Escolha de Greta Thunberg como "Pessoa do Ano" demonstra que Bozo não está no horizonte dos editores da revista "Time"... |
A sueca Greta Thunberg, jovem ativista ambiental de 16 anos, foi anunciada como “A Pessoa do Ano” pela revista estadunidense “Time” na última quarta-feira, 11 de dezembro... Desde que começou a não comparecer às aulas toda sexta-feira, desencadeando a partir da capital Estocolmo o movimento “Sextas-Feiras pelo Futuro”, Greta passou a ser uma das pessoas mais “prestigiadas” pelos negacionistas das mudanças climáticas e destruidores do meio ambiente em geral... Entre os quais se incluem o presidente brasileiro, Jair Biroliro... Que no dia anterior, inconformado com a denúncia de Greta sobre a matança de indígenas que lutam contra o desmatamento da floresta amazônica, chamou-a de “pirralha”... Então é por isso que ela mudou seu nick no Twitter © para “pirralha”... Também sobraram muitas “críticas construtivas” ao “newsmagazine” dos Estados Unidos da parte dos minions... Que lembraram outras personalidades eleitas pela revista - uma iniciativa que começou em 1927, quando ainda era chamada de “O Homem do Ano”, sendo que a denominação atual foi dada apenas em 1999, depois que apenas três mulheres tinham sido agraciadas isoladamente – Wallis Simpson, que levou o rei Eduardo VIII a abdicar ao trono do Reino Unido para se “associar” a ela, uma estadunidense divorciada, sua sobrinha, a Rainha Elizabeth II, e a presidenta das Filipinas, Corazón Aquino – que se encaixam naquele curioso filtro em que qualquer pessoa que critica o presidente, mesmo tendo sido um fiel aliado até ontem, se transforma em comunista, esquerdopata, petralha, etc, etc, etc... A tese do “nazismo de esquerda”, tão cara a esses fanáticos que tem eleito até campeãs de “reality-show”, é reforçada pelo fato de tanto Adolf Hitler quando Josef Stalin terem sido premiados pela revista – o líder soviético duas vezes, em 1939 e 1942... Isso pode ser atestado pela leitura do livro “Time - The Illustrated Story of the World’s Most Influential Magazine”, escrito pelos argentinos Norberto Angeletti e Alberto Oliva, publicado pela filial da editora italian Rizzoli nos Estados Unidos e impresso na China... Acontece que os seguidores do Biroliro não conseguem viver sem fazer um ato de desonestidade intelectual todo dia, então falsificam na cara dura a capa sobre Hitler dando a entender que a escolha dele para ser o “Homem do Ano” de 1938 se tratava de uma exaltação ao chanceler alemão... O que não aconteceu, tanto que a capa é reproduzida em uma página inteira e a legenda da imagem é clara... “A desiginação de Time em 1938 foi talvez a escolha mais controversa da história da revista... Orientados a não demonstrar apoio a Hitler, os editores, desprezando a prática habitual, não colocaram seu rosto na capa, no entanto, usaram um desenho de Rudolph Charles von Ripper, intitulado ‘Hino de Ódio’... A ilustração mostrava cadáveres girando em uma roda de tortura, enquanto uma pequena figura, representando Hitler, tocava um órgão de tubos”... No caso de Stalin, a revista mudou de ideia entre uma indicação e outra, conforme demonstrado no texto que acompanha a reprodução de ambas as duas capas... “Os dois retratos diferentes refletem o posicionamento de Time durante a guerra... No primeiro, ele aparece como um vilão após ter acordado com Hitler um tratado de não agressão entre seus dois países que tinha um pacto secreto, dividindo a Polônia entre eles... Na segunda, ele aparece como um herói, após ter se juntado aos Aliados quando Hitler o traiu invadindo a Rússia”... Ainda assim, o reconhecimento da importância da União Soviética para a derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial – na capa de 1941, o presidente estadunidense Franklin Roosevelt tem arás dele Stalin e o britânico Churchill - é algo que os minions, tão acostumados a só enxergarem o papel dos Estados Unidos no conflito, não sabem lidar...
