quarta-feira, 25 de julho de 2018

Conduzindo em Interlagos no Dia do Motorista...

Polícia pareceu não se importar muito com a correria no meio da pista após a largada da prova de 1972...














































O Dia do Motorista é uma excelente ocasião para recordarmos as primeiras disputas do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1, realizadas na região de Interlagos entre os anos de 1972 e 1980 – a prova de 1978 não conta, aconteceu em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro... Graças ao Youtube © é possível acompanhar na íntegra ou em parte, cada uma dessas provas... Começando pela corrida de 1972, uma preciosidade, mesmo que faltem dois momentos essenciais da prova... O abandono de Emerson Fittipaldi, quando liderava a prova, e a vitória do argentino Carlos Reutemann... Cada corrida é uma oportunidade para notar as mudanças nos arredores do autódromo  - a urbanização no entorno avançou bastante - e na tecnologia envolvida nas transmissões da Globo – ou melhor, da Gazeta e da Cultura, que eram contratadas para realizarem a geração de imagens... A edição de 1980 foi transmitida pela Band, como se pode notar pelos letreiros indicativos dos pilotos e pelas posições diferentes das câmeras no circuito... Na tabela de classificação até aparece o logotipo da emissora... Sem contar os tempos em que carros estacionavam e barras de camping eram montadas no meio do autódromo... Que diferença dos ingressos caríssimos de hoje, Doutor Kenji...








O Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1 foi disputado pela primeira vez em 30 de março de 1972, no autódromo de Interlagos... Era uma prova extra-campeonato, para homologar a pista, que passaria a receber oficialmente a prova no ano seguinte... A corrida também é marcante por ter sido uma das primeiras transmissões à cores da história da televisão brasileira... O livro “História do Jornalismo Esportivo na TV Brasileira”, de Alberto Léo, relata as gestões do empresário e organizador de provas automobilísticas Antônio Carlos Scavone junto à Rede Globo para viabilizar a realização do Grande Prêmio do Brasil, apostando no talento emergente do piloto Emerson Fittipaldi, que dava seus primeiros passos na Fórmula-1... Conseguir a autorização da Federação Internacional de Automobilismo, a famosa FIA, envolveu a realização de provas de categorias menores (Fórmula 2 e Fórmula 3...), o pagamento de todas as despesas envolvendo o transporte de carros, equipamentos e a estadia de pilotos, mecânicos e fiscais e ajustes na pista de Interlagos, que precisou ser refeita várias vezes... Tudo isso seria impensável sem o apoio da Globo, que transmitiu a prova ao vivo - e em cores, uma novidade na época... No livro de Alberto Léo é relatado que a prova teve a narração de Júlio Delamare e os comentários do próprio Scavone... Entretanto, o vídeo da prova no Youtube © mostra que a narração foi dividida entre Geraldo José de Almeida, o próprio, e Tércio de Lima... Também não é mencionado que toda a parte técnica da transmissão ficou à cargo da TV Gazeta, vide livro “Paulista 900”, Elmo Francfort... Os equipamentos e as unidade móvel para externas chegaram à emissora em 6 de março de 1972, e já no dia 14, o programa “Vida em Movimento”, apresentado por Vida Alves, foi transmitido em cores, como teste... A Globo acertou com a Gazeta a gravação da prova, dando a emissora o direito de também transmitir a corrida em São Paulo, enquanto mostraria a corrida para o resto do país... Sendo que no dia 30 de março, uma quinta-feira, em plena Semana Santa, assim que a prova terminou, todo o equipamento de externas da Gazeta foi embarcado para Brasília, a fim de gravar o pronunciamento do ministro das Comunicações, Higino Corsetti, que seria exibido no início oficial das transmissões à cores, no dia seguinte – 31 de março, oitavo aniversário do golpe militar de 1964... As imagens da abertura da transmissão – vide bombeiro apontando para a câmera instalada na linha de chegada - mostram arquibancadas lotadas – Tércio calculou a presença de público em 150 mil espectadores - e um grande “terrão” no meio da pista, onde se acumulavam pessoas, automóveis e até barracas de camping... Na largada, quando Wilson Fittipaldi Júnior pulou do quarto lugar para a liderança, ultrapassando seu irmão Emerson, que era o pole-position, o argentino Carlos Reutemann e o sueco Ronnie Peterson, é possível ver uma multidão correndo da reta de chegada para o lado oposto da pista, acompanhando os corredores, sem que os policiais militares – facilmente reconhecíveis pelos uniformes na cor cáqui – se incomodassem com a movimentação... Também havia mais áreas verdes nos arredores do autódromo, tanto quando o tempo nublado permitia observar – e as árvores que ainda hoje fazem sombra para quem passa pela região da Avenida Interlagos... Cada vez que os corredores se aproximavam do retão, antes da curva do Pinheirinho, onde os carros atingiam até 340 quilômetros por hora, Tércio passava a palavra a Geraldo José, que narrava com o mesmo estilo que imprimia nas transmissões de futebol... “Lá vem eles, minha gente!!!”... Na terceira volta, quando Wilson foi ultrapassado pelo irmão Emerson, coube ao pai de Luis Alfredo anunciar o novo líder... Ao mesmo tempo, era mencionada a situação dos outros brasileiros na prova, Luiz Pereira Bueno e José Carlos Pace, que depois daria seu nome à pista... A transmissão também incluía anúncios dos patrocinadores da transmissão, como a Souza Cruz – o nome do cigarro Hollywood não era mencionado, nem era preciso com tantos outdoors no autódromo, apenas o slogan – “O sucesso!!!” – e a Embratur... Também a programação da Globo era anunciada... “Rede Globo de Televisão!!!... Sexta-Feira Nobre com Caso Especial em Cores!!!”... No caso, o unitário “Meu Primeiro Baile”, estrelado por Glória Menezes... Ainda houve tempo durante a prova para um depoimento do governador paulista de então, Laudo Natel... Que não se esqueceu de saudar o general-presidente Emílio Médici, dizendo que ele estava assistindo a prova... Então é por isso que houve uma corrida extra-campeonato em Brasília, em 1974, poucos dias antes de Médici deixar a presidência... O vídeo no Youtube © termina na 27ª volta, 11 antes do final, quando Emerson – que seria o campeão naquele ano, prova transmitida pela Record e narrada por seu pai, Wilson “Barão” Fittipaldi, já que as transmissões eram negociadas corrida a corrida – ainda liderava... Até mostraram imagens dos boxes da Lotus, embora não dê para identificar a “sócia” de Emerson em meio aos mecânicos e curiosos... Quatro voltas antes da bandeira quadriculada, porém, Emerson deixou a prova, vencida por Reutemann, com Peterson em segundo e Wilsinho em terceiro... A frustração seria superada apenas no ano seguinte, já com o GP do Brasil contando pontos para o campeonato – vide a gigantesca quantidade de poeira levantada na largada e o caminhão FNM da Prefeitura jogando água na torcida, para aliviar o calor- com a vitória de ponta a ponta em Interlagos, novamente narrada por Geraldo José de Almeida e com o globinho do Borjalo mudando de lugar na tela a cada momento ... Emerson repetiria o triunfo em 1974... Em 1975, Pace conseguiu sua única vitória na Fórmula-1...














Na corrida de 1976, Globo ainda não utilizava a fonte criada por Hans Donner no gerador de caracteres...














































