terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Diário de Los Angeles (VII): Chow mein após três horas andando na região central...

Cor do ônibus estacionado na praça combina com a fachada da Casa Pico, edifício histórico construído em 1869...

 


























O passeio a pé pelo centro de Los Angeles vai acontecer hoje e a maior certeza que eu tinha ao acordar, as 7 horas da madrugada, é que diante de uma sequência de dias ensolarados, mais uma vez o meu casaco ia ficar no sofá do quarto, fui comer o lanchinho com sachê de manteiga de amendoim, que você precisa dar umas amassadas para garantir o fluxo, barrinhas de queijo, biscoitos Ritz, cubinhos de maçã,  uvas e um quadradinho de chocolate da Ghirardelli, passei no quarto da minha mãe 8h05, minutos depois chamei um Uber X direto, o Español demora mais, e se você tem que pedir de novo, fica mais caro, por 40,91 dólares compareceu Justin, um oriental de óculos e boné, num Hyundai IONIQ 5 cinza, cujo interior tem o dobro do tamanho do HB20, que perguntou se eu preferia ouvir rádio em espanhol ou inglês antes de sintonizar um programa que parecia a versão latina de "A Hora do Ronco", com participação de Angélica Vale, a Lety da novela “A Feia Mais Bela”, devo admitir que combinava com o trânsito intenso de Los Angeles, assim como o programa da Band FM em São Paulo... Chegamos na Union Station, local do início do "tour", por volta de 9h30 e fomos para o ponto de encontro,  a porta da cervejaria Homebound Brew Haus, que só abriria ao meio-dia, alguns metros à frente da entrada principal da estação,  que devido a torre lembra uma igreja e foi cenário do filme "Nosso Amor de Ontem" (1973), estrelado por Barbra Streisand, "uma mulher explosiva, temperamental,  lutando por ideais políticos", e  Robert Redford, "um homem vivendo o sonho de se tornar um escritor famoso", como diz a chamada da exibição no "Festival de Férias" da Globo em 3 de julho de 1984, "personalidades diferentes unidas por uma grande paixão", e a gente só consegue pensar naquela foto postada por uma “fanpage” da nossa Barbra,  "visão de um date com Bruna Gritão", a confirmação do "tour" dependia de uma triangulação no WhatsApp entre nós, a agência de viagens e o guia, do qual só tínhamos o número do celular e sequer sabíamos o nome, porém não deixamos de mandar mensagem,  mesmo sabendo que os estadinidenses usam pouco o aplicativo de mensagens,  um par de minutos depois das 10 horas, vi na entrada da estação um homem magro de boné,  segurando um cartaz de agência de turismo,  desses que os receptivos de agências usam no setor de desembarque dos aeroportos,  fui com a mãe ao seu encontro,  era Tom, o nosso guia, que perguntou de onde vínhamos, apresentei minha mãe  e falei que iria traduzir tudo o que dissesse ao longo do passeio para ela... Começamos o passeio da maneira mais simples possível,  entrando na Union Station, outra porta pesada que a mãe atravessou, dentro do saguão de pé-direito alto, o guia explica que a estação,  inaugurada em 1939, é considerada a última grande gare ferroviária construída nos Estados Unidos,  devendo seu nome ao encontro de linhas de várias ferrovias num mesmo local (como a de Bauru, no interior de São Paulo,  também aberta em 1939...), a arquitetura tem aspectos do colonial espanhol, como o teto de reboco imitando uma estrutura de madeira,  e do art-decô, observamos a ampla área onde acontecia a venda de passagens,  os balcões em madeira de lei até lembram uma grande agência bancária dos tempos que não havia tanta automação,  os bilhetes não estão mais disponíveis ali, no entanto,  a estação ainda recebe trens de passageiros de longo percurso e regionais, além