Na época do concurso, Larissa Manoela nem era nascida, mas o perrengue foi previsto por Cazuza em "Brasil"... |
A segunda parte da série dos 50 anos do “Fantástico” é apresentada rapidamente, Poliana Abritta garante que a matéria “vai mexer com as lembranças de muita gente”, Maju Coutinho promete que quem viveu os anos 1980 “vai experimentar uma nostalgia deliciosa” - na verdade, esse é o maior desafio da matéria, rivalizar com o YT, que tem muito material sobre a década de 1980, a qual em termos de romantização para os brasileiros é como os anos 1950 para os estadunidenses - e “quem não viveu vai se impressionar com as mudanças que aconteceram no comportamento do brasileiro de 40 anos para cá” e Poliana menciona os créditos do episódio, “edição de Jennifer Skipp, produção de Nunuca Vieira e direção de Filipe Nahar”… Corta para os edifícios com janelas acesas à noite e Bofão, ex-Vice-Presidente de Operações da Globo, dizendo que as pessoas deixavam de ir ao cinema, festas e restaurantes, pois na década de 1980 o “Fantástico” tornou-se uma necessidade, “tal a capacidade que ele teve de integrar a famíla”, vide relógio do videocassete National marcando 8 horas da noite, sem citar que o programa “Os Trapalhões”, que concorreu com o “Show da Vida” e o venceu por um breve período em 1976 - já tinha reunido gente suficiente na frente da televisão para ver o “top” de 8 segundos que antecedia o programa… A primeira adita a confessar a fissura familiar na depressão causada pela música do “Fantástico” entrando no ar é Luciana Vendramini, mais “top” de 8 segundos, Roberto Carlos comparece num televisor da época para cumprimentar o programa por seus dez anos de existência - em 1983 - o que também é feito por Gilberto Gil e Fábio Júnior, que pede “mais dez e mais dez” anos com “o mesmo espirito da coisa” - hoje, até poucos dias atrás, ele podia ser visto no SBT anunciando a Telesena… O locutor Dirceu Rabelo introduz a reportagem sobre o médico francês Henry Martineau, mais conhecido como “o homem que congelou a mulher” e Marília Gabriela pergunta se ninguém o chamou de louco até agora (Blogueirinha, corre aqui…)... Berto Filho apresenta a história do homem branco que tomou remédio e começou a mudar de cor, ficando preto, esverdeado, azulado, avermelhando (ah, se Michael Jackson soubesse, digo…), que serve de deixa para o repórter João Batista Olivi dizer que viajava o Brasil fazendo reportagens para o “Fantástico”, abordando temas mais pertinentes, como a seca no Nordeste, mais especificamente na região do sertão dos Inhamus, no Ceará, em 1983, onde é feito um relato dramático sobre a falta de comida, as mortes causadas pela estiagem, principalmente crianças, junto com as mulheres, as maiores vítimas da estiagem, pois ficam na terra enquanto os maridos buscam trabalho e precisam explicar a situação da falta de água aos filhos, chamadas por Olivi de “viúvas da seca”, vide Maria Rosa, cuidando dos cinco filhos, esperando o sexto, sem trabalho, passando fome e com o filho Zé Cleuton brincando de fazenda com uma coleção de ossos de boi que representavam bezerros, cavalos galinhas, touros (um deles, o Azulão…) e vacas, levando o repórter às lágrimas e trazendo ajuda para a família de Maria Rosa, na forma de comidas e de brinquedos para Zé Cleuton, aqui mostrados pelo eterno Francisco José, cabendo a João Batista emprestar o nome para seu novo irmãozinho, que nasceu com 4,3 quilos - e no programa de hoje, quem vive um drama é Larissa Manoela, obrigada a pedir um Pix aos pais para comer um simples milho cozido na praia, lembrando que o “Criança Esperança” começou como “SOS Nordeste”, na época, todos os governadores da região eram do partido apoiador da ditadura, e a ruptura deles ao não aceitarem um candidato oficial do Sudeste foi um dos fatores que levaram ao retorno da democracia no Brasil, apesar de que só muitos anos depois surgiria uma pessoa vinda do sertão que entenderia e resolveria os problemas dessa população, e estamos falando do Luis Inácio, não de Juliette… Entra a vinheta de 1983, trazendo uma reportagem feita em Londres com o encontro do doador de um coração com o homem que o recebeu (!!!), em 1987, e o autor da matéria, Hélio Costa, o próprio, fala do gosto do diretor José-Itamar de Freitas por assuntos médicos, “sobretudo, se tinha alguma novidade” (muito modesto, Hélio deixa de lado a sua obsessão por noticiar a cura do câncer, mas aponta um fato que persiste até hoje, temas de saúde dão Ibope, não necessariamente com embasamento científico, mas enfim…)... José Itamar, que saiu de cena em 2020, comparece apagando um bolo ao lado do Bofão nos 15 anos no “Fantástico”, em 1988, e o próprio pai do Bofinho, lembra que ambos os dois eram hipocondríacos, o que leva ao riso Hélio e a ex-repórter especial Flávia Adalgisa, porém rendia pautas como a dos acidentes com crianças no transporte, dica dada pelo pediatra do filho, vide imagens de crianças sentadas no banco do carona ou mesmo no colo do motorista (!!!), assunto que rendeu muitas “cartas e telefonemas” para Flávia, que na ocasião pontuou que a Polícia Rodoviária não podia multar os motoristas que levavam crianças de forma inadequada, e não só apenas isso, vários se