sexta-feira, 12 de abril de 2019

Saga do BBB 19 (III): Vitória do Viés de Confirmação...

5 de abril: prova de resistência, Paula provoca Gabriela, que rebate, entretanto, bate-boca não vai ao ar na Globo...











































Cada vez mais, conforme os concorrentes negros saíam em sequência, a temporada do “reality” se transformou em uma versão do filme “Corra”... As motivações preconceituosas nas escolhas de Paula eram cada vez mais indisfarçáveis... Não adiantava mostrar os selinhos que dava em Gabriela ou as brincadeiras que fazia com Rízia... A saída de Rodrigo já foi cercada de toda uma redução de danos de modo a que saísse com uma rejeição que não explicitasse o quando a direção estava alimentando os preconceitos do público... Paula precisaria de uma revalidação de seu viés de confirmação, que mantivesse sua legitimidade e a fidelidade dos “pigminions”...  A solução encontrada pela produção foi recorrer, novamente, a uma prova de resistência... Fórmula já adotada quando a disputa entre grupos esgotou-se precocemente – e  calculadamente na casa... Estratégia que na temporada passada serviria de valorização a Kaysar Daddour... O refugiado sírio tinha uma grande torcida, porém faltava a ele um histórico mais consistente no jogo, atributo que a outra favorita do público, Gleici Damasceno, tinha de sobra... Pior do que isso, Kaysar era muito próximo dos antagonistas de Gleici, que eram retratados como os vilões da temporada... Assim, uma prova de resistência valendo imunidade foi pautada, um recurso que já havia garantido uma sobrevida adicional a um dos antagonistas da edição, Marcos Aurélio Viegas... Com sua eliminação, o caminho ficava livre para a prova ser um veículo – literalmente, porque a Fiat patrocinava a disputa – do protagonismo de Kaysar... Nos planos da produção, a única oposição viria da parte de Paula Barbosa, cuja provável presença na final era bem vista, já que era um nome sem uma grande torcida organizada por trás, tendo potencial para atrair o público fora da “bolha” das redes sociais, isso apesar de ter mudado o foco para as provas do Líder depois da derrota para Viegas na prova de resistência do Anjo... A disputa, no entanto, teve um desenrolar inesperado, quando Ana Clara Lima travou um embate de igual para igual com Kaysar, resistindo durante 43 horas... A vitória de Ana Clara seria uma surpresa tão grande que, além de torna-la a grande favorita ao título, derrubaria todos os esforços de impedir que ela tivesse um protagonismo igual ao de Emilly Araújo e colocaria em risco o favoritismo de Kaysar e da própria Gleici... Neste ano, a competidora a ser promovida era Paula...  Teve a oportunidade de ficar ao lado de Carolina e Hariany e poderia provocar a vontade, na medida em que Tiago Leifert anunciou que havia uma única regra na prova – “resistam”... Como se não bastasse o elogio às “cotoveladas” no paredão que eliminou Rodrigo... A ordem das saídas pouco importava, desde que Paula ficasse por último, assim, as eliminações de Rízia, Hariany, Carolina e Alan não interferiram na intenção da produção... O importante era que a disputa durasse pelo menos 12 horas, e mesmo que houve desafios na forma de chuva artificial, jatos de lama, vento e luz forte...  A situação só saiu um pouco fora dos planos quando Gabriela fez com que a prova avançasse sobre o programa de sexta-feira, adiando em um dia a formação do paredão que seria decidido domingo... A direção ainda tinha confiança de que Paula não decepcionaria... As únicas precauções foram fazer o apresentador dizer que quem vencesse a prova – e restavam apenas Gabriela e Paula – colocaria a perdedora no paredão... E reforçar a dose dos desafios (especialmente o da água, o mais incômodo deles...) logo após o programa, o que levou Gabriela a desistir, algo que o público não iria notar, ainda mais com os exagerados elogios à força sobrenatural de Paula... Gabriela percebeu que não deveria vencer a disputa, e caso ousasse tentar, correria o risco de ser derrotada com outro “empate”, se Paula desse sinais de que desistiria...  A associação ostensiva com Rodrigo – consequentemente atraindo o ódio da “fanbase” de Paula - e o firme propósito da direção em “arrebentar o lacre”  - tornaram a saída de Gabriela uma certeza... Não abalada nem mesmo quando o "efeito Mahmoud" abateu-se sobre Rízia na votação - embora tenha servido para tirar de Paula o peso de ter desempatado a votação e colocado duas negras no paredão, evitando que fosse vista como uma espécie de Ku Klux Klan...



















