sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Os Vinte e Poucos Anos do Poliana...

Todo internauta que pede o "Lance!" emprestado para ler se lembra de alguma manchete sem noção do jornal...



































































Nos encartes promocionais distribuídos em bancas antes do lançamento, há 20 anos atrás, em 1997,  o jornal “Lance!” prometia colocar em campo uma “Seleção Brasileira de Jornalismo”... O que não refletia nos salários dos jogadores,  quer dizer, dos repórteres... Caso o time, ou melhor,  o jornal não agradasse a torcida, o Poliana já tinha a solução...  Brindes, muitos brindes... Que fariam os leitores recortarem os selinhos impressos na capa durante vários dias, colarem em uma cartela e trocarem pelo presente, em alguns casos pagando um valor adicional...  O primeiro brinde da série foi uma bola de futebol... Sobre a qual o jornal não escondia o fato de ser produzida no Paquistão, vide mão-de-obra barata... Alis, trocar a cartela preenchida pela bola era um excelente pretexto para conhecer a sede do jornal, na Rua Bernardo Wrona, perto da Rua Luar do Meu Bem, na região do Limão... Com sorte, algum repórter que estivesse na redação poderia convidar para uma visita a redação,  com vista para a gráfica... Que sempre lidou com um problema crônico de capacidade ociosa, pois o jornal imprime menos exemplares do que o esperado inicialmente... Tanto que ela se viu obrigada a oferecer seus serviços para terceiros... Sem citar que um dos clientes é o jornal do MST, digo... Nas mesas de trabalho, o visitante, ao olhar os computadores seria informado de que as páginas do jornal eram diagramadas, seguindo os padrões estabelecidos por um escritório de design catalão, em um programa de computador chamado "Good News"... Talvez tenha a ver com aquele princípio do jornalismo sensacionalista,  "Bad news are good news"... No L! seguia-se outro princípio,  "Gente de terno não vende", ou seja, a prioridade era o factual, não a política do esporte... Mas voltando ao visitante, quem sabe ele poderia deparar naquele local acarretado de azul com a única mulher da redação,  que ganhou o apelido de "Lorão" de um vigia que queria entregar a chave do carro dela, Stycer... Outros brindes vieram, e o jornal montou uma recepção para fazer a entrega, tirando o prazer das visitas à redação...  Depois da bola, vieram as camisetas – nas Copas do Mundo, anunciadas por garotas-propaganda como Milene Domingues – antes de Ronaldo – e Susana Werner – depois de Ronaldo - bonés,  bandeiras do Brasil - também distribuídas em estádios em dias de jogos da Seleção Brasileira, vide a chuva de mastros de plástico em um jogo do time brasileiro com a Colômbia nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002 - canecas e um artigo muito apreciado, especialmente entre os mineiros,  as mochilas... O tabloide generalista "Mais!", criado há sete anos atrás para concorrer com o "Meia Hora", quando o jornal carioca tentou se estabelecer em São Paulo - ofereceu uma bolsa térmica e utilidades domésticas... Quanto ao L!, a distribuição de brindes ficou mais ambiciosa,  com carteiras, relógios, GPS para veículos e telefone celular com capacidade para quatro chips... Nesse caso, além da cartela,  era preciso pagar 199 reais, além de torcer para que o aparelho funcionasse... Ops!!!... Livros e fascículos também estiveram no esquema... O primeiro deles foi "Todas as Copas", que hoje é entregue completo aos leitores, sem esquecer do pagamento de um valor adicional no ato da troca da cartela... Logo em seguida vieram "Brasil 98", que trazia a biografia dos jogadores da Seleção Brasileira que jogaria o Mundial na França - inclusive Romário,  antes do corte - e "A Copa 98 Dia a Dia", com direito a fichário para guardar os fascículos,  uma iniciativa tão interessante que não se repetiu... Outros livros foram entregues de uma só vez, como “Almanaque Interativo dos Mundiais” e a “Enciclopédia do Futebol Brasileiro”... Esta, ao ganhar uma reedição, recebeu um nome inspirado em uma conhecida página da internet, “Lancepédia”... Ops de novo!!!...





