Greta agora faz parte de um rol de personalidades que incluí vários líderes socialistas - mas não a liberal Margareth Thatcher... |
Certo, o primeiro “Homem do Ano”, o aviador estadunidense Charles Lindbergh, escolhido em 1927, quatro anos após a fundação da revista, tinha simpatias públicas e notórias pelo nazismo... Não que os fanáticos pelo Biroliro vejam os bustos dos aviadores patrícios Sacadura Cabral e Gago Coutinho em frente ao aeroporto de Congonhas e pensem que se tratam dos anarquistas Sacco e Vanzetti, executados nos Estados Unidos naquele mesmo ano, mas, enfim... O problema é citar o aiatolá Khomeini, eleito em 1979, como exemplo cabal da esquerdopatia da publicação estadunidense... Justo ele, que no comando da revolução islâmica do Irã, era um inimigo ferrenho do comunismo e da União Soviética... Que além de Stálin, teve outros Líderes lembrados por “Time”... Nikita Kruschev, em 1957 – com o satélite Sputnik na mão, vide abertura oficial das transmissões da Copa do Mundo na Rússia, embora a Adidas © tenha batizado a bola oficial do torneio de Telstar, satélite estadunidense construído anos depois – Yuri Andropov em 1983 – em dobradinha com Ronald Reagan, o que explica o fato do desenhista Angeli ter criado um personagem chamado Rigapov – e Mikhail Gorbachev, em 1987 a 1989 – aqui como “Homem da Década”... Não, quando Vladimir Putin foi agraciado, em 2007, a União Soviética não existia mais... Quem mandou retomar a melodia do hino nacional soviético, digo... Alis, o predomínio de personalidades estadunidenses e europeias na lista de homenageados é enorme... Até a indicação de Khomeini, romperam esse cerco Gandhi, o próprio, em 1930, vide independência da Índia e posterior assassinato, o Ras Tafari da Etiópia, Hailé Selassie, em 1935, vide invasão da Itália e posterior retorno ao trono, o presidente chinês Chiang Kai Shek e “sócia” em 1937, vide invasão do Japão e posterior fundação de Taiwan, o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadegh, em 1951, vide nacionalização do petróleo e posterior deposição com apoio da CIA, o rei Faisal, da Árábia Saudita, em 1974, vide primeiro choque do petróleo, o presidente egípcio, Anwar Sadat, em 1977, vide negociações de paz com Israel e posterior assassinato, e o líder chinês Deng Xiaoping, em 1978... Ou seja, os países do Sul, o chamado Terceiro Mundo, são solenemente ignorados pela revista... Nem Nasser ou Fidel Castro, para citar duas lideranças expressivas do período, foram lembrados, ainda que tenham figurado em capas das edições normais ao longo do ano... Felizmente, uma figura muito querida por minions e anarcocapitalistas, a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, nunca foi indicada... E enquanto esteve no poder, entre 1979 e 1990, testemunhou as escolhas de Gorbachev e, novamente, Deng Xiaoping, em 1985... Sem contar Lech Walesa, em 1981, opositor do governo socialista da Polônia, e que jamais poderia imaginar que seu país hoje estaria sob controle da extrema-direita... O mesmo se pode dizer de Corazon Aquino ou mesmo do Patriota Húngaro lembrado em 1956... Os conservadores precisam se virar nos 30 com as duas indicações de Churchill, em 1940 e 1949, e esquecer que um primeiro-ministro francês que colaborou com os nazistas após a invasão de seu país, Pierre Laval, foi o escolhido em 1931... Sim, o provincianismo deles está contemplado pelo fato de personalidades do Brasil serem uma ausência ilustre na galeria dos escolhidos como “Pessoa do Ano”, assim como costumam ser na maior parte do tempo no que diz respeito às capas das edições regulares da revista, exceto no caso daquelas voltadas ao público de língua espanhola, iniciadas em 1942 - o primeiro foi Oswaldo Aranha, o próprio, e até Café Filho teve sua capa... No livro, então... E felizmente, não será o Biroliro que irá quebrar esse tatu... Até porque seu ídolo, Donald Trump, foi eleito em 2016 – certamente não pelos votos populares, digo - e já mereceu da revista uma paródia da própria capa de 1966, “Deus está morto???”, refeita para “A verdade está morta???”... Sendo que a publicação chegou a estar nas mãos dos irmãos Koch – generosos financiadores da “alt-right” pelo mundo – quando foi adquirida pelo grupo Meredith, em novembro de 2017 – porém menos de um ano depois, em setembro de 2018 – ela passou para as mãos do dono da Salesforce, Marc Benioff e sua “sócia”, Lynne Benioff, que prometeu não interferir no conteúdo editorial da revista... Se bem que... A principal razão para Trump ser indicado foi sua própria eleição à presidência estadunidense – nos votos do colégio eleitoral, mas, enfim... Isso explica porque George W.Bush e Barack Obama tem o mesmo número de homenagens, duas, exatamente quando triunfaram nas eleições de 2000, 2004, 2008 e 2012... Por que presidir os Estados Unidos torna a pessoa quase que automaticamente elegível... Desde Franklin Roosevelt, todos os chefes de Estado do país receberam a honraria, exceto Gerald Ford, o que inclui até Richard Nixon e George Bush pai... Que coisa, não...