irritavam com as orientações dos guardas rodoviários… Então é por isso que Bofão ressalta que uma das coisas mais importantes que a televisão faz, além de informar, é prestar serviço público (afinal, os canais de TV são concedidos para isso, é bom lembrar…), e também é por essa razão que mais imagens da abertura de 1983, de números de acrobatas e de apresentações do mágico David Copperfield ilustram o comentário de Hélio Costa definindo o programa como “uma combinação de informação e entretenimento, aí é que entra o mágico, e aí que entra o circo”, Adalgisa acrescenta, “muita música, lançamentos de cantores, os clipes eram famosos”, caso de “Gata Todo Dia”, de Marina Lima, e logo Bofinho em pessoa comparece para explicar que “os videoclipes se tornaram uma forma importante do Fantástico trazer musicais, sem que eles fossem mais clássicos, ali, dentro do estúdio, um mix de sonoridades diferentes, de artistas diferentes”, entre eles Gilberto Gil, Alcione, Alceu Valença, Zeca Pagodinho, com “Patota de Cosme”, cantando ao lado de Sônia de Paula… Ops!!!... Fernanda Abreu, ao lado de Evandro Mesquita, acreditou que os clipes do “Fantástico” fizeram história (os musicais dos Trapalhões também, mas isso a Globo não mostra…), Charles Gavin lembra que os vídeos garantiam que o público iria conhecer as músicas, Evandro comparece no clipe de “Você Não Soube Me Amar”, em 1982, e nos dias de hoje, diz que a música fez muito sucesso no rádio quando lançada num compacto, porém o musical no “Fanstástico” “foi uma pólvora, uma explosão total” - a versão dos Trapalhões, com Dedé Santana e Zacarias vestidos como as vocalistas, então… Foi então que todas as rádios do Brasil tocaram a música, garante Fernanda Abreu (Lobão, corre aqui…), corta para os clipes de Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Titãs, Magazine (sdds Kid Vinil…) e Bofinho admitindo que as pessoas o conhecem como o “Big Boss” do BBB e ignoram seu passado como diretor de clipes - sempre ancorado em formatos que vieram há pouco de fora, hoje o “reality” concebido pela Endemol, no “Fantástico” o formato de videoclipes popularizado pela MTV estadunidense, inaugurada em 1981, tanto que a chegada do canal ao Brasil, em 1990, coincide com a fase que o “Show da Vida” tirou os musicais da pauta, adotando depois o formato de “pocket shows”, que não deixa de lembrar os acústicos da MTV… Gavin até lembra dos clipes antológicos que fez com Bofinho, caso de “AAUU”, de 1986, em que o diretor venceu a relutância de José Itamar, o músico dos Titãs não esconde sua predileção por “Homem Primata”, de 1987 - e seu colega Arnaldo Antunes ri litros ao lembrar que cantou enjaulado num zoológico - e o próprio Bofinho faz questão de lembrar o clipe que fez com Lobão, “Blá Blá Blá Eu Te Amo…(Rádio Blá)”, mostrado depois que Sérgio Chapelin anunciou a reportagem transferência do músico para a prisão na região de Benfica, a cargo de Sérgio Gregory, detenção motivada por porte de maconha, “ou coisa parecida”, na definição do Bofinho, que volta a insistir com Itamar para gravar o clipe na cadeia - sempre os confinamentos, e Bofinho define os anos 1980 como “década alegre e festiva”, guardada na caixinha das “boas lembranças”, isso ajudado pelo fato da matéria ter ignorado por completo o Ultraje a Rigor… Ops!!!...
Quadro foi debatido por Viviane Araújo, Cláudia Lyra, Luciana Vendramini - ou Angélica - e Paula Burlamaqui... |
Uma reportagem sobre danceterias de 1983 é a deixa para Bofão declarar que o “Fantástico” sempre defendeu “a abertura da sociedade”, aproveitando “outra abertura, um pouquinho maior, da censura”, Adalgisa lembra a abertura mais importante da ocasião, a política (que não era tão defendida assim em outros setores da Globo, e mesmo o “Show da Vida” concentrava-se na “pauta de costumes”, antes de ser “raptada” pelos evangélicos e pela extrema-direita…), corta para uma reportagem de 1980 narrada por Cid Moreira sobre a “sexo-ginástica”, “exercícios para fortalecer os órgãos sexuais” (nesse ponto os Trapalhões ousaram mais, com a “aerobicha”...), Fernanda Abreu pontua, “uma liberdade maior com o seu corpo também, eu acho que isso foi uma coisa importante nos anos 1980”, e vem o questionamento de 1983, “mas qual é a onda agora, é puritana ou liberal, é conservadora ou progressista, uma sociedade internacional para proteção dos direitos de homens e mulheres permanecerem virgens, seria um progresso em matéria de moral, ou um retrocesso (a gente chama isso hoje de “incel”, digo...)