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Montaram magnífico cenário para receber Roberto Carlos, com aerólitos, digo, pedras disfarçando o retorno... |
No dia 25 de dezembro de 2011, a TV Globo reapresentou o show “Roberto Carlos em Jerusalém”, apresentado originalmente em 10 de setembro daquele mesmo ano, e que ocupou o lugar destinado ao especial do cantor, iniciativa repetida em 25 de dezembro de 2020, durante a pandemia de Covid-19, exatamente como propôs seu idealizador, o empresário do Rei, Dody Sirena, conforme relatado no livro "Um Show em Jerusalém - O Rei na Terra Santa", escrito pela jornalista Léa Penteado, que após comparecer à Terra Santa, sugeriu que seu artista fizesse uma apresentação no local, tendo em mente o êxito do projeto “Emoções em Alto-Mar” e olhando para o filão de turismo religioso representado pelas excursões a região de Israel (tanto de católicos quanto de evangélicos), o que é refletido na “playlist” do show pela presença de canções reflexivas e religiosas que há muito tempo estavam distantes dos especiais de fim de ano, caso de “Pensamentos”, “Eu Quero Apenas” e “A Montanha” (e a questão do turismo religioso pode explicar a ausência de músicas que remetem mais especificamente à igreja católica, como "Nossa Senhora", lacuna preenchida com "Lady Laura", a homenagem de Roberto a mãe...), o agente queria que o programa fosse o especial do ano, mas tinha receio de que devido à época da realização do espetáculo, em setembro, mais propícia do que no final do ano devido ao clima mais ameno na região, a rede de televisão não aceitasse a reapresentação, mas no final, o apoio da Globo, que aceitou viabilizou a realização do espetáculo, dando tempo para Roberto participar pela primeira vez da vinheta de final de ano da emissora, e proporcionando a oportunidade de uma mudança na direção da atração, assumida por Jayme Monjardim, o próprio, que havia dirigido a novela “O Clone”, de Gloria Perez, que focava na cultura islâmica, e gravou cenas de “Viver a Vida”, de Manoel Carlos, num país vizinho de Israel, a Jordânia, a marca do diretor pode ser vista no colorido das luzes projetadas sobre o palco, uma reprodução monumental dos principais templos religiosos da cidade, alis, o local do show, o anfiteatro Sultan’s Pool, era mais usado para apresentações de ópera, o que influenciou na inclusão de “Caruso” de Lucio Dalla na “playlist”, mesmo com o Rei reconhecendo não ser a voz mais adequada para interpretar a música sobre o tenor italiano do início do século XX, porém havia a necessidade de dar um ar “internacionalizado” ao show, e várias canções tiveram trechos interpretados em espanhol, inglês e principalmente, italiano, além da valsa “Jerusalém de Ouro”, cantada em hebraico, falando em cantar, o quórum do coro da plateia não foi tão grande quanto no show em Copacabana no ano anterior, mas os dois espetáculos tiveram em comum a apresentação de Glória Maria, que desta vez dançou com Roberto ao som de “Unforgettable”, testamunhada pelo experiente percussionista da trupe do Rei, Dedé Marques, excelente... O programa começa com o “Rede Globo Apresenta” e a vinheta “Roberto Carlos Jerusalém”, onde o R e o C entrelaçam-se e o nome da cidade é estampado em dourado, não por acaso, pois na sequência entram imagens da Palestina com o sol no horizonte e da Terra Santa, incluindo um close na cúpula dourada da mesquita Domo da Rocha, tocam os sinos, Roberto Carlos declara, “Jerusalém, a terra das boas aventuranças, dos profetas, dos messias” – não do Jair Messias, digo – “aqui neste florido jardim de luz dourada e constantes, entre dois desertos distantes, o milagre aconteceu, porque aqui viveu Jesus, entre muralhas e portões, entre sinos que ecoam por trás das pedras firmes de suas ruínas, cantar é uma forma de oração, Jerusalém divina, Jerusalém