quarta-feira, 21 de março de 2018

Todas as Copas (1950): Tragédia acontece em estádio inacabado...

Andaimes da construção do Maracanã permaneceram como opção adicional de lugares para acomodar a torcida...













































O Brasil sediou a Copa do Mundo pela primeira vez em 1950... Não teve Copa... Em 1942 e 1946, como consequência da Segunda Guerra Mundial... Devido a devastação da Europa provocada pelo conflito, o país não teve concorrentes para receber a competição, inicialmente marcada para 1949... Há controvérsias, porque ser anfitriã do Mundial era um sonho antigo da Argentina, reforçado pela ascensão de Peron ao poder... A Associação de Futebol Argentino evocou as brigas entre os jogadores platinos e os brasileiros nas competições sul-americanas da época para não participar da Copa... As greves de jogadores também não ajudaram, até porque muitos atletas aproveitaram para jogar na liga da Colômbia, não reconhecida pela Fifa... E pensar que os argentinos tinham dominado o futebol sul-americano na “Década sem Copa”, Roberto Sander... O Brasil do general-presidente Eurico Gaspar Dutra não prometeu construir 12 grandes estádios, mas apenas um, no Rio de Janeiro, então a capital federal... Que já deu muito trabalho... O prefeito-general Angelo Mendes de Moraes (indicado pelo presidente...) propôs à Câmara Municipal do Rio de Janeiro a construção de um estádio no terreno onde funcionara o antigo Derby Club, na região de São Cristóvão... Os debates opuseram duas lideranças políticas do mesmo partido, a UDN, que na época estava de bem com o PSD de Dutra – Getúlio Vargas, que elegeu Dutra em 1945 e depois da Constituinte de 1946 se retirou para sua fazenda no Rio Grande do Sul, levando o PTB junto... De um lado, Ary Barroso, músico e narrador esportivo, a favor do novo estádio, com uma ajudinha do “Jornal dos Sports” de Mário Filho – que depois daria seu nome à praça de esportes... Do outro, se opondo veementemente ao projeto, Carlos Lacerda, o próprio... Para inviabilizar a obra, Lacerda queria que ela fosse realizada na Barra da Tijuca, à época, mais inacessível do que nos dias de hoje... Felizmente, a posição de Ary levou a melhor... Embora a prefeitura carioca não tenha cumprido a promessa de construir quatro estádios menores nos subúrbios do Rio... Lacerda, por sua vez, quando se tornou governador da Guanabara em 1960, completou a obra do Maracanã e fez o Maracanãzinho... Além do Rio de Janeiro, a Copa teria jogos em São Paulo – Pacaembu, já que Timão e Bambi não tentaram impor seus acanhados estádios no Parque São Jorge e no Canindé - Belo Horizonte – Independência - Recife – Ilha do Retiro – Porto Alegre – Eucaliptos, do Colorado – e Curitiba – Durival de Britto, pois não se cogitou na Arena da Baixada, a época chamada de “Caldeirão do Diabo”... As Eliminatórias tiveram pela primeira vez o comparecimento da Inglaterra, que se classificou na disputa com Pais de Gales, Irlanda do Norte e Escócia... Que também se classificou, mas desistiu de comparecer ao Brasil devido a presença dos ingleses... Já a Turquia, que eliminou a Síria, desistiu alegando dificuldades financeiras para fazer a viagem para a América do Sul... Portugal e França, desclassificadas por Espanha e Iugoslávia, receberam convites e recusaram... A França simplesmente não aceitou jogar a primeira partida em Porto Alegre e atuar em Recife dois dias depois... E agora, que o primeiro jogo dos franceses será na capital gaúcha e o segundo em Salvador, vai ter jogo???... Na América do Sul, Chile e Bolívia se classificaram com a desistência da Argentina e o forfait de Peru e Equador – Olavo Gosta de um forfait do Equador – garantiram a presença de Uruguai e Paraguai... A Ásia não teve representantes no Mundial devido às desistências simultâneas de Birmânia e Índia – que apelou para o pezinho, quer dizer, para a proibição dos atletas atuarem descalços... A Copa do Mundo no Brasil teria 13 países, a volta da fase de grupos e um inédito quadrangular final na decisão... Mais jogos, mais ingressos para vender... 















