sexta-feira, 20 de maio de 2022

RC Modelo 1983: Rei e Fábio Júnior Decidem Quem é o Papi do Fuik...

Viajando pelo Brasil num avião especialmente fretado para a turnê, claro que o Rei ia sentar na janelinha, digo...


 









































O “Roberto Carlos Especial” de 1983, exibido pelo Viva no último dia 16 de abril, começa com um vídeo sobre o Projeto Emoções, uma turnê pelo Brasil patrocinada pela extinta empresa aérea VASP,  a propósito, tirando a matéria, a entrevista subsequente com o Rei e um clipe de “O Calhambeque”, o programa é o registro de um show apresentado ao vivo no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo... Na abertura, imagens da cabina de um avião, do Boeing 737 especialmente adesivado para o projeto, de aeronaves em pleno voo, de Roberto sentado na janelinha e pisando no palco das apresentações do “tour”, a luz da lua se misturando a dos fogos e dos holofotes, se alternam com os créditos iniciais, ao som da orquestra de Eduardo Lages, “Rede Globo Apresenta Roberto Carlos Especial, Um Programa Aloysio Legey Walter Lacet,  Criação e Roteiro Maria Carmem Barbosa Luiz Carlos Maciel Bráulio Tavares, Redação Ronaldo Bôscoli, Arranjos e Regência Maestro Eduardo Lages, Cenografia Mauro Monteiro, Figurinos Zenilda Barbosa, Direção de Iluminação Peter Gasper, Direção de Áudio Antônio Faya, Coordenação de Produção Almeida Santos, Cícero Araújo, Edição Antônio Vilela, Direção de Produção Ítalo Granato, Direção Paulo Araújo Luiz Haroldo, Marcelo Miranda, Filho Alexandre Braz, Diretor Convidado Nilton Travesso, Direção Geral Maurício Tavares”, além da inconfundível narração da voz-padrão da Globo, Dirceu Rabelo, “estava começando aqui a maior aventura do Rei, a bordo de um avião especialmente fretado, ele partia para uma turnê por 19 cidades brasileiras, junto com ele uma caravana de 105 pessoas e mais 70 toneladas de equipamentos, e até hoje no mundo inteiro poucos artistas conseguiram igualar os resultados dessa viagem, quase um milhão de pessoas aplaudiram, em ginásios e estádios de todo o Brasil, os shows do Projeto Emoções, a consagração indiscutível de um artista que aos 22 anos de carreira, depois de atravessar todas as fases e movimentos que a música brasileira viveu nesse período, pode dizer, enfim, estou vivendo um sonho, estou conseguindo levar minhas emoções a milhões e milhões de pessoas, mas quem é afinal este homem, no que pensa, o que gosta, no que acredita o artista capaz de vender dois milhões de cópias de um só disco, capaz de ser chamado como aconteceu agora para gravar até mesmo em japonês, quem vai fazer essas perguntas a ele é o próprio povo, as pessoas que compram aos discos, que assistem aos shows, pessoas que como qualquer um de nós certamente também se emocionam com Roberto Carlos, e querem saber dele coisas assim” – eis aí a origem do Projeto Emoções em Alto Mar, digo... A primeira pergunta é da mulher estacionando a moto, “Roberto, quais são os ídolos que você mais curte na música popular???”, o Rei responde jogando sinuca, “bem, eu sempre tive muitos ídolos, desde menininho, comecei com Bob Nelson, depois uma fase mais romântica com o meu grande ídolo romântico, Tito Madi, depois na época do rock, Elvis Presley, e em seguida os Beatles, mais atualmente Paul Mc Cartney, Tony Bennett, meu ídolo de sempre, Erasmo Carlos, são muitos ídolos, e muitos outros” – apenas Erasmo participou dos especiais de Roberto, o que dá razão a queixa de Bob Nelson... Ops!!!... A próxima questão é a do garçom de gravatinha, “sempre tive a curiosidade, não só eu como o povo brasileiro, de saber finalmente qual é a sua religião, católica, espírita???”, Roberto responde no camarim, “eu sou católico, mas o espiritismo tem uma importância muito grande para mim, na minha vida, através do catolicismo e do espiritismo eu tenho aprendido cada vez mais as coisas de Deus” – muito antes do crescimento das igrejas evangélicas no Brasil, digo... Agora é a vez do cabeleireiro