"Turco com apelido de português", Juca só não confessou quem era o "Capu" que respondia as cartas dos leitores de "Placar"... |
O jornalista Juca Kfouri explica em várias entrevistas que o título de seu livro de memórias, "Confesso Que Perdi" faz uma dupla citação... À autobiografia do poeta chileno Pablo Neruda e a uma confissão do antropólogo e professor Darcy Ribeiro... “Fracassei em tudo o que tentei na vida... Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui... Tentei fazer uma universidade séria e fracassei... Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei... Mas os fracassos são minhas vitórias... Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”... Sobre esta declaração, Juca fez um comentário em seu vlog na UOL, um dia depois da votação que aceitou o impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, em 18 de abril do ano passado... “Já imaginou estar ao lado de Michel Temer, Eduardo Cunha, Romero Jucá, Jovair Arantes, Jair Bolsonaro, Paulinho da Farsa e Aécio Neves???”... O sentimento do jornalista também poderia ser expressado por um antigo comercial do calmante Maracugina... No qual seu xará Juca de Oliveira descansa tranquilamente no alpendre de uma casa de fazenda, sentado em uma cadeira de balanço quando é interrompido por um peão desesperado que grita... "Seu Juca!!!... Seu Juca!!!... A vaca foi pro brejo!!!"... A crítica e a denúncia persistente aos poderosos do esporte e do futebol já havia dado origem a outro livro em que o título demonstrava um certo desapontamento... A coletânea de artigos "Porque Não Desisto", lançada em 2009... Época em que pessoas como João Havelange, Ricardo Teixeira e Joseph Blatter pareciam irremovíveis das posições privilegiadas que ocupavam, nem sempre obtidas de modo lícito... Alguma coisa mudou em oito anos, a ponto de Juca indicar como seu maior legado o aparecimento de jornalistas que trabalham forte na investigação de fatos obscuros da política do esporte... Faltou só mencionar um de seus mais aplicados discípulos, Paulo César de Andrade Prado, do "Vlog do Paulinho", observador crítico da política corinthiana... Além do mais, "Confesso Que Perdi" acaba de chegar às livrarias e já precisa de uma pequena, porém importante atualização... Sobre Carlos Artur Nuzman, o jornalista escreve que "sempre considerou João Havelange como modelo, disputou o amor dele com Ricardo Teixeira e, aparentemente se deu melhor, porque ainda não teve maiores complicações com a justiça"... O jogo virou no dia 5 de outubro, quando o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, o COB, foi preso no Rio de Janeiro, durante a Operação Unfair Play da Polícia Federal... Dois dias depois do lançamento do livro, na região de Higienópolis... No dia 6, o COB é suspenso pelo Comitê Olímpico Internacional, o COI... No dia 9, a prisão, que era provisória, tornou-se definitiva a pedido do Ministério Público Federal... No dia 11, Nuzman comunicou a renúncia da presidência do COB, cargo que ocupou durante 22 anos... Saber o quanto há de interesse em descobrir a participação do Luís Inácio nas irregularidades investigadas e de como as denúncias servem para justificar a redução do orçamento do Ministério do Esporte leva a concluir que não há de fato grandes motivos para comemorar... Mesmo assim, um amigo ainda sugeriu a Juca que mudasse o nome do livro para "Confesso Que Empatei", digo...
