segunda-feira, 3 de junho de 2024

RC Especial Modelo 1991 (off): Viva a Luz de Jorge Jesus... Ops!!!...

E Eri Johnson foi de Narjara Turetta no especial de 1991, sendo focalizado enquanto o Rei cantava "Detalhes"...

 































O canal Viva cancelou a exibição dos especiais de Roberto Carlos que vinha fazendo desde o primeiro, produzido em 1974, e que havia chegado ao programa de 1990, neste sábado, ao invés de mostrar o especial de 1991, a emissora da Globosat apresentou três episódios da série "Tapas e Beijos", o plano inicial do canal era seguir com os especiais até 2017, fechando o ciclo em 16 de novembro, da nossa parte, como o Viva já havia levado ao ar todos os programas produzidos entre 1990 e 2010, vamos continuar com as resenhas, dado a importância histórica do resgate de um registro musical e televisivo num recorte de quase meio século de tempo...

O "Roberto Carlos Especial - Viva Luz", apresentado pela Globo em 25 de dezembro de 1991 e exibido pela primeira vez no canal Viva em maio de 2016, seguiu a mesma divisão em duas partes do programa anterior,  metade no período da tarde, no estilo "maratona televisiva", onde Roberto dividiu a apresentação com Cláudia Raia e Glória Maria, neste ano focada nas crianças e nos idosos, vide Estatuto da Criança e do Adolescente,  promulgado no ano anterior,  os idosos entraram para evitar sobreposição com o "Criança Esperança", que em 1991 realizou um "telethon" de 24 horas em  comemoração aos 25 anos dos Trapalhões,  chamada de "Amigos do Peito", que o Viva mostrou um compacto quando exibia o humorístico, e o restante correspondendo ao show à noite, desta vez gravado no Teatro Fênix, com direção geral de Augusto César Vannucci, "actually" a única relação com a parte anterior é um “stand up” de Roberto no final, desse modo tivemos repetições de apresentações do especial de 1990, “medleys” de músicas românticas, de outros compositores e dele próprio, o comparecimento de Fafá de Belém – o retorno - Fagner e Chitãozinho e Xororó - outro retorno- além da volta de Erasmo Carlos a parte principal do programa, e  músicas do disco de 1991, onde Roberto trocou o brinco de peninha pelo chapéu de Caubói na capa, como o "country" "Todas as Manhãs", uma versão para fazer doer o cotovelo e o joelho de "Caminhoneiro", e principalmente a religiosa "Luz Divina", inspiração do nome do especial, que muito anos depois o Pancada transformou em uma homenagem a um treinador do Menguinho, "essa luz, é o Jorge Jesus'... No site “Memória Globo” há um pequeno trecho da parte do especial que não é mostrada pelo Viva, onde Roberto Carlos divide a apresentação com a atriz Cláudia Raia e a jornalista Glória Maria, Roberto diz, “Feliz Natal, Feliz Natal Brasil, Feliz Natal pra todos, Feliz Natal mundo, a verdade é essa, faz hoje um ano que estivemos juntos aqui no especial Verde é Vida, né, foi um programa de conscientização ecológica, hoje vocês sabem que nós estamos fazendo uma proposta de um, dos direitos, falando dos direitos da criança e dos idosos”, Cláudia ajeita as fichas na estante do microfone de Roberto, “as pontas mais sofridas da humanidade, é verdade”, a atriz larga as fichinhas para dizer sua parte do texto, “é verdade, a gente está aqui nesse especial maravilhoso, enquanto nosso especial estiver no ar, vários postos vão funcionar em seu Estado pra que você leve o seu bebê pra fazer o teste do pezinho”, é a vez de Glória, “bom, e se por alguma razão você não puder fazer hoje o teste em seu filho, não se aflija não, já no início de 1992, você vai ter a disposição no posto de saúde mais próximo de sua casa, o Ministério da Saúde promete cumprir