no GE... Ops!!!...
Narrador popularizou-se com as vitórias de Ayrton Senna, como esta que Doutor Paulo entrega o troféu em 1993... |
Também é necessário lembrar que até a Copa do Mundo de 1994, Galvão Bueno era mais conhecido pela Fórmula-1, fazendo a Seleção em Copas apenas na ausência do titular, como no jogo com a Argélia que Osmar Santos se ausentou por razões de “Mal de Montezuma”, em 1986, identificação que também era influenciada pela amizade pessoal com o tricampeão Ayrton Senna, os dois chegaram a ser sócios em uma produtora que terceirizou o esporte da recém-inaugurada Rede OM em 1992, que permitiu a ele narrar o título do Bambi na Libertadores, marcando a retomada do interesse dos times brasileiros pelo torneio, mas não o ouro inédito do vôlei nos Jogos de Barcelona, apresentado na Globo por Luiz Alfredo... Depois do Mundial nos Estados Unidos, a Globo, que já quebrara o tatu do futebol nos domingos à tarde com a Copa União em 1987, passou a ter, na expressão de um colega de microfone de Galvão, Luis Roberto, "uma grade de futebol", com direito a exclusividade nas transmissões domésticas, situação bem diferente de quando as primeiras conquistas nacionais do Timão, o Brasileiro de 1990 e a Copa do Brasil de 1995, foram mostradas somente por Band e SBT... Também no Brasil a Globo tendeu ao monopolismo, ora manobrando com o Clube dos 13, ora implodindo o grupo e fazendo acertos clube a clube, a começar por Fla e Timão, para seguir sozinha com o Campeonato Brasileiro em 2011, alguns anos antes, em 2003, a emissora travou uma batalha judicial para impedir a transmissão exclusiva do Campeonato Paulista pelo SBT, que colocou Sônia Abrão para defender a emissora no “Falando Francamente” e chamou Luciano do Valle para alguns “frilas” de narração nas finais, ao que a Globo respondeu com o “Repórter por Um Dia” de Sabrina Sato, vinda diretamente do BBB, na decisão que o Timão venceu o Bambi... Uma situação que, a despeito da resistência de alguns clubes, como o Fhuracão, a Porcaria e o Peixinho, chegou ao limite na pandemia, quando a Globo, apertada financeiramente, abriu mão do Campeonato Carioca e da Libertadores, com o Fla no auge, em 2020, perda que é uma das explicações para o resultado do BBB no ano seguinte, deixou a Fórmula 1 para a Band, mesmo sendo o lugar onde Galvão ganhou fama, e viu a Copa América de 2021 – que a Argentina ganhou no Maracanã com Di Maria fazendo o gol do título - e o Campeonato Paulista de 2022 caírem nas mãos de SBT e Record, afora competições mantidas só para a concorrência não fazer e hoje estão em outra sintonia, como a Copa Sulamericana e a Champions League... A Libertadores até voltou para a Globo, fazendo a alegria do Pancada, que não aguentava mais o Téo José torcendo para o Verdinho, porém os tempos não são mais de uma única voz do Brasil, como nas Copas em que Galvão Bueno esteve amparado pela exclusividade...
Na Copa de 1994, o Galvão da Fórmula-1 passou a ser mais associado ao futebol, com forcinha do Edson (OG)... |
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