quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Marcelo Rezende do “Brlom, Brlom, Brlom” ao “Corta Pra Mim”...

Livro fala dos tempos do "Olhe bem para este homem", mas foi lançado na fase do "Pau comeu na casa de Noca"...
































































O gancho do livro "Corta Pra Mim", lançado pela editora Planeta em 2013, é a reinvenção do jornalista Marcelo Rezende quando voltou a apresentar o "Cidade Alerta",  em junho de 2012...  O livro, que tem como subtítulo "Os bastidores das grandes investigações", mostra como ele chegou até ali, depois de uma carreira de mais de 40 anos, marcada por reportagens investigativas de grande repercussão,  não apenas na área policial, mas também sobre a corrupção no esporte, e a cobertura esportiva é o setor onde começou como repórter... Porém,  o chamariz do livro para muitos leitores é o apresentador instigante e irreverente do noticiário policial da Record... Que criou frases como "Corta pra mim" - que virou o título do livro, alis - "Põe exclusivo, minha filha,  dá trabalho de fazer", "O Percival tá morto"... Costumava iniciar seus comentários sobre as reportagens levando o telespectador a entender a história por trás dos crimes com um "Pensa no seguinte"...  Usava expressões como "sapeca iaiá",  "o pau comeu na casa de Noca",  "furdunço", "estrúncio"...  E  principalmente trabalhava forte dando apelido às repórteres do programa... Fabiola Gadelha virou "Fabiola Rabo-de-arraia", e acabou trazida de Manaus para São Paulo... Akemi Duarte,  "Dó-Ré-Mi"... Luiza Zancheta,  "Prancheta", apelido que prejudicou sua passagem pela Globo... Sylviê Alves,  "Voz de FM"... Narla Aguiar,  "Biquinho-de-lacre"... Lilliany Nascimento,  "Capitão Nascimento"... Luiz Bacci, que apresentava as reportagens produzidas no Rio de Janeiro,  era o "Porco-espinho"... Mas ao reconhecer nele um talento, que não tinha sido aproveitado no SBT, transformou ele no "Menino de Ouro", "o novo Silvio Santos"... Percival de Souza,  também um repórter experiente na área policial,  que deveria comentar o noticiário,  virou um personagem,  entronizado no cenário do programa e que foi convertido em um sujeito multimilionário... Outros personagens apareciam na forma de computação gráfica,  como a viatura policial Maloy,  que mais parecia um cão adestrado,  ou o helicóptero do comandante Stuart,  também um pretexto para ironizar as imagens aéreas feitas na aeronave do Comandante Hamilton... Bem diferente do jornalista rigoroso,  que podia cobrir de elogios as matérias de uma repórter iniciante na Rede TV!... Pautas pesadas,  de fazer chorar, exibidas no programa "Repórter Cidadão"... Porém,  na reportagem seguinte, ele fazia as mais severas críticas, e a voz forte daquele homenzarrão com cara de bravo até causava um certo medo... O jovem Marcelo Rezende também não teve um início tranquilo na carreira jornalística, aos 17 anos, em 1969...  Aluno de mecânica da Escola Técnica Celso Suckow da Fonseca, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica, CEFET-RJ, na região da Avenida Maracanã, ele não considerava a profissão que aprendia muito promissora... Decidiu aceitar o convite de um primo jornalista, Merival Júlio Lopes, e tentar um emprego no “Jornal dos Sports”, o “cor-de-rosa”... Ao comparecer na redação, deparou com um homem que datilografava as fichas dos jogos do Campeonato de Pelada do Aterro do Flamengo, promovido pelo jornal... Decidiu ajudar na tarefa ditando as informações nas fichas... Ao ver o nome de uma equipe, chamada Couve-Flor, disse Couve hífen Flor... O homem ficou impressionado, pois para ele o habitual seria um rapaz de 17 anos falar “tracinho” ao invés de hífen... Pediu para Lopes trazê-lo de volta a redação, para trabalhar no jornal... O homem era Achilles Chirol, diretor do “Jornal dos Sports”... Então é por isso que o primeiro capítulo de “Corta Pra Mim” é denominado “Nasci de um simples hífen”... Ops!!!...





































