Para garantir que não irá perder o bonde da história, o doutor conserva-se em fila no ponto de parada... |
A cidade de São Paulo vai realizar uma nova licitação para o sistema de ônibus municipal... O resultado deverá ser anunciado até outubro... A divisão de lotes proposta pela prefeitura lembra muito a estruturação do Transantiago, no Chile... Há lotes específicos para a operação troncal, que incluirão linhas radiais e perimetrais no caso paulistano – e entre eles, um destinado aos trólebus, que não operam na capital chilena, mas que constituem um lote à parte em Valparaíso – e as local... A divisão destas em linhas de “articulação regional” e “locais de distribuição” indica uma tendência de manutenção das atuais empresas que atuam na cidade... Espera-se a entrada de grupos estrangeiros, que obrigatoriamente deverão estar associados a empresários brasileiros... Não é uma condição que agrade ao pessoal de fora, que prefere monopolizar ou oligopolizar o setor... Mas não seria um absurdo conseguirem um troncal na licitação... Fala-se em chineses, estadunidenses, ingleses e até argentinos... Ainda que o sistema de Buenos Aires tenha um padrão de pulverização abandonado em São Paulo há quase 40 anos... Para ficarmos de novo no exemplo chileno, apenas três empresas do Transantiago tem participação estrangeira – duas em que colombianos estão associados a chilenos e uma de capital francês... As linhas troncais deverão contar exclusivamente com veículos articulados... Embora nem sempre eles possam contar com os corredores exclusivos, que agilizam sua operação... A situação é mais complicada na atual Área 4, pois o corredor previsto para a Radial Leste, por exemplo, não avançou... Incluir um túnel por baixo do Tamanduateí, caminho que nem o Metrô se arriscou a seguir – tanto que não levou em frente a ideia de estender a antiga linha Sudeste-Sudoeste (hoje Linha 4-Amarela), até a Mooca e o Sacomã, pelo eixo da Avenida do Estado, depois aproveitado pelo Expresso Tiradentes... Ficou o poço para a parte subterrânea da estação Pedro II, que a Prefeitura quer usar como parte do túnel entre o Terminal Parque Dom Pedro II e a Avenida Alcântara Machado... No subsistema local, o plano é substituir a maior parte dos micro-ônibus por midi-ônibus, mais conhecidos como “micrões”... Não são poucas as linhas em que os micros não dão conta da demanda... Ao mesmo tempo em que ocupam mais espaço na vias, como no caso do Terminal Itaquera, cujas obras de ampliação seguem lentamente... O grande desafio do sistema após a licitação será ampliar a oferta do serviço aos passageiros ao mesmo tempo em que acontece uma redução do número de veículos... Um dos grandes desafios do novo sistema será enfrentar o que chamamos de “Teoria do Gargalo”... Em resumo, quando mais conduções o passageiro utiliza em seu trajeto, maior é a chance de uma delas comprometer toda a viagem e aumentar o tempo de percurso... A criação do sistema Interligado e do Bilhete Único contornaram as questões da integração dos modais e do custo do transporte para o passageiro, porém não aumentaram a eficiência do transporte coletivo como um todo...
A CMTC hoje é apenas a lembrança na parede de uma época sem retorno, apesar das ideias do prefeito... |
Para refletir sobre o passado, o presente e o futuro dos ônibus em São Paulo, o Doutor Kenji compareceu ao Museu do Transporte Público, na região da Ponte Pequena... Criado por um funcionário da extinta CMTC, o saudoso Gaetano Ferolla... O logotipo da empresa esculpido em madeira impressionou o Doutor... O que também deve ter acontecido com o prefeito Fernando Haddad, que depois do turbilhão causado pelos protestos contra o aumento da tarifa dos ônibus em junho de 2013 chegou a acalentar a ideia de recriar a CMTC... Embora confundisse sua atuação com a do PAESE, acionado em situações de emergência... O fato é que o anúncio do processo licitatório dissipou qualquer possibilidade da volta da empresa pública de transportes... Mesmo com a desapropriação das garagens, medida tomada com o intuito de tornar o sistema mais atrativo para empresários de fora da cidade... Ao observar os modelos de bondes (Brill, Centex) e trólebus (ACF Brill, Grassi-Villares) nosso colega de rede e entendido... Em transportes se questionou sobre o destino do transporte movido à energia elétrica na cidade... Que está contemplado na nova licitação, embora não haja metas significativas para a ampliação da frota, do número de linhas e mesmo no que diz respeito à utilização de veículos articulados... Os planos já foram mais ambiciosos, como demonstra o quadro com o mapa do Plano Municipal de Transporte Coletivo (PMTC), colocado na parede de uma das salas de exposição... Elaborado durante a gestão de Mário Covas na Prefeitura (1983 a 1985), previa trólebus nos terminais Capelinha, João Dias, Lapa, Sacomã e Oratório – este jamais construído... Ônibus à diesel operariam nos terminais Previdência, Peri-Peri, Aeroporto, Vila Maria e Itaquera – o único destes que saiu do papel... A maquete de um ponto de parada adaptado para entrada à esquerda do corredor da Vila Nova Cachoeirinha também indica que a administração municipal já foi boa nisso em termos de projetos para o transporte público... O próprio museu teve épocas mais gloriosas... Vide a balança de precisão usada na contagem dos passes de papel... Fruto da abnegação de entendidos... Em transporte como Gaetano Ferolla e Waldemar Corrêa Stiel – a quem o Doutor