em ação, “Roberto, porque você nunca se definiu em matéria de política???”,  Roberto responde, um pouco inquieto com a pergunta, “nunca me defini politicamente???, eu sempre me defini politicamente, tenho minhas convicções, a verdade é que eu nunca divulguei essas definições e convicções, né, eu acho que não sei o suficiente em política, não sei, não tenho um conhecimento profundo de política pra ficar falando por aí sobre o assunto, eu sou cantor, né, então eu prefiro falar de música que é o meu negócio” – numa entrevista a revista Veja, em 1976, perguntado sobre qual era o seu partido político, ARENA ou MDB, Roberto Carlos respondeu, “sou Vasco, bicho!!!”, o que não exclui a participação, cantando, em programas de exaltação a ditadura militar ou a saudação a Pinochet no Festival de Viña Del Mar... Ops!!!... A seguir, a mulher de amarelo que estaciona seu Fusca, “Roberto, algumas músicas suas são bastante eróticas, você é assim mesmo???”, Roberto responde de pronto, “bem, eu sou assim mesmo, romântico, né, e gosto de falar de amor em todas as suas formas, essa é uma forma de amor” – ainda assim, ficou um pouco intimidado de dividir o palco com Gal Costa, digo... Logo depois, a mulher encostada na árvore, “Roberto, eu gostaria de saber uma coisa, quais compositores brasileiros que você acha mais importantes”, Roberto responde e toca piano, “nós temos compositores maravilhosos, mas eu, assim de repente, destaco, cada um em sua época, Noel Rosa e Chico Buarque de Holanda” – situados em polos diametralmente opostos da música popular brasileira, Chico e Roberto só arriscariam um dueto no especial de 1993... Ops!!!... Chega a vez do bigodudo descascando laranja, “Roberto, qual é a música, que você mais gostou de ter feito???”, Roberto responde cantando, “não adianta nem tentar me esquecer” – “Detalhes”, lançada em 1971, para quem não captou a mensagem... Ops!!!... Fala o rapaz de camisa aberta na frente da vitrine, vagamente parecido com Evandro Mesquita, “me diz um negócio aqui, Roberto, eu tô aqui tranquilo, na rua, tudo bem, se fosse o Roberto Carlos aqui, como é que ia ser aqui, ia ser um tumulto e tanto e violento, me diz aqui, é muito difícil ser Roberto Carlos???”, ele responde na porta do hotel, antes de entrar no carro, “não, absolutamente não é difícil, não é difícil, porque essa falta de liberdade justamente é causada, por todo esse amor, por todo esse carinho que eu recebo a cada instante das pessoas, ninguém pode reclamar de receber amor e carinho” – tu o disseste, meu Rei... Ops!!!... O maestro Lages rege a orquestra no palco do Ibirapuera, close na placa do Ford Galaxie de Roberto, RC0001, ainda amarela, modelo que acabara de sair de linha, foca no palco, o carro percorre a Avenida 9 de Julho, ainda que o caminho para o ginásio seja pela 23 de Maio, mais ensaios da orquestra, o Galaxie entra no túnel da 9 de Julho, “emoções, tantas e tão bonitas, vividas e reais, e tudo isso é possível quando se tem um coração aberto”, foca no palco, o Rei comparece no Ibirapuera, onde tem uma recepção calorosa dos fãs, “essa comunhão me faz feliz, eu sou feliz quando atravesso no tempo essa ponte de luz, graças a Deus”, a plateia espera o início do show, Roberto chega ao camarim com sua equipe, a última pergunta da entrevista é feita por Papai Noel, que tem duas crianças no colo, “Roberto, o que você sente num momento como esse???”, Roberto, que ia pegar as roupas da apresentação no cabideiro, sorri e responde, “Papai Noel!!!, o que eu sinto nesse momento???, uma emoção, uma emoção muito forte, muito grande, muito bonita, pra mim tudo isso é um presente, um presente de Deus” – São Paulo tornou-se um cenário frequente dos shows do Rei também devido à concorrência da Globo na época, o SBT, sediado em São Paulo, entrou no ar em 1981, e agora mesmo em 1983 a Manchete, com cabeça de rede no Rio e uma emissora paulistana, surgia para disputar a preferência do público, investindo inclusive em programas musicais... Ops!!!...