Na revista "Placar", em 1981, ouviu o dirigente que acreditava que Copa do Mundo no Brasil seria barata...



































































A primeira matéria escrita por Rezende era exatamente sobre o Campeonato de Pelada...  Perguntado pelo chefe de reportagem, José Castelo, sobre como gostaria de assinar o texto, sugeriu Marcelo Fernandes, o sobrenome do pai... Mas ao ouvir o nome completo do jovem repórter – Marcelo Luiz Rezende Fernandes - decidiu por Marcelo Rezende, sobrenome da mãe, “nome começando com ‘R’ é mais forte”...  Após um ano de trabalho, quando completou 18, teve a carteira assinada... Porém, ao esticar o final de semana com uma garota que conheceu na praia, na região de Copacabana, e deixou de comparecer a uma entrevista com o técnico Elba de Pádua Lima, o Tim, acabou demitido... Um pretexto, pois já havia o plano de realizarem demissões no jornal... Sobrou para Rezende, que ainda teve de ouvir do chefe de redação, Aparício Pires, que era muito desatento e por isso era melhor ser mecânico, pois nunca conseguiria ser jornalista... A demissão não o desanimou, indo trabalhar de radioescuta na Rádio Globo carioca... Dois anos depois, foi convidado por um antigo colega de “Jornal dos Sports”, Otávio Name, foi para o jornal “O Globo”... Onde foi repórter e redator, aos 21 anos... Uma demissão em massa da equipe que cobriu a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, abriu espaço para que se tornasse um dos principais repórteres de esporte do jornal... E ao reencontrar com Aparício Pires, perdoou-o pelo episódio da demissão, com a condição de que nas horas vagas na redação, ensinasse a ele o funcionamento de um jornal... Depois do Mundial de 1978, que cobriu na Argentina, foi chamado por João Areosa para trabalhar na revista “Placar”... O salário mais que dobraria, porém teria a missão de evitar que a publicação fechasse as portas... A sucursal carioca se tornaria a mais fervilhante da revista, vide matéria “Corrupção - O Livro Negro do Futebol Brasileiro”, ou também “Podres Poderes”, sobre corrupção nas federações estaduais de futebol, em março de 1985... Lá estava, por exemplo, Tim Lopes, o próprio, que poucas semanas antes da matéria sobre a “Feira da Droga”, que lhe custou a vida, em 2002, telefonou para falar com entusiasmo dos progressos da investigação sobre sorteio de garotas em bailes funks... Denúncias, bastidores da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986, Telê Santana, e grandes coberturas... Mundiais, Jogos Olímpicos, ou quando seu Menguinho decidiu o Mundial Interclubes, quer dizer, a Final Intercontinental, ou ainda, a Copa Toyota em 1981, com o Liverpool...  Quando Rezende não só apenas escreveu sobre a vitória urubulina por 3 a 0, como fotografou os lances da decisão, a primeira vez em que a competição era acompanhada in loco pela revista... “Eu nunca tinha fotografado na minha vida e nunca mais fotografei”, disse aos autores de “Onde o Esporte se Reinventa”, livro sobre a história de “Placar”, Bruno Chiaroni e Márcio Kroehn...  Além de ter que passar telex para transmitir os textos, sem que seu editor, Juca Kfouri, reclamasse de atrasos, pediu ajuda ao fotógrafo de um jornal brasileiro, que contratado pela revista, iria enviar telefotos do jogo, para operar a câmera... Máquina automática, bastava segurar o disparador para obter imagens em sequência... “Os gols só aconteciam  na minha frente... Eu sentava, botava a máquina – brlom, brlom, brlom – e assim fazia as fotos... Olhava quando o cara ia chutar a fazia assim... Brlom, brlom, brlom, e as fotos saíram”...  As mais conhecidas mostrando o atacante Nunes comemorando um gol, presença constante nas retrospectivas da história da revista... Há quem tenha pedido autógrafo dele na reprodução de uma foto... Terminado o jogo, uma revoada de brindes oferecidos por um dirigente do Menguinho garantiu uma saída rápida da região do Estádio Nacional de Toquio... Depois de pegar o trem, um táxi que chegou como que por milagre a cabine da Western Union e uma luta para conseguir um terminal de telex disponível... Rezende só descobriu que as fotos do jogo ficaram boas quando os rolos de filme foram revelados – no Brasil... Houve tempo ainda para as primeiras incursões televisivas, na mesa-redonda “Bola na Mesa”, com João Saldanha, Sandro Moreyra, Márcio Guedes e Galvão Bueno... Sendo que o livro não menciona que o programa era exibido pela Band carioca... Tampouco os comentários esportivos no programa “Noites Cariocas”, exibido pela recém-inaugurada TV Record Rio – depois TV Copacabana, TV Corcovado e CNT Rio – em 1982... Não confundir com o humorístico que, entre outros nomes, contava com Chico Anysio, Pancada...




