do metrô,  o Metro Rail... Andamos pela praça da estação, nosso destino era El Pueblo, o núcleo inicial da cidade, uma cruz no início da Olivera Street assinala que a cidade foi fundada em 4 de setembro de 1781 pelo espanhol Felipe de Neve, como Nossa Senhora Rainha dos Anjos de Porciuncula, este o nome de um rio que atravessa a região, mais alguns passos e chegamos a Avila Adobe, a edificação mais antiga ainda existente na cidade, erguida em 1818, é já assinalando a imigração para a região de colonos de Sinaloa, no México,  que controlou a região entre 1821 e 1846, ao conseguir a independência da Espanha, a propósito, o livro "A Marca do Zorro", de Jonhston Mc Cullen, que apresentou as aventuras do justiceiro mascarado, é ambientado na época dos mexicanos,  a série do Valdisnei, o primeiro grande trabalho de dublagem dos estúdios de Herbert Richers, em 1959, onde Orlando Drummond dublava o Sargento Garcia, personagem de Henry Calvin, é passado nos anos finais do domínio espanhol,  a casa está decorada a maneira de meados do Século XIX, quando a Califórnia já pertencia aos Estados Unidos, a sala,  com vários ambientes,  tem um oratório,  a mesa posta para o jantar, escrivaninha com couros e pelegos,  um piano,  o quarto de casal tem cama com dossel e um penico do lado,  a cozinha, fogão a lenha e enormes tachos de metal, o quarto das crianças tinha um berço com boneca dentro,  a qual chamou a atenção da mãe,  no pátio interno, um carro de boi, ainda não se falava de Carreta Furacão, um enorme cacto, uma placa alertava para não tocar,  e quem vai mexer com fã da Juliette,  uma pé de laranja carregadinho,  não fomos de Chico Bento por não ser uma goiabeira e também porque pode ser uma dessas laranjeiras usadas para arborização urbana, com frutos muito amargos,  não por acaso pertinho de Pirassununga havia uma estação de trem chamada Laranja Azeda, os painéis com a história da Avila Adobe colocados ao redor do pátio assinalam que a região começou a se degradar no próprio século XIX, e na década de 1930 tinha se transformado em um "slum", ...traduzindo para o português, uma favela, mas os esforços de uma moradora da região, Christine Sterling, resgataram a Avila Adobe e transformaram a Olivera Street num mercado mexicano, com quiosques vendendo artesanato, brinquedos, calçados, comida, o que inclui o Noche Buena, com tacos e refrescos estio “Tienda del Chavo”, e roupas, seguimos pela praça do centro cultural mexicano, de fachada decorada com murais no estilo de Diego Rivera, e atravessamos a rua para visitar a igreja católica mais antiga da cidade, modesta no tamanho e em suas paredes brancas, porém com um teto trabalhado e um altar dourado, a imagem de São Judas Tadeu e um cartaz pedindo contribuições para religiosos aposentados, na saída avistamos a Casa Pico, uma edificação em estilo neoclássico construída pelo último governante mexicano de Los Angeles, a origem do nome, e que já sob a égide dos estadunidenses transformou-se em hotel, o branco da fachada combinava com a cor do ônibus baixado estacionado na praça, mais adiante estava parado um típico ônibus escolar amarelo e nas ruas transversais, os veículos de linha do sistema Metro, comuns e articulados, locais, que segundo o site do sistema param a cada dois quarteirões e são pintados de laranja com uma faixa cinza, rápidos, vermelhos com uma faixa branca, expressos, que circulam nas “freeways” e os do BRT, todos em laranja (Linha G) ou prateados (Linha J), num total de 165 linhas com passagem a 1,75 dólares e integração temporal de duas horas...


















E nas ruas da região central de Los Angeles é possível encontrar transporte de qualidade e música de qualidade...







