o que o Estatuto da Criança e do Adolescente determina” – e viva o SUS, o curioso é que a segunda parte do especial só faz referência aos temas abordados na primeira no finzinho, que coisa, não... O especial mostrado pelo Viva começa focalizando o palco do Teatro Fênix, “Rede Globo apresenta”, Eduardo Lages começa a reger a orquestra, Roberto Carlos narra, “que o menino Jesus, São João Bosco, os profetas e os evangelistas, inspirem a gente, que eles tragam muita luz para todos nós, Feliz Natal a todos”, toca o tecladinho, entra o logotipo do especial, um R azul com a lateral verde, onde está escrito “Viva Luz”, foca nas flautas tocando “Parei na Contramão”, “Um Programa Augusto César Vannucci”, o coral RC canta “Eu Te Darei o Céu”, “Redação Eloy Santos Paulo Figueiredo Ronaldo Bôscoli”, a orquestra vai de “Quero Que Vá Tudo pro Inferno”, ainda não proscrita dos especiais, “Edição Ivo Alves Mário Lúcio de Almeida”, Lages trabalha forte na regência, fala Fafá de Belém, “e cantar com você é sempre uma emoção, uma emoção enorme, porque você só canta a verdade e a gente entende cantar a verdade ao teu lado”, o coral pede para ser aquecido neste inverno, “Produção Executiva Jorge Campos Trajano”, Lages prefere “Fé” e “O Calhambeque”, Roberto anuncia, “meu irmão, meu amigo Erasmo Carlos”, a orquestra deixa por “Emoções” – que o Rei não cantou nesse especial, que coisa, não – “Direção de Imagens Vicente Burger Fabiano Vannucci”, foca no coral, Roberto fala a Fagner, “eu quero te contar uma coisa, fico meio, meio, meio inibido de falar, mas quase eu borbulhei antes de você, sabe”, Fagner reage, “ia virar peixinho”, Roberto confirma, “ia virar peixinho” também, o coral vai de “Ele Está Pra Chegar”, “Direção de Produção José Roberto Sanseverino”, o Rei abraça Chitãozinho e Xororó, o coral canta “Se Você Pensa”, Roberto diz a dupla sertaneja, “que prazer estar com vocês aqui”, Chitão agradece, “muito obrigado, Rei, é uma alegria enorme estar com vocês nesta noite especial” – convidados no topo das paradas, digo... A orquestra de Eduardo Lages toca a introdução de “Amigo”, “direção geral Augusto César Vanucci José Mário”, a voz de Roberto Carlos é ouvida no palco, decorado com tubos de neon azul e um potente paredão de refletores, ao lado do logotipo do especial também de neon cantando “Fera Ferida”, o cantor comparece no palco, de terno azul metálico, o medalhão por debaixo da camiseta branca, lenço branco na lapela, palmas da plateia, cumprimentos ao maestro, o Rei canta “Cenário”, escrita pelo maestro Eduardo Lages e por Paulo Sérgio Valle, “Já tentei mudar o meu cenário, E esse coração tão solitário, Mas cada vez que as luzes, Se acendem sobre mim, De novo a mesma estória o mesmo fim”, o Rei fala no meio da música, “é um prazer rever vocês, e desta vez eu vejo que o meu coração, não, os nossos corações, não é de hoje que os nossos corações se entendem, às vezes penso que é difícil segurar emoções fortíssimas, que eu tenho assistido, eu tenho vivido, e não são poucas, são muitas emoções”, concluindo “E agora em cena aberta eu vejo, Como ainda te desejo Querendo ser feliz meu coração pede bis”, olha o Eduardo Galvão na plateia aplaudindo  – tirando o monólogo, sem nenhuma diferença significativa da apresentação do especial anterior, com o “stand-up” e a orquestra evidenciando que a letra é uma releitura de “Emoções” que dói mais no cotovelo e no joelho, digo... Roberto Carlos ajeita o microfone e vem com um clássico absoluto da música brasileira, “Carinhoso”, melodia de Pixinguinha, feita em 1917, letra de Braguinha, escrita a pedido da cantora Heloisa Helena em 1937, “Meu coração, não sei por que,  Bate