A breve visita de Chespirito ao Brasil foi relatada por Rubén Aguirre em entrevista concedida a Gugu Liberato em 1987... |
“[Em 1991] Eu estava em um estúdio da Televisa San Angel, encarregado da direção cênica de Milagro Y Magia [Milagre e Magia], a deliciosa novela que escreveu e protagonizou minha deliciosa Florinda, quando chegou alguém dizendo que havia um telefonema para mim.
- Da parte de quem? - perguntei com indiferença.
- É do Brasil.
Isso era totalmente inusitado, de modo que insisti:
- Quem quer falar?
- Pelé.
Pelé? Nada menos que Pelé? Edson Arantes do Nascimento? Um do gênios que o futebol mundial produziu? Sim: era ele! E queria falar pessoalmente comigo! Comprovei isto quando fui atender o telefone e, com enorme nervosimo, me identifiquei.
- Olá, Chaves - me disse o Rei, usando o termo em português do Brasil que designa o personagem - como vai?
Em seguida, me detalhou o motivo de sua ligação: queria que filmássemos um longa-metragem, dividindo os créditos; porém havia um inconveniente que nos impediria de realizar tal projeto: ele queria que eu atuasse como Chaves, e isto era algo que eu havia evitado sempre e seguiria evitando.
- Há muito tempo - disse a ele - tomei a decisão de que o Chaves jamais deve aparecer nas telas de cinema. É um produto da televisão e ali deve permanecer.
Expliquei rapidamente as razões para ter tomado tal decisão, como o grotesco que seria o personagem numa tela grande, a ausência do falecido Ramón Valdés, o reduzido cenário natural (a vila), etc, etc, e Pelé compreendeu que eu tinha razão. Portanto, não fizemos mais do que nos despedirmos afetuosamente. Mas não houve pessoa a quem não contei o que acabara de acontecer”.
Comparecimento na região das cataratas do Iguaçu aconteceu durante turnê pelo Paraguai e Argentina, em novembro de 1981... |
- Telefone para você.
- Quem é? - perguntei com a mesma naturalidade da ocasião anterior.
- Maradona! - respondeu Florinda com o mais amplo de seus sorrisos.
Realmente! Era o mesmíssimo Diego Armando Maradona, outro gênio do futebol mundial, que me falava apenas para saudar-me, aproveitando que estava de passagem pela cidade do México. Veio para comparecer a uma partida da equipe de seus amores (Boca Juniors) contra a dos meus (América), ainda que, por desgraça, não tenha chegado a tempo no Estádio Azteca, local do jogo (o qual registrou uma vitória de 3 a 1 a favor do América) [segundo jogo da semifinal da Copa Libertadores de 2000, realizado em 7 de junho, sendo que na primeira partida, em Buenos Aires, o Boca venceu por 4 a 1...]. Maradona veio de Cuba, por onde passou por um tratamento médico, e o que me disse (cito de memória), não poderia ser mais animador:
- Você tem que saber que é o meu ídolo. Que não perco um só dos seus programas. Que levei para Cuba um bom número desses programas, gravados em vídeo, e vê-los era (e continua sendo) o melhor remédio que tenho para combater minha depressão. Que Deus te abençoe e a todos os seus.
Obrigado, Diego Armando (agora sou eu quem fala, escrevendo). Obrigado pelo que me disse e, certamente, obrigado por todos os momentos em que sua maestria futebolística me encheu de prazer e emoção. Que Deus te abençoe e a todos os seus. Agora, envaidecido como um pavão, pergunto se haverá muitas pessoas que foram objeto da atenção de duas personalidades do tamanho de Pelé e Maradona. Quer dizer: tenho motivos demais para me orgulhar, não?
Já que mencionei jogadores estrangeiros, devo citar outra dupla que não alcançou a fama da anterior, mas que são pessoas extraordinárias e de cuja amizade posso contar em qualquer momento: um deles é Alex Aguinaga, um equatoriano que no México deu o melhor exemplo do que deve ser um jogador profissional, com atributos de qualidade e honestidade no jogo, e de um grande ser humano em todo momento. Alex me fala com frequência de sua pátria, Equador, e me orgulho em contar isso. O outro é o chileno Sebastián González, o famoso "Chamagol", que aparte ser um excelente goleador nato, me alegra pessoalmente quando festeja seus gols imitando ao Chapolin, ao Chaves, ao Seu Madruga, a Dona Florinda e inclusive o Chanfle, do filme que fiz há muitos anos. Mil agradecimentos a ambos".
