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| No imóvel onde ocorreu a explosão, quase que só a fachada permanece em pé, com carro danificado na garagem... |
Na noite de quinta-feira, 13 de novembro, estávamos em casa,
usando o “notebook” na sala, quando às 20 horas percebemos uma vibração forte
na janela, que pensamos ser um vento forte, como tem sido comum nesses dias de
céu cinzento e chuva... No entanto, 40 minutos depois, recebemos uma mensagem
no WhatsApp © do Pancada, nosso humorista e fornecedor de DVDs, acompanhado do
link de uma reportagem do portal G1, “Explosão com incêndio é registrada na
Zona Leste de São Paulo”, ele nos perguntou, “Tudo bem por aí???, É aí perto”,
abrindo a matéria, lemos que a explosão aconteceu próximo ao cruzamento das Avenidas
Celso Garcia e Salim Farah Maluf, como nós residimos na Rua Santa Virgínia,
perto da Marginal do Tietê e da sede do Timão, estamos a 2,5 quilômetros do
local do incidente, mas lembramos do barulho que ouvimos, “Está tudo bem, só
notei uma vibração na janela da frente, não imaginava que tivesse sido uma
explosão”... Pancada então perguntou sobre a minha mãe, que mora num prédio na
Rua Margarida de Lima, que fica a 1,5 quilômetro de onde aconteceu o desastre,
fiz uma chamada de voz pelo WhatsApp © e ela me disse que estava bem, no
momento da explosão, ouviu o estrondo, relatando que chegou a faltar energia
por alguns segundos, e também recebeu imagens da fumaça que subiu pelos ares no
grupo dos moradores do condomínio... Que também foi como Pancada ficou sabendo
da explosão, só que em um grupo de torcedores do Menguinho, as fotos e vídeos,
feitas do alto de edifícios nas proximidades, começaram a circular pela
internet e chegaram ao “SBT Brasil”, mostradas no final do noticiário, e uma
foto nos chamou particularmente a atenção, o registro feito pelo empresário
Fábio Rubemar, da janela de seu apartamento no 18º andar mostra uma coluna de
fumaça que lembrava a detonação de uma bomba atômica... Acompanhando o
noticiário sobre as consequências do incidente, ficamos sabendo que a explosão
aconteceu na Rua Francisco Bueno, travessa da Rua Ulisses Cruz, que começa na
Rua Iguaruçu, uma transversal da Avenida Celso Garcia e termina no acesso à
Marginal do Tietê... As primeiras investigações sobre o desastre apontaram que
a casa servia como depósito clandestino de
fogos de artifício, guardados por seu morador, Adir de Oliveira Mariano, um
vendedor ambulante que foi baloeiro e morreu na explosão, que deixou dez
pessoas feridas, danificou seriamente as casas vizinhas e provocou estragos em
imóveis num raio de três quarteirões... Pancada voltou a ficar preocupado na
sexta-feira, 14 de novembro, quando mandamos uma foto da fumaça preta que avistamos
da janela do Metrô, entre as estações Sé e Pedro II, era do incêndio de um
depósito de tecidos perto do prédio da estação da CPTM no Brás, felizmente,
como seguimos viagem rumo ao Tatuapé, novamente não corremos riscos, digo...
