Aparentemente, é apenas um livro sobre os 40 anos de carreira da mãe da Antônia e da Cléo Pires, entretanto... |
Por que o Pancada se interessaria pelo livro “40 Anos de Glória”, escrito por Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti, lançado em junho de 2010, e que traz a vida e a carreira artística da atriz Glória Pires???... A resposta está em uma foto na página 41... “O ator Antônio Carlos Pires, pai de Glória, nos tempos da extinta Rádio Mayrink Veiga”... Mayrink Veiga???... Chico Anysio começou assim, pensou o nosso humorista e fornecedor de DVDs... Na página seguinte, os autores falam sobre ele... “Seu pai Antonio Carlos, também foi uma criança precoce... Aos nove anos, começou a desenvolver um grande interesse pela arte dramática, ingressando num teatro que se localizava aos fundos de uma igreja no bairro de Olaria, Zona Norte do Rio... Aprendeu com atores veteranos a arte da comédia, na qual se especializou... Anos mais tarde, já nos tempos da Rádio Mayrink Veiga, integrou o elenco da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, como o caipira Joselino Barbacena... Era um ator muito econômico em sua maneira de interpretar, algo inusitado para humoristas... Gloria pensa, hoje, que talvez outro interesse, além da dramaturgia, tenha nascido a partir das caracterizações de seu pai: o da maquiagem... Em parceria com o maquiador Eric Rzepecki, Tuneca criou as próteses dentárias que davam um aspecto de dentuço ao ator... E juntos, também, aperfeiçoaram a peruca que deixava os atores carecas”... Se bem que... Joselino nunca foi careca, nem quando era criança pequena lá em Barbacena... Ai, meu Jesuzinho Cristinho, larga deu, chulé, comenta o Pancada... Nascida no Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1963, Glória Maria Cláudia Pires foi levada para São Paulo pelo pai, que procurava tratamento médico para a esposa, Dona Elza Pires de Moraes, também chamada de Leleca... Enquanto Antônio Carlos atuava na novela “A Muralha”, Gloria divertia-se no estúdio da TV Excelsior, onde era gravada a trama... Em 1968, participou da abertura da novela “A Pequena Órfã”, dirigida por Dionísio Azevedo, que a conheceu por intermédio de Antônio Carlos... No entanto, quando ia gravar sua primeira cena, teve uma crise de hemorragia nasal e acabou sendo cortada da novela... Retornou quando a protagonista, Patrícia Aires, deixou a Excelsior, e o pai de Glória disse ao diretor que ela imitava com perfeição a voz de Patrícia... Assim, sua filha voltou a trama, dublando a voz da protagonista e permitindo uma passagem de tempo para fazer a troca de atriz... Faltou só mencionar a história por trás da saída de Patrícia Aires... Que teria sido tramada por Paulinho Machado de Carvalho, diretor da concorrente Record, que pagou o pai de Patrícia, o ator Percy Aires, para que sumisse por uns tempos com a filha... Não que Pancada acredite nessa versão dos fatos, porém vindo da pessoa que batizou o programa dos Trapalhões na Record de “Os Insociáveis”, decisão que o próprio Renato Aragão não entende até hoje, quem sabe???... Alis, uma das fotos do livro que mais apeteceram o Pancada está na página 153... “Gloria entre ‘Os Trapalhões Renato Aragão, Mussum e Dedé Santana, que participavam de uma gravação de O Dono do Mundo”... Vide Stella, a personagem da atriz na trama, já separada do cirurgião Felipe Barreto, acompanhada de Rodolfo, dono da produtora de vídeo onde trabalhava depois do divórcio, cumprimentando Dedé em uma festa, observados por Renato, quer dizer, Didi... E porque os três Trapalhões compareceram ali, Pancada???... Simples, na cena, exibida em um sábado de julho de 1991, eles começavam uma maratona comemorativa dos 25 anos do grupo que se estenderia por todo o dia seguinte, vide Didi beijando a mão do Cristo Redentor... Teve até uma versão da “Escolinha do Professor Raimundo” com grandes nomes da teledramaturgia global... Era Glória o Joselino???...