Quando Chaves fala que era melhor ver o filme do Edson (OG), na verdade estava se referindo a película "El Chanfle"... |
Viemos a essa cidade para fazer nosso espetáculo, mas na hora de pernoitar, disseram que era melhor nos hospedarmos no vizinho Brasil, precisamente em Foz do Iguaçu, cidade próxima às imponentes cataratas do Iguaçu. No dia seguinte, fomos conhecer as cataratas, as maiores do mundo em largura e talvez as mais belas. São centenas de cortinas d'água, de diversos tamanhos e colocadas em diferentes níveis, de modo a compor um espetáculo que pode se classificar de esplêndido.
Não menos belo era um espetáculo próximo ao anterior, não um produto da mãe natureza, mas sim do homem. (...) Aqui estou me referindo à hidrelétrica de Itaipu, cujas dimensões são maiores que a hidrelétrica de Assuan, no Egito. Itaipu foi construída em consórcio por Brasil e Paraguai e considera-se que é capaz de abastecer todo o Paraguai de eletricidade, além de boa parte do centro sul brasileiro.
Porém, o melhor de tudo, para nós, foi que pudemos passar por esse lugar precisamente uma semana antes da inauguração da monumental represa, de modo que nos convidaram a cruzar o leito do enorme lago à bordo de um jipe. O insólito é que na semana seguinte não seria possível fazer isto, pois o lago se encheria com as águas do Rio Paraná, cujo curso tinha sido previamente desviado. Uma vez terminada, a represa alimentaria a maior central hidrelétrica do mundo...
Nessa mesma viagem, certamente, também ficou a lembrança de um fato que pode ser cômico: o dia em que deveríamos atuar em Assunção, capital do Paraguai, caiu uma chuva que podia ser comparada ao Dilúvio, o qual seria um impedimento para a apresentação de nosso espetáculo, já que ele se realizaria ao ar livre (em um estádio de futebol). Rapidamente, os empresários disseram que não nos preocupássemos, pois esse tipo de tempestade só acontecia de vez em quando e nunca durava mais do que um dia, de modo que o show poderia acontecer no dia seguinte sem nenhum problema.
Porém havia inconvenientes: a principio, já não tínhamos reserva para o hotel, que estava lotado; além do mais devíamos partir para Córdoba, Argentina, a bordo do único vôo que saía de Assunção, que perderíamos se a estadia fosse prolongada. E se isto era pouco,nós sabíamos que essa mudança repentina nas datas de apresentação se traduziam em queda de público, já que não há tempo de fazer a propaganda necessária.
- Não se preocupem com isso - nos disseram. Já começaram os anúncios e é mais do que suficiente: comerciais detalhados na televisão, de quinze em quinze minutos, desde hoje até a hora do show amanhã - e acrescentou com naturalidade - Ah, isto será feito em todos os canais.
E era verdade! Pudemos comprovar pessoalmente.
- Mas isto é um absurdo - objetamos - o custo de tal publicidade não se cobre enchendo vinte vezes o estádio!
- Isso é relativo - responderam - dado que nós somos os donos das emissoras de televisão.
Fácil de entender. E o problema do hotel? Com muita clareza nos tinham dito que com a falta de quatros não poderíamos prolongar a estadia.
- Tampouco será problema - nos disseram - o hotel também é de nossa propriedade e sempre há um jeito de encontrar hóspedes a quem se pode dizer que sua reserva não foi confirmada.
- Bem - comentei - não é difícil entender isso. Mas e o vôo para Córdoba? Não me digam que podem atrasar o vôo para o dia seguinte porque são donos da empresa aérea; se trata das Aerolíneas Argentinas! - especifiquei.
- De fato, isso não podemos fazer. Mas supomos que você não se incomodaria de viajar para Córdoba à bordo do avião presidencial do governo paraguaio.
Claro que isso não nos incomodou. Como também não incomodou que se encarregaram dos trâmites necessários para passaporte, vistos e tudo mais, incluindo as deferências reservadas de forma exclusiva para os corpos diplomáticos”.
Quanto a Don Diego Armando Maradona, encontro com Chespirito aconteceu num programa da televisão argentina em 2005... |
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