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| Vista dos fundos, a casa reduzida a escombros junto a uma torre de transmissão de energia, poderia ter sido pior... |
Na tarde de sábado, 15 de novembro, fomos até o Atacadão,
que fica exatamente na esquina da Celso Garcia com a Salim Farah Maluf, e fomos
caminhando até os fundos da casa que explodiu, onde há uma loja de plantas que
teve seu muro arrebentado pelo impacto, no local, uma viatura da Guarda Civil
Metropolitana estava de plantão, vigiando os escombros do imóvel... Da calçada,
pudemos ver que havia sobrado apenas a fachada da casa, que fica bem em frente
a uma torre de transmissão de energia, não por acaso faltou luz por alguns
segundos no prédio da minha mãe, e andando mais alguns metros adiante, verificamos
que funciona um posto de gasolina, ou seja, a tragédia poderia ter sido bem
pior... Entramos na Francisco Bueno pela Ulysses Cruz e logo reconhecemos uma
casa de pastilhas amarelas e pretas na fachada das nossas caminhadas pela
região, a via faz uma curva antes da esquina com a Rua Guabiju, onde está a
Casa do Tatuapé, um imóvel histórico do período colonial que sobreviveu a
urbanização do bairro, quando a fazenda onde estava edificada foi loteada e o
terreno ao redor, que abrigou uma olaria que produzia telhas e tijolos, adquirido
por uma tecelagem, tipo de indústria muito comum no bairro no século XX,
atualmente a casa é preservada pela Prefeitura... No cruzamento com a Rua Guabiju foi colocado
um cordão de isolamento, apenas “pro forma”, porque um carro de reportagem da TV
Record vinha chegando, pouco depois da esquina, o portão de uma casa estava
aberto, mostrando a garagem com donativos para pessoas que tiveram de sair de
casa com a explosão, como galões de água e pacotes de alimentos... A primeira
foto que fizemos no local foi de um repórter do SBT que discutia com o
cinegrafista e o produtor, do lado esquerdo da rua está parada uma viatura da
Polícia Militar e do lado direito, onde aconteceu a explosão, tem uma picape da
Defesa Civil, bem em frente ao imóvel vizinho, um sobrado de fachada branca, de
número 79... Aqui confirmo a impressão que tive ao acompanhar as imagens do desastre,
ele atingiu as típicas casinhas antigas da região do Tatuapé, no sobrado de
muro baixo e portãozinho de ferro, as janelas com folhas de madeira estão abertas,
expondo as vidraças quebradas e os buracos no telhado, porque o impacto fez
ceder o forro de gesso no teto, parecido com o da nossa casa, o que nos causou
incômodo... Do outro lado da rua, na casa 78, um imóvel térreo, num estilo
vagamente colonial, com pedras ao redor da porta da frente e na entrada da
garagem, observamos as telhas francesas, outro indicativo das tradicionais
residências tatuapeenses, completamente fora de lugar, encostado no muro havia
colchões e uma cadeira... Ao lado dessa casa, um cinegrafista de televisão vê
passar uma mulher loira de bata rosa e tatuagens nos ombros, que reclama da
assistência prestada pelas autoridades, acompanhada de outra mulher, ruiva e usando
regata e “legging” preta, de braço tatuado, que levava duas garrafas de
refrigerante e copos para distribuir aos desabrigados... Na calçada da casa
onde houve a explosão, mais colchões, móveis e duas senhoras, uma de bengala,
usando uma camiseta preta onde estava escrito “Deus cuida de mim”, e uma de cinza,
comendo um sanduíche e segurando o braço da mulher de preto, que pedia, “voltem
pra sua terra”, provavelmente se referindo aos imigrantes bolivianos que moram
no sobrado em frente ao local do desastre, a casa 73, também com a frente
obstruída por colchões, móveis e sacos plásticos com roupas... Um passo adiante,
ao lado de uma geladeira, o repórter da Band preparava-se para gravar uma
reportagem, pouco antes da viatura de plantão da Guarda Civil Metropolitana, no
portão da casa destruída, uma mulher de saia jeans, também usando bengala, faz fotos
com o celular, perto dela há um carrinho de bebê e uma jovem boliviana com a mão
na bancada de uma máquina de costura, tirada da casa onde funciona uma pequena
confecção, uso muito comum para as casas antigas do Tatuapé, oficinas tocadas pelos