Entre as participações televisivas do jornalista, destaque para o comparecimento ao "Clube dos Esportistas" de Silvio Luiz... |
Ao contar sua história, Juca dá prioridade ao trabalho na revista "Placar", da Editora Abril - "ao entrar na Abril eu tinha apenas 20 anos, menos tempo de vida do que lá viria a passar", ao todo 25 anos, entre 1970 e 1995 - na "Folha de S. Paulo" - duas passagens - de 1995 a 1999 e desde 2005 - e na UOL, onde mantém um vlog desde 2005... Com menos destaque, vem a experiência no “Lance!”, entre 1999 e 2005... Embora na época em que o jornal entrou em circulação, em 1997, já havia o interesse de seu fundador, Walter de Mattos Júnior de contar com o jornalista, “apesar de ter sido o meu o único nome que João Havelange, então presidente da FIFA, o aconselhara a manter distante”... Juca também tinha duas dúvidas, pois “embora eu visse com a maior simpatia a ideia de um tabloide colorido de futebol, não só não acreditaria que daria certo, como não tinha motivo nenhum para deixar a Folha”... E ainda tentou convencer WMJ, como o editor do Lance! é conhecido, a desistir da empreitada... A ida para o jornal esportivo aconteceria apenas em 1999, negociada pelo número dois da publicação, Marcos Augusto Gonçalves, o famoso MAG... Somente para escrever uma coluna no site Lancenet, mas como a Folha exigiu exclusividade, decidiu mudar-se também para o jornal impresso... “Foram seis anos irretocáveis... Deixei com pesar o ‘Lance!’, em virtude de novo convite na ‘Folha’, onde me julgava mas apropriado e com trabalho ainda a fazer”... Para o desapontamento de Mattos Júnior, que em resposta a exigência de seis anos antes, não aceitou dividir o jornalista... Restaram as crônicas reunidas em outro livro, “Meninos Eu Vi”, de 2003, vide autógrafos de Juca e de Jorge Kajuru... Hoje, seu filho André K. é colunista do jornal e apesar de ficar mais concentrado na análise do factual do futebol, também tem excelentes momentos de crítica aos dirigentes... A experiência na rádio CBN é relatada desde o início, em 1997, quando, a convite de Heródoto Barbeiro, começou a gravar uma coluna no “Jornal da CBN” e participar ao vivo, por telefone, do programa de Sidney Rezende... No ano 2000, Agostinho Vieira, diretor do Sistema Globo de Rádio propôs que o jornalista apresentasse um programa diário, na faixa das 20 horas... Surgia o “CBN Esporte Clube”, que Juca comandou por dez anos... Consagrando o lembrete de tomar os remédios para Dona Nadir – que não era sua tia, reitora da PUC, a primeira em uma universidade católica, que comandava na época da invasão policial, em 1977, a qual por ser surda, não ouvia rádio, tanto que soube pelos taxistas do ponto próximo à sua casa – e bordões que serviam “para ridicularizar garotos-propagandas travestidos de jornalistas”... Também proféticos, como “Tome chá de cadeira, esperando a queda de Ricardo Teixeira” – para desespero do diretor da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto, que hoje trabalha diretamente com a CBF, como o próprio Juca contou em seu vlog no dia 29 de maio – ou “Vinho de açaí, esperando o Carlos Nuzman cair”... O jornalista elogia seus parceiros de programa – Vitor Birner, Éverson Passos, André Sanches, Sócrates (OG), Paulo Massini e Renato Maurício Prato – e conta que “o programa ia além do que se convencionou chamar de atração esportiva em emissoras de rádio porque procurava falar pouco futebolês e extrapolar as quatro linhas do gramado, segundo a máxima de Nélson Rodrigues: Cego é aquele que só vê a bola... Incomodava, e bastante, a superestrutura do esporte nacional, e como tal, causava problemas internos e externos, daí ter sido eterno enquanto durou”... A presença na televisão, entretanto, aparece mais como o plano de fundo de seus relatos sobre a cobertura e os bastidores do futebol... Uma das exceções é o programa “Cartão Verde”, que considera “um caso à parte na história das mesas-redondas de futebol na TV brasileira”... Vide o paralelo que faz com outra atração clássica do gênero... “Seguidor da lendária ‘Grande Resenha Facit’, no Rio de Janeiro, precursora desse tipo de programa na nossa televisão, em 1963, primeiramente na TV Rio, em seguida na Globo, com o trio Armando Nogueira, João Saldanha e Nélson Rodrigues, além de José Maria Scassa, Luís Mendes, o apresentador, e Hans Henningsen, chamdo de Marinheiro Sueco... O Cartão nasceu exatos 30 anos depois, com Armando Nogueira, José Trajano e Luís Alberto Volpe... Armando era o denominador comum entre as duas mesas e, em 1994, entrei em seu lugar... Infelizmente, a direção da TV Cultura mudou tantas vezes o dia de sua exibição que ele acabou perdendo sua relevância”... Hoje, o “Cartão” é comandado por Vladir Lemos, e conta com Vitor Birner, Celso Unzelte e Roberto Rivellino, o próprio... De sua época no programa, lembra da greve de silêncio de Trajano e de quando, após ouvir do Luis Inácio que a loteria Timemania seria criada por meio de um projeto de lei e fazer o anúncio no “Cartão Verde” e também no “Jornal da Cultura”, acabou desmentido pelo próprio presidente, que assinou uma medida provisória criando a Timemania, em 2005... Sem contar a edição do debate que entrou no ar logo após a derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1998, isso depois de se desvencilhar dos torcedores brasileiros que cercaram o carro em que estava ao sair do Stade de France... No entanto, é bem mais do que a rápida referência ao programa “Bola na Rede”, na Rede TV!, “de onde saí por me recusar a fazer propaganda”, como relata ao explicar que acompanhou a Copa de 2002 no Brasil, “por claustrofobia em voos de mais de doze horas”... Mesma justificativa para não comparecer ao Mundial de Clubes da FIFA ™ em 2012, mesmo com o seu Timão em campo...
