Legado de Leifert ou BBB 17 Paredão por Paredão...

Depois da vitória, o dever... Emilly comparece na delegacia para depor sobre as agressões de Marcos...

O choque de gerações era o eixo do confronto previsto para o BBB... O processo de seleção resultou em dois grupos delimitados pela idade, um de concorrentes com menos de 30 anos, a maioria mulheres, e outro de competidores com mais de 30 anos, a maior parte homens...   Os gêmeos, representantes mais jovens de ambos os sexos, seriam os “coelhos de prova”...  Então é por isso que apesar da ideia ter surgido durante a entrevista de seleção de Emilly, outras gêmeas iriam entrar na casa... As irmãs Júlia e Lívia Bravo, que chegaram a ficar no hotel onde os concorrentes aguardavam o início do confinamento, um dia antes das chamadas que revelaram os competidores... Acontece que as irmãs Bravo acabaram retiradas do programa no mesmo dia, por terem protagonizado um comercial do Burger King ©... No entanto, a imagem delas permaneceu nas chamadas antes da estreia, o que fez elas serem descobertas por internautas - e muito procuradas pelos torcedores contrários a Emilly... “Tem gente que manda mensagem dizendo que preferia que a gente tivesse entrado para não terem que ver a Emilly todo dia, a internet tem muito hater”, disse Júlia a UOL... Então é por isso que fatos prosaicos levam a grandes acontecimentos no BBB... As outras participações de gêmeos no “reality” eram pegadinhas da produção... O fato de Júlia e Lívia serem atrizes despertaria desconfiança dentro da casa e descrédito no público fora dela... A história do jogo seria bem diferente... A grande presença de competidores mais maduros serviria para implantar a marca pretendida para o novo apresentador, Tiago Leifert... Uma valorização do componente estratégico do jogo... O vestígio dessa intenção são os elogios a Ieda na final... Mas como louvar a racionalidade se as edições são calcadas no emocional e ancoradas em dualismos???... A ala experiente da casa estava mais disposta a contemporizar do que a competir...  Então aproveitaram que a diferença de idade entre os competidores faria relacionamentos inter-geracionais despertarem grande resistência no grupo... Assim chegamos ao casal #Mally, que se tornou o eixo horizontal da disputa... Emilly seguia a linha de Munik e a princípio não quis um relacionamento amoroso... Marcos teve de insistir muito para os dois ficarem, o que o valorizou junto ao público graças a maneira com que a abordagem era retratada, mas manteve as duas torcidas afastadas... A resistência inicial de Emilly, tomada como independência, fez com que sua torcida fosse sempre maior... Nesse ponto, a direção, muito mais do que jogar com o mito da estratégia de casal, exacerbou o ódio, como no ano passado... Antes, o público era induzido a odiar como Ana Paula... Agora, os que não aderiram a Emilly eram instigados a odiá-la... Sua trajetória, repleta e imperfeições e pecados (alguns escondidos, outros expostos, como suas falas dramáticas ou o jeito de chamar Marcos...), era oposta à de Vivian, retratada de forma a satisfazer o moralismo dos críticos de Emilly... Reflexo de uma sociedidade cujo ideal feminino ainda é mais Marcela Temer do que Dilma Rousseff... No final, surgiu um inédito protagonismo feminino, compensação dos dissabores iniciais da ala jovem porém, uma ruptura por vez, a maturidade ainda espera... E conforme apontou Chico Sarney, esta edição do BBB teve a mesma estrutura do “Sitío do Pica-Pau Amarelo”... A cada paredão, uma história diferente, mesmo quando não houve paredão...
 
Primeira Choradeira:  Separação de gêmeos já pressupõe uma forte carga emocional... No entanto, as saídas de Antonio e Mayla superaram todas as expectativas... Despedidas chorosas se transformaram no padrão da temporada, um grande loop do Cebolinha 3D dançando ao som do tema do Dragon Ball...
Paredão do Benefício da Dúvida Seletivo:  Frente a frente os dois concorrentes que, para os demais competidores, não se adaptaram, típico critério das primeiras semanas... Marcos apresentava o maior potencial de conflitos futuros, pois ensaiava um relacionamento inter-geracional... O problema eram as acusações de assédio lançadas na indicação de Mayara e Vivian... A solução veio ao retratar Gabriela como “planta” e Marcos como um homem romântico e sensível... E aproveitando que Emilly não tinha se decidido quanto a ele (nesse período ainda seguia a linha de Munik, de não iniciar nenhum relacionamento...), colocá-la como oportunista...