imigrantes vindos da Bolívia... Nos aproximamos do portão de ferro da casa que
explodiu, que tem pedras pintadas em toda a fachada, a qual olhamos com cuidado
para identificar o número do imóvel, 73, que aparece duas vezes abaixo da
luminária da entrada da garagem, ali ficou estacionado um carro Renault, com
placa de São Bernardo do Campo (DZA 6104...), que está coberto de poeira e
alguns pedaços de telhas, a propósito, pela janela da frente dá para ver que quase
todo o telhado foi abaixo com a explosão, uma parede lateral ainda está de pé
em meio aos destroços que se acumulam ao redor da casa... Do lado oposto da rua, moradores discutem com
os guardas municipais, a cena é acompanhada por uma mulher e duas crianças bolivianas
perto de um colchão e um carrinho de bebê, os integrantes da GCM questionam sobre
quem prestou auxílio aos desabrigados, mencionando o nome do padre Júlio
Lancelotti, mas as pessoas falam no vereador Ricardo Teixeira, que tem base eleitoral
na região, a mulher se aproxima e o repórter da Band também entra na conversa, enquanto
uma funcionária da Defesa Civil sai do sobrado dos bolivianos... Na frente da
casa 73 passa uma mulher boliviana usando vestido e chapéu típicos, acompanhada
da filha pequena, vimos as duas na Celso Garcia, sem imaginar que, como nós,
elas foram movidas pela curiosidade e compareceram ao local da tragédia que afetou
seus conterrâneos... Um homem de camisa listrada e um senhor de barbas brancas,
os dois carregando bolsas de viagem, conversam no portão do imóvel vitimado
pela explosão, fazemos mais algumas fotos e olhamos a residência ao lado, um
sobrado em estilo moderno, a casa 65, que teve o portão e os vidros das janelas
destruídos, pedaços de madeira estão espalhados pelo jardim de inverno, onde
também há uma estátua em estilo clássico, conhecida como Apolo, O Caçador, pois
está armado com arco, flechas e acompanhado de um cachorro, porém representa
seu neto, Acteon, filho de Aristeu, todas essas referências mitológicas dão um
ar de ruínas gregas ou romanas ao imóvel interditado... No último andar de um predinho
residencial, um homem prega pedaços de lona na moldura das janelas quebradas, no
sobrado vizinho, a casa 46, também com vidraças destruídas, um aparelho de som,
persianas e um televisor de tela plana foram deixados na calçada, vamos nos afastando
da discussão, esperançosos de que os desabrigados sejam assistidos pelas
autoridades e tenham um lugar para morar caso não possam voltar a suas casas, e
não apenas sejam vigiados como suspeitos pelas viaturas da GCM estacionadas no
local, a pretexto de impedir saques...
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| E próximo ao local da tragédia, janelas quebradas, colchões e mobílias pelas calçadas e moradores desabrigados... |
Voltamos para a Avenida Celso Garcia pela Rua Iguaruçu e
resolvemos ir ao local de dois muito conhecidos estabelecimentos comerciais na
região do Tatuapé que fecharam recentemente, a loja Centro Industrial do
Calçado (CIC), em 23 de agosto, e o Supermercado Kanguru, em 30 de outubro... Seguimos
até a Rua Antônio de Barros, passando em frente a Casa Oriente, no número 400,
local que no passado abrigou a Tapeçaria Chic, grande anunciante dos programas
televisivos do sábado à tarde, tais como “Almoço com as Estrelas”, “Clube do
Bolinha” e “Programa Raul Gil”, o Kanguru fica alguns metros adiante, do outro
lado da rua, no 285... Na fachada de alumínio branca acinzentada pela poluição,
o nome do supermercado, acompanhado de um carrinho onde leva o filhote e as
compras, algumas também vão na bolsa, é uma sombra que ficou quando o letreiro
foi retirado... Em uma das portas fechadas, há um painel de acrílico em que
eram anunciadas algumas das “mais de mil ofertas” do Kanguru, mas que hoje são
apenas meia dúzia de folhas amarelas sem nada preenchido... A porta do
estacionamento estava aberta, dando para ver que já foi esvaziado o interior do
supermercado, aberto pela família Jerônimo, de imigrantes portugueses, em 1966,
que especializou-se na venda de chocolates Garoto, ovos de páscoa, panetones e
vinhos importados... Um dos filhos dos fundadores, Antônio Joaquim Jerônimo e