rendeu uma silenciosa homenagem... Precisa de um “upgrade” nos veículos expostos... Para expor o monobloco MBB O362 do serviço “Executivo” da CMTC, iniciado em 1977, ou o Thamco DD construído em 1988, na administração Jânio Quadros – a vassourinha no pôster do “Fofão” na deixa dúvida sobre sua origem – foi preciso retirar do salão principal o ônibus “Mônika”, apresentado pelo prefeito Faria Lima – que acabou com os bondes elétricos, porém colocou um anúncio de seu governo em um bonde preservado – e o bonde Camarão, que ia da Praça João Mendes a Santo Amaro em 50 minutos... Perto do museu, na antiga garagem Araguaia da CMTC, vários trólebus e ônibus esperam a vez de serem restaurados e mostrados ao público... Antes que tenham o mesmo destino dos trólebus alemães da década de 1950 – restou somente a plaquinha de identificação – ou dos ônibus Marcopolo Veneza dos anos 1970 – apenas uma foto registra a frota que pontificou na CMTC... O trólebus Grassi-Villares ostenta o letreiro da linha 2101-10, Praça Silvio Romero / Praça da Sé, que há anos aguarda o retorno dos ônibus elétricos... A preocupação maior do nosso colega de rede é com a orientação ao passageiro... Que falta faz uma indicação como a que está escrita em um modelo de ponto inicial... “Conserve-se em fila”... Ou aquele painel com o itinerário das linhas que passam pelo ponto e o mapa dos arredores... Extraído da planta da cidade elaborada pela Mapograf ®, o que garante a precisão e a qualidade do mapa... Assim como o selo da girafa assegurava a qualidade do Mata-Pulgas Orval ®, produto anunciado em uma das propagandas de ônibus de bondes expostas no veículo... Uma marca tão professoral quanto Anapyon ®, cujo anúncio está no interior do bonde número 1 – cuja numeração original era 7... Outras placas indicativas apontam o itinerário e horários de partida da antiga linha 8582... Vila Miriam / Praça Ramos... Operada pela saudosa empresa TUSA Transportes Urbanos Ltda.... Logo abaixo, há duas placas com indicações dos ônibus que servem a diversos “locais de interesse” da cidade... Quem quisesse ir ao “Autódromo Interlagos”, por exemplo, deveria utilizar as linhas 5362, 5367 e 5369... Isso nos tempos do saia-e-blusa... O nosso companheiro de web lembra que as cores variadas dos ônibus ajudavam as pessoas que não prestavam atenção na numeração das linhas – ou simplesmente não sabiam ler – a pegar a condução certa... Hoje, quando os veículos de cada uma das oito áreas da cidade utiliza exatamente a mesma cor, combinada com branco ou cinza, duas perguntas são obrigatórias no ponto de ônibus da Avenida Vital Brasil, próximo a estação Butantã do Metrô... “Passa no hospital???”... “Passa na Corifeu???”... Perguntam os passageiros aos motoristas de cada carro laranja que para no ponto... Nessas horas é que as plaquinhas da CMTC são lembradas nostalgicamente...
Trólebus nos terminais Capelinha e João Dias, terminais Aeroporto e Vila Maria... A Prefeitura já sonhou mais alto... |
Diante da proximidade da nova licitação, nossa maior preocupação é com o destino da linha 4054-10, Jardim Nossa Senhora do Carmo / Metrô Itaquera... Que não constava na primeira versão da relação de linhas que serão licitadas... Ausência que permaneceu quando a SPTrans divulgou as normas do processo licitatório... A 4054-10 atende a população do eixo da Rua Harry Dannemberg e em parte das avenidas Afonso de Sampaio e Souza e Itaquera... O que inclui moradores da Vila Carmosina, Jardim Marabá, Jardim Santa Marcelina e também do Jardim Nossa Senhora do Carmo e da Cidade Líder, pois a avenida Francisco Munhoz Filho, que liga os dois bairros, é paralela a Harry Dannemberg... Nos últimos dois anos, quatro linhas que percorriam a região (2522-10, 3405-10, 3406-10 e 3759-10...) foram reduzidas ou suprimidas... A própria linha em questão surgiu do desmembramento em 2012 da antiga linha 3028-10, que ia do Jardim Nossa Senhora do Carmo até a estação Guaianazes da CPTM... O que direcionou o fluxo de passageiros para a estação Timão-Itaquera do Metrô... Isso justifica a função local e alimentadora da 4054-10... Outras linhas similares que fazem o percurso da Harry Dannemberg até o Metrô (373L-10, 3031-10, 3743-10, 3789-10 e 3796-10) já atendem a demanda das suas regiões de origem... Desse modo, a 4054-10 não é apenas uma linha para quem quer viajar sentado e fugir do carregamento das outras... O que deveria prevalecer é a lógica do transporte público como direito social, e não a visão concorrencial... Se bem que... A 373L-10, a 3031-10, a 3743-10, a 3789-10 e a 3796-10 pertencem a uma empresa e a 4054-10 a outra... Também não é aceitável que ela opere com apenas quatro micros (36 523, 36 606, 36 534 e 36 557)... Com frequência, os passageiros que não conseguem embarcar em um dos carros são obrigados a esperar o veículo cumprir todo o seu itinerário e voltar para poderem deixar o terminal de ônibus da estação Timão Itaquera... Sem contar a demora na frequência de partidas motivada pela frota reduzida, o que leva a longas filas e a um grande número de “desistentes” que vão se utilizar de outras linhas... Pular o ponto para tomar os passageiros que embarcariam em outra linha na parada seguinte também não tem lógica... Enfim, este é um caso no qual não podemos chegar ao fim da linha... Ops!!!...
Em um tempo que não havia apps, a consulta dos horários de partida era feita em placas indicativas... |
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