Paredão dos Vilões Montado por Vilões:  As duas líderes da primeira semana viraram as emparedadas no paredão seguinte... A articulação de Emilly para indicar Vivian é mostrada abertamente, raiz da rivalidade latente na reta final, nesse momento dentro do esforço para promover Marcos... Que correu para a ala madura masculina (que chamava de “Oito Aliados” e a direção posteriormente deu o nome de “Confination”, em alusão à banda de rock que Daniel, Ilmar,  Marcos, Pedro e Rômulo improvisavam nas festas...) a fim de se juntar a votação contra Mayara... No meio, o sétimo voto, que selou a sorte de Roberta no jogo...

Paredão Pisando em Ovos:  O descontrole de Luis, motivado por uma discussão sobre ovos, chegou a tal ponto que conseguiu inverter a tendência histórica dos conflitos inter-geracionais dentro do confinamento sempre penderem para o lado jovem da balança... Melhor para Ieda, Ilmar e Marcos... O choque de gerações e o pedido de desculpas de Ieda e a Luis serviram de pretexto para a direção tirar do ar o quadro da família Silva... Os resumos do tipo “breaking news” começavam a tomar o espaço dos clipes e dos quadros de humor nos dias de paredão... Dessa Rafa Cortez escapou, porém o último “BBB Sem Moderação” não durou mais do que meio minuto...

Fatos prosaicos geram grandes acontecimentos, porém... Com as gêmeas do Burger King não seria a mesma coisa...

Paredão Chocho ou Máquina de Lavar Louça:  Consolidou a dinâmica horizontal do jogo, nos termos de “casa contra casal”... Demonstrou também que as torcidas de Emilly e Marcos são duas entidades distintas, vide #ForaEmilly lançado pela família de Marcos... Para fazer valer o discurso do equilíbrio de forças, a direção destacou dois opositores do casal #Mally, com estratégias bem distintas, Elis e Pedro, e fez Leifert cometer o inquietante discurso onde declarou que nunca uma máquina de lavar louça venceu o BBB... Na verdade, uma exigência de que as justificativas de voto do tipo “pia cheia de louça” ou “banheiro sujo” dessem lugar a argumentos do tipo “Emilly é interesseira” ou “Marcos não ama de verdade”...

Paredão da Culpa ou Casamenteiro:  Uma semana depois de pedir que os competidores partissem para o jogo individual, a direção descarta justamente uma das concorrentes que havia escolhido para simbolizar essa postura, Elis... Paradoxalmente, porque isso evidendicaria o jogo de outros competidores, em especial Ieda, Mari e Rômulo... Para disfarçar a consciência pesada, transformaram a eliminação de Elis num pedido de casamento de papel passado do homem com quem ela vive junto há vinte anos...

Paredão do Muro da #VergonhapatrocinarBBB:  Para evidenciar uma divisão que já estava bem clara  a direção coloca um muro no meio da casa... Só que a falsa eliminação de Emilly, às vésperas de um paredão em que ela poderia sair de fato, se mostrou um favorecimento explícito demais aos olhos do público, que disparou #Textão contra a direção do programa... 

Paredão Sem Vantagem ou Casos de Família: Metade do tempo do BBB na Globo é destinado pela direção para demonstrar que não manipulou na outra metade... Dessa forma, Emilly teve de retornar ao paredão, sem o muro, levantado para que Rômulo pudesse escapar de uma indicação quase certa... A única liderança de Marcos no jogo também ajudou, pois ele ainda evitava o confronto direto com Rômulo... Pela primeira vez em sete semanas, Rômulo não puxou o nome mais votado, mas como iam ao paredão os dois primeiros colocados no voto da casa, conseguiu emparedar Emilly... Que teve de submeter a um pedido de desculpas a Roberta, momento em que Leifert revelou ser uma excelente Christina Rocha... 