Erminda Augusta Jerônimo, Francisco Antônio Jerônimo, mais conhecido como
Chico, que junto com a mãe e o irmão Adriano foram os grandes impulsionadores
do negócio, comparecia constantemente no “Shop Tour”, anunciando as ofertas ao
lado da bonita Cláudia Tenório, da última vez que passamos pelo supermercado
ainda em funcionamento, jurávamos que era ele sozinho ao lado dos caixas vazios
e das prateleiras ocupadas por garrafas de vinho, mas Chico saiu de cena há alguns anos... O fato é que o fechamento
do Kanguru foi anunciado no perfil do supermercado no Instagram © e um dos
herdeiros da empresa, Fernando Jerônimo, anunciou que o ponto foi vendido para
o hortifrúti Pomar da Vila, portanto, vida que segue, do outro lado da rua, um
rapaz trabalha forte anunciando o açougue Atacadão da Carne, lembrando a nós
que o Atacadão da Celso Garcia com Salim Farah Maluf era Carrefour, depois de
ter sido Big após abrigar uma unidade da Santista Têxtil, alguns metros adiante
está a esquina com a Rua Brejal, que termina bem em frente ao estacionamento da
loja CIC na Rua Cesário Galeno... Ficamos no meio da rua, observando o “banner”
colocado acima das grades pela construtora Vinx, que irá erguer prédios
residenciais do programa Minha Casa Minha Vida no local, que abrigou o Cine São
Jorge, inaugurado em 1945 (ou 1946, como informa o site São Paulo Antiga, o próprio...),
com capacidade para 2.113 espectadores, e onde a loja se instalou em 1972...
Falando em instalação, os donos do CIC mantiveram as características originais
do imóvel, cujas dimensões sempre saltavam aos olhos de quem passava pela Celso
Garcia, inclusive quem estava no trólebus da linha 342M-10, Terminal Penha /
Terminal São Mateus, que entra na Rua Cesário Galeno, a fachada com motivos
geométricos, a grande cobertura de telhas francesas e o letreiro “S.JORGE”,
mesmo quando não havia a Lei Cidade Limpa e era permitida a instalação de fachadas
postiças de alumínio estampando o nome do estabelecimento, época em que seu
grande concorrente no ramo calçadista era a loja Romão Magazine, que funcionava
onde está hoje a UPA Tatuapé, seguindo em atividade no Shopping Tatuapé, mesmo
após a saída de cena de seu fundador José Romão Sampere, o “Seu” Romão, corinthiano
fanático e outro habituê do “Shop Tour”, em 23 de setembro do ano passado... E
não só apenas isso, um leitor do “São Paulo Antiga” informou ao site que o
espaço da sala de exibição foi mantido mesmo com a loja em funcionamento,
conservando o aspecto que tinha na época do Cine São Jorge, embora sua
demolição seja dada como certa... Acompanhamos pessoalmente uma das
providências que vão ser tomadas para a derrubada do prédio, a colocação de
tapumes ao redor, tendo a sorte de poder registrar as vitrines agora vazias,
mas que um dia anunciavam com destaque o “Salão Internacional do Tênis” e
expuseram sapatos brancos dignos da memória de Jacinto Figueira Júnior, hoje
restaram apenas alguns “banners”, “Pés Grandes”, feminino (até 43...) e masculino
(até 48...), “Queima de Estoque 60% P/ Troca de Coleção”, etiquetas de preço e
placas do estacionamento e “5 X sem juros”... Sim, nós compramos no CIC, da
última vez adquirimos um tênis Olympikus de corrida sem cadarço, que levamos na
tradicional sacola de plástico amarela, também já compramos Havaianas na loja e
ficamos de olho em uma miniatura de ônibus da Itamarati que vinha como brinde
na compra de calçados infantis, tudo isso antes da saída de cena do fundador da
empresa, Ary Borges Fidelis, em junho, um par de meses depois, seus filhos
anunciaram o encerramento das atividades da loja e colocaram a venda por 22
milhões de reais o prédio que dará lugar a um empreendimento residencial, o
mesmo destino do imóvel em frente ao antigo cinema, a galeria Sarty, que
abrigava estabelecimentos comerciais, substituídos por apartamentos, a
diferença é que a estrutura original não foi derrubada...
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| Deixando o lugar do incidente, fica a dúvida, será que os moradores terão auxílio para voltarem às suas casas???... |




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