... Com a palavra, a socióloga Jacqueline Pitanguy , que é ouvida por ela própria 40 anos depois, “é importante que assim como não haja uma pressão em termos de a honra da mulher está na virgindade, a honra da mulher também não está no número de experiências sexuais que ela venha a ter tido”, ouvida a Jacqueline do passado, a do presente observa, “eu acho que introduzir esse tema da sexualidade, do comportamento sexual na sala da família brasileira, foi muito importante, eram temas que angustiavam a juventude” – nas entrelinhas, percebe-se que o tema abordado era muito mais espinhoso, o feminismo e o direito da mulher, e não necessariamente a família brasileira entendeu, teria levado como bode na sala, como demonstra o principal assunto do programa de hoje, uma entrevista da atriz Larissa Manoela abordando o conflito com os pais... Imagens de Nova Iorque em 1983 entram quando Hélio Costa lembra de sua preocupação “quando começam a chegar informações sobre uma doença que ninguém sabia do que era, mas todos estavam já, certos de que era uma doença fatal”, vide chamada lida por Dirceu Rabelo em março daquele ano, “o repórter Hélio Costa e a doença que está preocupando médicos e sanitaristas de todo mundo”, ou nas palavras de Hélio, “uma doença misteriosa, que era totalmente desconhecida há dois anos, segundo as autoridades médicas estadunidenses, transformou-se nos últimos meses na epidemia mais violenta do século, trata-se da síndrome da deficiência imunológica, ou a-i-d-s” – que teve o primeiro caso oficialmente reportado nos Estados Unidos em 1981 (e no Brasil em 1982, mas que teria acontecido dois anos antes, em 1980...), embora o vírus HIV já circulasse entre os estadunidenses desde 1977, antes do primeiro diagnóstico, os casos eram associados a doenças que eram causadas pela baixa imunidade provocada pelo HIV, a reportagem é considerada a primeira exibida no Brasil sobre a Aids, e chegou a ser lançada em DVD, nas comemorações dos 30 anos do programa, em 2003... Hélio prossegue, “na verdade, a gente começou chamando de a-i-d-s, porque ainda não tínhamos essa sigla, Aids, muito estabelecida, as coisas foram ficando muito complicadas, mas ainda assim, o próprio José-Itamar de Freitas virou pra mim e disse, a sua matéria é muito boa, mas esse negócio no Brasil não existe, ainda não temos Aids no Brasil” (qualquer semelhança com o que se viu na pandemia não é mera coincidência...) e aponta um “plot-twist”, “aí o que acontece, morre o Markito, que era um costureiro famoso, muito querido aqui e nos Estados Unidos, na verdade ele morreu em Nova Iorque, em tratamento lá, tentando se tratar lá” – em 4 de junho de 1983 - aí é que o Zé Itamar me liga e fala, cê fez uma segunda matéria, que eu não pus no ar, acontece que tem um caso envolvendo um brasileiro, onde é que tá aquela matéria”, cuja chamada vai ao ar naquele mesmo mês de junho, “veja no próximo domingo no ‘Fantástico’, o repórter Hélio Costa e o destaque que a imprensa estadunidense deu a nova doença”, Hélio complementa, “a primeira preocupação que o Fantástico teve foi produzir, fazer com que as pessoas se conscientizassem disso, era também mostrar o governo tinha que fazer alguma coisa” – um estudo acadêmico sobre as matérias da atração sobre a Aids entre 1983 e 1992, divide a abordagem do programa em três períodos; no primeiro, entre 1983 e 1985, que começa justamente com as duas matérias de Hélio, a doença, que ainda não se alastrara pelo Brasil, é tratada de forma informativa, porém o fato dela ser transmitida sexualmente, mais exatamente pelo sangue, entretanto, como os primeiros casos eram predominantemente entre homossexuais, o conceito de “grupos de risco” ganhou força (outro triste paralelo com a Covid...) e tornou a Aids “vendável”, sem contar que rapidamente a venda de falsas esperanças de cura das matérias sobre câncer foi incorporada, nessa fase, ao noticiário sobre a Aids... Ainda em junho de 1983, é noticiada a criação do primeiro centro de controle da doença no Brasil, ou como afirma então a médica Valéria Petri, uma dermatologista que estudava o sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer de pele associado a Aids, “os médicos serão orientados no sentido de encaminhar os pacientes com a doença nesses centros”, mais adiante, em 1987, André Luiz Azevedo relata, “no Rio, a Aids já matou 131 pessoas, a cada semana, surgem três novos casos, e não há estrutura hospitalar para tratamento”, Flávia lembra, “ainda havia todo um preconceito que era uma doença de homossexuais, que não tinha muita informação” – algo que começou a mudar timidamente a partir da saída de cena do cartunista Henfil, em 1988, infectado numa transfusão de sangue, que precisava fazer periodicamente por ser hemolífico, o mesmo ocorrendo com seus irmãos Betinho e Chico Mário, a matéria de Azevedo já é da segunda fase da cobertura da doença, entre 1985 e 1988 quando ela se torna uma epidemia no Brasil, antes do surgimento do SUS, quando o modelo que vigorava era o do Inamps, a contratação de serviços da rede privada apenas para trabalhadores com registro em carteira, vide a menção a falta de estrutura hospitalar, e mesmo as campanhas oficiais serviam mais para responsabilizar a população pelo surto de Aids... Então é por isso que Dráuzio Varella afirma, “a ignorância em relação a doença foi a razão pela qual ela se disseminou muito depressa, fruto da resistência das pessoas em mudar o comportamento sexual”, segue-se matéria de 1992, “os médicos dizem que o teste da Aids é uma decisão pessoal, mas existem empresas que obrigam os funcionários a fazer o teste, quem tem a doença é demitido”, fato que revolta Dráuzio na época – “eu acho que isso é mais uma cafajestice brasileira, e anti-ético esse tipo de comportamento, isso não deve ser feito de forma alguma” – e o médico acrescenta em 2023, “pelo alcance da TV Globo, o Fantástico pode abordar esse problema e tornar conhecidas as