feliz quando te vê, E os meus olhos ficam sorrindo, E pelas ruas vão te seguindo, Mas mesmo assim, Foges de mim”, o “stand-up”, vem depois da música, “Pixinguinha e Braguinha fizeram de Carinhoso o coração mais famoso da nossa música, como é que será que pulsam os corações de nossos outros compositores, como será por exemplo o coração de Caetano Veloso”, e interpreta “Coração Vagabundo”, que Gal Costa gravou no álbum “Domingo”, de 1967, “Meu coração não se cansa,  De ter esperança, De um dia ser tudo o que quer, Meu coração de criança, Não é só a lembrança, De um vulto feliz de mulher”, toca o sax, “de Caymmi, o grande Dorival Caymmi, um coração tão grande que acaba onde a vista não pode olhar”, indo de “Só Louco”, que Gal Costa também gravou, em 1976, versão usada na trilha da minissérie “O Quinto dos Infernos”, de 2002, sendo que a Globo lançaria uma novela chamada “Insensato Coração” em 2010,  “Só louco, Amou como eu amei, Só louco, Quis o bem que eu quis, Ah! Insensato coração, Porque me fizeste sofrer, Porque de amor para entender É preciso amar, porque”, um pouquinho de “stand-up”, “amigo é pra se guardar do lado esquerdo do peito, como diz a canção do Milton, mas a canção do nosso querido Gonzaguinha ultrapassa todos os limites”, cantando “Não dá Mais para Segurar (Explode Coração)”, lançada por Maria Bethânia em 1978, Feito louca, alucinado e criança, Eu quero o meu amor se derramando, Não dá mais pra segurar, Explode coração”, voltando por fim a “Carinhoso”, “E só assim então, serei feliz, bem feliz, meu... meu, nosso, coração!!!” – um “pot-pourri” propício, por lembrar de Gonzaguinha, que saiu de cena em um acidente de carro acontecido no Paraná, em 29 de abril de 1991, recordando ainda os tempos que a “playlist” do especial privilegiava a MPB e dava menos espaço a outros gêneros...  A próxima música é “Meu Ciúme”, do disco de 1990, “Meu ciume, desconfia de você, Me machuca quase sempre o coração, Quer saber aonde é que você vai Quer saber da sua vida”, terminada com um singelo “é!!!”  – em relação a apresentação do especial anterior, a única diferença é que Roberto Carlos não fez “stand-up” para comparar a música de Sullivan e Massadas com “Cama e Mesa”, escrita pelo próprio Roberto e por Erasmo Carlos, a inveja do bem ficou evidente, insistimos, “Amor Perfeito”, escrita pelo quarteto Sullivan, Massadas, Robson Jorge e Lincoln Olivetti, foi lançada em 1986 e ela foi aparecer, num dueto com Cláudia Leitte, a própria, no especial de 2005, que coisa, não...  Roberto Carlos diz, “a cada novo show que eu faço, eu acho que não vou cantar essa canção, mas a verdade é que eu vivo buscando uma forma nova de cantá-la, não sei se essa é exatamente uma forma nova, mas pelo menos considerem uma tentativa”, interpretando “Detalhes”, de 1971, em meio a closes das mulheres da plateia, jovens e idosas, além do ator Eri Johnson, Narjara Turetta começou assim (!!!), intercalada por trechos de “Não Quero Ver Você Triste”, de 1965, cujo assobio inspirou “Patience”, digo, “Como é Grande o Meu Amor por Você”, de 1967, “Sentado a Beira do Caminho”, lançada por Erasmo Carlos em 1969 e que  gravou com o Rei em dueto no disco “Erasmo Carlos Convida”, de 1980, e “Fera Ferida”, de 1982, antes da versão cantada por Maria Bethânia virar tema de novela    faixa do disco “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, em 1967, “Como é Grande o Meu Amor por Você” foi resgatada pelo Rei a partir da década de 1990, vide comercial da Nestlé, e exatamente a música que Roberto tentava cantar quando a plateia o interrompeu e ele vociferou, “cala a boca, baralho, pô!!!” num show em 2022, no Rio de Janeiro... Ops!!!...

