quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sem passeio em São Paulo, o jeito é ir de trólebus em Yerevan...

Aprende, João Dória... Na capital da Armênia, o trólebus tem vez - e o cinza não!!!...













































O passeio de trólebus pela região Central em comemoração ao aniversário de São Paulo não será realizado este ano... Na segunda-feira, a SP Trans, empresa pública que gerencia os ônibus da cidade, informou pelo Twitter © que o evento não aconteceria... Surgiu então a informação de que o cancelamento foi um pedido da empresa que opera os trólebus da cidade, com a alegação de que não é paga pela uso de seus carros no passeio... A empresa, por sua vez, teria afirmado que sempre participou voluntariamente do evento e que já tinha os veículos prontos para o passeio deste ano...  Sem o passeio, perde a população paulistana, sempre carente de opções de cultura e lazer... Porque mais do que uma viagem gratuita pelas ruas da região central – e que levava a formação de imensas filas na região do Pátio do Colégio, local da fundação da cidade – o passeio contava com a participação de guias turísticos que contavam um pouco da história dos locais percorridos pelos ônibus elétricos... Também perde o próprio sistema de trólebus, que tinha no evento uma excelente oportunidade para demonstrar suas vantagens para o transporte coletivo e o meio ambiente, sem contar a volta dos temores de que a Prefeitura  acabe com as linhas de ônibus elétricos... Por mais que os adeptos do hobby digam que as últimas edições estavam esvaziadas pela ausência de trólebus históricos – como o ACF Brill e o Marcopolo San Remo que pertenceram a CMTC – e dos veículos da Metra que operam na região do Grande ABC, e que a Prefeitura afirme estar no início da gestão de João Dória – em 2013, Haddad estava em início de mandato e o evento aconteceu – o passeio de trólebus no aniversário de São Paulo faz falta sim...  Inclusive como momento de reunião dos internautas e para mostrar que São Paulo já era uma cidade linda muito antes do prefeito pintar muros e apagar grafites com tinta cinza... Prefeito que prefere anunciar uma medida que beneficiará apenas alguns motoristas - o fim da redução do limite de velocidade nas marginais - e que é tão temerária que vem embalada em um programa chamado "Marginal Segura", como a admitir que a decisão resultará em ganho de tempo, mas também em perda de vidas, do que realizar ações que valorizem o transporte público... E pensar que o filme roteirizado pelo pai de João Dória, “A Luta pelo Transporte em São Paulo”, elogiava os trólebus...













Internauta Chico Melancia confere um dos ônibus elétricos da frota, de fabricação tcheca...














































Sem passeio, resta aos internautas, embarcarem nos trólebus de Yerevan... Alis, o sistema de ônibus elétricos da capital da Armênia  foi inaugurado em 1949, no mesmo ano que o de São Paulo... Só que ao contrário da capital paulista e de seu prefeito, o cinza não tem vez...   Os trólebus sim, já que são um modal de transporte muito difundido nos países que formavam o bloco socialista na Europa e na Ásia, além das antigas repúblicas da União Soviética, como é o caso da própria América... Inclusive quando aconteceram os estudos para a ampliação do sistema de trólebus em São Paulo, em 1977, havia a ideia de se conhecer in loco a expertise soviética na operação de ônibus elétricos, o que não aconteceu, segundo consta, por falta de tempo... Um país socialista e uma ditadura militar, no meio da Guerra Fria, faz sentido...  O sistema de Yerevan, que chegou a ter 300 trólebus em 20 linhas, hoje conta com apenas 108 veículos em cinco itinerários, das linhas 1, 2, 9, 10 e 15... São utilizados por 2,4% da população da capital armena... Na era soviética, operavam  trólebus Skoda, de fabricação tcheca, e ZIU, produzidos na Rússia... Alguns Skoda, do modelo 14 TR, ainda rodam pela cidade... Como aquele carro vermelho e amarelo, de número 31, em que o internauta Chico Melancia posicionou-se no degrau da porta da frente para fazer uma foto... Alguns quarteirões à frente, passa um Skoda azul, amarelo e vermelho,  número 6, da  linha 15, com cortinas na janelas – para amenizar os efeitos do frio e uma “saia” abaixo do para-choque... As pequenas pinturas nas laterais fazem Chico lembrar-se dos “colectivos” de Buenos Aires, embora de lado o ônibus elétrico pareça com um Caio Amélia, como os que operaram em Ribeirão Preto...  O estado de conservação dos veículos faz Chico pensar nas cooperativas paulistanas, porém é com satisfação que ele flagrou um caminhão de manutenção da rede aérea trabalhando forte... Os carros mais antigos vem sendo substituídos por trólebus franceses Berliet ER 100, que operavam em Lyon, na França, inclusive mantendo a pintura original, como o 50, que foi visto operando na linha 2, ou os ônibus elétricos russos LIAZ 5280,  iguais ao 10, que estava na linha 1... Esses têm até ar-condicionado...
