Comentando no "Jornal da Globo", reclamou com William Bonner do trabalho forte dos penetras nos jogos do Brasileirão... |
Outra incursão televisiva destacada é o programa de entrevistas apresentado na CNT, entre 1996 e 1999, primeiro chamado de “Juca Kfouri Ao Vivo” e depois “Juca Kfouri entrevista”... O qual “não se tratava de um talk-show, porque era apenas talk”... Depois de citar uma extensa lista de entrevistados mais relevantes das áreas de política, esporte e cultura, o jornalista relata que “No YouTube © sobrevivem as entrevistas com Ronald Golias e Carlos Alberto de Nóbrega, dona Ruth Cardoso e Tim Maia, a primeira e a terceira de rolar de rir”... Pancada curtiu isso, digo... Também recorda de grandes momentos com Nelson Gonçalves, Jô Soares e Leonel Brizola, além de contar como lidou com o desafio de entrevistar o próprio dono da emissora, José Carlos Martinez, interessado em presidir o PTB, que também o livrou de um aperto com um empresário, que também conselheiro da Fundação Cásper Líbero, impediu-o de gravar o programa no estúdio da TV Gazeta, depois que foi exibida a entrevista com o presidente da associação dos moradores de Higienópolis, contrário à construção de um shopping na região – pela construtora do próprio empresário, que foi convidado a debater e não compareceu... A primeira experiência na telinha, porém, acabou ignorada... Ela aconteceu na TV Tupi, em 1978, onde foi diretor de esportes por três meses, trazido pelo diretor de jornalismo Sérgio de Souza, por sua vez chamado por Mauro Salles, convocado pela direção da emissora, para tirá-la da crise... Então é por isso que ele não recebeu salário e teve de entrar na Justiça para depositarem o FGTS, como relata o livro “O Militante da Notícia”, de Carlos Alencar, publicado pela Imprensa Oficial do Estado em 2006... Do programa “Almanaque da Copa”, exibido pela Record em 1982, apenas uma foto... Da apresentação de “Placar”, produzido pela Abril Vídeo e exibido pela TV Gazeta em um horário arrendado, a lembrança da ocasião, em 1984, quando os técnicos Telê Santana e Carlos Castilho lembraram do dia em que, na época em que jogavam no Fluzinho, visitaram um menino paulista em Ilhéus, na Bahia, que estava acamado devido a uma tuberculose na casa de um tio-avô médico... O próprio Juca!!!... A poprósito, Telê e o jornalista dividiram a função de comentaristas dos jogos da Seleção Brasileira no SBT, em 1985... Num amistoso com o Chile em Santiago, ainda sob a ditadura de Augusto Pinochet, foi alertado por João Saldanha para tomar cuidado com que ia dizer no ar... Sem dar importância ao que dizia o experiente coronista, Juca falou do uso do estádio como presídio político e local de torturas no golpe militar de 1973... Ganhou a companhia de dois policiais que o seguiram até o embarque de volta ao Brasil... Inclusive no hotel, onde dividia o quarto com Telê... Que no dia seguinte à partida – derrota brasileira por 3 a 1 – recebeu um telefonema da CBF convidando-o para voltar a dirigir o time do Brasil, que comandara na Copa da Espanha, em 1982... O técnico pediu segredo, que Juca manteve até Telê aceitar o convite da entidade, quando passou a informação em primeira mão, repassada para um jovem repórter do SBT chamado... Jorge Kajuru!!!... Na Copa do Mundo de 1986, comentando para o pool SBT-Record, após fazer a goleada de 6 a 1 da Dinamarca sobre o Uruguai, na região de Nezahualcoyotl, tomou uma Coca-Cola gelada, com pedras de gelo, sem lembrar que a água mexicana era responsável por uma forte disenteria conhecida como “vingança de Montezuma”... Que começou a sentir num voo entre a Cidade do México e Guadalajara... Depois de se atrapalhar com o táxi para ir ao hospital, pediu ao pessoal do hotel em que estava hospedado que chamasse um médico... Acabou atendido pelo Doutor Chapatin, quer dizer, pelo Doutor Bolaños, que lhe prescreveu um jejum e hidratação com Seven Up ©... “Não haverá refeição!!!... Em hipótese alguma!!!”