 

 

























Fafá de Belém, o Retorno: a dupla deu a letra ali no palco, "Se você quiser voltar... Se você quiser que eu volte"...














 

 












Roberto Carlos profere seu “stand-up” real, “numa noite assim a gente avalia os amigos que tem, tudo o que eu fiz plantando amigos, e cheguei a conclusão que a gente tem que dar para estar perto, das pessoas que a gente ama, das pessoas que a gente gosta de estar junto, Fafá de Belém”, que comparece num vestido branco com brilhos decotado, parecido com o que usou no especial de 1987, embora esteja ligeiramente mais magra, Roberto se apressa para tirar o microfone do pedestal antes de ser abraçado pela cantora e retribuir com dois beijos em seu rosto, Fafá pega o microfone e diz,  bem mais perto do Rei que em 1987, “é um prazer estar com você, uma coisa que eu admiro no seu trabalho, uma das coisas que eu admiro é a tua coerência, é essa tua fidelidade aos mesmos amigos, e cantar com você é sempre uma emoção, uma emoção enorme, você só canta a verdade, e a gente só tem que cantar a verdade, estando ao teu lado, e falando em emoção, falando em verdade, acho que eu vou usar e cantar Amor da Minha Vida”, Roberto concorda, “eu acho que você deve”, cantando então a música do disco “Doces Palavras, de 1991”, trabalhando forte nos agudos, o solo de guitarra ouvido de olhos fechados,  “Amor da minha vida, que faço sem você, por onde você anda, eu tenho que saber, me diz com quem esteve, com quem você falou,  me conta que não gosta, das bocas que beijou” – a resenha neste ano não incluiu política, então é por isso que Roberto não chegou a cantar “Primeira Dama”, música do disco de 1991, que no momento do seu lançamento não tinha como não ser associada ao presidente Fernando Collor de Mello e sua esposa Rosane Malta, em meio a denuncias de corrupção e rumores de separação, sem contar que a Globo ainda acreditava em Collor... Roberto abraça Fafá calorosamente e lembra, “a gente já teve uma experiência de cantarmos juntos, um tempo atrás, mas não tinha a experiência de gravar junto com você, né” – aproxima-se da cantora – “eu acho que eu vou entrar nesse jogo agora, né” – Fafá ri hectolitros, “se você quer” – “eu também quero”, e o dueto precedido por palmas do público só vem com “Se Você Quer”, do disco de 1991, versão de “Si Pienser... Se Quieres”, de Roberto Livi e Alejandro Vezzani, adaptada para o português pelo próprio Roberto e Carlos Colla, um encarando o outro,  ela no olhar, ele usando as mãos, “Mas eu sempre fui assim,  Um boêmio, um sonhador pela vida apaixonado, Ser assim não é defeito, Me assuma desse jeito, Pra que eu fique do seu lado, Se você quiser voltar, Se você quiser que eu volte”, com direito a suspense e risos de Roberto no último verso – Fafá de Belém repete a história de Gal Costa, na primeira vez o Rei fez o tímido, reverente, agora está mais à vontade, decidido, a ocasião pede, embora os duetos sejam bastante comuns nos especiais, em disco são raríssimos,  mesmo o da Gabriela não foi num álbum de estúdio, Fafá também não está ali por acaso, certamente Roberto curtiu o dueto dela com Chitãozinho e Xororó em “Nuvem de Lágrimas”, de Paulo Debétio e Rezende, lançada no álbum “Fafá”, de 1989... Após os aplausos, Roberto Carlos segue o fluxo do sangue latino (!!!) com seu quase flamenco “Por Ela”, letra do espanhol Juan Manuel Soto traduzida por Aloysio Reis e Biafra, gravada em 1990, com o devido acompanhamento no violão e um “larará” no final, com as palmas fazendo as vezes das castanholas, gesto imitado pelo coral, “Por ela eu vivo sempre só nessa longa estrada,  Por ela esse grito de amor e essa dor calada,  Por ela eu choro de alegria, E canto de saudade, Por ela o sol que vai nascer, Depois da tempestade”- sem grandes novidades em relação a apresentação do especial anterior, desta vez foram só dois violonistas acompanhando, a música serviu mesmo para dar liga na parte romântica do show...  