Em Yerevan, a rede aérea tem a sua devida manutenção para que o sistema continue operando...









































Doutor Kenji soube que apenas uma mulher dirige trólebus em Yerevan e fez questão de conhecê-la de perto... Nosso colega de rede encontrou Elmira Manyan, também conhecida como Emma, de sandálias, repondo as hastes do trólebus 67 - um Skoda TR14 com três portas - da linha 10... “Este era meu sonho de infância... Minha mãe era operadora de guindaste e me incentivou a seguir a profissão de motorista”, disse ao Doutor, enquanto terminava de colocar os cabos de alimentação na rede aérea... Há mais de 30 anos em atividade, Elmira, que é mãe de três filhos e avó de sete netos, faz seis viagens diárias entre 7 e 19 horas... Enquanto posiciona-se no veículo, que tem uma espécie de cabine para separar o motorista dos passageiros, ela fala um pouco sobre sua vida... “Cheguei a fazer teatro em Alaverdi, minha terra natal, e a cantar com um conjunto de instrumentistas, mas não escolheria outra profissão, dirigir é muito natural para mim... Quando comecei a trabalhar, havia outras mulheres motoristas, mas elas achavam a profissão cansativa e estressante... Só fiquei eu”... A viagem começa e a motorista continua a conversar com Kenji, que ouve tudo da janela da cabine, por onde os passageiros pagam as passagens, já que entra-se por trás e a saída é pela frente... “Apesar de amar a profissão, convenci a minha filha e a minha neta a não seguirem minha carreira, hoje é muito difícil dirigir na cidade, seja trólebus ou qualquer outro veículo”...  Alguns idosos embarcam no trólebus e Elmira reflete... “O trólebus é o mais importante e mais democrático meio de transporte, todo mundo usa, idosos, deficientes, pobres...  É doloroso ver idosos revirando o lixo para comer, eles não são tratados com o respeito que merecem... Quando o carro está lotado e vejo um idoso em pé peço aos jovens que estão sentados cederem seu lugar... Alguns deles, mesmo tendo passes vitalícios, insistem em pagar a tarifa e ainda oferecem um doce ou uma fruta”...  A motorista lembra que precisa intervir quando algum passageiro embarca embriagado no trólebus e começa a criar confusão... “Os passageiros são muito gratos por isso”... Após confessar que já se envolveu em alguns acidentes, Elmira se queixa de que os motoristas de Yerevan não respeitam as leis de trânsito... “Eles instalam câmeras de segurança, mas elas deveriam estar dentro da cabeça dos motoristas... Os infratores deveriam ser punidos na hora, seja uma limousine ou um calhambeque”... A viagem do velho carro Skoda chega ao fim... A motorista desce do trólebus, aperta um botão embaixo do para-choque para fechar a porta dianteira, ajeita os cabelos, tingidos de ruivo, e conta que todo dia, ao deixar o volante, entrega a féria do dia - também aqui existe dupla função de motorista e cobrador - à empresa de trólebus... Quando comenta sobre seu salário mensal, Kenji faz as contas no seu celular e verifica que o valor equivale a 165 dólares... Não daria meio salário mínimo no Brasil... Ao ver o celular do Doutor com seus olhos azuis, Elmira pede para Kenji mandar as fotos que o internauta fez do carro 67 e dela no volante... Antes do internauta Chico Melancia, senão, ele vai dizer que a motorista ainda dá um caldo e já viu... Ops!!!...














Doutora Kenji observa Elmira Manyan, única motorista de trólebus de Yerevan, repor as hastes do carro 67...

Nenhum comentário:

Postar um comentário