Rua Bernardo Wrona, próximo à Rua Luar do Meu Bem, onde o vigia entregou a chave do carro do "Lorão"... Ops!!!...



































































O jornal também editou livros para venda em livrarias e na internet... Entre eles “Ronaldo – Drama e Glória no Futebol Globalizado” – de Jorge Caldeira, em parceria com a Editora 34 – “Meninos eu vi” – reunindo crônicas de Juca Kfouri na revista “Lance A+” – “Brasil, Os Reis do Futebol”, “História Completa do Brasileirão” – escrito por outro colunista do jornal, Roberto Assaf – e até mesmo um “Manual de Redação e Estilo”... Sem esconder as pretensões de monopolizar a informação esportiva...  Entre 2000 e 2007, todo sábado o jornal ia às bancas acompanhado da revista “Lance A+”, um esforço para tomar o espaço da revista “Placar”, que em resposta, chegou a promover a volta da edição semanal, até ter a circulação interrompida em 2002... Quando a concorrente veio com o slogan "A única revista semanal de esportes pentacampeã do mundo"... “Lance A+” trabalhava forte nos “gossips” do mundo do futebol com Fernanda Factori e sua “colaboradora” Mari Futy... Ainda que comprar o jornal e a revista não custasse mais do que dois reais (o famoso "dumping"...), o L! acabava encalhando nas bancas uma vez por semana, isso quando os jornaleiros pegavam menos exemplares para não ter prejuízo... Tanto que depois de uma fase “fitness”, com periodicidade mensal, em 2007, a revista foi substituída no ano seguinte pela “Fut!Lance”, com venda avulsa e foco no futebol internacional, agora de olho no público da revista “Trivela”, que fizera a transição da internet para os meios impressos...  Alis, pouco antes do lançamento do jornal impresso, entrou no ar o site “Lancenet!” – hoje “Lance.Com.Br” – para trabalhar forte junto aos internautas... A grande rede seria o caminho seguido pelo principal concorrente do “Lance!” em São Paulo, “A Gazeta Esportiva”... Em novembro de 2001, chegou às bancas sua última edição impressa... A partir daí, a cobertura do esporte foi centralizada no site “Gazeta Esportiva.Net”, que hoje abastece de informações até o próprio L!... Nessa ocasião, o jornal já havia incorporado ao grupo a agência de notícias Sport Press, também encarregada de escolher os jogos dos testes da loteria esportiva... A propriedade do “Lance!”, antes repartida entre cinco sócios – um deles as Organizações Globo - foi centralizada em seu criador, Walter de Mattos Junior, em sua empresa Areté Editorial... A poprósito, a trajetória corporativa do jornal é contada por um de seus primeiros repórteres, Maurício Stycer, no livro “História do Lance: Projeto e Prática de Jornalismo Esportivo”, lançado em 2009 e que ganhou uma reedição em “ebook” há dois anos atrás...  Lá esta também a saga do “Lorão”... Ops mais uma vez!!!... Nesse ponto, a situação do jornal não é tão boa... Nó último dia 15 de agosto, ele entrou com pedido de recuperação judicial, mais conhecida como concordata, aceito dois dias depois... Vide comunicado da empresa...  "A Areté Editorial S.A., Lance Imobiliária Ltda. e Lance Mídia Digital Ltda. deram entrada em pedido de recuperação judicial como forma de garantir a continuidade dos negócios... O objetivo da medida é o ordenamento e adequação dos fluxos financeiros de pagamento de passivos... A crise no mercado jornalístico em nível global, somada à recessão econômica que atinge o Brasil nos últimos anos, tiveram como consequência um acúmulo de passivos que precisam ser alinhados à geração de resultados das empresas para possibilitar a viabilidade do negócio... Importantes medidas internas já foram realizadas, como ajuste de custos gerais e despesas buscando uma operação superavitária...
O consumo de notícias e informações pelos meios digitais, em geral de forma gratuita, gerou grandes desafios para as marcas dominantes no mundo analógico, mas também oportunidades de expansão... A marca Lance! reconhecida entre as líderes de audiência no segmento, tem histórico de crescimento constante no mundo digital, especialmente nos aparelhos móveis... Neste cenário, o grupo seguirá trabalhando com o objetivo de ampliação dos níveis de audiência e a manutenção de um negócio sustentável, capaz de gerar e manter empregos"... Entre junho de 2016 e junho deste ano, a circulação paga do jornal caiu 22,8%, somando as versões impressa e digital, mantendo-se um pouco acima de 25 mil exemplares... Faz sentido... Comprar o “Lance!” todo dia na banca é uma rotina que começou a ficar cara demais...  O Mestre nunca atinou para esse detalhe, pois sempre pediu o jornal emprestado de outrem para ler, muitas vezes esquecendo de devolver... Isso porque o jornal sempre se preocupou em valorizar suas capas com títulos exclamativos, fotos sangradas, capas duplas (às segundas feiras...) e sacadas inspiradas com "Lusa na Libertadores!!!", "Campeão Carioca" (para uma vitória do Peixinho...), "PQPaulinho"... O preço do jornal em São Paulo, que era de 75 centavos no lançamento, em 1997, hoje é de 3 reais... No Rio de Janeiro, o L! custa a metade, R$  1,50, no entanto o grande desafio é conseguir encontrar um exemplar a venda nas bancas de jornais da cidade... Colecionar os exemplares desde a primeira edição era outro problema, ainda mais quando falta espaço em casa... Tudo isso levou a decisão de fazer uma assinatura digital do jornal... Sem contar a economia, pois o valor mensal é de RS 19,90, quase cinco meses menos do que a aquisição do L! nos jornaleiros durante 30 dias... Assim, em caso de comparecimento no Rio, ou em qualquer lugar do mundo com acesso à internet, só é preciso baixar o PDF da edição do dia... Uma pena que não dê mais para reciclar o jornal usando-o com os cachorros ou os passarinhos, algo que já era complicado anteriormente, pois o L!, todo colorido desde o primeiro número, e hoje a diagramação é menos carregada que no início, o formato, que era de tabloide europeu, passou a ser o de um tabloide comum, também tinha as páginas grampeadas... A ideia original era aproveitar o restinho da prosperidade econômica do Plano Real com um jornal esportivo de massa, inspirado no "Olé" da Argentina - inclusive as primeiras notícias sobre o novo periódico se referiam a ele como "Olé"... Com o preço de capa em 75 centavos, vá lá, mas 3 reais... Não é tarifa de ônibus, mas dá o que falar, digo...








