Dessa forma, depois dos agradecimentos aos solistas, Roberto Carlos chama Fagner, o próprio, de smoking e gravata borboleta, comparecendo e imitando o gesto que o Rei fazia para apresentar seus convidados no programa “Jovem Guarda”, o que faz Roberto rir e abraçar o cantor cearense, “que maravilha”, Fagner responde, “maravilha é estar com você, Roberto”, que confessa, “olha, sabe que você, eu quero te contar uma coisa, fico assim meio inibido de falar, quase que eu borbulhei antes de você, sabe” – Fagner sorri, “ia virar peixinho” – “ia virar peixinho também, sinceramente, um dia eu tava trabalhando numa letra, né, tentando fazer uma versão da música borbulhas de amor e de repente pra descansar e aliviar um pouco a cabeça, líguei o rádio e olha que o Fagner estava cantando, Borbulhas de Amor, eu queria ser um peixe, essas coisas assim, eu falei, caramba” - Fagner sorri de novo, “que grande surpresa” – “fico contente que está em boas mãos, é uma grande canção e realmente você fez maravilhas nela”, o cearense agradece, “muito obrigado, Roberto, também com você teria sido muito lindo”, ambos os dois riem e Fagner canta “Borbulhas de Amor”, do disco “Pedras que Cantam”, de 1991, versão de “Burbujas de Amor”, criação do dominicano Juan Luiz Guerra, do álbum “Barchata Rosa”, de 1990, traduzida pelo próprio Fagner e pelo poeta Ferreira Gullar, um dos autores da novela “Araponga”, exibida pela Globo, em 1990, o coral RC3 caprichando no refrão, “Quem dera ser um peixe, Para em teu límpido aquário mergulhar, Fazer borbulhas de amor pra te encantar, Passar a noite em claro, Dentro de ti um peixe, Para enfeitar de corais tua cintura, Fazer silhuetas de amor à luz da lua, Saciar esta loucura, Dentro de ti” – segundo Gullar, que saiu de cena em 2016, Fagner o chamou para traduzir a música antes mesmo de ter falado com Guerra, também revelou numa entrevista para Dadá Coelho, a própria, que o “peixe” da música era uma metáfora sexual (“Quisiera ser un pez,  Para tocar mi nariz en tu pecera”, que virou “Quisera eu ser um peixe, para em teu límpido aquário mergulhar”), então é por isso que Roberto travou na tradução... Ops!!!... Roberto tem mais uma confissão a fazer, “há muito tempo, há muito tempo mesmo, faz tanto tempo, há algum tempo, faz mais ou menos uns, foi depois da Jovem Guarda” – “ah, faz muito tempo”, brinca Fagner – “não, não, não, fazem uns quatro anos por aí, gravei uma canção fantástica, uma canção que realmente me deu uma alegria incrível, uma emoção fantástica, Mucuripe”, o cantor cearense explica, “Roberto, essa música foi feita pra você, eu tenho essa alegria até hoje quando você canta, mas a alegria de eu ter realizado um sonho, você ter gravado essa música no começo da minha carreira, quero te agradecer”, e em dueto, Fagner e o Rei cantam “Mucuripe”, que compôs em parceria com Belchior, o próprio, do disco  “Manera Fru Fru, Manera: O Último Pau de Arara”, de 1973, e que Roberto Carlos incluiu no “disco do cachimbo”, em 1975, com reverências mutuas entre os intérpretes, “As velas do Mucuripe, Vão sair para pescar, Vou levar as minhas mágoas, Pras águas fundas do mar, Hoje à noite, namorar, Sem ter medo da saudade, E sem vontade de casar” – nesse caso, o “stand-up” de Roberto Carlos é baseado em fatos reais, já dissemos aqui que o Rei investiu pouco no samba em seus discos e nos especiais, porém há outro setor da MPB que também é bem menos lembrado por Roberto, o chamado  “pessoal do Ceará”, e “Mucuripe” é um excelente exemplo, a música de Belchior e Fagner foi apresentada no especial de 1975 e voltou a ser cantada com o comparecimento do seu próprio compositor somente 16 anos depois, coincidindo com o sucesso de “Borbulhas de Amor”,  gravada no mesmo disco de “Pedras Que Cantam”, que alguns dias depois do especial se tornaria o tema de abertura da novela “Pedra Sobre Pedra”, lançada pela Globo em janeiro de 1992, que coisa, não... Roberto Carlos bate palma para levantar a orquestra, que trabalha forte nos teclados, e canta “Se Você Pensa”, do disco “O Inimitável”, de 1968, “Daqui pra frente, Tudo vai ser diferente, Você tem que aprender a ser gente Seu orgulho não vale nada, nada” – claro que com um arranjo completamente diferente daquele que conquistou a admiração do exigente Régis Tadeu, versão que seria lançada em disco dois anos depois, em 1993, uma prática que se tornaria comum nos álbuns posteriores, pois é não é...

