"Autobiografia Desautorizada" de Jô Soares aparece com destaque no estande da editora na Bienal... |
A cada nova edição, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo tem passado por um irreversível processo de encolhimento... O evento hoje ocupa pouco menos da metade do espaço do pavilhão de exposições do Anhembi, uma redução que fica ainda mais gritante quando comparada à Bienal do Livro do Rio de Janeiro no ano passado, a qual ocupava nada menos do que três pavilhões inteiros do Riocentro... As grandes editoras e livrarias vem perdendo cada vez mais espaço – neste ano, as ausências mais notórias são as da Abril e da Saraiva – inclusive pelo preço abusivo do metro quadrado para a montagem dos estandes, que também está afastando as representações estrangeiras... Agora, a exposição é dominada por sebos e livrarias de ponta de estoque... E entre os títulos vendidos a preços que variam entre 5 e 30 reais, estão as publicações da Disney editadas pela Abril, que encerrou em junho um vínculo que mantinha com o estúdio estadunidense desde 1950... As editoras que se mantém no mercado procuram anunciar seus lançamentos mais recentes... Este é o caso da Companhia das Letras, que entre outras obras, destaca na fachada de seu estande “O Livro de Jó”, a “autobiografia desautorizada” de Jô Soares... Ele próprio fora de cena desde que a Globo decidiu acabar com o “Programa do Jô” em 2016, vide concorrência acirrada oferecida por Danilo Gentili no SBT e Fábio Porchat na Record... O livro foi resenhado pelo seu Bloquinho Virtual em janeiro deste ano – texto republicado agora, dentro do mesmo espírito de queima de estoque que tem sido a tônica da Bienal do Livro... Ops!!!...
“O Livro de Jô – Uma Biografia Desautorizada” é o primeiro volume das memórias de José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares, escrito em parceria com Matinas Suzuki Júnior, o próprio... Com direito a texto introdutório escrito pelo saudoso Millôr Fernandes – da série “Retratos 3X4 de Amigos 6X9”, já usada pelo autor no livro “O Astronauta Sem Regime”, de 1983 - um perfil que muito antes da dublagem do “Chaves”, usou a palavra “cordura”... Por ser o “Volume 1”, aborda o período que vai do nascimento de Jô, em 16 de janeiro de 1938, na região do Rio Comprido, no Rio de Janeiro, até 1969, precisamente quando José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni – no livro chamado de “Bonifácio” – o procurou para fazer um convite... Que não menciona, sem querer dar spoiler do segundo volume... Desse modo, o leitor terá que esperar para saber de alguns episódios marcantes da carreira de Jô... Por exemplo, a saída da Globo e a ida para o SBT em 1987... Aquela que motivou um polêmico discurso no Troféu Imprensa de 1988... “Com impecável senso de oportunidade, a Globo escolheu o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra... Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora, corre o risco de não poder trabalhar mais em comerciais, sob ameaça que estes não serão lá veiculados... Uma rede que detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam pensar em artistas que possam desagradar (...) Que as chamadas do ‘Gordo ao Vivo’ não passariam na Globo eu já sabia desde outubro, do próprio Boni, quando fui em sua sala para me despedir... ‘Já mandei tirar todos os teus comerciais do ar... Chamadas do teu novo show no Scala 2, também esquece... Estou vendo como te proibir de usar a palavra gordo’... Claro que essa última ameaça ficou difícil de cumprir... A megalomania ainda não é lei fora da Globo (...) Escrevo sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliezer Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais... As agências foram informadas, não oficialmente, é claro, como aliás acontece em todas as listas negras, que suas participações não seriam aceitas... É triste, neste momento em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, uma empresa que é concessão do Estado, cerceie impunemente o trabalho do artista brasileiro... Finalmente eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni, numa entrevista, de ‘office boy de luxo’... Nenhum office boy consegue guardar tanto rancor no coração”... Como se vê, assunto não irá faltar, pois ainda que Jô tenha retornado à Globo em 2000, três anos depois da saída de Boni da direção-geral da emissora, Bonifácio é alvo dos maiores elogios no primeiro volume... No Troféu Imprensa do ano passado, já vivendo um “ano sabático” depois do fim do “Programa do Jô”, visivelmente emocionado, Jô agradeceu a Silvio Santos por tê-lo reinventado e exaltou sua “intuição de fera”, lembrando que no momento