Estados Unidos venceram Inglaterra no Horto e gol marcado por haitiano foi mais um motivo para torcida festejar...













































O Estádio Municipal do Maracanã - oficiosamente chamado de Mendes de Morais – foi inaugurado em 17 de junho de 1950, com um jogo entre as seleções de novos do Rio e de São Paulo... Vitória carioca por 3 a 0, sendo que o primeiro gol do novo estádio foi marcado por Didi, o próprio, internauta Pedro Henrique... A Copa do Mundo começou em 24 de junho, com o Brasil vencendo o México por 4 a 0, com dois gols de Ademir Menezes, um de Jair Rosa Pinto e um de Baltazar (OG), o “Cabecinha de Ouro” do Timão... Quatro gols sofridos pelo mítico goleiro mexicano Carbajal na primeira de suas primeiras cinco Copas, Assaf... 82.000 torcedores compareceram ao Maracanã, ainda com andaimes e restos da obra... O técnico era Flávio Costa, que fazia questão de usar a base do Bacalhau, na ocasião chamado de “Expresso da Vitória”... Embora o Rio contasse apenas com bondes, lotações e o trem de subúrbio conhecido como “Cacareco”... Flávio abriu mão de utilizar a base carioca na partida com a Suíça, marcada para o Pacaembu em 28 de junho... Fez questão de escalar o famoso meio-campo da “Máquina de Costura” do Bambi, Rui, Noronha e Bauer... O cruzmaltino Alfredo abriu o placar, Fattori empatou, Baltazar fez 2 a 1 e Fattori marcou novamente faltando dois minutos para o final... 2 a 2, fora as vaias dos 42.000 presentes ao estádio paulistano... A situação ficou mais complicada porque a Iugoslávia assumiu... A liderança do grupo após vencer a Suíça por 3 a 0 em Belo Horizonte e o México por 4 a 1 em Porto Alegre - alis, os mexicanos vestiram a camisa alviceleste do Cruzeiro gaúcho, já que seu uniforme na época era grená... Como apenas uma seleção se classificava para a fase final, era só perder para os iugoslavos que o Brasil ficaria de fora da sua própria Copa... Não foi o que aconteceu em 1º de julho, no Maracanã... Diante de 142 mil torcedores, recorde mundial, a Seleção venceu por 2 a 0 a Iugoslávia, gols de Ademir e Zizinho... O iugoslavo Mitic bateu a cabeça em uma barra metálica e só conseguiu entrar em campo com dez minutos de jogo, depois de estancado o sangramento e colocado um curativo... O Brasil conseguiu o primeiro lugar do grupo A... No Grupo B, a primeira rodada registrou as vitórias da Inglaterra sobre o Chile (2 a 0 no Maracanã) e da Espanha sobre os Estados Unidos (3 a 1 no Durival de Britto)... Até aí, tudo normal... A vitória de 2 a 0 dos espanhóis sobre os chilenos no Maracanã, em 29 de junho, também era esperada... Só que no Independência... A Inglaterra simplesmente foi derrotada por 1 a 0 pelos Estados Unidos, gol do haitiano Larry Graetjens... Carregado em triunfo pelos torcedores mineiros no Horto após o final da partida, internauta Pedro Henrique... Naquele tempo os heróis e vilões eram outros... Os ingleses, que esperavam muito de sua primeira Copa, foram eliminados pela Espanha, que fez 1 a 0 no English Team no Maracanã... Cumprindo tabela, o Chile venceu os estadunidenses por 5 a 2... A “Furia” se classificou, na única Copa em que figurou entre os quatro primeiros colocados até o título de 2010... No Grupo C, com apenas três equipes, a Itália buscava manter a posse da taça que o dirigente Ottorino Barassi escondera debaixo da própria cama durante a Segunda Guerra Mundial... Jogando em São Paulo, com sua grande colônia italiana, mas com o elenco desfalcado pelo acidente que vitimou os jogadores do Torino, o principal time italiano do pós-guerra... Por causa dele que o Timão lançou aquela camisa grená... O problema é que logo na estréia, a “Azzurra” foi derrotada pela Suécia – 3 a 2... Completava o grupo o Paraguai, que empatou em 2 a 2 com os suecos em Curitiba... E perdeu de 2 a 0 para uma já eliminada Itália, no Pacaembu... A Suécia seguiu em frente... O grupo D tinha apenas duas equipes, Uruguai e Bolívia... E a Bolívia quase desiste devido a questões financeiras... Jogando no Independência, a Celeste venceu por 8 a 0, com três gols de Miguez, um de Vidal, dois de Schiaffino, um de Perez e um de Ghiggia... Foi o que precisou para comparecer à fase final do Mundial... 















Depois do gol de Ghiggia, poucos brasileiros tiveram coragem de oferecer conforto para o goleiro Barbosa...













































