quarta-feira, 13 de maio de 2020

Globo cinquentinha é mais notícia...

Em 2015, quando Cid Moreira e Sérgio Chapelin voltaram à bancada do JN, nos 50 anos da Globo, público pediu mais... Ops!!!...



























(Publicado originalmente em 27 de abril de 2015...) Na semana passada, de segunda a sexta, o “Jornal Nacional” ofereceu uma visão dos principais acontecimentos do Brasil e do mundo nos 50 anos de existência da Globo, a partir de uma “reunião de turma” dos repórteres mais experientes da emissora – junto com o cinegrafista Orlando Moreira e o narrador esportivo Galvão Bueno – comandada pelo atual apresentador e editor-chefe do noticiário, William Bonner... Sandra Passarinho – apelido que virou sobrenome, vide livro "15 Anos de História" – Glória Maria, Luis Fernando Silva Pinto, Renato Machado, Francisco José, Ernesto Paglia, Pedro Bial, André Luiz Azevedo, Heraldo Pereira, Ilze Scamparini, Caco Barcelos, Fátima Bernardes, Marcelo Canellas, Tino Marcos e Renata Vasconcelos compartilharam suas lembranças ao reverem imagens de antigas reportagens enquanto Bonner alinhavava as histórias para dar a versão da emissora sobre o período de sua existência... Aos petistas que encaram a Globo como o veículo oficial do “Partido da Imprensa Golpista”, Bonner brandiu as entrevistas exclusivas que conduziu com Luis Inácio e Dilma Rousseff após terem sido eleitos pela primeira vez, em 2002 e 2010... Nem precisou dizer que sob o governo petista, um ex-repórter global – Hélio Costa – se tornou Ministro das Comunicações... Falou-se no “dito mensalão”, porém os protestos de junho de 2013 foram destituídos de todo o viés antipetista... Dizer que o texto de abertura de uma reportagem levou a interpretação de que a emissora era contra a campanha das Diretas em 1984 – vale lembrar que essa locução, feita por Marcos Hummel, está no documentário inglês “Além do Cidadão Kane”, de 1993, que quando teve trechos exibidos no “Repórter Record”, em 2009, foi narrado pelo próprio Hummel, que coisa, não – ou que a Globo cometeu um equívoco ao editar o debate decisivo entre Lula e Collor nas eleições de 1989 – sendo que a emissora não realizou nenhum debate no primeiro turno e os dois do segundo foram levados ao ar por meio de um pool com SBT, Manchete e Band – não vai diminuir a fúria dos críticos da emissora, inclusive o militante do “Tem que Dar”... Nesse ponto, pode-se considerar as menções aos locutores esportivos de emissoras concorrentes – Wilson “Barão” Fittipaldi (imaginem a reação do Tuta e do Tutinha da Jovem Pan, que não vão com a cara da Globo...), Walter Abrahão, Fernando Solera e, principalmente, Luciano do Valle – como um avanço... O desfile de repórteres e reportagens ao longo de uma semana registrou poucas ausências de monta... Destacamos as omissões de Paulo Henrique Amorim e Luiz Carlos Azenha, por motivos óbvios – e políticos... Hoje ambos os dois desenvolvem intensa atividade “bloguística”, declaradamente contra a Globo... Se bem que... O grande momento do Azenha – entrevista com Gorbachev na rua em Moscou – aconteceu na Manchete, em 1988... Agora, esquecerem de Marcelo Rezende é injustificável... Aquele “Globo Repórter” sobre Ricardo Teixeira em 2001 ainda pesa... Uma “quase omissão interna”: Patrícia Poeta... Que está relacionada com as idas e vindas de seu ilustre marido, Amaury Soares, no comando do jornalismo a Globo... Sim, não iriam colocar ela comentando ao ver um carro de reportagem pegando fogo durante os protestos de 2013 no Rio... A cena até foi exibida, mas sem a observação da jornalista... “O SBT é uma emissora de TV”... Ana Paula Padrão não foi esquecida, ainda que não esteja mais atuando com “hard news”... Não haveria razão para não mencionar as excelentes reportagens de Roberto Cabrini – vide PC Farias e Ayrton Senna – assim como a homenagem aos apresentadores falou em Celso Freitas... Entretanto, Valéria Monteiro, uma das primeiras mulheres a participar do “Jornal Nacional” na bancada – as pioneiras nesse aspecto foram Márcia Mendes, na década de 1970, e Isabela Scalabrini, nos Jogos Olímpicos de 1988 – foi mencionada apenas de passagem por Bonner, quando relembrava sua experiência com Sérgio Chapelin... Mais ou menos na época em que constatou estarrecido que Cid Moreira tinha pernas - as quais ainda não tinham aparecido na capa de "Caras"... 


