da humanidade”, close na cúpula dourada, onde o nome da cidade aparece no mesmo tom, corta para o palco, ouve-se um chamamento a oração dos muçulmanos, o cenário ilumina-se, revelando as fachadas de igrejas, mesquitas e muralhas, estas servindo de moldura para o telão nas laterais, “apresentação Glória Maria”, pelo segundo ano seguido, tocam sinos, “roteiro Marcelo Saback”, “direção geral Jayme Monjardim, Mário Meirelles”, Monjardim, filho da cantora Maysa, que teria namorado o Rei, “direção de núcleo Jayme Monjardim”, que esteve ali por perto gravando cenas da novela “Viver a Vida”, que dirigiu em 2009, na Jordânia, Glória Maria surge usando um vestido cinza, recebendo aplausos, “muitíssimo boa noite, é um imenso prazer estar aqui nessa mágica terra, dos messias, dos profetas, dos milagres” – não do Jair Messias, insistimos – “das promessas, das dúvidas, das dádivas, dos perdões, e do amor, claro, o fundamental, o amor, afinal, 17 vezes destruídas, mas 18 vezes construída, não será Jerusalém a figura do amor, e que nada pode aniquilar, e aqui, neste cenário de tantas certezas e ilusões, preparem-se para emoções inesquecíveis”, aplausos, “senhoras e senhores”, Glória fala com a voz embargada, “com vocês, Roberto Carlos!!!”, a orquestra de Eduardo Lages toca a versão instrumental de “Emoções”, o Rei, vestindo branco, passa por entre os músicos, posiciona-se diante dos aerólitos, digo, das pedras que escondem o retorno, faz uma reverência ao público, aponta e bate palmas para a orquestra, segura o microfone e diz, “que prazer, hehehe, rever vocês, que emoção estar aqui em Jerusalém, essa terra santa onde tantas coisas nos levam a meditar profundamente sobre a história do mundo, obrigado por terem vindo, obrigado por tudo”, Roberto ajeita o ponto eletrônico, “Jerusalém, a minha reverência”, o cantor curva-se, aplausos, celulares filmando na plateia, o Rei segura o microfone e começa a interpretar “Emoções”, de 1981, notem a oliveira representando o Getsêmani no palco, palmas para os músicos na parte instrumental, e o gemidinho no final reverberando como se fosse música sacra, digo – não podemos esquecer que Jayme Monjardim retratou a cultura muçulmana na novela “O Clone”, escrita por Glória Perez, que seria gravada no Egito, foi para o Marrocos, mas teve uma boate no Rio de Janeiro chamada Nefertiti, nome de uma imperatriz do tempo dos faraós, cujo letreiro usava a mesma letra do logo da Jequiti, e o dono, o egípcio Zein, era interpretado por Luciano Szafir, o pai de Sasha Meneghel, que é judeu... Roberto Carlos afirma, “gostaria de dizer muitas outras coisas nesse momento”, em que aperta o parafuso do pedestal do microfone, “acho que vou dizer cantando, que é o que eu sei melhor fazer”, e vai de “Além do Horizonte”, de 1975, close no violão do Paulinho, com a autoridade de dono do próprio canône, cantando que “só vale o paraíso com amor”, pedindo ao público na hora do “laralá”, “quero ouvir”, elogiando a plateia com brasileiros embandeirados, “afinadíssimos”, as mulheres do gargarejo retribuem com sorrisos, close no tecladista, mais um pedido no “larará”, “comigo!!!”, não esqueçam do coral antes do Rei pedir para parar, parou – a mudança de direção de núcleo do programa é propícia, os closes nos músicos e na plateia estavam ficando muito manjados... Ops!!!... O palco recebe uma iluminação azulada e Roberto Carlos canta “Como Vai Você”, do disco “A Janela”, de 1972, em espanhol, lembrando que Antônio Marcos e seu irmão Mário adaptaram uma música italiana, a segunda estrofe e o refrão vão em português mesmo, apontando “Clécio no saxofone solo na parte instrumental”, antes de repetir o refrão no idioma de Cervantes e novamente na língua de Camões, “pois é, como vai você”, pondo a mão no ouvido para escutar melhor o “como vai” da galera, que devolve o “você”, para