... Depois de ser medicado, sem conseguir dormir, sentiu fome e pediu uma canja ao serviço de quarto... No dia seguinte, ao comparecer no Estádio Jalisco para fazer o jogo Brasil X França, em que a Seleção Brasileira foi eliminada nas cobranças de pênaltis, desmaiou ao sentir o cheiro que vinha das barracas de comidas típicas... Ao recobrar os sentidos, fez a transmissão, onde comentou que Sócrates nunca tinha perdido um pênalti decisivo... Quando o goleiro Bats, da França, defendeu a cobrança, o narrador Silvio Luiz foi categórico... “O Juca acaba de ver o Sócrates perder um pênalti pela primeira vez”... Após a partida, ao retornar ao hotel e levar uma bronca do Doutor Bolaños, decidiu retornar ao Brasil... Pelo menos não deixou de receber o salário do mês seguinte à Copa em dobro, um presente de Silvio Santos, satisfeito com a cobertura... “Que patrão!!!”... Na Globo, onde trabalhou entre 1988 e 1994, vide o “Em cima embaixo puxa e vai” nos estúdios da emissora com a seleção de vôlei campeã olímpica em Barcelona, em 1992, o fotógrafo de “Placar”, Pedro Martinelli, cuidando do terno e da gravata com que fazia suas entradas ao vivo para a emissora durante a Copa de 1994, nos Estados Unidos, destaque para duas previsões de grande repercussão... Uma bem-sucedida, o gol de Viola (OG) que deu o título paulista de 1988, ao Timão, no “Jornal Nacional”... A outra, furada, a classificação do Chapolin Colorado para a final da Libertadores de 1989, no “Jornal da Globo”, onde fez um comentário diário... O Olímpia do Paraguai classificou-se nos pênaltis e o jornalista foi chamado de “Juca Witte Fibe”, exatamente como prometera caso o time gaúcho fosse eliminado... Ainda na Globo, um atrito envolvendo Joelmir Beting, que leu um comunicado da direção da emissora condenando a ida do Menguinho à justiça comum para questionar uma mudança no estatuto da CBF, Boni... Beting leu a nota no “Jornal Nacional” e Juca gravou um comentário para o “Jornal da Globo”, defendendo a atitude do clube carioca, ameaças da FIFA à parte... Escapou de uma demissão quase certa porque a entidade máxima do futebol mundial recuou e pediu que a CBF se entendesse do Menguinho, Alberico Souza Cruz... Quando cedeu seu lugar de comentarista ao Edson (OG) e a Chico Anysio, brincou em uma palestra dizendo que a nova função do humorista era uma compensação pelo romance com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello... Ao ser entrevistado por Jô Soares, revelou estar magoado com o jornalista... E pediu respeito a ele por telefone... “Estamos empatados!!!”... Fizeram as pazes ao se encontrarem num restaurante em São Paulo, onde Chico estava com Zélia... Por fim, seria a televisão o detonador da saída de Juca de “Placar”, que acaba de fazer uma reformulação radical, em 1995... Um encarte com denúncias na revista dedicada ao “Futebol, Sexo e Rock N’Roll” desagradava o presidente da CBF, Ricardo Teixeira... O próprio dono da Abril, Roberto Civita, pediu que o jornalista baixasse o tom das críticas, uma vez que o braço televisivo do grupo, a TVA, precisava negociar direitos de transmissão... Mesmo argumentando que Teixeira era “o Collor da Placar” – em referência ao impulso que a revista “Veja” deu a seu impeachment – Civita insistiu que a revista moderasse as denúncias (numa reunião com a presença de um representante da TVA, que teria questionado porque na Globo não era tão crítico e ele teria respondido que não podia, informação que consta na biografia de Civita e o jornalista desmente...), pois o dirigente dizia que ele não mandava na Abril... Sem mudar a linha editorial de “Placar”, Juca iniciou uma tensa negociação para deixar a Abril, inclusive com a proposta de compra do título da revista, que não se concretizou porque a editora inflacionou os valores ao saber que o Edson (OG) entraria no negócio... “Quando eu soube que a Abril pensava em entrar em televisão, numa conversa com Roberto Civita, sugeri a ele que falasse com Roberto Marinho e fizesse uma espécie de Tratado de Tordesilhas... A Abril não entrava em TV, a Globo não entrava em revistas, cada uma na sua... Não aconteceu nada disso... A Abril perdeu fortunas com sua aventura numa área para a qual não tinha a menor vocação e a Editora Globo também nunca brilhou... Até porque, se quisesse fazer TV a sério, a Abril deveria ter oferecido sociedade a Boni, da Globo... E a Globo, se quisesse fazer revistas para valer, deveria ter oferecido sociedade a Thomaz Souto Corrêa, da Abril”...
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