Nosso passeio, no entanto, é feito a pé, e começamos a subida para chegar ao City Hall, a prefeitura da cidade, em frente a uma das entradas, há uma movimentação grande de pessoas, a cavalo e a pé, montada a cavalo está uma garota com chapéu e botas de caubói, carregando a bandeira dos Estados Unidos, quem sabe é a filha do Billy e da Selena de “Corpo Dourado”, alguns dos cavaleiros usam boné e jaqueta de couro, outros estão trajados de mariachis, com sombreiro e tudo, há também mulheres com vestidos tradicionais, um deles até lembrava a Pópis na fase do programa “Chespirito”, não estivessem também com a bandeira estadunidense, poderiam ser tomados como a tropa de Pancho Villa atacando o Texas, na porta da prefeitura estão homens e mulheres, principalmente mulheres, vestidas de preto e carregando cartazes de protesto, são ambientalistas, o Conselho da Cidade vai votar a proibição de rodeios em Los Angeles, eles são contra, os cavaleiros a favor, no meio deles ficam os policiais, dos quais uma loira parece um pouco desorientada, fotografamos a movimentação, o guia busca informações sobre os protestos, a repórter de televisão chega apressada e falando no celular, um mariachi faz seu cavalo dançar, um furgão mostra cenas de animais maltratados em rodeios, defendendo a proibição, que soubemos mais tarde ter sido aprovada por unanimidade, e assim Los Angeles se junta a São Paulo, onde os rodeios são proibidos desde 1993, também banidos em Araraquara, Franca, Marília, Piedade, Ribeirão Preto e Taubaté, entre outras cidades do interior de São Paulo... Vamos nos afastando da aglomeração e deparamos com o tribunal onde, informa Tom, foi julgado OJ Simpson, o próprio, mais adiante vemos o Los Angeles Police Department, o famoso LAPD, e o prédio do jornal “Los Angeles Times”, que nas paredes externas tem elementos decorativos inspirados nas culturas azteca e maia, subimos por uma praça próxima a um terreno com várias barracas de sem-teto e antes de chegar ao parque Gloria Molina, o guia faz uma parada para observarmos o prédio da Prefeitura, ele explica que o edifício, com 28 andares, inaugurado em 1928, foi o mais alto da cidade até 1957, depois as mudanças nas leis de zoneamento levaram a construção de edifícios maiores, a construção usou terra trazida de todos os municípios da Califórnia e água das 21 missões estabelecidas pelos espanhóis na California no século XVIII, apesar do estilo predominante ser o art-deco, Tom saca seu “tablet” para mostrar que o topo do prédio é inspirado no Mausoléu de Halicarnasso, uma das sete maravilhas do mundo antigo, construído no século IV antes de Cristo na atual cidade de Bodrum, na Turquia, projetado por dois arquitetos gregos para ser o túmulo de Mausolo, representante do império persa na região, e sua irmã e esposa (!!!) Artemísia, daí a origem da palavra “mausoléu”, e o guia também informa que a Prefeitura pode ser vista na série “Dragnet” (1951), estampada no distintivo da polícia, o seriado inclusive inspirou o episódio do Pica-Pau, “O Espião Espiado” (1954), em que um bandido conhecido como “O Morcego” rouba o frasco de uma fórmula secreta e o deixa no apartamento do Pica-Pau, que o confunde com seu tônico de suco de peroba e ingere o conteúdo, adquirindo uma força de 50.000 cavalos, com a qual captura o criminoso e o leva ao escritório do FBI, quer dizer, do BFI, mas os agentes se deparam com o tônico de peroba e um taco de beisebol (chamado nos Estados Unidos de “bat”, “morcego”...), levando ao clássico comentário do agente Quinta-Feira, “as crianças de hoje andam vendo muita televisão”, com o qual seu parceiro Sexta-Feira concorda, “é”, o prédio também serve como sede do “Daily Planet” em “Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman” (1993), quando o cabelo de Lois Lane virou moda antes de Teri Hatcher deixar muita gente de cabelo em pé na série “Donas de Casa Desesperadas”, afora certos