Mas quando Pancada chegou à página 41, descobriu uma foto do avô das meninas, Antônio Carlos Pires... |
Antônio Carlos voltou para o Rio em 1969, motivado pelo derrame sofrido por sua mãe, a avó paterna de Glória, Deolinda... Percebendo que a filha não estava muito disposta a seguir a carreira de atriz, o pai deixou fotos dela com a diretora de elenco da Globo na época, Guta Mattos... Em setembro de 1971, Gloria fez um teste para o papel da filha do professor Luciano, que seria vivido por Sérgio Cardoso na novela “O Primeiro Amor”... Acabou sendo preterida por Rosana Garcia, “por não ter os atributos físicos que buscava para a personagem”, Daniel Filho... Depois de uma passagem pela Escola de Artes do Parque Lage, como aluna ouvinte, Glória participou do Caso Especial “Sombra de Supeita”, em fevereiro de 1972, e na sequência foi escalada por Guta – não confundir com o Guto, Pancada – para a novela “Selva de Pedra”... É ela a “Glória Maria” que aparece nos créditos de abertura da trama, na qual vivia Fátima... Em 1973, interpretou Ione, em “O Semideus”... Quando a novela acabou, em abril de 1974, Glória atuou por dois anos nos programas humorísticos da Globo, inclusive “Chico City”, onde os autores apontam que “permaneceu mais tempo, tendo a chance de contracenar com humoristas tarimbados como seu pai e Chico Anysio... ‘Ela nasceu para ser atriz, domina o que faz!!!’, declarou Chico na época”... Para o livro, Chico reforçou os elogios... “Quando Glória trabalhou comigo em ‘Chico City’, eu observava, abismado, aquela garotinha tão jovem e tão profissional, preocupada e muito determinada... Esses adjetivos são provenientes dos pais dela... O Antônio Carlos era um grande amigo, excelente ator e um dos melhores profissionais que trabalhei... E Dona Elza era uma pessoa boníssima e íntegra”... Chico conhecia Antônio Carlos desde a Mayrink Veiga... No livro “Seu Francisco” o humorista aponta que o pai de Glória é “um expoente do humor que nunca foi elevado ao degrau que merecia”... “Penso que ninguém neste país chegou à perfeição na composição de um tipo como Antônio Carlos... Desde o rádio ele mostrou ser genial na feitura de um personagem... Seu caipira foi (e é...) antológico, assim como o malandro, o bobo, e principalmente, o português... Um lusitano perfeito, sem uma falha de sotaque, sem deslizar um milímetro para o exagero ou o absurdo... Poderia tê-lo feito em novelas... Seria aceito em Lisboa, tal a perfeição com que representava”... Então é por isso que o Professor Raimundo trabalhava forte na piada interna quando Jayme Filho interpretava o “Seu” Eça de Camões... Chico também faz uma observação sobre a caracterização de Antônio Carlos... “Matador de piadas com poucos, discreto, competente, grande profissional, Antônio Carlos estrelou filmes (no tempo da chanchada...) inclusive como galã, porque tinha grande semelhança com Louis Jourdan... O fato de ser um homem bonito deve ter atrapalhado sua carreira de ator de comédia porque o único erro que cometia era se ‘enfear’ exageradamente, compondo os tipos com um excesso desnecessário... Digamos que ficava ‘feio demais’, exorbitando na maquiagem e afastando, assim, o público infantil, grande responsável pela ‘aceitação inicial’ do tipo... A criança é quem primeiro ‘avisa’ o sucesso... Quem agradar as crianças terá conseguido o objetivo... Antônio Carlos fazia tipos que talvez ‘amedrontassem’ o público infantil... Não tenho certeza, mas me parece ter sido esse seu erro... Ainda assim, o professor Lourenço foi um sucesso... Até hoje me lembram o quadro que eu escrevia para ele, João Loredo e Sônia Lancelotti, onde o mestre sempre achava um defeito na resposta certa do João (o aluno que sabia tudo...) e encontrava explicação para a bobagem da Sônia (Dona Gegê, a aluna boazuda e ignorante...) e a frase que arrematava o esquete... ‘Dona Gegê... Mecê tá certa, mecê vai longe”... Qualquer semelhança com o Professor Raimundo reclamando dos pitacos do Ptolomeu nas respostas certas de Dona Marina da Glória é mera coincidência, Pancada...
Entre outras histórias, a obra relata a parceria entre Glória Pires e Nizo Neto no programa "Chico City"... |
A biografia escrita por Nassife e Fabretti conta que em “Chico City” “Antônio Carlos foi além da figura paterna, ajudando-a com o sotaque nordestino de sua personagem no humorístico... As gravações deixavam Glória muito tensa, que chegava ao ponto de tremer... “Ficava tão nervosa que nem sei como conseguia falar e pensar... Isso me levava a questionar o porquê de continuar fazendo aquilo”... Em seguida, o livro traz uma revelação que estarreceu o Pancada... “Nizo Neto, filho de Chico Anysio e seu companheiro de cena, tornou-se o primeiro namorado de Glória... Ele com 10 anos, ela com 11... ‘Obviamente era um namoro de criança, não houve sequer um selinho’”... E pensar que Nizo deverá ser dispensado do “Zorra”, lamenta o nosso colega de rede... A experiência nos programas de humor é considerada fundamental pela atriz... “Aprendi muito com os pequenos papeis que representei... Naquela época os programas eram gravados no Teatro Fênix, no Jardim Botânico... Foi ali que convivi com as feras do humor... Ouvi muitas dicas deles e cada vez mais aquele universo me fascinava... Além disso, tive a chance de aprender errando, já que não estourei logo como protagonista”... Sendo que em seu retorno às novelas, em “Duas Vidas” teve mais um auxílio inestimável de um colega de elenco... Ninguém menos que Luiz Gustavo, Pancada... Quanto a Antônio Carlos, Chico Anysio fecha seu comentário sobre o pai de Glória Pires com mais um elogio... “Antônio Carlos já não consegue a mesma desenvoltura mas, ainda assim, com as limitações impostas pelos problemas de saúde, faz um Joselino Barbacena de agrado geral na ‘Escolinha do Professor Raimundo’... Vai chover muito até aparecer outro igual”... Pois é, não é, Pancada... Que Ângelo Antônio, que faz o personagem na nova versão da “Escolinha”, não saiba...
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