Paredão Saraiva ou Tolerância Zero:  Bofinho confessou em uma entrevista sua admiração pela atuação de Francisco Milani como Saraiva no “Zorra Total”... A “tolerância zero” do personagem seria colocada em prática para deslanchar a diretriz que sustentaria o “reality” até às vésperas da final... A destruição do trio Emilly, Ilmar e Marcos, transformada em necessidade com a iminente saída de Rômulo... O primeiro passo foi introduzir na casa a italiana Elettra... Recebida por Marcos com sua estratégia clássica de psicologia de confronto... Conversar para expor deslizes verbais do interlocutor... Tática mal-interpretada por Emilly... Que Marcos aproveitou para pedir um tempo na relação... Embora na festa seguinte os dois já tenham se reaproximado, a direção aproveitou para fazer um “apagamento” da figura mais forte do trio... Até a eliminação de Daniel, esse seria o período em que Emilly menos apareceu nas edições... Com Ilmar na liderança, não haveria obstáculos para a indicação de Rômulo... E quando Marcos se viu com Rômulo no paredão, deixou de lado o apaziguamento e partiu para o conflito, ainda que apenas verbal... Todavia, o passo mais importante para implodir o grupo MEI seria uma medida prosaica... Fechar o quarto do Líder depois de uma brincadeira de Ilmar com Emilly... Sem um espaço para os três conversarem, a relação começou a desandar...  O resto é economia de isopor para pagar o cachê da Elettra, digo... Visando a desestabilização do grupo, nada melhor do que atacar seu elo mais fraco, Ilmar... Acontece que a direção passou Marcos na frente depois dele começar a criticar abertamente a direção... Primeiro com uma declaração dúbia, em que falava em “encurralar o programa”... Então é por isso que Leifert falou grosso no dia do paredão... Acontece que depois da eliminação de Rômulo, Marcos retomou os ataques ao dizer que “a Globo não mente!!!”... Era ofensa demais para o ego do Bofinho... O programa do dia seguinte seria inteiramente dedicado a desconstruir Marcos... O que incluiu aproveitar as críticas de Vivian, que na verdade estava mais indignada com Ilmar, por ter sido citada na justificativa da indicação de Rômulo... Mas como ela também mencionou a estratégia discursiva de Marcos, a direção não perdoou... 

Além da expulsão da casa do BBB, Ana Paula Renault e Marcos Harter tiveram algo em comum, digo...

Paredão da Deusa Ferida: Fatos prosaicos geram grandes acontecimentos... Ilmar volta a liderança, porém o acesso ao quarto do Líder é limitado a uma pessoa por vez... Como Ilmar prefere ter Marcos como interlocutor, a direção pode dar a entender que há uma fissura no trio, e principalmente, Emilly e Marcos colocaram o relacionamento na geladeira... O golpe é sentido por Emilly no paredão com Daniel, quando o percentual para sua saída voltou ao mesmo nível de quando o par com Marcos não estava consolidado... 

Paredão Cafajeste Canalha:  Logo depois da saída de Daniel, Ilmar se desentende com Emilly... Que vai procurar apoio com Marcos... A direção toma outra medida pequena porém providencial para seus interesses e determina que todos os competidores passem a dividir o mesmo quarto... Também pediu para Marcos desfazer a cabaninha que fez para ficar com Emilly no gramado, digo... Sem oportunidades para o trio se entender, Ilmar propõe a Marcos dar um “gelo” em Emilly... Atitude posta em prática depois do desentendimento do prato... Só que Emilly tem uma epifania, quer dizer, chega a liderança, e Marcos volta a se entender com ela... Fiel à sua estratégia, todavia, pede a Emilly que converse com Ilmar... Que se mantém inflexível e ainda chama Emilly de “verme”... Emilly indica Ilmar ao paredão no domingo... Quando Marcos é indicado, sucumbe à pressão e se descontrola com Emilly... Na segunda-feira, a fim de provar sua lealdade a ela, adota uma atitude agressiva com as outras mulheres da casa... Quando Ilmar sinaliza que não quer conversa, Marcos cita a história da pensão atrasada... Uma “calhúnia”, que mesmo desmentida ao vivo por Leifert, é repetida alguns minutos depois por Marcos em um “Jogo da Discórdia” na véspera do paredão... Alis, a direção demorou a colocar Marcos diante de um psicólogo, o que deveria ter feito logo depois das ameaças a Ieda e Mari, porque queria criar um clima de rivalidade que atraísse o público para o “Jogo da Discórdia”... Em que Marcos usou de sua habilidade verbal para se colocar como perseguido pela direção (o que de fato era, por ter ferido o ego do Bofinho...) e posar de vítima para o público...  A poprósito, se não tivesse vindo à público a denúncia contra José Mayer e não houvesse a manifestação contra o assédio dentro da Globo no dia do paredão, será que o psicólogo seria chamado???... Porque a “calhúnia” repetida manteve Ilmar irredutível, e não querer conversa com Emilly custou sua permanência na casa e marcou o fim do trio...