filmes mostrados nas madrugadas da Band, piadinhas à parte, atravessamos a rua depois de deixarmos passar alguns ônibus urbanos e chegamos ao parque Gloria Molina, que em seus canteiros possui espécies vegetais de todos os biomas do mundo, e também abriga uma estação do Metro Rail, que Tom afirma não ser tão extenso quanto o Subway de Nova Iorque, são 169 quilômetros, seis linhas (quatro de VLT) e 93 estações, de fato, o sistema nova-iorquino tem 368 quilômetros e 423 estações, porém Los Angeles ainda está na frente de São Paulo e seus 104 quilômetros em seis linhas, o guia mostra o mapa do sistema, que também indica a área dos 63 municípios da Grande Los Angeles, que não inclui Anaheim, com população estimada em 10 milhões de habitantes... Minha mãe já está um pouco cansada da caminhada, porém a subida continua para chegarmos a Catedral de Nossa Senhora de Los Angeles, aberta em 2002, uma construção brutalista, sem ângulos retos, deixamos nossas mochilas com um vigia de terno que parecia Donald Trump e entramos na igreja pela porta encimada por uma escultura representando a Virgem Maria, logo a esquerda, no início de um corredor, estão uma sequência de 21 quadros emoldurados com pinturas das missões franciscanas que os espanhóis estabeleceram a partir de 1769 e que se estendem por 1.325 quilômetros entre San Diego, no sul da Califórnia (a 193 quilômetros de Los Angeles...) e Sonoma, no norte do Estado, com seu estilo arquitetônico que chegou ao Brasil com o nome de “neocolonial” ou “missões”, replicado em mansões, prédios públicos e até em residências menores em bairros então periféricos de São Paulo, como o Jaçanã, a Penha, o Tatuapé e a Vila Matilde, o guia me diz que a missão de San Juan Capistrano, fundada em 1776 e conhecida pela migração das andorinhas, é perto de Anaheim, no final do corredor, incrustrada no meio do concreto, está um altar barroco, pouco depois do banco, também de concreto, que minha mãe aproveitou para descansar um pouquinho, antes de entrarmos na monumental nave da igreja, iluminada por singelas luminárias em forma de anjos nas paredes laterais (além das claraboias no teto...), que possuem afrescos com uma procissão de santos em traços realistas, como o de Santa Maria Madalena, próximo ao amplo altar que abriga um gigantesco órgão de tubos, minha mãe aproveita para sentar mais um pouco enquanto folheia um livro com o ritual da missa, na saída, pegamos as bolsas com outro vigia, houve troca de turno, e depois de passarmos pela escadaria que dá acesso a uma loja de artigos religiosos e um café, retomamos a subida, não por muito tempo, porque Tom, que teve de interromper a visita por alguns instantes para atender o telefonema da irmã, em algum momento durante nossa passagem pelo interior da igreja deixou o tablet num canto e esqueceu de trazer... A caminhada continua e ao final do aclive, nos deparamos com os dois primeiros prédios do Music Center, o teatro Mark Taper Forum, de 1967, que o guia aponta ter o formato de bolo de noiva, e os detalhes em relevo na fachada tem cara de cobertura de chantili, e recebe, entre outras montagens, uma versão teatral do jogo de tabuleiro “Detetive”, Coronel Mostarda incluído, no fundo de um pátio com mesas e cadeiras vermelhas de um café, está o Dorothy Chandler Pavillion, inaugurado em 1964, quando recebeu o nome da esposa do “publisher” do jornal “Los Angeles Times”, grande incentivadora da cultura na cidade, e que recebeu a cerimônia de entrega do Oscar entre 1969 e 1999, depois de observarmos uma fonte que fica bem em frente ao prédio do Departamento de Águas da Cidade, minha mãe, que tinha sentado numa das mesinhas vermelhas, ficou contente em saber que havia uma escada rolante, com vista para o prédio da prefeitura, que dava acesso a sala de concertos que completa o conjunto do Music Center na North Grand Avenue, o Valdisnei Center, projetado por Frank Gehry e inaugurado em 2003, facilmente reconhecível antes de