9 de abril: Rizia crítica conduta de Paula na casa, porém a discussão não é mostrada no programa do paredão... 











































A medida do sucesso de uma temporada do “reality” é o grau de interferência da direção... Sempre existe, mas quando se cria um viés de confirmação e ele é mantido a todo custo, é sinal de que o jogo não emplacou por si mesmo... Rízia era a última dos cinco representantes da raça negra na casa... Todos eliminados em sequência, completando um processo de branqueamento que causaria admiração dos teóricos da eugenia que defendiam a miscigenação como forma de eliminar a presença do negro na sociedade brasileira (e o pior é que Rodrigo chegou a falar isso, numa cena que foi ao ar no programa da Globo, sem imaginar que a atração de alguma forma abraçaria esse discurso)... Em grande parte, graças ao viés de confirmação atribuído a Paula... Que era mantido e reafirmado das mais diversas formas... Ainda mais quando o preconceito ficou evidente e tornou-se essencial para manter o interesse do publico mais conservador... Em três lideranças, Paula sempre indicou competidores negros... Em especial nas duas últimas, a direção seguiu o mesmo roteiro... Até o momento da indicação, Paula aparecia como que hesitante sobre a escolha que iria fazer... Mesmo que não parecesse crível no caso de Rodrigo, ainda assim deram um jeito, adiando a realização da prova do Anjo (que seria auto-imune, ainda que a Líder já tivesse deixado claro que, estando Rodrigo indisponível, escolheria Gabriela...) e mostrando Paula ensaiando com Carolina o discurso que faria para justificar sua indicação... Depois da votação, Paula se tornava assertiva, jogadora, bradando “um dia da caça, outro do caçador”... Para esconder qualquer traço de preconceito, a conduta de Paula começou a ser elogiada pelo apresentador com um discurso do tipo “os fins justificam os meios”, ou para usar os termos de Tiago, “sujar o calção”, “cotoveladas”... Também era um encorajamento para que continuasse a agir de modo provocativo, mantendo sua “fanbase” mobilizada e garantindo números elevados nas votações da GShow... Como cada vez que o viés é reafirmado, ele precisa ser mais e mais reforçado, a direção precisou esconder o incômodo que a conduta de Paula causava dentro da casa... Na prova do Líder Fiat Toro, Gabriela incomodou-se com as provocações e bateu boca com Paula... A discussão, apesar de relatada na internet (inclusive no site oficial...), não foi mostrada no programa sobre a prova... Alguns dias antes,  no "joguinho da discórdia" com Rodrigo, Gabriela falou que em alguns momentos, Paula foi mais desrespeitosa com Rodrigo do que Carolina... Essa declaração perturbou Paula de tal forma que os artistas da edição tiveram de fazer malabarismos para mostrar um sucesso na discussão que ela não teve, isolando ao máximo a frase incômoda... E depois virou norma... Contestações a Paula dentro da casa deveriam ser evitadas ao máximo nos programas da Globo... Rízia, antes do paredão com Paula, também reclamou do quanto as palavras de Paula machucavam as pessoas;  nenhuma de suas queixas foi veiculada