No Youtube © há um vídeo com as últimas voltas da prova de 1976, no qual a marca d’água da Globo, bem como o “copyright” da Fómula One Administration (FOA)  indica que ele foi extraído do site “Memória Globo”... Justamente neste ano a emissora adotou seu atual logotipo, criado por Hans Donner – o mundo se vendo na televisão... Os caracteres do GC usados na transmissão ainda não são os desenhados por Donner, ainda que já sejam eletrônicos, e não mais sobrepostos à tela... É uma fonte de transição, antes da adoção da Globoface... O tempo bom permite avistar as casas ao redor do autódromo, algumas com janelas voltadas para a pista, quase um camarote... A narração coube a Luciano do Valle, que ressalta o domínio da Ferrari do austríaco Niki Lauda – muito antes do acidente - enquanto o argentino Carlos Reutemann vai para os boxes e abandona a prova... O locutor também mostra o acidente de Jean-Pierre Jarrier, ressaltando que a rede de proteção amorteceu o impacto da batida... E lamenta a má sorte de Emerson Fittipaldi, em sua Copersucar prateada, desta vez um mero retardatário ultrapassado por Lauda antes da bandeirada final... Sendo que a sede da equipe ficava bem ao lado da pista de Interlagos...  Logo no início do vídeo é possível ver os ônibus de fretamento – monoblocos MBB em sua maioria – estacionados perto dos boxes – e depois, os discretos anúncios publicitários ao redor da pista, empresas que já nem existem mais, Mesbla, Comind... Em especial a onipresença da propaganda do Chevette GP, um modelo que de esportivo só tinha a pintura nas laterais do veículo... A vitória de Lauda seria a primeira da escuderia italiana no Brasil... O francês Patrick Depailler ficou em segundo e o estadunidense Tom Price em terceiro... A fonte Globoface apareceria na prova de 1977, que está na íntegra no Youtube ©, embora em alguns momentos não se consiga ouvir a narração de Luciano do Valle... Depois é somente o som ambiente...  A Souza Cruz trabalhou forte no marketing distribuindo bonés com a marca dos cigarros Hollywood, e o nome Alex – em referência ao piloto que patrocinava, Alex Dias Ribeiro... Também a Globo fez questão de se anunciar, colocando na beira da pista – cuja extensão era de mais de sete quilômetros, bem maior que a atual - o seu logo em alto-contraste azul e branco e os dizeres “GLOBO TV NETWORK”...  Foi a última prova de Pace em Interlagos, que na largada ultrapassou o campeão de 1976, o inglês James Hunt – o próprio – que estava na pole, e Carlos Reutemann, alcançando a liderança... Pace teve em seu encalço Hunt, Reutemann, o alemão Jochen Mass e o estadunidense Mário Andretti até a sexta volta, quando ao tentar impedir a ultrapassagem do inglês, rodou e perdeu o bico do carro, que tocou no pneu do carro de Hunt... O brasileiro vai para os boxes e os mecânicos da Brabham tentam reparar o bólido...  Nesse momento aparece a fonte Globoface, indicando o nome e a equipe do piloto... Também no acidente de Vittorio Brambilla, que saiu andando, deixando o carro destruído para os bombeiros... Pula Clay Regazzoni sem camisa, depois de se acidentar, conduzido pelos “cabeças de pinico” da PM... Quanto aos bombeiros, resta empurrar o carro de Andretti, que parou na 21ª volta, ajudando os fiscais de pista... Mais um GC para Emerson Fittipaldi, em sua Copersucar,  agora amarela, indo para os boxes... E também para Jacques Laffitte, Mestre... Finalmente, na 24ª volta, Reutemann consegue ultrapassar Hunt... Essa merece replay, digo... Mais Globoface nos acidentes de Laffitte – vide curiosos observando em cima do muro e o piloto voltando a pé para os boxes, sem tirar o macacão – e no de Depailler, com o carro parado no meio da pista, sem a frente... Na falta de uma padiola, o piloto francês é carregado nos braços dos policiais e fiscais até a ambulância... E nada de interromperem a prova!!!... De outra ambulância, sai andando o inglês John Watson, direto para os guarda-chuvas da Globo... Pace se acidenta e também sai do carro normalmente, observado pelos curiosos no muro, que o próprio piloto sobe para avaliar o estrago... Por fim, Reutemann vence, com Hunt em segundo, Lauda em terceiro e Emerson em quarto... Tudo registrado pelo GC global...
