Para deixar claro que escolha de Hitler em 1938 não era sinal de apoio, revista publicou ilustração sobre "Hino de Ódio"... |
Desde o fim da Guerra Fria, em 1990, tem aumentado o número de vezes que a revista escolhe como “Pessoa do Ano” alguém fora do mundo da política... Em 1991, por exemplo, o eleito foi o fundador da CNN, Ted Turner, vide cobertura da primeira Guerra do Golfo... Quase uma antevisão de que a revista e a emissora de televisão paga estariam juntas sob o guarda-chuva da Warner durante duas décadas – na atual Warner Media, nome atribuído após a compra pela AT&T, anunciada em outubro de 2016 e aprovada somente neste ano... Dessa forma, em 1996, foi escolhido o cientista David Ho, que desenvolveu o tratamento antiviral conta a AIDS conhecido como “coquetel”... Em 1997, Andrew Grove, presidente da Intel ©, vide microprocessadores... Em 1999, Jeff Bezos, o fundador da Amazon ©, aquela gigante do e-commerce que acreditam, em alguns círculos do governo federal, a futura dona dos Correios... Nesse mesmo ano, o físico Albert Einstein se tornou “A Pessoa do Século” – inteiro, pois na primeira metade do século 20, a honraria coube a Winston Churchill... Três anos depois, pela primeira vez mulheres eram eleitas – “As denunciantes” Cynthia Cooper, Coleen Rowley e Sherron Waikins, vide escândalos da WorldCom, Enron e FBI... No ano seguinte, com a segunda Guerra do Golfo, as três mulheres deram lugar a três homens, porque a escolha recaiu sobre “O Soldado Estadunidense” – na época da Guerra da Coreia, em 1950, foi escolhido o “Combatente Estadunidense”... Em 2005, Bono Vox se tornava o primeiro artista indicado, junto com os “Bons Samaritanos” Bill e Melinda Gates, vide Microsoft © - sendo que o computador em si já havia sido eleito “A Máquina do Ano” em 1982... Em 2006, escolheram “Você”, na verdade, uma tela de computador espelhada, aludindo ao papel do leitor na revolução digital, algo um tanto quanto genérico demais... Então é por isso que em 2010 foi indicado Mark Zuckerberg, vide Facebook © - em 2009, a escolha recaiu sobre o presidente do banco central estadunidense, Ben Barnackle... No ano seguinte, a Primavera Árabe motivou mais uma escolha genérica – “O Manifestante”, vide quedas de Ben Ali e Kadhafi na Tunísia e na Líbia... Depois das escolhas de Obama em 2012 e do Papa Francisco em 2013 – terceiro papa da lista, depois de João XXIII em 1962 e João Paulo II em 1994, o que nos faz lembrar que o reverendo Martin Luther King Jr. teve seu nome indicado em 1963, vide luta pelos direitos civis – “Os Combatentes no Ebola” na África foram agraciados em 2014, internauta Pedro Henrique... Em 2015, pela primeira vez em 29 anos, uma mulher era indicada isoladamente, no caso, Angela Merkel, chanceler alemã, repetindo o ocorrido com Hitler (!!!) e o social-democrata Willy Brandt, este em 1970... Depois de Trump, foi a vez do movimento de mulheres “Me Too”, contra o assédio e a violência sexual, em 2017, e os “Os Guardiões em Guerra pela Verdade”, jornalistas presos e mortos, em 2018... Em resumo, mesmo com tantas mudanças recentes de dono, a revista “Time” não tem o menor interesse em agradar o Biroliro e seus simpatizantes... Ufa!!!...
Que os minions não saibam, mas revista estadunidense escolheu Stálin como "Pessoa do Ano" em duas oportunidades... |
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