no programa da Globo (não que Paula não tenha se incomodado, tanto que ficou trancada no banheiro enquanto Rízia deixava a casa)... Mesmo na “tour do arroz” com Hariany (cuja motivação mais profunda foi o fato de que Paula não queria comer a comida que Rodrigo havia preparado antes de ser eliminado...), em que Paula agiu de modo infantil, simplesmente recusando-se a ouvir as críticas que eram feitas a ela (em geral, rindo e fazendo pouco caso...), a produção se apressou em atribuir o episódio ao tempo prolongado de confinamento e correu para mostrar os esforços de Carolina para reconciliar ambas as duas... Quando Alan venceu a última prova do Líder e indicou Paula ao paredão, não havia porque ela abrir mão da estratégia que era elogiada pelo próprio apresentador... Simplesmente  atribuiu a Alan o mesmo “olhar intimidador” que alegava ver em Rodrigo (uma crítica que tinha motivações preconceituosas, pois veio a reboque dos comentários sobre a religião de Rodrigo, e também levou ao receio de comer o que ele preparava; e que foi abraçada por setores da torcida Pauriany, vide “fanfic” sobre Rízia intimidada pelo olhar de Rodrigo quando teve que desempatar a votação entre ele e Alan...) e a direção, confiante no viés de confirmação, adotou o discurso no programa do dia seguinte, para garantir que Paula voltaria do paredão com Carolina, e, principalmente, que Alan não teria chances na finalíssima contra Hariany e a própria Paula... O incômodo de Paula na Festa Internet, ao ver Alan confraternizando com Carolina e Hariany, desencadearia a “tour” do empurrão... Mesmo com o gesto de Hariany, a intenção inicial da direção era novamente minimizar o episódio, entre o momento em que empurrou Paula e o instante que foi comunicada da desclassificação foram mais de 13 horas... Dariam ênfase na reconciliação, ou na pior das hipóteses, esperariam por uma manifestação de Paula sobre a agressão, ou a chamariam ao confessionário para confirmar o ocorrido, o que provavelmente não aconteceria, encerrando o assunto...  O problema é que depois do empurrão, ao final de uma conversa com Hariany, Paula começou a arrastá-la pela sala... Uma cena que, não por acaso, sequer foi mostrada nas edições extras mostradas na Globo na tarde seguinte à festa – a emissora aproveitou o episódio para contornar um pouco os problemas de audiência que enfrenta na faixa vespertina... Expulsar Hariany por agressão e mostrar a atitude de Paula, o que retiraria seu viés de confirmação, prejudicaria a mobilização da torcida (aproveitando o fato de que os “fanboys” mais radicais de Paula, os “pigminions” não toleravam Hariany, uma vez que não suportavam a ideia que muito de sua força vinha do fato de ter a acolhido e protegido, ou que sua ponderação fazia dela uma alternativa a figura controversa da própria Paula...) e a votação do paredão e da própria final – as duas, somadas, tiveram quase 200 milhões de votos... Entre o único protagonismo que restava e o viés de confirmação , a direção pensou no bolso e abriu mão de qualquer disputa que pudesse acontecer na decisão para continuar quebrando a Internet... 





