Não que a 9 de Julho seja o melhor caminho para o Ibirapuera, mas valeu pela visão do ônibus dentro do túnel...































Corta para o palco do Ibirapuera, onde as paredes espelhadas se abrem para a entrada de Roberto Carlos que canta, adivinhem, “Emoções”, na tela “Ibirapuera São Paulo Ao Vivo”, o Rei, vestindo um paletó azul bebê com gravata azul celeste brilhante, recebendo aplausos entusiasmados da plateia, inclusive de um jovem de vinte e poucos anos de camisa listrada, sentando bem no gargarejo, Fábio Júnior, o próprio – que certamente veio discutir a paternidade do Fuik, digo, faz sentido ele ter sido focalizado, o cantor havia acabado de fazer a novela “Louco Amor”, que terminou em outubro de 1983, e dois anos antes, encontrou-se com Roberto numa cena da novela “O Amor é Nosso”, aquela que Luciano do Valle anuncia depois da corrida em que Nelson Piquet ganhou o primeiro título na Fórmula 1, em 1981... Entra a vinheta de intervalo, um calhambeque sorrindo e a imagem do Rei no camarim, na volta, Roberto Carlos, um pouco encabulado com os gritos de “lindo, lindo, lindo!!!”, começa o “stand-up”, “tá bom, tá bom, pra mim é uma felicidade estar aqui com vocês nesse encontro maravilhoso, e alis, é tempo de encontros mesmo, é tempo de Natal, presentes, né, e o melhor meu, que eu posso dar a vocês sem dúvida é o meu canto e o meu amor, esse mesmo amor que vocês tem me dado desde nosso primeiro encanto, e até parece que foi ontem esse primeiro encontro, né, não, até parece que foi hoje, quando nós cabeludos invadimos, invadimos os palcos, pra conquistar o nosso pedaço, ou o nosso pedaço, foi a guerra santa do rock, a invasão das guitarras, é, a invasão das guitarras, quando nós cabeludos, cachos, é cabeludos, cachos, ou sei lá o que, de repente eram ligados por fios incríveis que faziam aquela zoeira incrível, aquela zoeira brava, tudo isso era um todo, um todo chamado Jovem Guarda”, o textão é a deixa para o Rei cantar um “medley” de músicas da época, começando com “Parei na Contramão” (1963), Fábio Júnior só mexendo os ombros, Rosemary sorrindo, o maestro fazendo o guarda que prende o cantor, e na sequência, após um comentário de Roberto, “é, carros e carrões. calhambeques e outras coisas mais, coisas até de cinema e vídeo, coisas assim, velho Lages, senta pau”, “Splish Splash” (1963) só vem, com direito a caras e bocas, mais um close em Fábio Júnior só observando – na época da Jovem Guarda, Fábio Junior despontou para o estrelato em um programa de 1967 na Band chamado “Mini Guarda”, gravou até um disco com outras jovens promessas da música reveladas pela atração, “Os Reis da Mini Guarda”,  de 1969... O Rei retoma o “stand-up”, “é, o meu caubói eterno, no seu cavalinho azul, né, atirando balas, atirando balas não, atirando balas, balas de açúcar, é, as balas dele são assim, mais doces, o meu amigo Erasmo Carlos!!!”, que comparece erguendo o punho, com seu paletó preto brilhante e camisa azul, indo de “Minha Fama de Mau”, de 1965 , na base do dueto – lançada no álbum “A Pescaria”, o nome da música é o título da autobiografia escrita por Denilson Monteiro, que virou filme em 2019... Terminada a música, Roberto afaga o cabelo de Erasmo, “mais um ano juntos, nessa alegria toda, e a gente ainda dá ao luxo de contar uma mentirinha de vez em quando porque essa mentirinha aí foi a primeira que nós contamos, aquele negócio de fama de mau, porque fama de mau com o Erasmo, realmente é uma mentira terrível, professor”, Erasmo pede a palavra, “e você sabe que também tem o Pega na Mentira”, Roberto observa, “Pega na Mentira é verdade, é outro papo, e por falar em mentira, vou deixar até você sozinho, pra você cantar a sua grande verdade”, e o Tremendão pega no pandeiro para ir de “Minha Superstar”, de 1981, faixa do álbum “Mulher”, “ela é minha superstar, mulher de brilho farto, que eu sempre hei de ver brilhar, no palco do meu