- Não reparamos na cobrança do Panenka... É que a camisa Adidas (C) da Tchecoslováquia é muito apetecível... |
(Nesta semana deveriam acontecer os jogos decisivos da Eurocopa, adiada para junho de 2021... A disputa, que marcaria os 60 anos da realização do torneio, tinha uma proposta ambiciosa, apresentada em 2012, quando Michel Platini era o presidente da UEFA e postulava a presidência da FIFA... A disputa seria espalhada pelo continente europeu, com jogos em doze sedes diferentes: Amsterdam, Baku, Bilbao, Bucareste, Budapeste, Copenhague, Dublin, Glasgow, Londres, Munique, Roma e São Petersburgo... O jogo de abertura aconteceria em Roma e a finalíssima em Londres – ou seja, em dois dos países da Europa mais afetados pela pandemia de Covid-19, que levou ao adiamento da competição... Michel Platini presidiu a UEFA até 2015, quando foi suspenso do futebol devido ao envolvimento no escândalo de corrupção da FIFA... Ainda assim, seu secretário-geral na UEFA, Gianni Infantino, elegeu-se presidente da entidade em 2016, numa eleição extraordinária convocada após a renúncia de Joseph Blatter... Desde 2016, a UEFA é presidida por Aleksander Ceferin, da Rússia – outro país duramente atingido pelo surto de Covid-19... Sem Euro, o seu Bloquinho Virtual resgata nesta semana a história da competição, com destaque para Panenka e a façanha da antiga Tchecoslováquia em 1976, as mutretas no alto comando do futebol europeu, que levaram às prisões de dirigentes nos Estados Unidos e levaram à saída de Blatter e Platini de seus cargos e a vitória de Portugal na última edição do torneio, realizada em 2016 na França...)
(Publicado originalmente em 6 de junho de 2016...) A Eurocopa começou a ser disputada em 1960, na França... Mesmo país que sediará a edição do torneio europeu de seleções que começa na sexta-feira... A fase decisiva comportava apenas as semi-finais e a final... Nas eliminatórias, disputadas em jogos de ida e volta, a Espanha – sob o governo ditatorial de Francisco Franco – recusou-se a jogar em Moscou contra a União Soviética nas quartas-de-final, confronto definido por sorteio... O Muro de Berlim só seria erguido em 1961, porém a Guerra Fria já opunha capitalistas e socialistas... Classificados automaticamente para a semi-final, os soviéticos venceram a Tchecoslováquia por 3 a 0, em Marselha... Na final em Paris, contra a Iugoslávia – que eliminou a França, desfalcada de alguns de seus principais jogadores na ocasião, Fontaine, Kopa e Piantoni, vencendo por 5 a 4 - a vitória veio apenas na prorrogação... Depois do empate em 1 a 1 no tempo normal, Pondelnik marcou o gol da vitória a sete minutos do final do tempo extra... Se bem que... Naquela época sequer havia decisão por pênaltis... Desse modo, o primeiro título europeu de seleções ficou com a União Soviética, que foi extinta em 1991, Pedro Bial... Em 1964, a segunda edição da competição aconteceu na Espanha... Que não se recusou a enfrentar a União Soviética na final, com direito ao comparecimento do próprio Franco no estádio Santiago Bernabeu, lotado com 120 mil espectadores – mais 100 milhões pela tevelisão, via Eurovisão e Intervisão, como bradava o cinejornalista espanhol... Vitória por 2 a 1, com Marcelino marcando o gol decisivo aos 39 minutos do segundo tempo... “Os soviéticos saem de campo visivelmente desapontados... O treinador Villallonga é carregado como os grandes toureiros”, disse o locutor do cinejornal... Uma conquista tão perdida no tempo que alguns locutores brasileiros consideraram o título da Fúria em 2008 o primeiro dos espanhóis... Se bem que... No primeiro título, a Espanha jogou de azul, como no Mundial de 2010... Melhor deixar o apelido “La Roja” com o Chile... A Itália recebeu a Eurocopa de 1968 e chegou à final de um modo inusitado... Depois do empate em 0 a 0 com a União Soviética, a classificação para a decisão seria definida na moedinha... E a Azzurra levou a melhor... A finalíssima contra a Iugoslávia – que eliminou a Inglaterra, campeã mundial em 1966 - não seria tão fácil... Depois do empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação no Estádio Olímpico em Roma, ainda sem a previsão de decisão por pênaltis nas normas da FIFA (o que só aconteceria em 1970), houve a necessidade de realização de um jogo extra dois dias depois... Desta vez a Itália venceu por 2 a 0, conquistando seu único título europeu de seleções... Quase meio século de seca, que coisa, não... Encerrada a partida, os torcedores italianos, na falta de telefones celulares – que na época eram usados apenas em automóveis - iluminaram as arquibancadas com isqueiros e sinalizadores... Que coisa, não... Em 1972, a competição teve a Bélgica como anfitriã... A final, realizada no estádio Heysel, de triste memória, registrou a primeira conquista da Alemanha – na época Alemanha Occipital, digo, Ocidental – que derrotou a União Soviética por 3 a 0, com dois gols de Gerd Muller e um de Wimmer... Um importante triunfo para o marketing da Adidas ©, internauta Chico Melancia...