a satisfação do Rei, “agora sim!!!”, aplausos – os maneirismos típicos dos shows ao vivo no Brasil fazem-se presentes em terras palestinas, e a inclusão do espanhol, além da evidente deferência ao público latino, é uma demonstração de que nosso idioma é mesmo a última flor do Lácio inculta e bela, ou seja, é pouco conhecida lá fora, e o idioma dos vizinhos predomina... Entram imagens de Jerusalém com narração de Glória Maria, “a fé e a inspiração reconstruíram essa cidade várias vezes, Jersusalém parece sobreviver ao tempo, três mil anos de história se encontram, tocam e encantam”, olha Roberto Carlos no meio das ruínas, “e o som das orações são como infindas canções de amor, entoando seu eterno recomeço”, de volta ao palco, o Rei fala, “todo mundo sabe que eu gosto de cantar o amor, eu gosto de falar de amor nas canções que eu faço e canto, o amor é algo sublime, amor de pai, de irmão, de amigo, de fé, de homem, mulher, de alma, toda forma de amor vale uma canção, sem dúvida alguma, e faz dele a motivação da vida, com certeza, o amor é uma fonte inesgotável”, Roberto ouve os aplausos e completa, “de inspiração”, e interpreta, “Como é Grande o Meu Amor por Você”, de 1967, ...com as luzes do palco ganhando um tom sulferino, olha o piano da orquestra e a oliveira do cenário, na parte instrumental, Roberto apresenta “Tutuca nas cordas solo”, não confundir com o comediante do “Zorra Total”, este é Tutuca Borba, o teclado visto pela frente e por trás (!!!), o Rei ouve “ o meu amor por...” da plateia e devolve estendendo o ê de “você”, Kakay, é você no gargarejo??? – nos shows realizados no Brasil, o público costuma cantar a música inteira com Roberto, o que é resultado do resgate da canção na década de 1990, no entanto, o quórum de brasileiros aqui não é tão grande, embora dê para garantir as interações do cantor com seu público, que não eram muito valorizadas nos shows da gestão Roberto Talma, mas, enfim... Roberto Carlos senta no banquinho, recebe o violão da produção e confessa, “este é um momento muito delicado para mim, porque eu nunca cantei essa canção em tantos idiomas ao mesmo tempo, né, vou tentar”, o Rei ajusta as cordas do violão, “acho que até vou conseguir”, e depois de dedilhar os acordes iniciais de “Detalhes”, do disco de 1971, começa cantando em português, “nãoadiantanemtentarmeesquecerdurantemuitotempoemsuavidaeuvouviverdetalhestãopequenosdenósdoissãocoisasmuitograndespraesquecereatodahoravãoestarpresentesvocêvaiver”, prosseguindo em espanhol, “si otro hombre apareciera, por tu ruta, y eso te trajese recuerdos míos, la culpa es tuya, el ruido enloquecedor de su auto, será la causa obligada o algo así,inmediatamente tú vas, a acordarte de mí”, o som dos acordeons introduzem a parte em italiano, "lo so che un altro parla sussurrando al tuo orecchio, parole dolci che ho giá detto, ma io non credo, non credo che lui senta tanto amor, persino nell’errore quando sbaglio le parole, e ancora in quell’errore tu cadrai, ricorderai” – falando em detalhes, Roberto usou a tradução feita por Massimo Deda, e não a gravada pela cantora Ornella Vanoni com o título “Dettagli” – e agora em inglês, “i know this things are disappear, as time goes by, buy things in your hearts, will never die, they we are go lonely in separate ways, or always takes in always be,, and in this cause is like to they, you will remember me, terminando a apresentação em bom português, “sealguémtocarseucorpocomoeunãodiganadanãovádizerseunomesemquereràpessoaerradapensando ter amor nesse momentodesesperadavocêtentaatéofimmasaténessemomentovocêvai vocêvailembrardemimeuseiqueessesdetalhesvãosumirnalongaestradanotempoquetransformatodoamoremquasenadamasquasetambémémaisumdetalheumgrandeamornãovaimorrerassim porissodevezemquandovocêvaivocêvailembrardemim”, em tempo de repetir o “não” de “não