quarto”, Fábio Júnior aplaudiu, Roberto volta ao palco comentando e andando, “antigamente, antes do rock brasileiro, a gente tinha que cantar rock em inglês”, Erasmo observa, “em inglês não, era uma coisa parecida com inglês”, o Rei concorda, “era um inglês que nem Tarzan entendia”, o Tremendão acrescenta, “nem Tarzan, nem a Chita”, Roberto prossegue, “nem a Chita, mas aí pintou um cara, o cara estacionou um calhambeque na minha porta com palavras em português, né, você que estacionou, como é que você dizia naquela época”, Erasmo responde, “mais ou menos assim, essa é uma das muitas histórias que acontecem com o meu amigo Roberto Carlos, primeiro foi Susi quando ele tinha lambreta, depois comprou um carro, andou parando na contramão, tudo isso sem contar o tremendo tapa que ele levou com a história do Splish Splash, mas essa história também é muito interessante”, para quem ainda não percebeu, o Tremendão mandou ver a introdução de “O Calhambeque”, que canta em seguida, em meio a imagens de um grupo de garotas lustrando um Rolls Royce, recebendo o Cadillac de Roberto, Erasmo assobiando e uma loira comparecendo com, adivinhem, um calhambeque, Roberto acompanha a música, Myriam Rios em pessoa só observa o carro ficar repleto de belas moças, ao invés dos filhos de Roberto que ocupavam o veículo no ano anterior, o Rei só na base do bonezinho do Milton Nascimento, anotem a placa, NT 1929, porque quando Roberto foi pegar o Cadillac devidamente lavado, o calhambeque pôs um sorriso em seu rosto e foi-se embora com o Rei e o Tremendão, só que na hora de dizer que “existem mil garotas a fim”, Erasmo protesta, “mentira, antigamente existiam mil, hoje em dia existe uma”, Roberto finge que não é com ele e diz o “bye!!!” do fim da música, foca em Myriam Rios, que ri litros, aplausos, a plateia aplaude – o clipe mantém a tradição, herdada dos dois primeiros especiais, da fase da Jovem Guarda ser o momento lúdico, quase que voltado ao público infantil, da atração... O calhambeque sorri na volta do intervalo e o maestro Lages acompanha Roberto Carlos em “Meus Amores da Televisão”, do disco de 1982, que como sabemos, é baseada em fatos reais testemunhados por uma pessoa na assistência, “Ibirapuera São Paulo Ao Vivo”, além dos gestos, Roberto revira os olhos para interpretar a letra da música (!!!), “no dia de uma delas se casar quase morri, felizmente faltou luz no bairro e eu não vi, mas no outro dia a pedidos do meu bairro que não viu, se repetiu”, o Rei acompanha a orquestra com palmas e abraça o maestro no final, aplausos – para não dar muita pinta, a direção de TV não focalizou Myriam Rios em nenhum momento durante a música... Um trompete começa a tocar, Roberto Carlos explica, “um músico muito especial, fez um solo maravilhoso numa das faixas do meu disco, que eu vou cantar agora, Maurílio, é a minha homenagem ao músico brasileiro, e ao músico de toda parte”, interpretando “Perdoa”, lançamento do ano, sentado num banquinho, “perdoa, não leve tão a sério o que eu te disse, eu só queria que você me ouvisse, e de repente me descontrolei e gritei”, o palco a meia-luz cria o clima intimista adequado para o solo do trompetista, que ganha um abraço enquanto Fábio Júnior sorri no gargarejo – romantismo à parte, a homenagem ao músico lembra os especiais do final da década de 1970, quando veicular as reivindicações da classe era o máximo de engajamento ao qual o Rei se permitia, ou era permitido... Roberto Carlos coloca o microfone no pedestal e apressa-se para cantar outra faixa do novo disco, “O Amor e a Moda”, o palco iluminado com luzes rosas, “se o amor está fora de moda, eu estou um tanto quanto antiquado, por amar e sentir certas coisas, o que às vezes se diz que é quadrado”, tome sobrancelhas trabalhando forte, “olha, tudo é questão de momento, homem que tem sentimento, briga por tudo que quer”, e vem o solo de sax – se bem que a expressão “quadrado” já estava fora de