formas de transmissão, e especialmente a luta contra o preconceito” – que o próprio Dráuzio enfrentou quando tocou em um paciente com sarcoma de Kaposi numa reportagem do programa, já na terceira fase da cobertura, entre 1988 e 1992, quando o conceito de “grupos de risco” dá lugar ao de “comportamentos de risco”, e as campanhas governamentais passam a focar na prevenção, uso de preservativos inclusive, coincidindo com a implantação do SUS, criado pela Constituição de 1998, após uma longa demanda da sociedade por uma reforma sanitária, afora que o programa não menciona que a Aids registrou um fenômeno semelhante ao da cloroquina na Covid, com o surgimento de remédios falsos e ineficazes, e mesmo a oferta de medicamentos retrovirais, que detém o avanço da doença, pela rede pública, ainda levaria muitos anos de batalha por quebras de patentes, que viabilizaram o uso do chamado “coquetel” no Brasil, que controlaram a doença, ao mesmo tempo que o contágio voltou a aumentar porque alguns setores da sociedade recusam-se a aceitar os meios de prevenção, sim, esse pessoal mesmo... A conversa muda de rumo com uma frase de Flávia , “o Fantástico vinha como fio condutor, então a nossa responsabilidade também era muito grande”, como confirma uma reportagem de 1984, da própria repórter e do cinegrafista Nino Motta, sobre motoristas que ingerem bebidas alcóolicas enquanto dirigem, “em fins de semana ensolarados como esses, pelo menos 600 mil pessoas descem para a Baixada Santista”, um banhista revela que tomou 15 cervejas, caipirinha, vinho, garantindo que se comporta ao volante na viagem de volta “numa boa, mantendo uma noção do que estou fazendo”, um motorista diz ter tomado seis caipirinhas, junto com o irmão, garantindo que “até dez” consegue dirigir numa boa, “passou de dez já – a Flávia de 2023 ri nervoso, “ver hoje essas imagens, elas são mais chocantes ainda, mas era o que acontecia nas estradas”... Mesmo com Dirceu Rabelo lembrando que pelo código de trânsito da época, “um motorista atinge o estado de embriaguez quando atinge o limite de 100 miligramas de álcool por 100 mililitros de sangue, ou seja, uma pessoa pode beber duas latas de cerveja ou dois copos de vinho, ou então, duas doses de bebida destilada, como uísque, ou cachaça”, Flávia resgata um estudo da Escola Paulista de Medicina (EPM), “testes dos riscos e dos perigos do uso do álcool no trânsito”, reproduzido no autódromo de Interlagos, onde motoristas fizeram um percurso de 500 metros demarcados por 650 cones, com onze curvas para cada lado, “nós escolhemos Interlagos porque era fechado, mais seguro, era possível de fazer as pistas para as pessoas poderem dirigir depois de beber, sem riscos pra gente ver o que elas faziam”, tarefa destinada a quatro motoristas, acompanhados de pilotos profissionais, para maior segurança, com apoio de um caminhão dos bombeiros e de uma ambulância, “fizeram o primeiro trajeto normal, não derrubaram nenhum dos cones”, mas quando um dos participantes, Antônio, ingere bebida alcoolica, não só detonou os cones com um Chevette como ficou com a sensação de estarem dirigindo melhor, o que é negado veementemente pelo médico que supervisionou o experimento, filmado inclusive por helicópteros”, Flávia volta a rir nervoso quando o motorista Gonçalo, “ele está com duas vezes o índice exigido por lei”, derrapa com seu caminhão pela pista, espalhando cones por todos os lados, “ele está absolutamente embriagado, será que vai parar”... Felizmente ele parou, e a Flávia de 2023 assinala que essa matéria foi um “alerta” deu início a luta que levaria ao novo Código de Trânsito Brasileiro, em 1998, e depois a Lei Seca, em 2008, levando a uma queda de mortes envolvendo motoristas alcoolizados em 32% entre 2010 e 2021, “você olha isso, 40 anos, e hoje, todos os avanços que nós tivemos” – o que a Globo não mostra é que governo ditatorial era displicente com a prevenção do alcoolismo e do tabagismo, sob o pretexto de não prejudicar a indústria nacional leia-se, não reduzir os ganhos (e perder o apoio político...) dos empresários, os do setor de bebidas e fumo, os da medicina, dada a lógica do financiamento oficial da saúde na época, e mesmo da mídia, eram grandes anunciantes, e que o Bozo afrouxou várias punições do Código de Trânsito para beneficiar alguns de seus principais financiadores de campanha, os grandes frotistas de veículos... Corta para um protesto de mulheres, que cantam em coro, “Constituinte, o povo exige participação”, o depoimento de Jacqueline, “eu acho a década de 1980 crucial no Brasil, os grandes movimentos sociais”, seguem-se imagens das mobilizações das Diretas-Já, em 1984 (desnecessário dizer que a Globo por muito tempo fez vista grossa para o movimento...), Jaqueline prossegue, “a luta pelas Diretas-Já, a Constituinte, o movimento feminista ganhando espaço, lutas que hoje podem parecer absurdas, mas que naquele momento encontraram muita resistência, porque eram muito inovadoras” – ainda hoje, visto que na Constituinte surgiu o Centrão, bloco parlamentar conservador que segue colocando governos contra a parece, e mesmo a cobertura da CPI do MSI tem demonstrando que a emissora não está exatamente sensível assim aos movimentos