Paredão Preocupante: Tanto empenho em mostrar Emilly como uma Geni e esqueceram que Marcos perdeu a capacidade de lidar com situações de pressão... O que ficou claro em mais uma ida ao paredão, com Mari... As agressões verbais e as intimidações físicas a Emilly novamente foram permitidas até o limite... O psicólogo só entrou em ação no começo da noite de domingo, depois de Emilly ter sido acuada e ameaçada no final da festa de sábado... A obsessão em atender ao público “hater” era tão grande que chegaram a atribuir de modo preconceituoso a Emilly a culpa pelos atos violentos de Marcos... 

Expulsão, Avião da Chape ou Vingança do Bofinho:  Marcos sobreviveu ao paredão, porém sua permanência na casa se tornou insustentável, ainda mais pela direção ter recaído na falácia de culpar a vítima...  Restava saber como a retirada de Marcos seria feita a fim de não desequilibrar o jogo em sua reta final... Seria incoerente fazer um gesto firme de combate ao machismo e a violência contra a mulher e deixar logo em seguida que argumentos machistas influenciassem a escolha do público na finalíssima, vide a famosa tese de culpar a vítima... Não houve formação de novo paredão logo após a saída de Mari, pois as votações, muito influenciadas pela torcida de Emilly, passavam ao largo do problema... O comparecimento da polícia nos Estúdios Globo para investigar as denúncias de agressão deram o pretexto para a Globo expulsar Marcos, numa aceitação oportunística do conceito de “violência simbólica”... Marcos seria retirado da casa pouco antes do programa ao vivo, na segunda à noite, de modo que o impacto da notícia inesperada fosse maior... Como no caso do avião da Chape... Com Emilly no papel da torcida do time catarinense e Ieda e Vivian fazendo às vezes da torcida do Atlético Nacional... Com três mulheres finalistas, ficou fácil se desvencilhar da responsabilidade pelas atitudes violentas de Marcos... Ainda que fique a impressão das críticas de Marcos à direção tenham influenciado muito a punição que sofreu, digo...


Final, Contra Tudo e Contra Todos: Das 20 enquetes acompanhadas pelo Botalhada sobre a finalíssima do BBB, 18 apontaram a vitória de Vivian... O que comprova o acerto da estratégia da direção... Depois de consolidar a “fanbase” de Emilly, toda a narrativa do programa passou a contemplar principalmente seus “haters”, para segurar o público... Nisso contribuiu a tendência do brasileiro médio de sempre estar disposto a jogar pedra – e o Costa – na Geni... Em todos os campos da sociedade, e também em “reality-shows”... Ou como disse a ativista Elisa Quadros, perseguida brutalmente por suas convicções políticas, no texto “Meu Nome Não É Sininho”, da Agência Pública, postado no dia da final do BBB, 13 de abril... “Nesse país machista em que a gente vive, destruir mulher é fácil... Branca, hétero, classe média... Usaram muito o argumento de ‘rebelde sem causa’... E o moralismo do machismo... Moralismo religioso: cara de vagabunda, destruidora de lares, ‘ela usa sedução para conseguir as coisas’”… Emilly não era uma militante, porém sofreu os mesmos estigmas...

Tiago Leifert tentou imprimir sua marca no BBB... Conseguiu???... Digamos que Daiana Garbin curtiu...