em que assinou contrato com o SBT, quando pretendia fazer um programa de entrevistas semanal, ouviu de Silvio que a atração deveria ser diária, pois só assim iria pegar... Tomara que ao escrever sobre seus 28 anos trabalhando forte no “talk-show”, ele não esqueça de mencionar sua entrevista mais conhecida, aquela com Carlos Villagrán, vestido de Quico e dublado ao vivo por Nélson Machado, no “Jô Soares Onze e Meia”, em 1996... Agora, para quem quer saber de programas como “Satiricom”, “O Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”, Jô dá uma palinha ao contar sobre o encontro com uma figura com quem costumava contracenar por meio de efeitos especiais nas aberturas de seus humorísticos na década de 1980 – Mikhail Gorbachev... Por meio da Brahma, que patrocinou a realização de seu programa de entrevistas nos Estados Unidos durante a Copa do Mundo de 1994, Jô compareceu em Moscou, já que a estreia do Brasil seria contra a Rússia... Ali, entrevistou Gorbachev... Que mediante o pagamento de um cachê de 5 mil dólares, fez até o gesto do “número 1”, típico da propaganda da cervejaria... Também será a oportunidade de contar mais uma vez como se arrependeu de ter reduzido seu peso de 160 para 80 quilos, como fez no programa “Em Nome do Amor”, quando de sua despedida do SBT, em 1999... “Primeiro que as pessoas diziam assim... Ah, você perdeu a graça, você era mais engraçado gordo... Se gordura fosse engraçado, não precisava de humorista, você comprava um quilo de toucinho e ria o ano inteiro com aquilo”... Leandro Hassum só não começou assim porque há quem dia que nem gordo ele era engraçado... Ops!!!...
Jô, que gostava de "trollar" Golias na "Família Trapo", revela que ele odiava o professor Bartolomeu Guimarães... |
Pancada ficou interessado pelo livro porque ficou queria saber saber o que Jô comentaria sobre um dos grandes comediantes com o qual contracenou, no caso, Ronald Golias... Ficou surpreso ao saber que antes da “Família Trapo”, Jô e Golias participaram de uma novela chamada “Ceará Contra 007”... Escrita por Marcos César, nascido Ary Madureira Filho, o mesmo que depois escreveria os esquetes do Azambuja para Chico Anysio, com título inspirado no filme “Moscou Contra 007”, mais uma manifestação daquele insólito hábito de Paulinho Machado de Carvalho em criar nomes de programas que eram paródias... Vide “Os Insociáveis”, que Renato Aragão nunca entendeu e Dedé Santana achava uma... PIIIIIIIIIIIIIIIII!!!... “A história girava em torno de uma quadrilha internacional que queria roubar a fórmula do jabá sintético, criada pelo grande cientista Bartolomeu Guimarães”... Personagem de Golias, algo que Pancada sabe muito bem... No entanto, Jô faz uma revelação surpreendente... Golias odiava o personagem!!!... Inclusive conta em detalhes a história de um trote telefônico em que se passava por Paulo Machado de Carvalho, dono da TV Record, que supostamente estava interessado em contratar Golias para um show, mas com uma condição... Que interpretasse seu personagem preferido, o professor Bartolomeu Gonçalves... Golias, a quem Jô considera um dos maiores talentos que conheceu, mas que também via como muito inseguro e cheio de manias – atender telefone, qualquer um, era uma delas – propôs se apresentar como Bronco, porém o falso Paulo de Carvalho se manteve inflexível e ele aceitou fazer o experiente professor... Porém, quando Jô foi dar o endereço do show, mandou Golias tomar no... PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII... E não conseguiu mais segurar o riso do outro lado da linha... Quanto às manias de Golias, Jô lembra de quando ele convenceu o dono de um paletó surrado numa tinturaria a lhe dar a roupa de presente, nos tempos da Record, e de quando lhe ofereceu um blazer de que havia gostado – e que ficou muito maior - já no SBT... Ou quando levou o comediante para comprar um mocassim artesanal, que o fez passar dias ligando de madrugada, pois dormia tarde, para ajustar o salto... Ou que suas caminhonetes estavam sempre com as rodas sujas, porque limpas elas não passam confiança... Ou ainda que passou a viver em uma casa sem móveis quando se separou de Lúcia... Sem contar que fez questão de receber um cachê do Bradesco em dinheiro vivo, recusando o cheque assinado por um dos diretores do banco, o ex-governador Laudo Natel... Também lembrou que seu primeiro trabalho foi como “executivo da agricultura”, ou melhor, recolhendo esterco para vender como adubo... Tarefa na qual era ajudado por um garoto chamado Euclides... Então é por isso que o Bronco falava “Ô cride, fala pra mãe!!!” na música de abertura do “Tem Que Dar”, digo...