moda nessa época, lembrando que essa música tem uma versão em espanhol, lançada em 1984, numa tradução bem literal, vide “cuadrado”... Mais um intervalo e a plateia vibra quando Roberto Carlos começa a cantar “Desabafo”, de 1979, a música que é um tributo a insônia ao questionar “porque eu rolo na cama e você finge dormir”, notem a interpretação compenetrada, com economia de gestos, uma integrante da orquestra só observa os colegas, pausa dramática antes do último verso, segue-se o “stand-up”, “eu sempre parti com o coração aberto, na verdade, só a terra aberta pode receber a semente que fecunda, nessa vida colhi muitos amigos, próximos e distantes, e recentemente colhi uma flor de lis, claro, eu conheço o olhar do amigo porque conheço, olhar de quem ama”, o Rei arregala os olhos porque quem comparece no palco de branco e rosa é “Djavan!!!”, cantando “Meu Bem Querer”, de 1980, com direito a abraço do Rei, punho erguido e acompanhamento de Roberto – a Globo só lançaria a novela usando o nome da canção em 1998, com direito a paródia do Casseta e Planeta, “Deu Sem Querer”... Os dois cantores se abraçam, Djavan canta “Samurai”, de 1982, “crescei, lua, pra iluminar as trevas fundas da paixão, eu quis lutar contra o poder do amor, caí nos pés do vencedor, para ser o serviçal de um samurai”, acompanhado pelo clarinete de Zé Nogueira – a plateia feminina curtiu, Fábio Júnior também, é claro... 


















Claro que Fábio Júnior estava no gargarejo do show pra resolver de vez a questão da paternidade do Fuik, digo...







































O calhambeque sorri na volta do intervalo, tocam os primeiros acordes de “Não Quero Ver Você Triste”, do disco “Roberto Carlos Canta para a Juventude”, de 1965, o Rei conta, “faz muito tempo que eu fiz essa música com meu amigo Erasmo, tanto tempo que eu tenho que ler, que eu não lembro a letra”, sentando-se no banquinho para conferir a cola da parte falada da música, “o que é que você tem???,  conta pra mim, não quero ver você triste assim, não fique triste o mundo é bom, a felicidade até existe”, o palco imita um céu estrelado, “olha que céu azul, azul até demais”, a parte assobiada não precisa de colinha, a plateia só observa, até de binóculo, Rosemary não precisa, mais assobios, aplausos – e vocês ainda preferem “Patience”, do Guns... Ops!!!... Mais um “stand-up” antes da próxima canção, “a reentrância é completa, o que seria do côncavo sem o convexo, e o que seria do sexo sem nexo”, Roberto Carlos canta outro lançamento do ano, “O Côncavo e o Convexo”, “cada parte de nós tem a forma ideal, quando juntas estão, coincidência total, do côncavo e o convexo, assim é nosso amor no sexo”, para a alegria dos professores de geometria, ilustrada com imagens do ato (!!!) – a estética dos videoclipes estava no auge com “Thriller”, de Michael Jackson, e o nome da música seria aproveitado na denominação de um motel em São Paulo, digo... Mais um sorriso do calhambeque, “Ibirapuera São Paulo Ao Vivo”, Roberto Carlos canta “Cama e Mesa”, de 1981, num cenário mais adequado que aquele que evocava a Jovem Guarda no especial de dois anos antes, tome close no piano da Yamaha, a plateia canta junto, Roberto sorri de orelha a orelha, o público segura o pôster duplo e gigante do cantor, “todo homem que sabe o que quer, sabe dar e querer da mulher, o melhor e fazer desse amor, o que come, o que bebe, o que dá e recebe” - a breguice latente da canção serve como prólogo para o show atingir outro patamar, agora vai... “Durante a guerra santa do rock, aliados fortíssimos e uma guerrilheira fantástica, ficamos amigos de verso e prosa, na verdade ela passou por três estágios para chegar a órbita das estrelas, primeiro, Maria da Graça Costa Penna Burgos, né, depois, depois, Gracinha, e finalmente, um nome que o Brasil inteiro consagrou, Gal Costa!!!”, a própria, que comparece vestindo um exuberante tomara que caia preto florido e