Quando Bento XVI, o antecessor do Papa Francisco, renunciou em 2012, Ilze Scamparini estava de férias... Que coisa, não???...



























A série especial teve momentos “fail”... No primeiro dia, Caco Barcelos constatando, entre tantos “coleguinhas” com trajetória de correspondentes internacionais tarimbados, ser o único especialista em reportagem social... “Periferia”, disse ao ver a passagem que fez durante um protesto... Felizmente Caco teve o destaque devido ao poder relembrar no terceiro capítulo da série algumas de suas matérias investigativas – por uma questão de segurança adotada desde o assassinato de Tim Lopes, em 2002, os produtores que auxiliam os repórteres nesses trabalhos não são mencionados – e quando foi mostrado seu entrevero com os manifestantes de junho de 2013... Isso porque os episódios seguintes demonstraram que a importância dada aos correspondentes no exterior, motivado pelas restrições da censura ao noticiário nacional durante a ditadura militar – muito maior do que o impedimento de Francisco José de mencionar a palavra “fome” nas reportagens sobre a seca no Nordeste, vide limitações de tempo de Ernesto Paglia para noticiar as greves do ABC em 1979, sendo que o próprio Roberto Irineu Marinho já declarou que havia uma diretriz de tratar as paralisações como um assunto “local”, ao mesmo tempo em que noticiários regionais eram suprimidos – diminuiu bastante com a evolução tecnológica – ainda que alguns correspondentes simplesmente aproveitassem o material das agências internacionais e das emissoras dos países em que eram residentes - e o investimento das emissoras concorrentes... Hoje, uma entrevista como a de Geraldo Costa Manso – atualmente nome de rua na região de Itaquera – com o presidente Ernesto Geisel, realizada no trem-bala japonês em 1977 (origem da recorrente obsessão dos governos brasileiros em implantarem uma versão do “Shinkansen” entre Rio e São Paulo...) pode acontecer em qualquer canal... Band, SBT e Record, em diferentes momentos, montaram grandes redes de correspondentes... Se William Bonner fez os funerais do Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em Roma, em 2005, bem ao seu lado estava o Julinho Gomes da Band... As mesmas notícias sobre o Japão trazidas por Roberto Kowalick eram reportadas ali mesmo pela Catarina Hong da Record... Jacques Gomes fez um excelente trabalho como correspondente do SBT em Buenos Aires... Ainda no primeiro dia, Glória Maria ficou assustada quando Bonner anunciou que ela fez uma reportagem sobre o desabamento do elevado Paulo de Frontin no Rio, em 1971... O que fatalmente desmentiria sua declaração que teria nascido em 1959... Por que não admitir logo os seus 68 anos???... Se não teve que revelar a idade não precisou repetir que era chamada pelo presidente-general João Figueiredo de “aquela neguinha da Globo”, como disse no “Viva o Sucesso”, exibido pelo Viva... Na segunda parte, William Bonner lembrando da inseminação artificial feita por sua esposa, Fátima Bernardes, presente no estúdio, ao reportar o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978... Ao telespectador de hoje, acostumado com Pedro Bial e seus discursos impenetráveis no BBB, é curioso ver o jornalista, onipresente como no “reality-show”, anunciando não o resultado de um paredão ou o vencedor da atração, mas a reunificação da Alemanha em 1990 e a resistência ao golpe na União Soviética em 1991 – fatos telembrados na terceira parte da série... Não induzindo participantes com perguntas capciosas, mas ouvindo os relatos de jornalistas brasileiros reféns do exército do Iraque na Guerra do Golfo em 1991, ou as declarações de Ronaldo antes de disputar a final da Copa do Mundo da Fifa © de 1998 na França – estas mostradas no quarto capítulo... Na falta de concorrentes entregando todos os seus segredos no confessionário da casa do BBB, o próprio Bial fazia confissões sobre o dias turbulentos em Moscou durante o golpe em frente à “Casa Branca” – o parlamento russo, de onde Bóris Yeltsin comandou a resistência aos golpistas... Bial não falou em Susana Werner, a quem chegou a entrevistar durante o Mundial de 1998, porém diz ter comemorado como um gol o “furo internacional” de que nas ruas da capital soviética a população se revoltava contra o golpe – e depois também contra Gorbachev, o golpeado, e a própria URSS... E hoje a Globo é chamada de “golpista”... 



