Não que legibilidade da fonte Globoface fosse excelente, mas ausência de padiola para atendimento médico em 1977 era pior...














































Em 1978, a prova foi realizada pela primeira vez no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que não existe mais, substituído pelo Parque Olímpico da Barra... A Globo sentiu-se em casa e até se deu ao luxo de anunciar em um outdoor a novela “O Pulo do Gato”... Reutemann voltou a vencer, com Emerson levando seu Copersucar a um heroico segundo lugar... A prova voltou a Interlagos em 1979 e no Youtube © tem a transmissão completa... Que começa com uma panorâmica do grid de largada – câmeras de vídeo portáteis eram novidade - por onde passam “grid girls” da Coca-Cola ©, mecânicos, o cinegrafista e o cabo-man... Da TV Cultura!!!... Sem infra-estrutura para fazer transmissão ao vivo em São Paulo – segundo depoimento do diretor local da emissora na época, Luis Guimarães, no livro de Francfort, a situação só melhorou em termos de equipamento depois da estreia do “TV Mulher”, em 1980 – o jeito foi contratar os serviços de uma co-irmã...  Que foram devidamente anunciados pelo narrador antes da largada e via GC durante a prova... IMAGENS GERADAS PELA TV CULTURA... Depois de abrir os trabalhos e repassar o grid de largada, Luciano do Valle começou a reclamar de um microfone aberto que estava comprometendo o áudio... Isso é o que dá colocarem na internet uma cópia da fita máster com a gravação da corrida... Reginaldo Leme comentava – seu prognóstico era de uma corrida equilibrada, enquanto os bombeiros controlavam um principio de incêndio no carro de Andretti - e Juarez “China” Soares fazia as reportagens... Luciano ainda se preocupava com os donos de televisores “petro-e-bancro”, pois poderiam confundir o carro de Emerson com o de outro piloto... Na volta de apresentação, descreve o traçado, enfatizando a curva DO laranja...  Olha a caixa d’água da Avenida do Rio Bonito... E um ônibus da CMTC passando do lado de fora... Laffitte, o pole, dispara na frente, mas o locutor se empolga mesmo com as ultrapassagens de Emerson no bloco intermediário e pulando da nona para a quinta posição... O entusiasmo aumenta quando Andretti vai para os boxes e o piloto da Copersucar conquista o quarto lugar... A FIAT tomou o lugar da Chevrolet nas placas de publicidade do autódromo... Outro incêndio, Andretti???... Elogios também para o iniciante Nelson Piquet, que saltou da 22ª para a décima posição em cinco voltas, quando sentiu uma contusão no tornozelo e abandonou a corrida... Com Lafitte mantendo a ponta, o jeito é destacar a disputa pelo quinto lugar entre Jody Scheckter – que seria o campeão da temporada – e Didier Pironi... Emerson até tentou tirar a terceira posição de Reutemann, mas não deu... Na metade da prova, Laffitte e Pironi mantinham-se em primeiro e segundo... Emerson vai para os boxes e volta bem longe da zona de pontuação, em 17º lugar... O francês Rene Arnoux abandona e se nota que a cerveja Caracu não tem medo da rima, e nem de anunciar no autódromo – mais ousadia, só o maço gigante de Hollywood... Afora as empresas professorais, como a Motoradio, Cofap e  NSK Rolamentos...  Um barco no lago???... E para quem esperava uma prova equilibrada, Laffitte venceu e Depailler ficou em segundo... Reutemann completou o pódio, e os três primeiros tiveram que abrir espaço no meio da multidão que invadiu a pista para subir ao pódio, tão logo ele terminou de ser montado... Na última volta, Emerson consegue ultrapassar Elio de Angelis termina na 11ª posição... Apesar do pódio ter patrocínio da Coca-Cola ©, jogaram champanhe na câmera... E ainda sobrou para Laffitte beber no troféu – um deles, pois o outro era uma garrafa dourada do refrigerante... Em 1980, outro francês, René Arnoux, venceu aquela que seria a última prova em São Paulo até 1990... Quando graças à prefeita Luiza Erundina, São Paulo voltou a ser a sede brasileira da Fórmula-1... Mas essa é outra história...














Sem equipamentos para grandes transmissões, emissora teve de contratar os serviços da co-irmã em 1979...

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