Afinal de contas, a revista "Lance A+" servia principalmente para deixar o jornal mais caro uma vez por semana...



































































Nos primeiros tempos, apesar do futebol ser o prato forte de todo o dia - manchetes que não sejam para os grandes clubes do Rio e de São Paulo são extremamente raras,  e mesmo em épocas de Copa do Mundo o jornal costuma fazer duas capas, para não perder de vista o leitor que torce para essas equipes, apesar de garantir que dá espaço ao "poliesportivo" - o maior prazer estava na leitura da coluna de Flávio Gomes,  que fazia a cobertura de automobilismo... Os textos, entretanto,  não eram focados no dia-a-dia da Fórmula-1,  mas em saborosas histórias de bastidores, seja das corridas ou das coberturas realizadas por Flávio... Um filão que Gomes explorou no livro "O Boto do Reno" e hoje nos texto de seu vlog... No futebol,  o que faltava em combatividade, e o fato do jornal ser chamado de Poliana tem a ver com essa tendência de ver apenas o lado cor-de-rosa do futebol, tentava ser compensado com humor, em especial na coluna de César Seabra e seus pitacos sobre o Boitatá...  Nessa mesma linha estavam os textos do "Fala, Doente", assinados por personagens representativos dos grandes clubes,  que tinham como "ghost-writers" os próprios jornalistas da redação... O corinthiano Tião Fiel, por exemplo, era "psicografado" por Marília Ruiz, a própria.... Que também se destacou nas colunas estilo "mochilão" que o jornal costuma publicar em épocas de Copa e Jogos Olímpicos - nos eventos realizados no Brasil, substituídas pelo relato do "Lado B" das disputas, a cargo de Luiz Fernando Gomes... Entre as colunistas,  é preciso lembrar de Luli Prudente,  vide história do assédio que sofreu em um vôo de Buenos Aires para o Rio... O peixeiro Doca Gonzaga, saiu de cena em 2002, feliz com o título brasileiro de sua equipe... O L! chegou a fazer um concurso para escolher o seu substituto, onde Doca Gonzaga Neto venceu MC Peixinho... A crítica aos equívocos da política do esporte viria com as colunas de Jorge Kajuru e principalmente de Juca Kfouri... Infelizmente o jornal encantou-se demais com o acordo do Timão com a MSI,  a ponto de Kia Joorabchian estrelar o anúncio da revista pôster com o time campeão brasileiro de 2005...  Deslumbramento que voltou com a ascensão de Andrés Sanchez e a construção do Fielzão,  mesmo que o guindaste tenha desabado bem na frente dos repórteres do jornal, que entrevistavam o dirigente no canteiro de obras do estádio,  em 2013... A política do futebol conseguiu seu espaço com Marcelo Damato,  que legou ao jornal a coluna "De Prima", claramente inspirada nas notas do "Painel FC", da "Folha"... Jornal que forneceu muito material humano para o "Lance!", inclusive remanescentes da grande reformulação da década de 1980, MAG e Matinas... Inspirado pelas atribulações da política brasileira a partir de 2013, o próprio dono do jornal,  Walter de Mattos Junior,  tornou frequentes as suas "Exclamações do Editor"... Clamava por mudanças no comando e na estrutura do esporte brasileiro,  porém conforme o impeachment de Dilma Rousseff avançou, o proprietário do jornal saiu de cena e não exclamou mais... Assim, a maior participação do jornal sobre os rumos da política esportiva continuam a ser editoriais de primeira página em ocasiões excepcionais, como no caso da prisão de Carlos Arthur Nuzman... Também é o tema principal das colunas do jornalista Luiz Fernando Gomes e do colaborador José Luiz Portella, ainda que este, figura de destaque da política esportiva nos governos do PSDB,  tenha sua credibilidade questionada devido ao envolvimento na investigação do cartel dos trens em São Paulo.... Também houve uma aposta nas fontes legitimadas para aprofundar o noticiário, reunidas na "Academia Lance!", mas cujas participações se tornaram cada vez mais esporádicas... O factual do futebol tinha dois Mestres nas colunas do jornal... M.B. e Roberto Assaf... Além de trabalharem forte na análise tática,  sabiam fazer críticas aos dirigentes na medida certa, e demonstravam amplo conhecimento histórico... Sem contar que os dois foram praticamente os únicos articulistas do jornal que apostaram no título da Alemanha na Copa de 2014...  M.B. saiu e Assaf, que em seus últimos textos manifestava um evidente ceticismo em relação à  Primeira Liga,  que era discretamente encorajada pelo jornal,  afastou-se devido a problemas de saúde... Hoje, a maioria dos colunistas são repórteres de carreira do jornal, fazendo um trabalho marcadamente protocolar... Há exceções,  como Marcelo Bechler e a ida de Neymar (OG) para o PSG, mas no caso a sua coluna é um apêndice do trabalho no "Esporte Interativo"... João Carlos Assunção,  que tinha um trabalho mais crítico, deixou de publicar sua coluna, e hoje concentra-se nas informações de bastidores do seu vlog... O único texto diferenciado é o de André K.... Alis, faz muita falta ao jornal um chargista,  função vaga desde a saída de Mário Alberto... Seção de cartas dos leitores também, ainda que as caixas de comentários da internet preencham – muito mal – esse vácuo... Falando em comentários, há 15 anos o “Poliana” é devidamente comentado – seria “cornetado” – pela seção mais constante do seu Bloquinho Virtual, as Lançadas... Alguns internautas não gostam, porém as observações que servem de contraponto ao estilo ufanista do jornal, algo que é feito com muita competência por outros colegas de rede, com relação a outros veículos, garantiram a sobrevivência do vlog em momentos difíceis...  Além do mais, a flexibilidade da internet permite que as Lançadas sejam ilustradas com imagens de outros temas que não o futebol, e abrigue comentários sobre política, televisão, transporte, gênero feminino, doce de leite, paçoquinha...

















































Com todo respeito à garota-propaganda do Mundo Novo, mas o anúncio do "Lance!, esporte todo dia" era melhor...

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