adianta nem tentar me esquecer” – Roberto lançou a versão em inglês de “Detalhes”, adaptada por Buddy Mary McCluskey e Sue Sheridan, com o título “You Will Remember Me” em 1981, substituindo a parte da “longa estrada” por uma citação ao tema do filme “Casablanca”, “As Times Goes By”, na tradução da Google ©, “conforme o tempo passa”, a versão poliglota do maior sucesso do Rei é, novamente, uma forma de compensar o coro pouco numeroso de falantes de português na plateia, diferente da participação de Roberto no “Em Nome do Amor”, no SBT em 1997, onde a gravação em espanhol serviu de pretexto para Silvio Santos testar a proficiência do cantor no idioma... Ops!!!... Roberto Carlos entrega o banquinho e o violão para cantar em pé “Outra Vez”, de 1977, de novo com a iluminação em tom sulferino no palco, foca no tecladista, o Rei sorri e faz o Khaby ao chegar no “outra vez”, um suspiro, “ah!!!”, e o “outra vez” do final vem depois do público cantar “só assim sinto você bem perto de mim”, com um “lindo!!!” de bônus, então é por isso que o Rei comenta, “timidamente, mas bonito, agora vamos fazer bonito, sem timidez, sinto você bem perto de mim, perto de mim”, e a resposta coletiva vem em alto e bom som, na medida do possível, “outra vez!!!” – claro que na região de Copacabana o coro era mais forte, mas, enfim, olha o Viva seguindo os intervalos originais do programa, normalmente só colocava “break” depois de uma hora de show, começando por uma chamada de “Tapas e Beijos”, exatamente a série que substituiu a exibição dos especiais em junho, que coisa, não...
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Como em Copacabana, Glória Maria apresentou o show, só que desta vez teve um bailinho em "Unforgettable"... |
Voltando a Terra Santa, Roberto Carlos é flagrado em meio a sua interpretação de “Eu Sei Que Vou Te Amar”, que os mascotes dos Jogos de 2016, Vinícius e Tom, quer dizer, Vinícius de Moraes e Tom Jobim, compuseram em 1958, aqui, o cenário que reproduz Jerusalém ganha uma iluminação em tona avermelhados, o maestro Eduardo Lages substitui Antônio Wanderley no piano que não é exatamente um piano, celulares gravando na plateia, violinos trabalhando forte, tome declamação, “de tudo ao meu amor serei atento, quando ao zelo, e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais o meu pensamento, quero viver em cada vão momento, em seu louvor eu hei de espalhar meu canto, rir meu riso e derramar meu pranto, ao seu pesar, ao seu contentamento, e assim quando mais tarde me procure, quem sabe, a forte angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama, eu possa lhe dizer, meu amor, que tive, e é imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure” – Roberto sussurra a palavra “dure” – aplausos, o Rei visto por trás da oliveira, esperando o publico ecoar o “por toda a minha vida”, mais aplausos – é aquilo, pouca gente sacava a Bossa Nova... Roberto Carlos dá uma guinada de 180 graus, e com ajuda dos violões da orquestra, vai de “Mulher Pequena”, do disco de 1992, trabalhando forte no gestual para pontuar a letra, tome solo de sax, o coral contribui, “Paulinho no violão solo”, e vai ter trecho em espanhol, sim, ‘no hay ropa que se aguante, ni boton que se mantenga, ese amor que hoy sentimos, nada hay que lo contenga, yo te quiero asi pequena, de ese besos que me agita, cosa de mujer sabrosa, con un aire de chiquita, Ay!!!, ay!!!, ay!!!, esa voz dulce y serena, esa cosa delicada, cosa de mujer pequena, ay!!!, ay!!!, ay!!!, esa voz dulce y serena, mi corazón dispara, y es por ti mujer pequena” – das músicas de “mulheres temáticas” da década de 1990, “Mulher Pequena” é a mais lembrada nos especiais, faz sentido, a levada caribenha da melodia impede que o escracho tome conta, como em “Coisa Bonita”, não por acaso Silvio Santos disse que gostaria de