atravessarmos a rua por sua arrojada e curvilínea fachada em aço escovado, Tom fez questão de fotografar eu e a mãe na frente da imponente construção, que abriga espetáculos de balé e concertos de música erudita, antes de passarmos pelo saguão de entrada e ele mostrar no tablet o palco em estilo japonês, seguimos pela North Grand Avenue e passamos por um sem-teto empurrando seu carro de supermercado para chegar, no quarteirão seguinte, ao museu de arte The Broad, que para reduzir a temperatura interna, e estamos caminhando sob o Sol e o céu azul desde o início do tour”, lança mão do antigo recurso dos cobogós, criando uma fachada vazada que amplia a circulação do ar, na frente do museu há um pequeno jardim onde alguns funcionários de empresas da região descansam antes de terminar o intervalo do almoço, uma vendedora mexicana oferece sucos de fruta e água mineral em sua banca, minha mãe e eu pegamos uma garrafinha, um grupo de asiáticas brinca de esconde-esconde nas árvores para fazer fotos e dois músicos negros tocam jazz na calçada, enquanto os ônibus da Metro passam pela avenida, música e transporte de qualidade, digo, o guia oferece uma pequena contribuição aos músicos, do lado oposto da North Grand Avenue, vemos um prédio espelhado que por algum motivo nos lembra a abertura da novela “Torre de Papel”, digo, “Torre de Babel” (1998), e mais ao longe, um edifício cilíndrico que é o mais alto da cidade, o First Interstate World Center, 360 metros de altura e 73 andares, projetado pelo arquiteto I.M Pei e inaugurado em 1989, muito interessante, assim como o rapaz albino que usa uma camiseta da turnê de Janet Jackson e passeia com o seu cachorro, um dos vários que chamam a atenção dos funcionários dos escritórios, o trânsito na avenida não é grande, claro que por estar concentrado na “infinita highway”, e a movimentação de pedestres é mais para chegar aos “food trucks” parados do lado oposto a nossa calçada, percurso que termina com uma panorâmica do Westin Bonaventure Hotel, um conjuntos de cilindros envidraçados com 112 metros de altura e 33 andares, aberto em 1976, com desenho do arquiteto John Portman, e que é muito conhecido por ter aparecido no filme “True Lies” (1994), estrelado pelo ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, e Jamie Lee Curtis, e que minha mãe garante ter visto na televisão um par de dias atrás... Era o momento de descer a escadaria de Bunker Hill, o nome vem de uma decisiva batalha da Guerra de Independência dos Estados Unidos, no século XVIII, que uma placa informa ser inspirada na Escadaria Espanhola de Roma, indicando também que o local, que estava sendo preparado para a realização de um ensaio fotográfico, é popularmente conhecido como “Cardiac Hill”, devido a árdua tarefa de subir os degraus separados por uma queda d’água, tudo projetado por Laurence Halprin, e para o alívio da minha mãe, só tivemos que descer, apreciando um delivery de comida japonesa num dos patamares intermediários e, do outro lado da rua, o prédio da Los Angeles Public Library, de 1926, a principal biblioteca pública da cidade, outro exemplo de prédio art-deco com fachada ornamentada por elementos trazidos de culturas antigas, entre eles um desenho similar ao “olho que tudo vê” dos maçons, aqui simbolizando o saber, entramos no edifício, passamos por salas de leitura que oferecem , além dos livros, vídeos e DVDs, subimos as escadas rolantes para chegar a um “hall” com deslumbrantes afrescos sobre a história de Los Angeles, que o guia não mencionou, mas foram feitos por Dean Cornwell, temos as nossas fontes, espiamos as estantes cheias de livros e um pátio que ocupa toda a altura do prédio, que lembra vagamente a Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo, porém mais alta, com várias escadas rolantes e um móbile imenso no topo...
















Quase no final de três horas de caminhada, uma excelente surpresa: o funicular Angels Flight, aberto em 1901... 

























