sociais, evidenciando uma defesa dos grandes proprietários de terras, grupo que os donos do canal também fazem parte... Entra matéria de 1987 mostrando a demissão de Mônica, e de mais nove grávidas, 33 dias antes do filho nascer, no relato de Dirceu Rabelo, “uma situação que está se tornando cada vez mais comum, desde que a Assembleia Nacional Constituinte aumentou a licença para a trabalhadora gestante, de 90 para 120 dias”, Jaqueline relata, “muitos empregadores exigiam das mulheres um certificado de esterilização, para poderem continuar no emprego ou para serem admitidas no trabalho”, fato confirmado por um depoimento da época, dado por Aldenice de Oliveira, “se tiver filhos menores ou não tiver feito laqueadura, nem faz ficha”, Jaqueline prossegue, “o Fantástico deu grande visibilidade a essa questão, com toda a divulgação, conseguimos parar com esse movimento, era a luta contra todas as formas de opressão contra a mulher” – que está longe de terminar, a maioria das gestantes opta por tirar a licença perto do parto para não correr o risco de ser demitida ao voltar para o trabalho e ficar sem meios para sustentar o recém-nascido... Também em 1987, a repórter Helena de Grammont (que saiu de cena em abril...) reporta a luta de uma Isabel, que há 47 anos tentava provar que não é desonesta, Jacqueline comenta, “o caso dessa senhora é absolutamente dramático, se você for ao dicionário, você vai ver que mulher honesta é de um comportamento pudico, um comportamento que seja considerado correto pela sociedade”, a matéria prossegue noticiando que Isabel teve o cancelamento da pensão que recebia como viúva, pois um decreto de 1931 classificava como de “vida desonesta toda viúva pensionista que voltasse a namorar e se casasse de novo”, Jacqueline aponta o vínculo da norma com o Código Civil de 1916 (substituído apenas em 2003), “leis escritas por homens para controlar a mulher, especialmente a sua sexualidade”, Helena aparece para mostrar que o processo de Isabel tinha mais de 300 páginas, e já tinha sido arquivado cinco vezes, logo depois, Ulysses Guimarães promulga a nova Constituição, em 1988, Jacqueline afirma, “esse quadro discriminatório vai terminar com a Constituição de 1988, que estabelece a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres”, com uma ressalva importantíssima, “mas isso não significa que a mudança de leis ela se faça de forma imediata com a mudança de cultura, e aí a televisão joga um papel fundamental”... Por essa razão, o depoimento de Patrícia Fonseca na São Thomé das Letras de 2023, “não me arrependi de nada”, puxa a apresentação feita por Valéria Monteiro (que tentou se eleger deputada federal ano passado, contando, entre outros fatores, com o “recall” do “Fantástico”, seguindo a trilha do próprio Hélio Costa, a quem a Globo é grata por ter adotado o sistema de TV digital da preferência da direção da emissora quando foi Ministro das Comunicações...) de uma reportagem de Glória Maria (que saiu de cena em fevereiro...), em 1989, sobre “um caso polêmico, que nunca se viu no Brasil” (!!!), mais um depoimento, “a sociedade não aceitou bem, mas sempre foi assim”, o inédito processo movido pela escriturária Patrícia por ter sido cantada por um homem casado, de 47 anos, pai de dois filhos “no Fantástico, todo mundo vai ver, você não pensa na família dele, falei, oi, eu tenho que pensar na família dele”, caso ocorrido durante uma confraternização de Natal de funcionários do banco onde trabalhava na região central de São Paulo, e como aponta Glória, “ela diz que no caminho o chefe tentou beijá-la e parou o carro quatro vezes, tentando leva-la a um motel”, Patrícia prossegue, ”eu tinha 15 anos de banco, e nesses quinze anos, ele sempre fez isso”, e a Glória de 1989 continua, “a Patrícia se sentiu tão ofendida com a cantada que recebeu, que cinco dias depois, orientada pelo advogado, ela procurou essa delegacia aqui, a primeira delegacia de defesa da mulher para dar queixa do chefe dela” – paradoxalmente, uma delegacia criada quando respondia pela secretária estadual de segurança pública de São Paulo o futuro presidente Michel Temer, que definia a esposa como “bela, recatada e do lar” - e a Patrícia de 1989 declara, “é um desrespeito, eu tô puxando a fila para que outras mulheres possam fazer o mesmo, porque eu acho que isso tem que ser denunciado”, o que Jacqueline classifica como “um momento da maior importância”, “você começa a abrir a porta do assédio sexual, que depois vai ser caracterizado como um comportamento criminal” – em 2001 – “mas naquele momento, a atitude dela é a atitude de quem começa a abrir uma porta pra que outras passem”, embora a Patrícia de 2023 afirme, enquanto é mostrada lavando louça, “que o processo não foi pra frente pro falta de testemunhas, as pessoas tinham medo de perder o emprego, de sofrer alguma represália, não tinha uma lei, hoje já tem” – apesar da exaltação da contribuição do “Fantástico” e da Globo a causa feminin, a conduta da emissora no caso Dani Calabresa-Marcius Melhem, e o Movimento Esmeralda, criado por iniciativa de funcionárias da canal, contra o assédio sexual, coloquem essa contribuição em questão, afora o golpe que colocou Temer no poder em 2016... Ops!!!...