 

 








E representando o "pessoal do Ceará", Raimundo Fagner foi de "As Velhas do Macuripe", digo, "Mucuripe"...





























 

Roberto Carlos parte para o próximo “stand-up”, ‘fico feliz de saber que o Brasil assume a sua identidade, né, a música sertaneja pra mim é o retrato do Brasil, e eu conheço dois craques, dois craques nesse assunto, né, feras realmente, professor, fico feliz, tenho um orgulho muito grande de receber aqui, os garotos do Brasil, Chitãozinho e Xororó” – segunda participação no especial dos pais de Sandy e Junior, digo... Aplaudida, a dupla comparece de paletó branco com enfeites em preto, jeans e o inconfundível cabelo “mullet”, abraçando ambos os dois de uma só vez o Rei, que saúda, “que prazer ter vocês aqui”, Chitão retribui, “muito obrigado, e é uma alegria enorme poder estar neste especial”, Xororó também, “pra nós é uma grande honra de sabermos que nós fazemos parte do seu grupo de amigos”, Roberto sorri, “poxa, pra mim, a honra é minha!!!, hehehe, bom, agora vamos ao sucesso, aquele sucesso”, foca nos sax e nas guitarras da orquestra porque José e Durval cantam, um com violão, outro com guitarra elétrica, “Foge de Mim”, do famoso disco “Planeta Azul”, de 1991, “Foge de mim, Faz tudo errado, Me nega carinho, Me deixa sozinho, Me deixa arrasado, Foge de mim, Você me apronta, Estou no sufoco, Estou quase louco, De cabeça tonta” – composição de um nome emergente da cena sertaneja, Zezé Di Camargo, com Fátima Leão e Aparecida de Fátima de Moraes, melhor, só a campeã dos karaokês, “Evidências”... De todo modo, Roberto Carlos aplaude a excelência da canção de forma entusiástica, “que sucesso”, Chitão diz, “mas Roberto, nós sabemos que você sempre esteve e sempre está com a gente” – “eu sou fã de vocês”, diz o Rei, rindo, “todo mundo sabe” – “obrigado, e além de você ser o nosso grande ídolo, você também é um grande amigo, e então é por isso que a gente quer te prestar uma homenagem”, Xororó fala, “nós queríamos cantar uma música da sua safra, mas você tem que vir com a gente”, o Rei aceita o desafio, “bem, se tiver um lugar na boleia desse caminhão, eu vou até a Amazônia, Chitãozinho reafirma, “mas você sempre tem”, o trio e o coral RC3 batem palmas porque a vez é de “Amazônia”, a música que foi o carro-chefe do disco e do especial de Roberto em 1989, ele na primeira voz, a dupla na segunda, e uma forcinha do coral, olha o feixe de laser aí,  “Tanto amor perdido no mundo, Verdadeira selva de enganos, A visão cruel e deserta, De um futuro de poucos anos, Sangue verde derramado, O solo manchado, Feridas na selva, A lei do machado” – a canção mais importante do disco que trouxe o Rei com brinco de peninha reaparece quando Roberto comparece na capa de seu novo disco de chapéu de caubói, seguindo a ascensão dos amigos Chitãozinho e Xororó, que já brilhavam na década de 1980, e agora também Leandro e Leonardo e Zezé de Camargo e Luciano, despontando nos anos 1980, alis, prestando atenção, essas aliterações na letra de “Amazônia” lembram “Panorama Ecológico”, gravada pelo meu amigo de fé e irmão camarada Erasmo Carlos... Que é a próxima atração no programa, porém antes é necessário que Roberto Carlos lance mais uma faixa do novo disco, “Todas as Manhãs”, tome teclado, interpretada de forma quase intimista – “Chuva fina no meu para-brisa, Vento de saudade no meu peito, Visibilidade distorcida Pela lágrima caída pela dor da solidão” – não só apenas mais uma canção “sertaneja”, como uma releitura de “Caminhoneiro” que faz doer o cotovelo e o joelho, como diria o parceiro de Roberto na criação da música, Erasmo Carlos.... Que merece um “stand-up” todo especial do Rei, “eu cantei que quero ter um milhão de amigos, hoje eu posso dizer que tenho um milhão de amigos, e me orgulho ainda mais de apresentar o primeiro amigo dessa fila, o meu amigo número um, o meu irmão, o meu amigo Erasmo Carlos”, o qual chega todo de preto, fazendo o gesto de “paz e amor”, ou “V da vitória”, não decidimos ainda, Agostinho, o fato é que os dedos em V de Erasmo e Roberto se cruzam no cumprimento, vem o abraço, baterias e guitarras introduzem “Minha Fama de Mau”, do disco “A Pescaria”, de 1965, cantada em dueto, luzes piscando no palco, Erasmo reproduzindo a marcação da música com gestos do amigo,  que mantém a mão na cinturam “E digo não, por favor,  Não insista e faça pista,  Não quero torturar meu coração, Garota ir ao cinema é uma coisa normal, Mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau”, toca