com brilhos, abraça o Rei, que fica um pouco sem jeito (um pouco???, muito!!!), põe a mão na cintura, “sabe, Roberto, meu nome é Gal, nasci em Salvador, na Barra, e já não tenho mais 24 anos” (na ocasião, já somava 38, sem aparentar...), Roberto responde, “as estrelas não tem idade, o importante é viver e sonhar sempre’, a cantora diz, “sabe que todo dia eu sonho em alguém para mim, acredito em Deus”, o cantor concorda, sério, “eu também acredito em Deus, acredito em Deus e nas pessoas queridas, né”, Gal, sem tirar a mão da cintura, comenta, “você sabe que eu admiro muita gente, Roberto, admiro Caetano, admiro Gil, admiro Erasmo Carlos, e você também, até gaguejei”, Roberto, meio encabulado, meio envaidecido, abraça Gal, os dois riem, “adoro vocês, gente da pesada, gente assim, meio especial, né, legal, sensual, Baby Gal!!!”, que após ser aplaudida, canta, acompanhada de seu próprio maestro, Baby, de 1969, “você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto”, a plateia vai as lágrimas, o “baby” vem no agudo, numa sonoridade quase jazzística – Nádia Maria, que o público do Viva conhece por suas personagens inspiradas em economistas na “Escolinha do Professor Raimundo”, imitava muito bem, digo...   O Rei aplaude Juninho, o maestro de Gal, que faz Roberto arregalar os olhos cantando “Olha”, que Roberto gravou no disco do cachimbo, em 1975, e a própria em “Gal Tropical”, de 1979, sempre a mão na cintura, Roberto passa a mão na cabeça e parte para o dueto, a parceira responde com sorrisos e agudos, “te juro meu amor, agora é pra valer”, a plateia se agita quando ele abraça ela, “seja minha amante e meu amor”, e Roberto encerra o abraço com um “obrigado por essa emoção maravilhosa!!!” – claro que ele fez tipo para entrar no texto, porém é inegável que ele ficou intimidado na presença de Gal, que estava no auge da forma, musicalmente no topo, com uma beleza inquestionável... Outro sorriso do calhambeque, intervalo com break, Roberto Carlos vai do profano ao sagrado com outra música do disco do ano, “Estou aqui”, maestro Lages trabalhando forte no tecladinho imitando órgão de igreja, “Cristo, meu amigo, sua luz me mostra a direção a ser seguida, você é a verdade, é tudo, é o caminho, a vida, só você, eu sei é a solução”, uma versão mais contida de “Jesus Cristo” com um agudo no final, enfim, agora é a vez da agitada “Ele Está Pra Chegar”, de 1981, com coral acompanhando e tudo, “pare, pense,  olhe que esse dia já vem”, as crianças na plateia se agitam graças aos sons eletrônicos do arranjo de Lages, e tome “aleluia” – e não virou cantor gospel... Ops!!!... Aplausos de pé, Roberto diz obrigado, a orquestra toca “Amigo”, que o Rei canta em seguida, foca em Myriam Rios na plateia, “um aplauso especial para essa orquestra maravilhosa e ao coral RC”, os convidados voltam ao palco, Fábio Júnior sempre no gargarejo, comparecem Erasmo Carlos, Maurílio, Djavan e Gal Costa, claro, Erasmo Carlos faz o “V” da vitória, ou seria paz e amor, Roberto abraça Gal e Djavan, Erasmo acompanha, sobem os créditos “Rede Globo Apresentou Roberto Carlos Especial”, entra o “set list” do especial, com algumas músicas que não apareceram no programa, Roberto agradece aos feats. e ao “meu maestro Eduardo Lages, meu amigo, meu irmão”, a plateia bate palmas, “feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso, que Deus abençoe a todos, amém, obrigado”, Roberto oferece rosas aos convidados – os créditos terminam com um agradecimento a Transasom, Somlux, Rohr, responsável pela estrutura do palco, e Fonseca’s, que não é outra senão a famosa empresa de segurança privada Fonseca’s Gang, com seus inconfundíveis guarda-costas usando a camiseta da empresa... Ops!!!... 























































Roberto Carlos definiu-se como romântico, porém o comparecimento de Gal Costa intimidou bem o Rei... Ops!!!...


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