Derrotada em 1976, Alemanha Ocidental recuperaria a Eurocopa em 1980, com camisa de três listras nos ombros e tudo... |
A Eurocopa de 1976 ganharia lugar de destaque na história do torneio... Não só apenas por ser a primeira edição realizada em um país da “Cortina de Ferro” - Iugoslávia - e a única vencida por uma nação socialista do leste europeu – Tchecoslováquia... Depois de vencerem a Holanda por 3 a 1 em Zagreb – hoje parte da Croácia – os tchecoslovacos enfrentaram a Alemanha Ocidental, que defendia o título conquistado quatro anos antes na Bélgica... Antes da decisão, a única certeza é que o campeão europeu vestiria Adidas ©... A Tchecoslováquia – de vermelho - saiu na frente no estádio do Estrela Vermelha em Belgrado – hoje na Sérvia, conhecido como “Marakana” e que desde 2014 leva o nome de Rajko Mitic, o mesmo que bateu a cabeça na boca do túnel do Maracanã original no Rio de Janeiro durante a Copa do Mundo da Fifa ™ de 1950, com gols de Svehlik, aos 8 minutos do primeiro tempo, e Dobias, aos 25... A Alemanha – de branco, com as três listras negras de lei nos ombros – diminuiu com Dieter Muller aos 28 minutos... Entretanto, o empate só viria aos 44 minutos da etapa final, com Holzenbein... Sem definição na prorrogação, a Eurocopa seria decidida nos pênaltis... Masner fez 1 a 0 para os tchecoslovacos... Bonhof marcou 1 a 1 para os alemães ocidentais... Nehoda, 2 a 1... Flohe, 2 a 2... Ondrus, 3 a 2... Bongartz, 3 a 3... Jurkemik, 4 a 3... O chute do alemão Hoeness passou por cima do travessão de Ivo Viktor – o mesmo goleiro que quase levou um gol do meio da rua do Edson (OG) em 1970... Após a cobrança desperdiçada pela Alemanha, era a vez do tchecoslovaco Antonin Panenka cobrar a quinta penalidade de sua equipe... Ele tomou distância da bola e correu... Porém, na hora do chute, parou a corrida com uma perna e chutou sutilmente com a outra... O goleiro Sepp Maier, o próprio, acertou o canto, mas a bola ganhou altura, fez uma parábola e passou por cima do alemão, indo parar dentro da rede... O narrador do cinejornal que registrou a partida para o público tchecoslovaco disse que “Ele teve nervos de aço”... A Tchecoslováquia se tornava campeã da Europa... Os vencedores trocaram de camisa com os vencidos – afinal, vindos de um país fechado para o exterior, não é sempre que se pode conseguir uma camisa da Adidas © - e receberam a taça com o uniforme da Alemanha Ocidental... Ainda que Melancia considere a combinação da camisa vermelha com o bigode de Panenka imbatível... Um título que jamais se repetirá, pois desde 1993 o país se dividiu em República Tcheca e Eslováquia... O estilo de cobrança do tchecoslovaco, consagrado no Brasil pelo Edson (OG) e que ganhou por aqui o nome de “Paradinha”, para alguns “Cavadinha”, passaria a ser conhecido pelo nome do jogador... Tanto que quando o uruguaio Sebastian Washington “El Loco Abreu” fez sua cobrança contra Gana, no Mundial de 2010, a imprensa de todo mundo lembrou de Panenka em Belgrado... “Era o centésimo jogo de Franz Beckenbauer, e nós estragamos o jubileu dele... Todos os jogadores alemães, Beckenbauer, Maier, eram experientes... Enquanto nós nunca tínhamos jogado uma partida daquela... Foi uma experiência enriquecedora... Os jogadores na Bundesliga jogavam partidas assim o tempo inteiro... Eles jogam 50 a 60 partidas por ano... Eu só joguei uma partida assim duas ou três vezes... Todos achavam que iríamos perder feio para a Alemanha, mas nosso fervor e entusiasmo nos deram uma vantagem psicológica que nos ajudou a vencer... Deram-nos asas para voar até o topo”, recordou Panenka em um depoimento para a célebre série “A História do Futebol - Um Jogo Mágico”, que muito contribuiu para o conhecimento do que se desenrolou nas primeiras edições da Eurocopa... Vale lembrar que os jogadores dos países da Cortina de Ferro só podiam ser negociados com clubes estrangeiros depois de completarem 28 anos de idade – Panenka se transferiu do Bohemians Praha para o Rapid Viena da Áustria aos 33 anos, em 1981...