O quadrangular decisivo do Mundial começou com a vitória de 7 a 1 do Brasil sobre a Suécia, em 9 de julho, no Maracanã, para a festa de 139.000 torcedores... O “Queixada” Ademir fez 2 a 0 e Chico, do Bacalhau, marcou o terceiro... No segundo tempo, Ademir marcou mais dois gols e os suecos descontaram com Andersson, de pênalti – falta de Bigode em Palmer, supostamente fora da área... Chico e Maneca, também cruzmaltino, completariam a goleada... Enquanto isso, no Pacaembu, Espanha e Uruguai empataram em 2 a 2... No dia 13 de julho, o Brasil fez 6 a 1 nos espanhóis, diante de 153.000 torcedores, que cantaram a marchinha “Touradas em Madri”, de João de Barro, o popular Braguinha, e acenaram lenços depois dos dois gols de Ademir, do “Coice de Mula” Jair, mais dois de Chico e um de Zizinho, que jogava no Bangu, sem medo da rima... Os espanhóis descontaram com Igua, quando já perdiam por 6 a 0... Enquanto isso, o Uruguai vencia a Suécia por 3 a 2 em um jogo difícil... Palmer fez 1 a 0, Ghiggia empatou, Sundqvist fez 2 a 1 e a Celeste só virou o jogo com dois gols de Miguez aos 32 e aos 40 minutos do segundo tempo... Se a partida tivesse terminado empatada, o Brasil teria sido campeão mundial por antecipação... Ainda assim, a Seleção entrou em campo no Maracanã precisando apenas de um empate para ganhar o título em 16 de julho de 1950... A conquista era dada como certa pelos jornais da época... Alguns até publicaram a foto do “Brasil Campeão do Mundo” por antecipação, gesto que serviria de estímulo aos atletas do Uruguai... Até “A Gazeta Esportiva” veio com um “Venceremos o Uruguai!”... O rádio também contribuía para difundir o otimismo entre os torcedores brasileiros... A televisão ainda não existia, apesar do esforço dos Diários Associados para apressar a inauguração da TV Tupi do Rio Janeiro de modo que a emissora pudesse exibir os jogos da Copa... Que possivelmente só seria vista no Rio de Janeiro, devido à tecnologia existente na época... Basta lembrar que a primeira transmissão direta do Rio para São Paulo aconteceu apenas em 1956, Silvio Luiz... Mesmo que só fosse apenas um televisionamento local, não deu, Chatô... Oficialmente, 173.850 torcedores comparam ingressos para a finalíssima, enfrentando imensas filas para adquirir as entradas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro... Quem não conseguiu, pulou a catraca, elevando o público presente para mais de 200 mil pessoas... Não foi o caso de Mário Jorge Lobo Zagallo, que como soldado da Polícia do Exército, cuidava da segurança no estádio... O pequeno Paulo Perdigão tinha uma cadeira cativa adquirida pelo pai... Apesar do primeiro tempo terminar empatado em 0 a 0, todos explodiram de alegria quando o Bambi Friaça abriu o placar, com 2 minutos da etapa final... A partida continuou difícil, no entanto... Aos 21 minutos, Ghiggia se livra de Bigode, do Menguinho, pela direita e cruza para Schiaffino, que empata a partida... O silêncio que se seguiu foi momentâneo, pois o empate ainda garantia o título ao Brasil... Porém, aos 34 minutos, Ghiggia recebe de Perez e arranca novamente pela direita, sem ser detido por Bigode, e quando o goleiro Barbosa fechou o ângulo, o uruguaio chutou antes da chegada de Juvenal... Fazendo 2 a 1 para a Celeste... Por mais que o internauta Pedro Henrique defenda Bigode e principalmente Barbosa, eles seriam responsabilizados pela derrota brasileira assim que o árbitro inglês George Reader apitou o fim do jogo... Jules Rimet, que saiu das tribunas pensando em entregar a taça para Augusto, do Bacalhau, que até ensaiara um “Merci”, teve de procurar pelo campo o capitão uruguaio Obdúlio Varela... Que teria dado um tapa em Bigode, fato jamais comprovado e por essa razão negado pelo nosso colega de rede... Mas na falta de champanhe, “El Negro Jefe” aceitou a aguardente que ofereceram para ele tomar... Na taça... Talvez oferta de algum admirador como o Pedrinho... Zagallo, mesmo fardado, chorou... A maioria dos torcedores preferiu o silêncio... Ou derrubar o busto do prefeito Mendes de Morais – que não teria dito “Eu lhes dei o estádio, agora nos deem o título”... Paulo Perdigão teve um trauma que o levou a mergulhar na filosofia niilista e nos escritos existencialistas para escrever “Anatomia de Uma Derrota”... Um relato completo sobre a derrota, contestando em parte a versão de que as visitas de políticos teriam tumultuado a concentração da equipe brasileira em São Januário... Agora, que ônibus da Seleção enguiçou e teve de ser rebocado pelos jogadores antes da final, isso é fato, internauta Chico Melancia... Também se fala em discussões sobre premiações, mas tudo o que Geneton Moraes Neto conseguiu apurar com os jogadores no livro “Dossiê 50” foi a discussão sobre o que fazer com um lustre oferecido de presente ao time... Porém um dirigente teria comemorado os lucros com a bilheteria dos jogos em pleno vestiário do Maracanã logo depois da derrota... E há a hipótese da caveira de burro enterrada bem abaixo do gol de Barbosa... Não, o goleiro não fez churrasco das traves do Maracanã... Agora, apesar do silêncio que tomou conta do estádio após a derrota brasileira, o episódio ficou conhecido como “Maracanazo”, numa referência ao “Bogotazo”, os distúrbios causados pelo assassinato de um líder político na Colômbia... 

















Brasil fez o Maracanã para Uruguai ser campeão e Del Nero ainda ofereceu uma cachacinha na comemoração...

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