o teclado, a bateria, as guitarras  Erasmo também tem seu coral, a dupla faz um “give me five” e emenda com “Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo”, escrita a quatro mãos por Carlos Imperial e Eduardo Araújo, de 1967,  “Pode tirar seu time de campo, O meu coração é do tamanho de um trem, Iguais a você, eu apanhei mais de cem, Pode vir quente que eu estou fervendo!!!”, Roberto traz “Splish Splash”, que gravou em 1963 “Agora lá em casa, Todo mundo vai saber, Que o beijo que eu dei nela, Fez barulho sem querer, Yeah!!!, Splish splash!!!,  Todo mundo olhou, Mas com água na boca, Muita gente ficou”, Erasmo responde com “Terror dos Namorados”, gravada por ele em 1965, as guitarras trabalham forte, “E por isso que me chamam, Terror dos namorados, O homem que possui,  Aquele beijo tão falado, Eu quero tomar jeito, E deixar de beijar,  Mas eu não consigo mais parar, Porque eu já me acostumei, A ser um beijador, Meus beijos são pequenos, Mas cheinhos de amor”, o Rei ganha um beijo na testa dado pelo Tremendão, a dupla dança no palco, indo de “É Proibido Fumar”, de 1964, “É proibido fumar, Diz o aviso que eu li, É proibido fumar, Pois o fogo pode pegar, Mas nem adianta o aviso olhar, Pois a brasa que agora eu vou mandar, Nem bombeiro pode apagar, Nem bombeiro pode apagar”, há tempo para Roberto e Erasmo cantarem “Festa de Arromba”, outra faixa de “A Pescaria”, de 1965, o Tremendão fazendo questão de ressaltar a palavra “Arromba”,   “Logo que eu cheguei, notei, Ronnie Cord com um copo na mão, Enquanto Prini Lorez bancava o anfitrião, Apresentando a todo mundo Meire Pavão, Wanderleia ria e Cleide desistia, De agarrar um doce que do prato não saía, Hey-hey (Hey-hey), que onda, Que festa de arromba” - – é a primeira vez que “É Proibido Fumar”,  precursora das campanhas contra vício do cigarro, embora na época do lançamento tenha servido para Roberto Carlos ganhar o apelido de “Brasa”, entra na “playlist” do especial, faz sentido, o cachimbo do Rei foi até capa de disco, em 1975, os programas de 1979 e 1980 foram patrocinados por um fabricante de cigarros, num tempo que a ditadura fazia vista grossa ao consumo de tabaco para não prejudicar os produtores de fumo, fazendo questão do povo levar o respectivo (!!!), falando em novidades, nos especiais da década de 1970, a Jovem Guarda quase sempre era a parte “infantil” do especial, enquanto Roberto trocava uma ideia com a linha de frente da MPB, a mudança aconteceu nos anos 1980, quando os membros do movimento dominaram o cenário da produção musical brasileira, o Rei ficou mais sintonizado com os ritmos de sucesso no momento, resultando que as canções do período viraram o momento “rock and roll” do especial, entre tantas músicas românticas, sem contar que era preciso compensar a ausência de Erasmo Carlos da parte principal do especial do ano anterior... Alis, Roberto Carlos retorna ao romantismo no seu “stand-up”, “tem coisas que não saem da gente” – segura o lenço do paletó – “parece que agarram”, e vai de “Outra Vez”, do disco de 1977, o teclado trabalha forte no palco iluminado por um sol feixes de laser, “Das lembranças que eu trago na vida, Você é a saudade que eu gosto de ter, Só assim sinto você bem perto de mim, Outra vez” – a clássica canção de Isolda citada por Teodoro e Sampaio através de Ricardo Braga, nada mais adequada para um momento de grandes emoções sertanejas na carreira do Rei, digo... Roberto Carlos declara, “obrigado por essa noite maravilhosa a todos os meus amigos do Brasil, vamos aprender juntos a amar e respeitar as crianças e os idosos, essa noite provou que isso é possível, vamos unir as nossas forças para que o dia de Natal seja na verdade todos os dias do Ano Novo, obrigado aos 500 profissionais de televisão que estiveram comigo neste dia de Natal, Feliz Natal a todo o povo brasileiro, a todos vocês que eu amo do fundo do meu coração, e que Ele, o meigo Rabi da Galileia  nos inspire, às vésperas do terceiro milênio, na luta, por um mundo melhor, Viva Jesus” – em resumo, apenas no final a segunda parte do especial menciona o tema da primeira... As mãos do maestro Lages tocando no piano se fundem com as dos integrantes do coral da Universidade Gama Filho, vestidos com camisa e calça social na cor cinza, os homens, e vestidos longos tomara que caia da mesma cor, as mulheres, Roberto apresenta a faixa do novo disco que inspirou o nome do especial, “Luz Divina”, começando numa quase capela com o coral, mão