Além da abertura do "Viva O Gordo", Jô esteve junto com Gorbachev numa entrevista em 1994... |
Quanto à “Família Trapo” propriamente dita, Jô conta que o programa era “gravado ao vivo” no Teatro Record... A atração, que sem a menor, modéstia considera um marco histórico da televisão brasileira, surgiu de conversas entre Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, Nilton Travesso e Manoel Carlos, o Maneco... “A ideia era criar uma sitcom de humor, com uma família bem escrachada... A Record tinha um elenco maravilhoso, e cada membro da família foi sendo desenhado a dedo para o cast de atores da casa... O nome Trapo saiu da família Von Trapp, do filme “A Noviça Rebelde”, com a Julie Andrews, embora a única coisa em comum entre as duas famílias fosse a sonoridade do nome... Os pais, Othelo Zeloni (Pepino Trapo) e Renata Fronzi (Helena Trapo) eram velhos conhecidos das chanchadas, e principalmente, das revistas musicais... Funcionavam perfeitamente como marido e mulher... A Cidinha Campos (Verinha) e o Ricardinho Corte Real (Sócrates), nos papeis de filha e filho... A estrela do show era o Ronald Golias, no papel de Carlos Bronco Dinossauro, o cunhado folgado que morava de favor na casa da família... Eu fazia uma ligação entre os quadros, no papel do mordomo factótum, Gordon”... Que eventualmente, quando a plateia não ria a contento das piadas, caía em cena... “Poder fazer humor com as quedas no palco era uma das vantagens que eu tinha por ser um gordo leve”, confessa... O roteiro era escrito por Jô em parceria com Carlos Alberto de Nóbrega, o próprio – que segundo ele, recebeu do pai um banco muito melhor do que qualquer banqueiro... Cada programa tinha de 18 a 20 cenas, então após definirem as linhas gerais da história, dividiam o trabalho meio a meio, ficando com as cenas que tivessem mais à ver com o estilo de cada um... Em certa época, Jô chegou a ditar os textos para uma secretária... Como precisava ditar também a pontuação das cenas, desistiu... “Descobri que escrever e ditar são duas coisas completamente diferentes... São atividades que mexem com áreas separadas do cérebro”... Em cena, Jô revela que trabalhava forte com a TOC de Golias, sempre se posicionando à sua esquerda, e ele preferia que os outros atores estivessem à sua direita... “Todo mundo achava que o Ronald Golias improvisava o tempo todo, que ia criando as suas falas enquanto o programa ia se desenvolvendo... Nada mais falso... O Golias não improvisava muito, gostava de seguir o script... Claro que, como todo bom comediante, tinha momentos de invenções geniais, mas isso só acontecia porque estava seguríssimo com o texto... Só entrava em cenas com suas falas bem decoradas, firmíssimas... Quando necessário, ele improvisava”... Vide queda do cano por onde descia do andar de cima do cenário da casa dos Trapo... Em um dos cadernos de fotos do livro, Jô aparece ao lado de Golias na primeira vez em que atuaram juntos, no filme “Tudo Legal”... Há também uma foto com Moacyr Franco, na entrega do prêmio Roquette Pinto, de quem se recorda durante o apogeu na TV Excelsior – dirigido pelo Boni, que considerava o inventor do piso na televisão... Ops!!!... “Houve um momento em que o nome do Moacyr chegou a ser mais importante que o do Roberto Carlos”... E pensar que o SBT o dispensou, lamenta o Pancada... Que está curioso... Será que no próximo livro, Jô irá falar do Zezinho, o telespectador que reclamava do quadro do Centro de Recuperação da Baba???... Senão, ele mete um "crique" nesse gordo... Ops de novo!!!...
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