Viviane acreditou que hoje o "Fantástico" não passaria um clipe com a câmera dando um zoom ali na... Ops!!!... |
Uma fala de Jacqueline serve para mudar o foco da matéria, “eu acho que aí a gente vê a mudança cultural que aconteceu da década de 1980 para hoje”, que serve de deixa para um vídeo de 1984, apresentando Cláudia Lyra, 19 anos, no concurso “A Garota do Fantástico”, que a própria Cláudia 39 anos depois acompanha compondo uma bancada com outras três concorrentes icônicas da disputa, Luciana Vendramini - ou seria a Angélica - Paula Burlamaqui e Viviane Araújo, a própria Paula fica perplexa, “olha a Cláudia, tô besta”, Dirceu Rabelo cuida da descrição da modelo, “fala fluentemente inglês e espanhol, sou uma pessoa romântica que acredita muito no amor”, a Cláudia de hoje ri e aplaude a si mesma, Luciana aparece num vídeo de 1987 e em 2023, ela comenta, “a felicidade de quem tem colágeno”, Paula Burlamaqui relata, “não podia faltar a famosa viradinha, eu ficava assim e virava para a câmera”, movimento que Luciana confessa ter treinado no espelho, seguem-se imagens de Paula, Gisele Fraga, Cláudia, de Viviane, e Paula tem mais a dizer, “ou então o mergulho, e virava sereia, na pedra”, como atesta seu próprio vídeo, as cenas de praia, onde uma das focalizadas é Marcela Praddo, faz o quarteto dar excelentes risadas, Viviane, que participou do “revival” feito na década de 1990, declara, “eu achava o máximo esse quadro da Garota do Fantástico, desde adolescente, não consegui fazer na época delas, mas fiz depois”, como atesta o vídeo de 1994, Luciana enfatiza, “Garota do Fantástico representava muito para nossa geração porque era a única vitrine, naquela época não tinha concurso de top models, de modelos, como tem hoje”, Dirceu Rabelo anuncia, “e agora, a Garota do Fantástico 1987, escolhida por um júri formado por editores, repórteres e diretores de programas da TV Globo, ela é Paula Burlamaqui, de Niterói” – o que explica sua aparição no primeiro episódio do “Sai de Baixo”, nove anos depois, digo – e a vencedora declara, em 2023, “eu vejo esses clipes de 40 anos atrás e não passa pela minha cabeça que alguém possa ter algum tipo de crítica ou preconceito, eu olho e acho ingênuo, todas levantam de mão dada, é muito bonitinho isso” - depois falam do Instagram (C)... Ops!!! - Cláudia, mais realista discorda, “eu acho que tinha preconceito naquela época, eu acho que continua tendo preconceito e sempre vai continuar, pra mim”, e Jacqueline reaparece, “esse quadro das Garotas do Fantástico estava de acordo com o tempo histórico que era exibido”, corta para o Bofão, “era tudo vestido, comportadinho, mas era um pouco ousado”, Jacqueline volta, “hoje, você não teria esse tipo de exposição do corpo feminino nesse programa”, o que se relaciona com o comentário de Viviane, "hoje eu acho que nem passaria um clipe desse, tipo, no Fantástico, a câmera dando um zoom ali na...” , Paula se vê nos clipes e fala, "me dá nostalgia e saudade, eu sou uma mulher vaidosa, não tenho problema nenhum em dizer, eu não me baseio só nisso, mas eu sofro com a falta de colágeno na minha barriga, no meu pescoço, eu acho duro envelehecer", Cláudia aponta, “a coisa do tempo nunca foi pra mim um problema, de verdade”, o que Luciana refuta, “o etarismo tá pesado, mas a gente não tá sentindo ele, porque a gente tá feliz, tá bem, tá com saúde, tá plena, Vivi teve filho”, Viviane relata, “no meu caso, as coisas mais maravilhosas que aconteceram na minha vida, tanto profissional como pessoal, foi depois dos 40, sabe”, Cláudia diz que vive muito o momento, e Paula pede o telefone do psiquiatra da colegas – a conta de Viviane exclui a vitória em “A Fazenda”, na Record, em 2012, quando tinha 37 anos, hoje tem 48, e obviamente ninguém ia indagar Luciana pelo beijo em Giselle Tigre na novela “Amor e Revolução” do SBT, em 2011, o primeiro de duas mulheres na teledramaturgia brasileira, mas falando em “tempo histórico”, o quadro surgiu em 1984, pegando carona no sucesso das principais supermodelos brasileiras da época, Luiza Brunet e Xuxa (Roberta Close viria em seguida...), se tornando uma importante arma na disputa por audiência quando o “Fantástico” começou a ter concorrência de verdade em 1985, meio que por acaso, o SBT começou a transmitir futebol às 11 da madrugada e jogou o final do “Programa Silvio Santos”, com o “Show de Calouros”, para as 22 horas, colocando a atração em confronto direto com o programa global, e um dos recursos do arsenal de Silvio na disputa pelo Ibope eram exatamente os concursos de dançarinas e modelos – com biquínis comportados e reações nada comportadas de jurados como Décio Piccinini e Sérgio Mallandro – e de transformistas – prática deixada de lado por sua sucessora no comando do programa, a filha Patrícia Abravanel... O ápice desse uso do “sex appeal” e também da tecnologia