Ficou de fora a entrevista com o homem que dizia ter fechado os olhos de Eduardo Campos após acidente fatal em 2014... Ops de novo!!!...



























Algumas coisas não foram ditas... Não seria muito cordial em um momento tão festivo... No terceiro dia, quando Galvão Bueno disse “Eu sabia!” ao ver Ayrton Senna deixando Gehard Berger ultrapassar e vencer o GP do Japão de 1991 ele tomou uma tremenda bronca do Boni... “Se sabia, por que não falou antes???”... Na última parte da série, Ilze Scamparini estava de férias quando Bento XVI renunciou, em fevereiro de 2013... José Roberto Burnier foi “trollado” no dia do acidente de Eduardo Campos, em agosto de 2014... Coberturas ao vivo tem muito atropelo, na correria não seria simples observar que, pela destruição provocada pela queda do avião, dificilmente o presidenciável estaria praticamente intacto como a “testemunha” relatou... A última parte teve instantes de reconhecimento – com os cinegrafistas do jornalismo da Globo “assinando” alguns de seus trabalhos, com destaque para cenas raras do incêndio do edifício Joelma, em 1974, registradas por Newton Quilichini – e de emoção - a homenagem aos dois mais lembrados apresentadores do “Jornal Nacional”, Cid Moreira e Sérgio Chapelin... Momento que tocou fundo na memória afetiva do público, num recall sentimental também provocado pelos fatos esportivos e pela beleza de Fátima Bernardes - e fez pensar que não seria má a ideia de colocar os experientes locutores noticiaristas no lugar de William Bonner... A Renata Vasconcelos pode ficar... Recordações felizes para quem respondia o “Boa noite” de Cid – exceto quando recitou o poema “José”, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1987... Na falta do famoso direito de resposta de Leonel Brizola, de 1994 – o próprio ex-governador do Rio apareceu apenas na época da anistia em 1979, sem nenhuma menção a tentativa de fraude contra o líder do PDT nas eleições de 1982, assunto que virou livro de Paulo Henrique Amorim e que seria abordado em profundidade por Eliakim Araújo - é o que tinha para hoje... O que não é dito ali é que o conceito de apresentação mudou... Quando, em 1996 houve uma mudança radical no comando do jornalismo global, Alberico Souza Cruz – muito ligado a Boni, que seu antecessor Armando Nogueira (demitido na sequência do debate editado, ele e Lucas Mendes, até bem lembrado na retrospectiva do JN...) reconhecia como “criador” do “Jornal Nacional”, vide entrevista no “Programa do Jô” – foi substituído por Evandro Carlos de Andrade – vindo do jornal “O Globo” e muito próximo dos filhos de Roberto Marinho, que tomaram as rédeas da emissora do pai do Bofinho nessa época – a “cabeça falante” deu lugar ao “homem-âncora”, que normalmente é o editor-chefe do telejornal... Função exercida há quase vinte anos por William Bonner, calcada mais no estilo dos noticiários estadunidenses – vide Walter Cronkite, Barbara Walters, e mesmo o mexicano Jacobo Zabludovsky, cujo “24 Horas” usava a mesma música “The Fuzz” do noticiário da Globo - e menos em comentários sobre as notícias, modelo consagrado por Joelmir Beting e Bóris Casoy e que hoje é lamentavelmente defendido por Rachel Sherazade... Band e SBT já foram boas nisso... Será que Homer Simpson ainda é o parâmetro do “modo de fazer” adotado por Bonner no “Jornal Nacional”???... 



























Também não lembraram o dia de 1986 em que o internauta Pedro Henrique conheceu seu repórter favorito, Heraldo Pereira...

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