apontando para o alto, “Luz que me ilumina o caminho, E que me ajuda a seguir, Sol que brilha à noite, a qualquer hora, me fazendo sorrir, Claridade, fonte de amor que me acalma e seduz, Essa Luz só pode ser Jesus, essa Luz” – a Universidade Gama Filho, cujo coral foi o parceiro do Rei na apresentação de músicas com temas religiosos em tantos especiais, fechou em 2014, e o campus na região de Piedade, no Rio de Janeiro, foi demolido e dará lugar a um parque... Roberto Carlos muda um pouco a letra da música, “essa luz, essa noite é claro que é Jesus, essa luz, essa luz divina, é claro que é Jesus”, agradece, “obrigado, obrigado a todos”, a plateia levanta-se para aplaudir, “que essa luz de Jesus ilumine a todos vocês, obrigado, obrigado, um feliz Natal, e um Ano Novo maravilhoso, com saúde, paz, amor, e que Deus abençoe, Deus abençoe a todos, obrigado, obrigado!!!”, o Rei segue cantando, “essa luz, essa luz, essa luz”, palmas, Roberto pega o buquê, começa a oferta de flores, um sorriso, um beijo, uma flor lançada, o coral repete o refrão, “essa luz, é claro que é Jesus”, a mulher que ganhou uma flor branca aperta-a contra o rosto, feliz pelo presente, Roberto acha graça e segue oferecendo flores, foca na orquestra, uma loira apanha uma flor, sobem os créditos, com as músicas apresentadas no especial, “Maquiagem Roberto Carlos, Neide de Paula”, mais flores, mais coral, mais aplausos, “Iluminação Peter Gasper J.A Protásio”, terminam as flores, Roberto acena para a plateia, “Direção Musical Eduardo Lages, Diretor Musical Mariozinho Rocha” – mais conhecido pelo seu trabalho forte nas trilhas de novelas – “Direção de Imagens Vicente Burger Fabiano Vannucci”, a loira e a morena exibem as flores que ganharam, “Direção Geral Augusto César Vannucci José Mario” – o Rei abraça o maestro Eduardo Lages – “Agradecimento Coral Universidade Gama Filho” – Roberto deixa o palco, o coral continua cantando o refrão de “Luz Divina” e encerra na hora da bolinha da Globo – não, Pancada, essa música não é uma homenagem ao “Mister” Jorge Jesus, que comandou o Menguinho na conquista da Libertadores em 2019, senão a letra mencionaria pelo menos o “tá mal, Arão!!!”... Ops!!!... O especial não faz referência aos 50 anos do Rei, porque a homenagem aconteceu no mês de seu aniversário, em abril de 1991, numa edição especial do "Globo Repórter", "Roberto Carlos - Uma Vida de Emoções", que teve uma grande reportagem sobre a vida do cantor, conduzida por Glória Maria, que também entrevistou Roberto, incluindo depoimentos de pessoas ligadas a sua trajetória, como o primeiro professor de canto, José Nogueira, o percussionista Dedé, Wanderléa, Erasmo Carlos, Luiz Carlos Ismail, do coral RC3, a secretária particular Carminha Silva, o maestro Chiquinho de Moraes, o arranjador de Miami, Charles Callello, os diretores de televisão Carlos Manga e Augusto César Vannucci e até o médium Chico Xavier, o cantor falou sobre o catolicismo da mãe e o espiritismo do pai, comentou a respeito de suas duas esposas até então, Nice Rossi e Myriam Rios, e o programa ainda exibiu cenas de apresentações de Roberto na França, cantando "A Guerra dos Meninos" em francês num programa sobre a Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha, e no palco do "Siempre en Domingo" de Raul Velasco, na Televisa mexicana, lembrando que também mostraram as crianças cantando "Amigo" para o Papa João Paulo II em sua visita a Cidade do México, em 1979 - só faltou as cubanas cantando "O Côncavo e O Convexo" na loja de discos em Havana, Ernesto Varela - e um show de Roberto transmitido ao vivo do Ginásio do Ibirapuera, com um um repertório mais variado, "Aquarela do Brasil" à parte, e um "stand-up" que perto de suas falas na televisão é quase um proibidão (!!!), além da plateia repleta de figuras ilustres, como Angélica e César Filho, Antônio Ermírio de Moraes (lá no fundão, justo ele, que numa das poucas vezes que o Rei deu pitaco em política, foi apoiado na campanha derrotada para o governo de São Paulo em 1986...), Chiquinho Scarpa, Doris Giesse (esses no gargarejo), Hebe Camargo, Jerry Adriani, José Vitor Oliva, Kátia Maranhão,  Luciana Vendramini e Paulo Ricardo, a ministra da Economia do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello, poucos dias antes de ser demitida... Ops!!!...




















Pois a admiração recíproca fez com que Roberto Carlos cantasse "Amazônia" com Sandy e Junior... Não pera...


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