gravar a música que fala em “coisa gostosa”, ao perceber a mesma galhofa presente na “Marcha do Barrigudinho” ou na “Marcha do Furunfa”... Ops!!!... Corta para a vista panorâmica de Jerusalém e foca no bosque de oliveiras, Glória Maria explica, “conta-se que estas oliveiras ouviram Jesus, suas preces, suas aflições, dizem até que suas sombras ainda guardam sua luz, entre flores e espinhos deste jardim, há suor e sangue, a seiva dessas milenares oliveiras, sabores e dissabores vividos um dia pelo filho de Deus”, Roberto Carlos vai do Getsêmani ao palco cantar “Pensamentos”, de 1982, com uma discreta luz azulada no palco, notem a bateria e a guitarra, em especial a de Paulinho Coelho na parte instrumental, o maestro Lages segue no piano, olha o Dedé na percussão, focalizado “discostas”, o Rei abriu a camisa, deixando ver a corrente do medalhão, “pensamentos que me afligem, sentimentos que me dizem, pensamentos que me afligem, sentimentos que me dizem” – das canções sobre fé, reflexivas e religiosas de Roberto, “Pensamentos” é bem menos conhecida, principalmente depois que os especiais deixaram de ter um segmento dedicado a essa parte do repertório do Rei, então é por isso que a música foi interpretada toda em português... Roberto Carlos diz, “essa canção eu fiz há muitos anos, eu era um menino, a força da fé nos ajuda a prosseguir, com certeza, pelos caminhos que temos que ir, nos ajuda, com certeza”, e canta “Ave Maria”, que não é exatamente uma composição própria, “sino” de Franz Schubert, composta em alemão no ano de 1985, e que o Rei interpreta na versão em italiano, sem alusões aos romanos presentes na história de Jerusalém, que falavam latim, um holofote no palco proporciona uma aura a Roberto, o público ouve com os celulares desligados e em silêncio, apenas no final um brasileiro embandeirado é focalizado – lembrando que Franz Schubert é o nome de uma rua em São Paulo que na década de 1990 sediava algumas das mais importantes baladas da cidade, quanto a "Ave Maria", originalmente “Ellens dritter Gesang” ("A Terceira Canção de Ellen"), parte da adaptação do poema “A Dama do Lago”, de Walter Scott, que depois teve a melodia agregada ao texto da oração católica, também é uma presença esporádica nos especiais, e a inclusão da versão em italiano (Agnaldo Rayol, que saiu de cena em 4 de novembro de 2024, celebrizou-se ao interpretar a música em latim, fortemente trabalhada na voz de barítono...) serve para dar um toque “internacionalizado” ao show realizado fora do Brasil, num idioma que é familiar a Roberto desde os tempos que usava bigode e defendia "Canzone Per Te" no Festival de San Remo... Roberto Carlos emenda mais um “stand-up”, “somos todos frutos de um ventre acolhedor e do querer de uma mulher, o doce querer, o amor incondicional de uma mulher, o amor incondicional de mãe”, dá para notar que o texto serve de deixa para o Rei cantar “Lady Laura”, de 1978, a orquestra acompanha na penumbra, o coral dá aquela forcinha no refrão, quando Roberto mais chama pela mãe, “Clécio no saxofone solo”, fazendo a parte instrumental, que costumava ser puro “rock and roll”, um pedido com o refrão, “quero ouvir”, embandeirados na plateia, o Rei olha para cima e agradece aos céus – a homenagem a dona Laura Braga estreou no especial de 1980, gravado no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, onde Silvio Santos apresentou algumas edições do Miss Brasil, um show que teve a presença da própria mãe do cantor, “sino” nenhum convidado especial cantando junto no palco, igual a esta apresentação em Jerusalém, e retornou a “playlist” da atração apenas em 2010, depois da saída de cena de Laura, dentro da proposta, adotada no ano anterior e neste, de variar mais o repertório, abrindo mão um pouco daquela “retrospectiva didática” usada em boa parte da última década...