- Saiba que nós temos vários planos para essa camisa azul da Adidas (C) lá no Brasil, Michel Platini... |
A Itália voltou a receber a Eurocopa em 1980... Pela primeira vez, a competição reunia oito equipes... Dividida em dois grupos de quatro, jogando entre si... O primeiro colocado de cada grupo fazia a final... Os segundos colocados decidiram o terceiro posto... Essa partida reuniu Itália e Tchecoslováquia... E adivinhem, os tchecoslovacos venceram novamente nos pênaltis, depois de um empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação... 9 a 8 no estádio San Paolo, na região de Nápoles, com Panenka cobrando e tudo... Na finalíssima, a Alemanha Ocidental recuperou o título perdido na edição anterior ao vencer a Bélgica por 2 a 1 em Roma... Hrubesch abriu o placar com dez minutos de bola rolando... Aos 30 minutos da etapa final Vanderreycken empatou, porém Hrubesch voltou a marcar aos 43 minutos, assegurando o bi dos alemães ocidentais... Sempre trajados de Adidas ©... Em 1984, seria a vez da França abrigar sua segunda Eurocopa... Agora seria realizada uma semifinal, com os dois primeiros colocados de cada grupo... A anfitriã, credenciada por vitórias sobre Dinamarca, Bélgica e Iugoslávia na primeira fase, enfrentou Portugal na “meia-final”... Para decepção da grande colônia portuguesa em território francês, os “Bleus” venceram por 3 a 2, com um gol de Michel Platini – o próprio – aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação... Na finalíssima, o adversário também era ibérico, a Espanha, em sua primeira decisão em 20 anos... No Parque dos Príncipes, 2 a 0 França, gols de Platini – vide cobrança de falta e o frangaço do goleiro espanhol Arconada - e Bellone... Os franceses celebraram sua primeira conquista europeia – algumas semanas depois, ganhariam a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, derrotando o Brasil na final... Na Eurocopa, Platini marcou simplesmente nove dos 14 gols franceses no torneio, com direito a dois “hat-tricks”, contra Bélgica e Iugoslávia... Era o início da mística da camisa azul da Adidas ©, internauta Chico Melancia... Platini, que encerrou a carreira nos gramados em 1987, tornou-se técnico da seleção francesa, fracassando nas Eliminatórias do Mundial de 1990... Em seguida, envolveu-se na organização da Copa do Mundo de 1998, realizada em seu país... Um passo importante para a conquista da presidência da UEFA, em 2007... O antecessor de Platini da entidade europeia, Lennart Johansson, aumentou o número de participantes de oito para 16 em 1996... O francês foi mais além, e a competição deste ano é a primeira a contar com 24 seleções – quase metade das 55 federações filiadas à UEFA... Mas essa é uma história que contaremos em outra postagem... Até porque teremos de explicar que a presidência da entidade está vaga devido às punições impostas a Platini... A edição de 1988 aconteceu na Alemanha, do lado que bebem cerveja, quer dizer, Ocidental... Os finalistas, Holanda e União Soviética, enfrentaram-se na primeira fase, com vitória dos soviéticos por 1 a 0... Voltaram a se encontrar na decisão, no Olympiastadion de Munique, depois de eliminarem Alemanha Ocidental e Itália... A Globo transmitiu a competição, um pouco por insistência de Juca Kfouri, um dos comentaristas da emissora na época... Galvão Bueno narrou a partida... “Ruud Gullit, é o nome da fera!!!”, exclamou o narrador, após o holandês nascido no Suriname abrir o placar cabeceando a bola com seus dreads direto para o gol soviético... “Um golaço de Van Basten!!!”, exultou ao ver o voleio com que o Murphy holandês fez 2 a 0 para a Holanda... “Defende Van Brukelen!!!”, narrou ao ver o pênalti do soviético Belanov morrer nas mãos do goleiro do time de Rinus Michels – o próprio... Holanda campeã, vestindo um uniforme laranja que é cobiçado até hoje pelo internauta Chico Melancia... Era a última Eurocopa disputada durante a Guerra Fria... Na competição de 1992, realizada na Suécia, a vice-campeã da edição anterior, a União Soviética, não existia mais... A Iugoslávia, dividida por uma Guerra Civil, seria excluída da competição, dando lugar à Dinamarca... Que foi a campeã!!!... Sem contar que a Rummel © quebrou uma longa hegemonia da Adidas ©... A Alemanha, seis anos depois da unificação, foi campeã em 1996, na Inglaterra, internauta Chico Melancia... Na Bélgica e Holanda, em 2000, deu França, Zidane... Em Portugal, a Grécia surpreendeu o mundo e conquistou o título de 2004, Felipão... Depois de 44 anos, a Espanha voltou a ganhar o título europeu em 2008, na Áustria e na Suíça... E repetiu a façanha em 2012, na Ucrânia e na Polônia...
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