na guerra de audiência dominical é apresentado na reportagem a partir do clipe de uma das concorrentes do “Garota do Fantástico”, Isadora Ribeiro, que comparece vestida de vermelho, de modo a combinar com a icônica boca carnuda - e fazendo uma declaração forte, “ninguém vai ser forever young, pra você ficar jovem o resto da vida, você tem que morrer, aí fica jovem, eu tô bonita”, Isadora ri, entram mais imagens da década de 1980 – em algumas, Isadora aparece com uma franja que traz à tona a comparação com Thais Braz, do BBB20 - e ela diz, “eu nunca fui Garota do Fantástico, mas as pessoas me chamam de Garota do Fantástico, eterna Garota do Fantástico, pra mim é uma honra” – alguns chamam de “mãe da Aicarlen”, mas essa é outra história... Ops!!!... Seguem-se “stills” do figurino que Isadora usou na abertura do “Fantástico” de 1987, seguida da descrição de seu criador, Hans Donner, “aquela imagem ficou, quem acompanhou isso nascer jamais esquecerá”, como hoje em dia ele é um quase desconhecido, Bofão o apresenta, “o Hans Donner foi um pessoa riquíssima em criatividade, ele sugeriu a abertura das pirâmides, nós fomos pioneiros no mundo na questão da computação gráfica, o ponto de partida aí foi a abertura do Fantástico de 1983” – apresentada em um televisor da época, acrescida de cenas dos bastidores – “depois em 1987 eu pedi para ele fazer os quatro elementos, água, terra, fogo, ar”- Pixar começou assim – com Isadora descrevendo a cena em que surge no meio das águas, “a ideia era como se surgisse o primeiro ser humano no mundo, como se tivesse nascendo o mundo, o planeta Terra”, Hans dá seu parecer, “Isadora foi simplesmente o rosto perfeito, mistura de índia, negro, nariz grego” – para todos os efeitos, branca - Luciana retorna, “para mim o Fantástico é aquela imagem da Isadora saindo dá agua, toda diva, toda divindade” – puxada pela perna para dentro da água na paródia da “TV Pirata”, não se esqueça – Isadora relembra, “eu amei fazer, foi muito cansativa, parece que não, mas foi, as pessoas achavam que esse lugar existia no Brasil, e que eu tinha ido lá filmar, mas não, era um tanquezinho no meio de um estúdio gigante”, Hans acrescenta, “o truque para fazer aquele lago era que eu precisava de um espelho, um espelho de água, para que isso parecesse um lago enorme, então ela precisava afundar e esperar um bom tempo, para que a água ficasse totalmente parada”, Isadora confessa, “eu ficava prendendo a respiração e daqui a pouco eles batiam, pá, pá, era o momento de eu sair, toda plena, toda linda, toda pêssega, a esfinge, como se nada tivesse acontecido, só que teve um momento que o pessoal da produção começou a conversar entre eles do lado de fora e esqueceram de mim, literalmente, Hans lembra do momento e ri, “sim, eu esqueci, simplesmente num dos ensaios eu fui chamado pra outro problema na hora, desviei a atenção e esqueci dela”, Isadora segue, “e eu fiquei lá, nada”, Hans recorda, “ela aguentou dois minutos”, Isadora aponta, “teve uma hora que eu não aguentei e aaahhh, subi assim”, ou no relato de Hans, “ela subiu que nem um foguete e o raio que ela tinha cabeça saiu, e ela ficou tudo destruído, a maquiagem, o cabelo soltou, então foi um momento engraçado, mas faz parte”, Isadora prossegue, “eu tenho muito orgulho, muito reconhecimento, muita gratidão, muito respeito por esse trabalho incrível, criativo, que foi um marco de verdade, e a prova de que as pessoas gostaram, é que até hoje, onde eu vou, as pessoas falam, sai da água um pouquinho, Isadora, faz a abertura do Fantástico, vai, e fica alguém fazendo uau uau uau uauuauuau”, todo mundo fotografa, aí vem uns e me imitam também”, vide a atriz assistindo versões da vinheta com graveto, ou com Fábio Porchat, em rios e lagoas, com Ary Fontoura, Isadora exclama, “uau!!!”, entra o “É Fantástico”, e ela não se acanha em dizer, “o do Fábio Porchat ficou melhor que o meu, melhor que o original, e isso tudo é muito compensador” – a abertura era e ainda é muito imitada na casa do BBB, devido a iluminação da piscina, eventualmente os editores até fazem um clipe recriando a vinheta, mas não dá para ignorar a versão que Vesgo e Silvio fizeram no “Pânico na TV” em 2005, essa põe o Porchat no chinelo, digo - Paula Burlamaqui reaparece, “eu tive todas as oportunidades do mundo depois que eu fiz, pra mim é antes e depois do Fantástico” – ainda sobre a abertura de 1987, hoje o nome de Hans Donner praticamente nada diz sobre a identidade visual da Globo, o maior vestígio é o logotipo que criou rabiscando o guardanapo do serviço de bordo da Swissair, o destaque dado a Isadora na matéria mostra que seu jeito “mitômano” de contar histórias não é mais levado a sério na emissora, assim como o fato de ter sido casada com algumas das protagonistas das aberturas que fazia, a própria Isadora, que teve sua nudez contorcida eletronicamente