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O Rei sabe porque esteve lá na região da Palestina, seguindo a Via-Crucis, só faltou ser tentado no deserto, digo... |
Na volta do intervalo, Roberto Carlos levanta a plateia ao começar a cantar “Olha”, do “disco do cachimbo” de 1975, voltam as luzes sulferinas, piano do maestro Lages trabalhando forte, notem a ênfase com a mão da parte sobre “a cabeça cheia de problemas”, o cantor puxa pela memória, “e traz o meu passado e a lembrança, ou lembranças, coisas que eu quis ser e não fui”, tome violinos, depois do “eu que sempre fui tão inconstante, te juro, meu amor, agora é pra valer”, é a vez de “Proposta”, de 1973, o público curtiu, Paulinho e sua guitarra, e tem o tecladista, foco no Rei colocando a mão no peito e andando com o pedestal do microfone, após Dedé ser focalizado por trás em sua bateria, Roberto vem com “Falando Sério”, de 1977, palmas da plateia, uma panorâmica do palco e da audiência, levantando o dedo na hora do “por uma noite apenas”, pausa dramática, Roberto emenda sorrindo com “Desabafo”, de 1979, agora as luzes são esverdeadas, o público colabora em “mas sempre acabo em teus braços na hora que você quer”, o cantor concorda, “é isso aí, como você quer” – o “pout-pourri” permanece, não como o centro do show, mas como uma parte dele, sem didatismo... Focalizado na penumbra do palco, Roberto Carlos confessa, “poucas vezes eu me atrevo a cantar em inglês, porque eu acho sempre que o meu inglês é cais do porto, mas essa canção, ninguém conseguiu fazer uma versão dela, e posso dizer que esse tema é muito importante nesta noite inesquecível, tudo o que eu tenho recebido aqui é inesquecível, então isso é, vale a pena cantar em inglês uma canção que fale disso”, assim, o Rei interpreta “Unforgettable”, escrita por Irving Gordon, gravada por Nat King Cole nos estúdios da Capitol em Los Angeles, em 1951, e que quarenta anos depois, em 1991, foi sucesso num dueto de Nat, que saiu de cena em 1964, com sua filha Natalie Cole, num show de efeitos especiais, segue o homem, Paulinho, na parte instrumental, o Rei abre os braços e chama Glória Maria para dançarem juntos, Roberto ri litros, Dedé, do alto de sua bateria, observa o bailado satisfeito, o Rei encerra a dança com um beijo e um afago em Glória, que sai sorridente e um pouco encabulada do palco, porque tem a segunda parte da música para Roberto cantar, com violinos ao fundo, entrelaçando as mãos, finalizando com mais um abraço e dois beijinhos em Glória Maria, em meio aos aplausos e sob o olhar atento de seu percussionista de sempre, Dedé Marques – não que o Rei tenha a mesma extensão de voz do velho Nathaniel, no entanto a interpretação ficou muito melhor que a do Tio Mala de “A Grande Família”, suspirando de amor pelo Beiçola vestido de Dona Etelvina (Ops!!!), e Roberto deve estar certo de evitar gravar em inglês, abrindo uma exceção para as próprias músicas, nem no dueto com a Gabriela em 1987 ele traduziu “Imagine”, de John Lennon... Depois dos beijos, o Rei leva a mão a boca, “que bom”, e parte para um novo “stand-up”, “aqui, muçulmanos, judeus, cristãos, povos se unem em nome de uma força maior, cada cor tem seu valor, mas quando todas as cores estão juntas, o quadro fica mais colorido e mais alegre, é”, cantando em seguida “Eu Quero Apenas”, de 1974, mais conhecida como “Um Milhão de Amigos”, luz dourada no palco, cores variadas no refrão, saxofones trabalhando forte no final de cada estrofe, o Rei puxando palmas, a faixa citando outra música, “Jesus Cristo Eu Estou Aqui”, Roberto sorri, palmas na plateia, Paulinho Gogó, é você???, uma ajeitada no microfone para acomodar o “coro de passarinhos”, Antônio Wanderley de volta ao piano, o coral acompanhando no refrão, a garota loira agita os braços, “quero ouvir!!!”, a audiência dá as mãos, um sorriso acompanha os aplausos – outro importante resgate do repertório de Roberto, uma canção muito popular no Brasil e em toda a América Latina nas décadas de 1970 e 1980 mas que ficou de lado dos especiais a partir dos anos 1990, a letra “ecumênica” é bem apropriada para o local do show, na partilha da Palestina, em 