- Põe exclusivo nessa foto, meu filho... Deu trabalho pra fazer - e valorizou o uniforme Adidas (C)...
































































A televisão surgiu para valer na vida de Rezende no final de 1988, quando foi convidado pelo amigo Telmo Zanini, chefe de redação da TV Globo, para trabalhar na emissora... Seguindo o conselho de outro amigo, começou como editor, para se habituar ao ritmo das reportagens no vídeo... Um ano depois, passou para a frente das câmeras, como repórter... Na cobertura de um jogo da Seleção Brasileira, começou a citar no ar as estatísticas dos jogos que eram produzidas pela Globo... Mas um desencontro sobre a incumbência de fazer a reportagem do vestiário da Seleção o levou a pensar em pedir demissão... Foi demovido pela diretora executiva da Central Globo de Jornalismo, Alice Maria, e passou para a Editoria Rio, onde realizada matérias para os jornais locais e o “Jornal Nacional”... Uma reportagem sobre tráfico de drogas e de armas na região do Morro da Mineira o levou para o Núcleo de Reportagens Especiais da Globo... Vieram as matérias sobre os sequestradores do empresário Roberto Medina, o envolvimento do deputado Jabes Rabelo e seu irmão Abdiel, com o tráfico de drogas, as fraudes no seguro obrigatório de veículos (DPVAT), a disputa pela terra entre o MST e os fazendeiros na região do Pontal do Paranapanema, o caso da Favela Naval em Diadema  - mérito repartido com o informante que o levou  às fitas de vídeo com a ação abusiva da PM e os colegas repórteres e produtores... Sempre citados como colaboradores indispensáveis em pautas como a da pirataria de CDs, que o levou a momentos tensos em Hong Kong e Macau...  Até que o futebol voltou ao circuito em 1997, quando uma fonte lhe trouxe áudios dos telefonemas em que dirigentes – entre os quais o presidente corinthiano Alberto Dualib – negociavam a escalação de árbitros com o então chefe da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Ivens Mendes...  Que acabaria destituído do cargo após a denúncia... Depois Rezende soube que os grampos telefônicos eram obra de pessoas ligadas ao Fluzinho, que tinha interesse em escapar do rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro... E para isso, interceptaram os telefonemas do presidente do Furacão, Mário Celso Petraglia, a Mendes, para que o clube paranaense fosse punido pela manipulação de jogos e caísse no lugar do Pó-de-Arroz... O presidente da CBF na época, Ricardo Teixeira, velho conhecido do repórter da época em que se elegeu presidente da entidade, apoiado por seu então sogro, João Havelange, em 1989, escapou ileso das denuncias... Porém voltaria a encontrar o dirigente ao investigar o enriquecimento de Eurico Miranda, em 2001... Bem depois da entrevista com Francisco de Assis Pereira, conhecido como “Maníaco do Parque”, que exibida no Fantástico, em 1998, seria o piloto do “Linha Direta”, programa que apresentou por dois anos, desde sua estreia, em maio de 1999... “Olhe bem para este rosto... Se você tem alguma informação que possa levar ao paradeiro deste homem, ligue para o Linha Direta... Sua identidade será mantida no mais absoluto sigilo”... Em 2001, já no “Fantástico”, ao comparecer na região de Boca Ratón, na