na vinheta da novela "Tieta", e Valéria Valenssa, durante vários anos a "Globeleza", vestida apenas com purpurina, esse "prestígio" é uma situação bem diferente, por exemplo, da retratada no DVD dos 30 anos, em 2003, quando Hans teve tempo de sombra para acionar o “modo Munchausen” e dizer como quase faliu a Globo gravando a vinheta das pirâmides no Maracanãzinho, sendo salvo aos 45 minutos do segundo tempo por seu assistente José Dias, que descobriu no Vale do Silício o protótipo do computador gráfico que tornou possível inserir os bailarinos nas pirâmides, sem contar que partes dessa abertura foram reaproveitadas na maior cara de pau no pacote gráfico da Telemontecarlo, emissora que a Globo inaugurou para transmitir na Itália em 1985, quanto a abertura de 1987, Isadora Ribeiro fez um sacrifício tremendo para gravar a vinheta e o “Show de Calouros” desbancou o “Fantástico”, colocando Ary Toledo para contar a piada do elefante suicida, é nesse ponto que a Globo percebe que a tecnologia já não garante a supremacia e começa a dar as reportagens um tom mais sensacionalista, sanguinolento demais até, mas aí esse é o assunto do próximo episódio... Por enquanto, falta o momento de emoção da matéria, o reencontro do repórter João Batista Olivi com Zé Cleuton, 40 anos depois - mais emocionante para quem viveu a época e se lembrou do passado, diga-se de passagi... João Batista dirige até o sertão do Ceará e revê Cleuton consertando motos em uma oficina – de cara uma transição importante na paisagem nordestina, as motocicletas que substituíram os jumentos – uma vez que trabalha como mecânico de trator, não esquecendo que a casa onde morava com a mãe e os irmãos ainda está lá, quase igual a de 1983, falando em modernidade, é pelo celular que Zé Cleuton fala com a mãe, Maria Rosa, o irmão, João Batista, batizado com o nome do jornalista, e os filhos, Maria Emily e Cleuson Wesley, um técnico em eletrônica, cursando engenharia eletrônica, outra estudante, hoje residentes em Manaus, e Olivi faz questão de mencionar as lições de vida que teve de Maria Rosa, “uma mulher sertaneja que não se entregou” – pois é, não é, a salvação vem do Nordeste, uma região que progrediu enormemente nas últimas quatro décadas, seja economicamente ou em especial na conscientização política, enquanto o Sudeste e o Sul, bem, deixa para lá... Um televisor exibe a abertura de 1987 e Flávia enfatiza, “Tem que ter informação, tem que ter consciência, tem que ter mudança, 40 anos atrás, hoje, e 40 anos à frente”, Hélio registra a “enorme satisfação de ter feito parte dessa equipe maravilhosa”, Olivi acrescenta, “me formou como homem, como jornalista e como brasileiro” e Hélio conclui, “o Show da Vida”... Poliana diz a Maju que só tem a agradecer pelo legado recebido e por poder segurar o bastão, avisando que tem um filtro no Instagram © para quem quiser se sentir dentro da vinheta, Maju diz que ela e Poliana já fizeram a Isadora, Poliana menciona que as reportagens citadas na matéria estão na íntegra no site, o Memória Globo tem mais informações sobre a trajetória do programa, “com entrevistas e bastidores”, e para semana que vem, Maju promete uma exploração dos anos 1990, “adivinhe quem estará entre nós”... É, Mister M, “o senhor de todos os segredos, o príncipe dos sortilégios, o inimigo número 1 dos mágicos”, devidamente acompanhado da narração de Cid Moreira, acompanhado dos comentários de Pedro Bial, surfistas ferroviários, Maurício Kubrusly no “Me Leva Brasil”, “Repórter Secreto” e sua câmera escondida flagrando o Ivo Holanda apanhando, quer dizer, a corrupção acontecendo, e Denise Fraga contando história da virada do milênio no “Retrato Falado”, cujo começo no “Zorra Total” não é mencionado, ao contrário da citação de ET e Rodolfo no “revival” de “Repórter por Um Dia”, a cargo de Paulo Vieira, entrevistando “milleniais” traumatizados pela reportagem da menina que chorava cristais, mais do que pela dupla do SBT, Nogy, corre aqui, recordações vindas diretamente do “Cata Zorra” do Pancada... Ops!!!...Minutos depois, entra a reportagem sobre o conflito de Larissa Manoela com os pais... A matéria começa mostrando imagens da atriz em uma praia - exatamente a locação por excelência da "Garota do Fantástico" e de boa parte das fotos que ela publica no Instagram... Larissa nem era nascida na época do concurso, no entanto seu perrengue estava previsto por Cazuza, sequer citado quando abordaram os clipes ou a epidemia de Aids, uma provável omissão do sensacionalismo em torno de sua doença e saída de cena, após ter citado o quadro num verso de "Brasil", "não me sortearam a garota do Fantástico, não me subornaram, será que é meu fim???"...
Apesar de toda a tecnologia envolvida na abertura de 1987, Isadora Ribeiro quase se afogou no tanque de água... |
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