1948, Oswaldo Aranha, corre aqui, Jerusalém seria dividida entre Israel e o Estado palestino, o que nunca aconteceu, 90% da equipe de produção do show era israelense e não se vê nenhuma bandeira da Palestina entre o público... Mas a essa altura, entrou outro intervalo, e na volta, Roberto Carlos trouxe o latido sorridente do cachorro de “O Portão”, de 1974, iluminação em azul, foca no piano do Wanderley, o Rei em pessoa emoldura com as mãos o retrato amarelado na parede, segura forte o microfone no refrão, notem o Dedé tocando pandeiro, “eu parei em frente ao portão meu cachorro me sorriu...”, pausa dramática, “latindo!!!”, o gesto rende aplausos calorosos, Roberto vai em frente, “sinceramente, eu sempre amei essa canção, mas nunca pensei em cantá-la, tive o atrevimento de cantar, porque essa canção é sempre cantada por cantores de vozes extensas, muito agudas, como o grande Pavarotti, o próprio Lucio Dalla, seu compositor, Zezé Di Camargo, nosso querido Zezé, cantores que cantam muito alto, mas eu me atrevi a cantá-la do meu jeitinho”, a plateia se agita, o Rei esboça um sorriso, “é”, interpretando “Caruso”, feita pelo citado Dalla em 1986, sobre a saída de cena do tenor Enrico Caruso, naturalmente cantada no idioma de Dante Alighieri, acompanha o maestro Lages, de novo no piano, o minarete do cenário ilumina-se de verde, o resto do palco ganha mais colorido, o Rei visto da oliveira, a orquestra dando uma força no refrão, aplausos – alis, outra das razões para a inclusão de “Caruso” na “playlist” do show é que o local da apresentação costumava ser bastante usado para apresentações de óperas, sem contar que uma das primeiras produções de Dody Sirena foi o show de Roberto com o tenor Luciano Pavarotti no Beira-Rio, em Porto Alegre, realizado em 1998... Mais imagens de Jerusalém, com destaque para o Muro das Lamentações, narra Glória Maria, “do antigo templo judeu, restou um muro de pedras, lágrimas, gratidão e perseverança, relíquia judaica, do poder imensurável da fé e da oração”, Roberto Carlos chega de quipá para fazer uma prece, colocando as mãos sobre a pedra, foca na reprodução da muralha no palco, o Rei canta a valsa “Jerusalém Feita de Ouro”, versão em português de “Yerushalaim Shel Zahav”, de Naomi Shemer, traduzida pelo jornalista Salomão Schwartzman, o próprio, palco dourado, “Jersualém toda de ouro, minha eterna namorada, estou aqui com meu calor, minha fé e meu amor”, mão no peito, um coral interpreta a música em hebraico, tem brasileiro de bandeira nas costas na plateia, é a vez de Roberto cantar no idioma de Israel, aplausos, o maestro rege e observa cantor e coral juntos na mesma voz, a audiência acompanha, vem o solo de violino, mais aplausos, todos entoando o refrão, o Rei aplaude o coral, a apresentação é aplaudida de pé, olha a faixa do pessoal de Porto Seguro – excelente homenagem aos anfitriões do show... Intervalo, Glória Maria faz a narração das imagens da Basílica do Santo Sepulcro, “nem mesmo os poetas poderiam expressar a energia que emana deste lugar, aqui o corpo de Cristo foi amparado e lavado por mãos amigas, envolto em pano suave, e de essência perfumada, aqui o destino Dele se cumpriu, e o nosso???”, Roberto Carlos toca a laje de pedra que teria recebido o corpo de Jesus e se benze, “Obrigado, Senhor”, para quem conhece a obra do artista, é a deixa para ele cantar “A Montanha”, de 1972, o palco salpicado de luzes verdes, foca no Paulinho, o público agita os braços ao ritmo dos “Obrigado Senhor” do Rei, os brasileiros na plateia cantam junto, foca na fotógrafa de imprensa na plateia, “mais uma vez, obrigado Senhor por um novo dia, obrigado Senhor pela esperança, obrigado Senhor, agradeço, obrigado Senhor”, a fã acompanha, uma ajeitada no ponto na hora dos aplausos – outro grande sucesso dos anos 1970 que sumiu dos especiais do século 21 e encontrou o momento propício para ser resgatada com o show em uma cidade sagrada...
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Vocês não vão acreditar quem compareceu e disse, "tô nessa com o Roberto", ela mesma, Regina Casé, a própria... |
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