Flórida, procurando pela mansão do homem-forte do Bacalhau, descobriu as suntuosas residências de Teixeira e de seu ex-sogro, João Havelange... Num primeiro momento, a Globo não quis saber da história, pois negociava direitos de transmissão com a Fifa... Algumas semanas depois, entretanto, a emissora, deu carta branca a Rezende para investigar Eurico Miranda mais a fundo –e Ricardo Teixeira... Dois antigos colegas de “Placar” tiveram participação decisiva neste trabalho... Juca Kfouri, que abriu as portas para as CPIs do Futebol que aconteciam na Câmera e no Senado... E Tim Lopes, que foi a campo atrás dos “laranjas” do dirigente do Vice, sem ligar para o fato de ser torcedor do Bacalhau...  Conforme foi se aproximando do patrimônio e das empresas de fachada de Ricardo Teixeira, aumentaram as pressões para que desistisse da história... A Globo, finalmente, cedeu e Rezende preparou uma edição do “Globo Repórter” com as denúncias sobre o presidente da CBF... Aquela mesma que Jorge Kajuru postou na internet como “vídeo proibido”... Os donos da emissora aprovaram a reportagem - que tinha duas partes, a primeira uma elegia à Seleção, que cumpria uma campanha irregular nas Eliminatórias para a Copa de 2002, conduzida por Tino Marcos, a segunda com as denúncias -  porém queriam que Teixeira fosse ouvido... Diante das esquivas do dirigente, impacientes, autorizaram a exibição do programa, em 28 de agosto de 2001... Articulando nos bastidores, Teixeira se manteve no poder até 2012... Rezende saiu da Globo em 2002, indo apresentar o “Repórter Cidadão” na Rede TV!, onde conseguiu destaque ao mostrar operações policiais ao vivo... Na verdade, ele fora contratado para o “Jornal da TV!”, porém o apresentador do “Repórter Cidadão”,  José Luiz Datena, voltou para a Record e ele foi chamado às pressas para comandar o programa...  “Datena ainda vai ser um capítulo à parte de um futuro livro...  Eu gosto muito dele, um coração extraordinário de um homem  que não aprendeu a desfrutar os prazeres da vida”, escreve Rezende no final de “Corta Pra Mim”... A Record apareceu em sua vida devido a ele, quando deixou o “Cidade Alerta” e foi fazer o “Brasil Urgente”, na Band, em 2004... A primeira passagem pelo “Cidade Alerta”, segundo o jornalista, terminou por pressões do Luis Inácio, incomodado com críticas que ele próprio classificaria como “às vezes sem necessidade e exageradas”, Honorílton Gonçalves... Voltou à Rede TV!, agora no “Rede TV! News”, mas foi demitido ao não aceitar a volta do “Repórter Cidadão”... Recebeu uma proposta da Band, porém tudo mudou ao ver uma palestra de Edir Macedo... “Eu não tinha nada a perder... Mas essas são outras histórias”... Sendo que o livro de Rezende foi publicado pela Editora Planeta, a mesma que editou... “Tudo A Ver”, a triologia autobiográfica do líder da Igreja Universal do Reino de Deus... Objeto de reportagens sua na Globo na década de 1990... Então é por isso que o jornalista, mesmo conduzindo uma reportagem especial sobre os 80 anos de Silvio Santos, não foi para o SBT...























































Na Globo, fez história a reportagens sobre a corrupção na CBF presidida por Ricardo Teixeira, em 2001...

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