Deixamos a biblioteca pela entrada principal, descemos a rua, entramos numa transversal e chegamos ao Biltmore Hotel, que começou a operar em 1923, um século em atividade, portanto, com uma fachada que combina traços dos estilos renascentista italiano, mediterrâneo e belas artes, a magnífica recepção, decorada em estilo clássico, bem como o bar, o corredor principal e o salão de refeições, este lembrando também um castelo medieval, e o Corredor Histórico, pois o hotel recebeu os banquetes onde era a realizada a entrega do Oscar entre 1931 e 1942, Tom tenta achar algum rosto que seja familiar na foto do jantar do Oscar de 1937, também colocada num quadro maior no corredor principal, deixando por Henry Fonda e Jimmy Stewart, outras fotos mostram Betty Davis, Shirley Temple, Valdisnei e as irmãs Carmem e Aurora Miranda, que compareceram a cerimônia em 1941, outro rosto familiar para nós é o de César Romero, a foto não prova nada, só que o Coringa é um feira da fruta, mas serve para apontarmos ao guia que ele foi “the best Joker”, desculpem, fãs do Joaquim Phoenix, no “dining room” com um piano de cauda, é servido um “brunch” aos domingos, o preço deve ser alto, como das diárias, que estão na casa dos mil reais, menos da metade que os 450 reais do nosso hotel em Anaheim, o que nos leva a pensar que o Biltmore deve ter sido a primeira opção oferecida pela agência de turismo, digo... O salão de refeições também proporciona uma das saídas do hotel, onde está o restaurante brasileiro “gourmet” Casa Ipanema, bem em frente a Pershing Square, de 1866, o primeiro parque público da cidade, incialmente chamado de La Plaza Abaja pelo prefeito Cristobal Aguillar, e renomeado em 1918 com o nome do general John Pershing, que comandou as tropas estadunidenses na Primeira Guerra Mundial – e também enfrentou Pancho Villa no Texas – o guia aponta para os edifícios que demonstram os estilos art-deco, gótico, o que inclui gárgulas na fachada, e modernista, com árvores no terraço, como o prédio da Prefeitura de São Paulo, a gente aprecia o acesso do metrô, os ônibus adesivados anunciando os filmes “Assassinos da Lua das Flores” (2023), que estreou no Brasil em 19 de outubro, Martin Scorscese, corre aqui, “Maestro” (2023), com lançamento brasileiro previsto para o próximo dia 7 de dezembro, as animações “Patrulha Canina: Um Filme Superpoderoso”, lançado no nosso país em 5 de outubro,  “Immigration”, a aparecer nas salas de cinemas brasileiras com o título de “Patos!!!”, em 4 de janeiro do ano que vem, e a série “Dr. Death”, cartaz do Peacock, o “streaming” da rede de televisão NBC, entre outros, também observamos a fachada de um edifício estampando uma homenagem a Kobe Bryant, um ônibus articulado dobrando a esquina e a Jade Picon do parquímetro, quer dizer, uma moça magra, de olhos verdes, parecida com a ex-BBB, que pegava moedas num saquinho plástico de fazer inveja ao Doutor Chapatin e colocava no parquímetro para pagar o estacionamento, estamos na Hill Street, não tão recomendável assim para passeios a pé, com mais um acesso para a estação Pershing do metrô, o bar mexicano La Cita, com um Ford Fairlane preto estacionado na porta, que só não fotografamos porque tinha um segurança desses que perguntam se você tem autorização para fazer fotos ou vídeos bem na porta do estabelecimento, também porque Tom apontou algo inusitado do outro lado da rua, um funicular!!!, o Angel’s Flight, aberto em 1901, que faz a ligação da Hill Street, onde estamos, com a Oliver Street, 90 metros acima, seu pórtico e as cabines, que tem o design típico das ferrovias do começo do século XX, são pintados de laranja, como os ônibus urbanos da cidade, aumentando o contraste com os arranha-céus ultra-modernos que o rodeiam, o que só aumentou a nossa surpresa, embora a minha mãe tenha comentado que já viu equipamentos semelhantes em Santos e Montmartre, em Paris, o funicular está situado bem defronte ao Grand Central Market, de 1917, a última parada de nosso passeio, pois o guia avisa que vamos atravessar o mercado e visitar, na rua dos fundos, o edifício Bradbury, na  South Broadway