11 de abril: Hariany empurra Paula e é desclassificada; Paula arrasta Hariany e cena não passa na televisão aberta...











































Sem Hariany, a final do “reality” ficou ainda mais esvaziada... Já estava porque só teria pessoas brancas na disputa, depois da saída de Rízia... A decisão teria, qualquer que fosse o resultado do último paredão, entre Carolina e Paula (que ficou graças aos esforços – e as omissões – da direção para evitar que a “tour” do empurrão a prejudicasse...), um homem e duas mulheres brancas... A expulsão e o paredão levaram a final a ter um perfil parecido com as da primeira década de programa – duas pessoas com “vinte e poucos anos”, de classe média, brancas, heterossexuais, do centro sul do país... O contraste com a decisão da temporada anterior era por demais significativo... Naquela ocasião, disputavam o prêmio de R$ 1,5 milhão uma negra do Acre, um refugiado sírio e um homem de 56 anos...  O esvaziamento chegou a tal ponto que Leifert antecipou as provocações que Paula fez a Alan depois da saída de Carolina antes delas serem exibidas... Diante do absurdo de premiar uma conduta indefensável, além de um inacreditável discurso que exaltava a audácia de ser real  – e já fazia a defesa das críticas feitas por ex-concorrentes na redes sociais, em especial da parte de Hana – a direção optou por fazer um clipe exaltando as ações de “merchandsing” mostradas durante a temporada, e a própria vencedora – abafados os gritos de “racista” de algumas pessoas na plateia – foi conduzida a ação de um banco, no qual seria depositado o prêmio... Em resumo, a grande preocupação da produção era assegurar aos patrocinadores em potencial que a atração ainda possuía credibilidade para a veiculação de mensagens publicitárias... Mais uma vez, a cautela se manifestou, já que antes da estreia parte das cotas de patrocínio da atração ainda não tinham sido comercializadas... A mesma intenção estava por trás da veiculação de um vídeo sobre a noite das correntes, que no retrato dos artistas da edição serviu para indicar que não havia conflitos – especialmente raciais – na casa, ou se havia, estavam encerrados naquele exato momento... Uma atitude paradoxal, levando-se em conta que um dos motores do “reality” é o confronto, que é a manifestação do ódio inerente ao formato dentro da casa – fora dela, é a perspectiva do público decidir quem é eliminado do “reality”... A direção colocou o programa no ar na perspectiva de não cometer erros, sem investigações policiais que interferissem na atração ao suscitarem discussões que extrapolassem o âmbito do jogo - agiu expeditamente excluindo Vanderson e deu por encerradas as discussões sobre intolerância racial e religiosa ao anunciar que colaboraria com as investigações – desde que os envolvidos fossem ouvidos após deixarem o confinamento -  sem os atropelos da primeira semana - a “tour” do ronco dividiu a casa, mas não teve o impacto de acontecimentos nos primeiros dias de temporadas anteriores – e ninguém gritou palavras de ordem ao pisar no palco - um “Marielle Vive” foi dito num almoço, em um brinde ao Dia Internacional da Mulher, mas a cena não entrou na edição do programa de 8 de março... Porque apostar no convencional, no conservador, também  é reafirmar, neste ano em maior intensidade, que a representatividade não importa no “reality”... A não ser quando é “bucha de canhão” ou é permitida uma concessão, o que em nenhum momento aconteceu neste ano, nem mesmo na fase em havia uma disputa clara de grupos antagônicos... As perspectivas para o próximo ano não são boas... O número de concorrentes negros pode ser o mesmo – a tendência é que seja um pouco menor, na eventualidade de darem ouvidos aos internautas que atribuem os desacertos do programa aos concorrentes selecionados, e o discurso da direção, por exclusão, jogou o ônus na “ala negra” da casa, só “branquinhos” é retrocesso demais – porém, evitando o confronto, serão novamente execrados no retrato dos artistas da edição para o público, e partindo para a briga, terão contra eles os estereótipos e serão igualmente estigmatizados... Um novo viés de confirmação não está descartado, principalmente na presença de circunstâncias que limitem os esquemas de protagonismo e antagonismo – exclusões precoces de concorrentes, por exemplo ...  Há ainda o risco do protagonismo ser mais convencional, em termos de “reality” e de sociedade (e nesta temporada, houve uma preferência em atender o público conservador do que manter uma disputa de torcidas, nem mesmo os "haters" de Paula tiveram argumentos nas edições, apesar dela dividir opiniões nas redes sociais...), o que colocaria de lado as concessões à diversidade das últimas temporadas, menos a frequência de vitórias femininas, mais a de concorrentes com menos de 25 anos, quem sabe...



















12 de abril: final é tão previsível que apresentador fala "cotoveladas" de Paula em Alan antes da exibição do VT... 

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