Street, próximo a loja de artefatos de cutelaria onde, informa Tom, o ex-atleta OJ Simpson teria comprado a faca com que matou Nicole Brown e Ronald Goldman em 14 de fevereiro de 1994, justamente do Dia de São Valentim, que nos Estados Unidos e México é festejado como o Dia dos Namorados, o prédio, que tem uma inconfundível fachada de tijolos aparentes, uma pesada porta de madeira e um interior em estilo vitoriano, com profusão de estruturas de ferro e elevadores de porta pantográfica, projetado por George Herbert Wyman em 1893 e que serviu de locação ao filme “Blade Runner” (1981), ambientado na distópica Los Angeles de 2019, como imaginada quatro décadas antes, o guia saca seu “tablet”, abre o “trailer” do filme no YT e tenta encontrar alguma cena filmada no saguão onde estamos, porém quem montou o filmete priorizou a exposição do franjão da Sean Young, o jeito foi voltar para a porta do edifício, onde o passeio terminou oficialmente, três horas depois do início, tiramos fotos com o guia e agradecemos seus serviços, embora a mãe estivesse exausta, ansiosa por almoçar e descansar um pouco, na verdade, eu também estava cansado, tive de traduzir para ela tudo o que Tom disse ao longo do “tour”, porém o que eu havia visto no Grand Central Market me deu um novo ânimo... Tanto que não sei dizer aquilo que mais me empolgou no mercado, os lugares que vendem alimentos e refeições ou os frequentadores do local, ... na saída da South Broadway Street, o guia tinha apontado o The Egg Slut, especializado em sanduíches com ovo, será que tem o do Quico, e no balcão um casal vistoso casal lanchava, ela com longos e lisos cabelos negros, cílios postiços tão grandes quanto a franja na testa,  percorrendo os corredores vemos os sorvetes da Mc Cornell’s, frutas, legumes e verduras ao lado da bandeira mexicana na banca Torres Produce, Sticky Rice, as salsichas do Berlin Currywurst, que Tom recomendou fortemente, eu estava de acordo, mas a mãe não curte o produto, Marge’s Store e seus “rice bowls”, mesas na calçada da South Broadway, uma coreana comendo distraída seu hamburguer ao lado de um suporte para bicicleta adornado por duas cabeças de porco esculpidas em metal (!!!), The Juice, com adivinhem, suquetes, o açougue Roast To Go Antojitos Mexicanos, o #RichasBroth servindo pratos veganos, os frutos do mar do Broad Street Oyster Co, reuniões de negócios à mesa, ou apenas o almoço dos colegas de firma, brechó e joalheria que a mãe deu uma olhadinha os sanduíches do Old School Deli Classics, Ana Maria Comida Mexicana (acorda, menina!!!...), os drinques e sucos do Golden House, o ruivinho trabalhando forte no “notebook” numa das mesas do pátio com árvore de Natal no centro, loira passeando com o cachorrinho, Sushi Rush, e logo na entrada principal, o icônico The China Cafe, do inconfundível letreiro de neon e do balcão com cadeiras vermelhas, que apesar do nome era comandado por duas incansáveis latinas, convenci a minha mãe a comer um prato de “fried rice”, porque eu já estava decidido a saborear o macarrão, um “chow mein” de carne, equivalente ao yakisoba japonês, acompanhado de um caldo de missô quente e sachês de shoyu, este aludindo ao horóscopo chines, e pimenta sriracha, meu prato saiu por 13 dólares, toda a conta, mais as latinhas de Diet Coke a 1,75 dólar casa, ficou em 30 dólares, o que é pouco para a melhor refeição que comemos em toda a viagem, e olha que nem estivemos em Chinatown... Era uma excelente chance para voltar ao hotel, mas recalculei a rota para ir numa livraria, o problema é que o Civic branco  que respondeu, dirigido por Ricardo, passou direto porque tive a ideia de atravessar a rua para fotografar o funicular, fui obrigado a chamar outro carro e desta vez lacei o Honda CR-V cinza do Martin, e resgatei minha mãe de uma mesa na calçada onde uma senhorinha lhe perguntava de que região da Espanha eram os colonizadores da Califórnia,  deixamos o centro de Los Angeles,  passamos por um bairro residencial,  avistamos o prédio do sindicato dos atores, o STAG, numa rua comercial (alô, Fran Drescher...), porém o carro entrou em outra via residencial,  chegamos por fim ao The Grove, um shopping center aberto, com um bonde de dois andares decorado com enfeites natalinos circulando pelas ruas, uma grande loja da Nike, uma enorme da Apple, lotada, que parecia ainda maior porque um espelho  no teto refletia o movimento no chão,  Gisele Bundchen na porta da Frame, uma foto, casa do Papai Noel no meio da rua, The Cheesecake Factory, Cher em figurino de Natal na vitrine da Barnes & Noble,  nosso destino pretendido,  três andares de livros, as biografias de Bruna Gritão,  quer dizer,  de Barbra Streisand, e de Britney Spears, a bancada de livros de arte com desconto,  balancei por "Hollywood in Kodakhrome ", vitrolas, discos de Lana Del Rey, "Born To Die", e Taylor Swift, "1989", um livrão sobre Rihanna com alarme nos caixas, esse deve ser caro, e no terceiro andar, perto de um livro sobre as Supergatas, o que eu queria, ou quase, um livro com a história dos filmes de terror da Universal por 45 dólares, na verdade queria uma história do estúdio todo, mas a atendente no caixa  confirmou que aquilo era o que tínhamos para hoje, levei também um livro com a história de Hollywood por 35 dólares,  o tipo da obra que no Brasil,  ou não se publica nem está nas livrarias, volumes grossos, de capa dura, podem ser adquiridos aqui por até 50 dólares,  o que dá 250 reais, no Brasil dificilmente saem por menos de 300 reais, no final do The Groove está o famoso e tradicional The Farmers Market,  cuja torre que imita um moinho virou uma livraria da Taschen, aí o preço é alto em qualquer lugar do mundo, há muitas opções de comida, você pode tomar um copo de Coca Diet de quase um litro e depois se aliviar num banheiro meio abafado, mas funcional, minha mãe tentou usar o caixa eletrônico, o ATM e não conseguiu, nem quis pagar 50 dólares por uma bijuteria num quiosque do The Groove, nesse momento eu fotografava um totem com o anúncio natalino de Mariah Carey para a Victoria's Secret, e pensou em ver o preço do iPhone, mas passou direto pela loja da Apple... Retornamos ao lugar que chegamos, o estacionamento com "valet" do shopping, para pedir o Uber da volta, veio outro Toyota Prius azul, a viagem custou quase o mesmo que ontem, 80,96,  a principal diferença era a motorista, Ashley, uma simpática loira de touca rosa, que a deixava parecida com a Edith de "Meu Malvado Favorito", e que ouviu um clássico do jazz instrumental atrás do outro ao longo do percurso, que pareceu mais longo porque o GPS indicou a passagem por bairros residenciais para contornar o movimento intenso nas "freeways", o resultado é que chegamos ao hotel esfalfados às 18h15, imaginando que o estoque do frigobar daria conta, a Coca Zero aberta até deu para encher duas vezes o copo de refil da Universal,  mas os snacks comprados domingo no Walmart não foram suficientes, então me arrisquei a ir sozinho na parte "nobre" da Harbor Boulevard,  a princípio novamente no Tony Roma, mas decidimos experimentar o Coco's Bakery, que fica em frente ao Outback, do outro lado da avenida,  onde chegamos no Toyota Camry azul de John por 10,90 dólares,  encontrando uma calçada imitando Copacabana,  uma palmeira ao lado da entrada e um ambiente de lanchonete "setentista", com a morena do Luan Santana e César Menotti, ou Fabiano, no atendimento,  refil só tinha de Diet Pepsi, não importa, o essencial era o prato natalino, fatias de carne assada de peru, um pratinho com arroz pilaf, purê de batata, molho,  recheio de peru assado a base de milho e geleia vermelha, excelente, nem  precisava ter pedido o hambúrguer, apesar da carne muito bem passada, da profusão de cebolas grelhadas e do ovo,  acompanhada de uma generosa porção de batatas fritas sequinhas, com "All I Want For Christmas" na trilha sonora, recinto vazio, só duas garotas entraram quando eu estava terminando a refeição,  pediram água "tap", estão economizando,  pedi o Uber no sofá da espera do delivery, veio um hindu, Effa,  que ouvia música típica de seu país e me levou de volta ao hotel por 9,94 dólares...






















Terminado o "tour", era hora de apreciarmos o macarrão do China Café, localizado no Grand Central Market...


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